segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Ego é o causador de todos os teus problemas – M. Lloyd-Jones (1899-1981).



Isso tudo se pode ver naquelas palavras de nosso Senhor, em Lucas 14.11:«Pois todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado»

Aí está, pois, o que significa ser manso. Será necessário que eu saliente de novo que, evidentemente, isso é uma coisa de todo impossível para o homem natural? Jamais faremos a nós mesmos mansos. . . Isso não pode ser feito. Nada senão o Espírito Santo nos pode tornar humildes, nada senão o Espírito Santo nos pode tornar pobres de espírito e fazer-nos chorar por causa da nossa pecaminosidade, produzir em nós esta legítima e correta visão do nosso ego, e dar-nos esta mente de Cristo. Mas este é um assunto sério.

Os que nos apresentamos como cristãos, proclamamos necessariamente que já recebemos o Espírito Santo. Portanto, não temos desculpa se não somos mansos. Quem está de fora tem desculpa, pois isso lhe é impossível. Mas se nós, de fato, temos a pre-tensão de que recebemos o Espírito Santo, e esta é a pretensão de todo cristão genuíno, não temos desculpa se não somos mansos. Não é algo que você faz e que eu faço.

É cetto caráter produzido em nós pelo Espírito. E fruto direto do Espírito. É-nos oferecido e nos é possível a todos. Que nos cabe fazer? Cabe-nos enfrentar este Sermão da Montanha; cabe-nos meditar nesta afirmação relativa a ser manso; cabe-nos observar os exemplos; acima de tudo, cabe-nos olhar para o Senhor Jesus Cristo. Daí, temos que humilhar-nos e, cheios de vergonha, confessar não somente a pequenez da nossa estatura, mas também a nossa total imperfeição. Depois, temos que acabar com esse ego causador de todos os nossos problemas, de modo que Aquele que nos adquiriu por preço de tal monta tenha entrada em nossas vidas e nos venha a possuir totalmente.

                            Studies in the Sermon on the Mount, i, p. 71,2. 

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Acerte bem no centro – Martyn Lloyd-Jones (1899-1981)


Vejamos agora o que o Evangelho tem a dizer a respeito da vida. O primeiro princípio é que, face a face com os problemas da vida, há uma só coisa que precisa ser examinada — a saber, o olho, o centro, a alma. . . Em vista do fato que a luz do corpo é o olho, a única coisa que precisa ser examinada é o olho, pois se o olho for bom, todo o corpo será luminoso. Porém, se o olho for mau, o corpo inteiro ficará mergulhado em trevas. . . nosso Senhor passa a acrescentar esta solene advertência: «Repara, pois, que a luz que há em ti não sejam trevas» (Lucas 11.35). . . Como é direto (o Evangelho) em sua abordagem! . . . 

Imediatamente chega ao âmago da questão. " Essa simplicidade direta é perfeitamente ilustrada. . . por um incidente que se seguiu imediatamente depois de nosso Senhor ter proferido as palavras acima. Convidado por certo fariseu para o jantar, foi à casa dele e imediatamente se sentou para comer. O fariseu, ao observar tal ato, ficou surpreendido. Pois admirou-se de que Jesus primeiro não se lavou, antes de tomar a refeição. . . (Nosso Senhor) voltou-se para ele e lançou severa denúncia contra os fariseus e seus costumes e opiniões.

Aqueles que eram tão cuidadosos quanto ao exterior do corpo e do prato, olvidavam-se do interior dos mesmos, o que é infinitamente mais importante. . . Guardavam regras e regulamentos. . . Eram técnicos quanto às minúcias. . . Sabiam tudo sobre as coisas que estavam na periferia da Lei, mas ignoravam o objetivo desta, que visava a glorificar a Deus. . . Isso se pode usar como exemplo típico da maneira pela qual o Evangelho examina o problema do homem. Preocupa-se exclusivamente com um elemento, a alma. Embora o homem possa estar certo em muitas questões, como os fariseus certamente o estavam, isso de nada vale se ele estiver errado no ponto central, acerca do olho da alma. Ê o olho apenas que interessa. O Evangelho conta apenas com um teste a ser aplicado.

                                      Truth Unchanged, Unchanging, p. 82-4 

domingo, 11 de dezembro de 2011

Alegria no cristianismo


Dizem que o paganismo é uma religião de alegria e o cristianismo é de tristeza. Seria igualmente fácil provar que o paganismo é pura tristeza e o cristianismo pura alegria. Esses conflitos nada significam e não levam a lugar algum. Tudo o que é humano deve conter em si alegria e tristeza; a única questão que interessa é como os dois ingredientes são equilibrados e divididos. E a coisa realmente interessante é a seguinte, que o pagão sentia-se em geral cada vez mais feliz à medida que se aproximava da terra, mas cada vez mais triste à medida que se aproximava dos céus. 
A alegria do melhor paganismo, como na jocosidade de Catulo ou Teócrito, é, de fato, uma alegria eterna que nunca deve ser esquecida por uma humanidade grata. Mas é uma alegria totalmente voltada para os fatos da vida, não envolvendo a origem dela. Para o pagão, as menores coisas são doces como os menores riachos que irrompem da montanha; mas as coisas maiores são amargas como o mar. Quando o pagão olha para o verdadeiro âmago do cosmos, ele de súbito se sente gelado. Por trás dos deuses, que são meramente despóticos, sentam-se as parcas, que são mortais. Melhor dizendo, as parcas são piores que mortais; elas estão mortas.
E quando os racionalistas dizem que o mundo antigo era mais esclarecido que o mundo cristão, do seu ponto de vista eles estão certos. Pois quando dizem "esclarecido" querem dizer "obscurecido" por um incurável desespero. E profundamente verdadeiro que o mundo antigo era mais moderno do que o cristão. O vínculo comum está no fato de que os antigos e os modernos sentiram-se infelizes acerca da existência, acerca de todos os fatos da vida, ao passo que os medievais sentiam-se felizes pelo menos a respeito disso.
Admito francamente que os pagãos, assim como os modernos, eram apenas infelizes acerca da totalidade dos fatos da vida - eles eram muito alegres acerca de tudo o mais. Concedo que os cristãos da Idade Média viviam em paz com a totalidade dos fatos da vida - estavam em guerra com tudo o mais. Mas se a questão girar em torno do primeiro pivô do cosmos, então havia mais contentamento cósmico nas estreitas e sangrentas ruas de Florença do que no teatro de Atenas ou no jardim aberto de Epicuro. Giotto viveu numa cidade mais sombria do que Eurípides, mas ele viveu num universo mais alegre.
A massa humana tem sido forçada a sentir-se alegre acerca de coisas pequenas, mas a entristecer-se acerca de coisas grandes. Apesar disso (apresento o meu último dogma como uma provocação), não é natural para o homem ser assim. O homem se identifica mais consigo mesmo, é mais parecido com o homem quando a alegria é a coisa fundamental dentro dele e a dor é superficial. A melancolia deveria ser um inocente interlúdio, um estado de espírito delicado e fugaz; a pulsação permanente da alma deveria ser o louvor. O pessimismo é, na melhor das hipóteses, um meio-feriado emocional; a alegria é a ruidosa labuta pela qual vivem todas as coisas.
No entanto, de acordo com a aparente condição do homem na ótica do pagão ou do agnóstico, essa primeira necessidade da natureza humana nunca pode ser satisfeita. A alegria deveria ser expansiva; mas, para o agnóstico, ela deve ser contraída, deve restringir-se a alguém bem-sucedido neste mundo. A dor deveria ser uma concentração; mas, para o agnóstico, a desolação dela se espalha por uma eternidade inimaginável. Isso é o que chamo de nascer de cabeça para baixo. Pode-se na verdade dizer que o cético está de pernas para o ar, pois seus pés vão dançando virados para cima em vãos frenesis, enquanto o cérebro está no abismo.
Para o homem moderno, os céus estão realmente embaixo da terra. A explicação é simples: ele está de ponta-cabeça, o que constitui um pedestal pouco resistente para apoiar-se. Mas quando ele houver novamente descoberto os próprios pés, saberá disso. O cristianismo satisfaz de repente e à perfeição o instinto ancestral do homem de estar virado para cima; e o satisfaz plenamente neste sentido: com seu credo a alegria se torna algo gigantesco e a tristeza algo especial e pequeno.
A abóbada acima de nós não é surda porque o universo é um idiota: seu silêncio não é o silêncio sem piedade de um mundo sem fim e sem destino. O silêncio que nos cerca é antes uma pequena e compassiva quietude como a súbita quietude no quarto de um enfermo. Talvez a tragédia nos seja permitida como uma espécie de comédia benigna: porque a frenética energia das coisas divinas nos derrubaria como uma farsa de bêbados. Podemos aceitar as próprias lágrimas mais facilmente do que poderíamos aceitar a tremenda leveza dos anjos. Assim ficamos sentados talvez num quarto estrelado e silencioso, enquanto a risada dos céus é forte demais para os nossos ouvidos.
A alegria, que foi a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do cristão. E no fechamento deste caótico volume torno a abrir o estranho livrinho do qual proveio o cristianismo; e novamente sinto-me assombrado por uma espécie de confirmação. A tremenda figura que enche os evangelhos ergue-se altaneira nesse respeito, como em todos os outros, acima de todos os pensadores que jamais se consideraram elevados.
A compaixão dele era natural, quase casual. Os estóicos, antigos e modernos, orgulhavam-se de ocultar as próprias lágrimas. Ele nunca ocultou as suas; mostrou-as claramente no rosto aberto ante qualquer visão do dia-a-dia, como a visão distante de sua cidade natal. No entanto,alguma coisa ele ocultou. Solenes superhomens e diplomatas imperiais orgulham-se de conter a própria ira. Ele nunca a conteve. Arremessou móveis pela escadaria frontal do Templo e perguntou aos homens como eles esperavam escapar da danação do inferno. No entanto, alguma coisa ele ocultou. Digo-o com reverência; havia naquela chocante personalidade um fio que deve ser chamado de timidez. Havia algo que ele encobria  constantemente por meio de um abrupto silêncio ou um súbito isolamento. Havia uma certa coisa que era demasiado grande para Deus nos mostrar quando ele pisou sobre esta nossa terra. As vezes imagino que era a sua alegria. 
Fonte: G. K. Chesterton, Ortodoxia, Editora Mundo Cristão, páginas 260 a 263

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Não estranhe o sofrimento – John MacArthur


Um dos fatores que mais nos ajudará a atravessar as mais difíceis provações é esperar por elas. E visto termos nascido para a aflição, pois somos pecadores caídos num mundo de pecadores caídos, é razoável não estranhar quando surgem os problemas. No contexto desta epístola, embora Pedro esteja se referindo mais precisamente à perseguição e à sua inevitabilidade, o assunto ainda é pertinente -

Pedro está repetindo as instruções concernentes aos sofrimentos advindos da perseguição que encontramos em outras passagens do Novo Testamento (Jo 15-16; 2 Tm 3.12; 1 Jo 3.13). As palavras e ações dos crentes testemunham contra um mundo ímpio. Deveria ser esperado que esse testemunho fizesse com que os ingratos e ofendidos incrédulos contra-atacassem, perseguindo os crentes embora nem sempre isto acontece. Mas tal reação faz parte do custo do discipulado, como já vimos anteriormente.

Embora Pedro esteja focalizando a perseguição como consequência de nossa fé e identificação com Jesus Cristo, a expressão "ardente prova", em 1 Pedro 4.12, pode referir-se a qualquer tipo de problema. Tanto no Novo quanto no Antigo Testamento em grego, a palavra traduzida por "ardente" é usada juntamente com o termo fornalha. No Antigo Testamento, este vocábulo se aplica a um forno para fundição de minérios, no qual o metal era derretido para ser purgado dos elementos estranhos. O Salmo 66.10 diz: "Pois tu, ó Deus, nos provaste; tu nos afinaste como se afina a prata". Entretanto, em 1 Pedro a ardente prova é símbolo da aflição destinada por Deus "para vos tentar" - para vos purificar.

Primeira Pedro 4.12 conclui com a indicação de que as aflições e perseguições não são alguma "coisa estranha", ou seja, fora do comum. Paulo afirma que todas as provações são comuns aos homens (1 Co 10.13). Em essência, Pedro nos está recomendando que não devemos estranhar as tribulações, como se estas estivessem acontecendo conosco por acaso. A perseguição, a aflição e os sofrimentos fazem parte da vida e não interferem com o plano de Deus. Tais problemas são comuns a todos - especialmente aos crentes obedientes e fiéis.