sábado, 30 de junho de 2012

Se o homem é capaz a cruz é desnecessária!!



Qual é o propósito de Lei se não podemos obedecer? Essa é uma pergunta  comum. Muitos dizem que se Deus ordena algo é porque nós podemos fazer.


Essa conclusão é baseada numa filosofia que flui da ideia já estabelecida na mente natural de que o homem é livre, mas de maneira nenhuma do que a Bíblia diz. Pois a Bíblia não somente manifesta a lei de Deus, ela explica o seu propósito claramente. E a Bíblia nega enfaticamente que a lei foi dada para mostrar a capacidade do homem em obedecê-la.     

Deus manifesta seus mandamentos e manifesta também a verdade da incapacidade humana de realizar qualquer coisa aceitável fora de Cristo. Se o homem fosse capaz, a graça não seria necessária. O propósito da lei, dos avisos de Deus, das advertências... não é mostrar nossa habilidade natural, mas sim nossa INCAPACIDADE.

Paulo diz em Romanos 3.19,20 – “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porquepela lei vem o conhecimento do pecado” – Seu propósito é nos levar a Cristo.

John Owen disse certa vez: "Supor que o que Deus exige de nós evidencia que temos o poder de fazer, é fazer com que a cruz e a graça de Jesus Cristo não tenha nenhum efeito ou propósito."

Quando Deus, por exemplo, nos ordena a perseverar, ele não está nos dizendo para olhar para nossos próprios recursos para chegar lá, mas sim que temos que olhar para Cristo que é todo suficiente para nos fazer perseverar até o fim. Começar e terminar a obra de salvação que começou: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo...” Filipenses 1:6 – Eis a razão da perseverança: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória” -Judas 1:24

Os santos perseveram! Muitas pessoas tentam se levantar contra o claro ensino bíblico usando frases que distorcem o ensino bíblico. Por exemplo: “uma vez salva, salva para sempre” – Por trás dessa frase já levantada com este propósito, há uma enorme quantidade de bobagem teológica e antibíblica. Querendo dizer que a “segurança eterna” significa que se uma pessoa faz uma profissão de fé e vive um estilo de vida completamente contrário e em desacordo com essa profissão, ainda está salvo, porque “uma vez salvo, salvo para sempre”.

Embora não haja nenhuma dúvida quando ao fato de que um cristão genuinamente regenerado está seguro nessa salvação por toda a eternidade, isso não é porque ele fez uma profissão de fé qualquer, mas quando verdadeiramente regenerado, o trabalha da Trindade opera a salvação nele -
Em João, capítulo seis, isto é representado pelas funções do Pai e do Filho na salvação. Já em Efésios capítulo um, vemos papel do Espírito Santo.

O Pai e o Filho e a Perseverança dos santos.

“Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia” - João 6:37-39

Jesus apresenta a soberania completa de Deus na salvação. Todos os que o Pai dá a Jesus - TODOS- virão a ele. Isso deixa claro porque alguns vem e outros não.

O Pai "dá" as pessoas para o Filho - um dom de amor, com certeza. Quando o Pai dá ao Filho de uma pessoa, essa pessoa vai vir a Cristo. Este é o imperativo da salvação. Esta é a base da sua certeza absoluta e segurança. “Virá a mim...” Eis a resposta humana – conforme o resultado do trabalho da graça de Deus no interior do homem – Ele vai – ele não é arrastado – Eis o poder da regeneração! Esse poder que o fez ir mudando a sua natureza, continuará agindo nele. Torna o seu relacionamento com Cristo seguro. Cristo nunca o rejeitará: “...e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. A rejeição de quem busca a Cristo segundo a operação da Graça – (“Todo o que o Pai me dá virá a mim ) é uma impossibilidade absoluta.

O verso 38 continua o pensamento com a explicação - o Filho veio para fazer a vontade do Pai. E qual é a vontade do Pai?  “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca...” – Veja que tudo é perfeitamente equilibrado – a segurança da pessoa é baseada em duas coisas – a vontade do Pai – “Que nenhum se perca” – e em segundo lugar, o fato de que Cristo cumpre essa vontade do Pai. A segurança flui do Pai (Ele nos dá a Cristo) e a segurança flui do Filho (Ele sempre faz a vontade do Pai) – É impressionante a interação entre o Pai e o Filho na salvação de cada cristão.

O homem é o objeto de salvação, o objeto da graça soberana de Deus. O evangelho é a mensagem da graça, e graça é algo dado totalmente na base do desejo de Deus. Tal coisa é terrivelmente prejudicial é humilhante para o orgulho ( “auto-estima” )  do homem e qualquer conceito de sermos capazes de salvar a nós mesmos ou até mesmo "ajudar a Deus".  Isso faz com que toda vida de santidade e perseverança dos santos, flua dos méritos divinos e nada é creditado ao homem e suas capacidades.

Chegamos a Deus inteiramente indignos de Seu amor e graça, totalmente incapazes de realizar até mesmo início de sua obra em nossos corações. Podemos possivelmente imaginar uma situação mais segura do que isso?

Selados pelo Espírito

Paulo escreveu: "... Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória. " ( Efésios 1:13-14).

Nesta passagem encontramos o fato de que o Espírito Santo é descrito de duas maneiras importantes para a nossa segurança eterna. Primeiro, diz-se que fomos "selados" pelo Espírito Santo da promessa.

Este termo foi usado em documentos seculares para se referir ao ato de colocar um selo para marcar a posse.   Neste caso a presença do Espírito Santo na vida de uma pessoa mostra que ele é "propriedade" de Deus, sua posse.

Paralelo com isso está a frase "O qual é o penhor da nossa herança.."

Ambas as frases falam do mesmo fato. Aqui o Espírito é descrito pelo termo grego arrabon. Um termo usado em documentos seculares para se referir a garantia. Isso remete ao fato de que o Espírito Santo na vida de um crente é a garantia da parte de Deus Pai de completar a obra que Ele tem iniciado em que a vida (Filipenses 1:6).

"Promessa" e "herança". Esses termos são usados ​​por Paulo na conclusão do trabalho da salvação de Deus em nossas vidas no fim dos tempos. Assim, vemos que a presença do Espírito Santo em nossas vidas é a maneira de Deus dizer:  "Esta pessoa é minha - eu tenho começado a salvação em  sua vida, e coloquei o Meu Espírito nesta vida. Eu estou dizendo a todos que esta pessoa pertence a mim, e eu vou terminar o trabalho que comecei!

Vemos este papel do Espírito na vida do crente [por exemplo, em Romanos 8] que o Espírito fortalece e santifica o crente também. Por isso, é claro que cada uma das Pessoas divinas está vitalmente envolvida na obra da salvação.

O Pai soberanamente e de forma unilateral nos escolhe para a salvação. Ele nos dá ao Filho que, em obediência à vontade do Pai, salva aqueles que estão unidos a Ele pelo Pai, e nos eleva a vida eterna.

O Espírito de Deus é colocado em nossas vidas para nos capacitar e selar como propriedades exclusivas de Deus. Salvação, então, é de Deus - Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. Cada uma das três pessoas está intimamente envolvida em trazer a salvação dos eleitos, e somente por isso a salvação é eterna e segura.
                                    

sábado, 23 de junho de 2012

Deus e mais ninguém!!


Que desamparo, que incapacidade, que impotência, que miséria inunda a alma do homem morto em seus delitos e pecados! Não é que o homem natural seja simplesmente incapaz de fazer o bem, ele é “poderoso” para fazer o mal.     

Nada pode ser aproveitado, nada pode ser melhorado, tudo deve ser criado de novo a partir do caos que é o homem alienado de Deus:“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. ( 2 Coríntios 5:17). Um poder imenso, como aquele usado na criação do universo é usado aqui – com a diferença de que na Criação não havia oposição, mas aqui há.

A obra que Deus faz na alma que Ele regenera é uma obra de poder Soberano e Onipotente! Um grande poder foi usado quando Deus na escuridão primordial falou: “Haja Luz!”. Que poder nos tirou do Império das trevas e do poder de Satanás? O braço onipotente sozinho o fez.

Considere todas as dificuldades que a Graça teve de superar na ressurreição de um homem morto espiritualmente para vida predestinada a ser como Cristo. Olhe as profundezas da Queda. Contemple a alma morta em delitos e pecados, a alienação completa da vida de Deus, escuridão, cegueira, perversidade, depravação de todas as afeições! Paulo disse aos efésios: “Eu oro para que vocês conheçam... a sobreexcelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder...” Efésios 1:19

O poder que colocou Jesus a direita do Pai – nada menos que isso foi necessário, diz Paulo. O homem estava morto em obstinação, teimosia, orgulho, incredulidade, infidelidade, justiça própria. Uma paixão pelas trevas! Olhe todos os seus preconceitos contra tudo que é piedoso e santo. Contemple a inimizade contra Deus, a desesperada e implacável mente carnal, a adoração ao deus-ventre, suas entranhas enraizadas no mundo com todas as suas variadas formas...

Todas as esperanças do homem natural estão ligadas ao tempo e ao sentido, uma verdadeira massa de pecados e combinação de inimigos bem treinados e armados cujo único intuito é aprisionar.

Adicione a tudo isso o poder e a malícia das artes do engano de Satanás, e você entenderá como o homem forte e poderoso mantém a sua presa.

Amar uma vida oposta na qual nasceu é simplesmente impossível ao homem natural. Pense que tipo de mudança faria um homem assim abraças todos os sacrifícios que frequentemente estão no caminho dos que vivem piedosamente por Cristo neste mundo, os laços que devem ser quebrados, as perspectivas lucrativas que terá que abandonar, o abandono vindo de velhos amigos, a disposição de perder a vida e negar a si mesmo... É um abismo intransponível mesmo que o homem natural desejasse, mas ele odeia a ideia, odeia Deus, odeia a santidade... 

Contemplando então uma alma morta em delitos e pecados, com todos os obstáculos invencíveis como só a morte pode espalhar – Como se levantar numa nova vida espiritual?

Apenas um poder onipotente que pode criar do nada, distinto e independente de qualquer esforço vão da criatura pode chamar da morte para a vida. O poder não está no “defunto”, mas No que Chama!!

Este mesmo poder Onipotente deve ser contemplado na "manutenção" da vida divina em nossa alma. Sinta e veja as montanhas de dificuldades, os oceanos de tentações, os furacões do erro, as tempestades de aflições, os profundos vales de concupiscência, as armadilhas de Satanás, prolixas em vileza e impiedade, as torrentes de paixões, as armadilhas secretas, as rochas de rebeldia, os temporadas de trevas, os campos da esterilidade, a sombra da morte, as armas da carne, o caminho estreito, os espinhos da hipocrisia espalhados, falsos mestres... Como o homem poderia chegar ao final?

“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória!Judas 1:24

Nada a não ser a vida invencível e imortal de Deus plantada na alma e da qual o novo homem foi criado, junto com a operação segundo após segundo das Mãos Onipotentes poderiam conduzir o homem seguro.

Deus está fazendo isso, e mais ninguém!!


                                           Soli Deo Gloria!! – Josemar Bessa

sábado, 16 de junho de 2012

John Piper – Quatro Razões para Buscar a Deus Apaixonadamente









Por que eu insisto que você deve seguir a Deus firmemente, ou, o que é a mesma coisa, por que nós devemos seguir a Cristo firmemente? Aqui estão quatro razões:

1. Para conhecê-Lo

Primeiro, nós devemos seguir a Cristo firmemente para conhecê-Lo. Filipenses 3.7-8: “Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor“. Paulo seguia a Cristo firmemente, renunciando todas as coisas das quais as pessoas normalmente se gloriam; e ele fazia isso para que pudesse conhecê-Lo.
Por quê? Porque conhecer a Cristo é uma riqueza que ultrapassa tudo o mais. A evidência da conversão é se você de fato se tornou um hedonista cristão. Hedonistas cristãos sempre seguem firmemente em busca da riqueza suprema. Eles alegremente vendem tudo em troca do tesouro escondido e da pérola de grande valor (Mateus 13.44-45). Nós devemos seguir a Cristo firmemente, porque não fazê-lo significa que nós não desejamos conhecê-lo. E não desejar conhecer a Cristo é um insulto ao Seu valor e um sinal de letargia ou morte espiritual em nós. Mas quando você segue a Cristo firmemente, para conhecê-Lo, a recompensa é a sua alegria e a glória Dele.

2. Para confirmar a nossa justificação

Segundo, nós devemos seguir a Cristo firmemente para confirmar a nossa justificação. A justificação se refere ao maravilhoso ato de Deus no qual Ele perdoa todos os nossos pecados e imputa a nós a Sua própria justiça, através da nossa fé em Cristo. Filipenses 3.8-9: “por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé”.
Filipenses 3.9 é claro: a justiça que Paulo busca é baseada na fé. Mas ele a está buscando! Como um cristão, ele considera todas as coisas como perda para ter a sua justificação. A fé que justifica é uma fé que renuncia os valores terrenos e busca a Cristo. Se a justificação depende da fé, e se renunciar ao mundo por considerá-lo como lixo é necessário para ter os benefícios da justificação, então está claro: a fé salvadora não é meramente uma única decisão por Cristo, mas é uma preferência contínua por Cristo sobre todos os outros valores. A busca de Cristo é a evidência da fé genuína em Cristo como o nosso tesouro. Portanto, nós devemos seguir a Cristo firmemente para confirmar a nossa justificação.

3. Porque nós somos tão imperfeitos

Nós devemos seguir a Cristo firmemente porque nós somos tão imperfeitos. Filipenses 3.12: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo”. Nós devemos seguir a Cristo firmemente porque nós somos tão deficientes. Um estudante fraco deveria buscar um professor particular. Pessoas míopes deveriam buscar um oftalmologista. Pessoas com a garganta inflamada deveriam tomar antibióticos. Alcoólicos deveriam buscar um grupo de apoio. Jovens aprendizes deveriam seguir o seu mestre em seu trabalho.
Não seguir a Cristo firmemente significa ou que você não confia em Seu poder e disposição para mudar as suas imperfeições, ou que você deseja se apegar às suas imperfeições. Em ambos os casos, Cristo está sendo desprezado e nós estamos perdidos.

4. Porque Ele nos conquistou para Si

A última razão pela qual nós devemos seguir a Cristo firmemente é que Ele nos seguiu firmemente e, de fato, nos conquistou para Si pela fé. Filipenses 3.12 novamente: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.” Essa sentença destrói a falsa lógica a qual afirma que, se Cristo nos encontrou, nós não mais precisamos buscá-Lo. Se Ele nos agarrou, nós não precisamos nos esforçar para agarrá-Lo.
Paulo argumenta exatamente o contrário: eu me esforço para ganhar a Cristo, porque Cristo já me ganhou. A conversão de Paulo não era como uma gaiola que o prendia, mas como uma catapulta que o lançava na busca da santidade. A graça irresistível de Cristo triunfando sobre a rebelião de Paulo e salvando-o do pecado não tornou Paulo passivo; ela o tornou poderoso!
Por John Piper © Desiring God. Website: desiringGod.org

sábado, 9 de junho de 2012

Nossa depravação humana – John Stott (1921-2011)




Eis aqui algumas palavras de Jesus:        

Convocando ele de novo a multidão, disse-lhes: Ouvi-me todos e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina... Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.  Jesus não pregou a bondade fundamental da natureza humana. Ele certamente acreditava na verdade veterotestamentária,  de que o ser humano,  tanto homem como mulher, foi criado à imagem de Deus; mas também acreditava que essa imagem havia sido maculada. Ele pregou o valor dos seres humanos, inclusive dedicando-se a servir a eles. Mas também ensinou que não valemos nada. Ele não negou que somos capazes de dar "coisas boas" aos outros, mas também acrescentou que, mesmo que façamos o bem, nem por isso deixamos de ser "maus".  E nos versículos citados acima ele fez importantes declarações sobre a extensão, a natureza, a origem e o efeito do mal nos seres humanos. 

Primeiro, ele ensinou sobre o alcance universal da maldade humana. Ele não estava descrevendo o segmento criminoso da sociedade, nem algum indivíduo ou grupo particularmente corrupto. Pelo contrário, ele estava con¬versando com refinados, "justos" e religiosos fariseus, e então generalizou, falando sobre "um homem" e "homens". De fato, geralmente são as pessoas mais honestas que têm a mais profunda consciência de sua própria degradação. Tomemos como exemplo Dag Hammarskjöld, Secretário Geral das Nações Unidas de 1953 a 1961. Ele foi um servidor público profundamente comprometido, a quem W. H. Auden descreveu como sendo "um homem bom, grande e louvável". Mesmo assim, a visão que ele tinha quanto a si mesmo era muito diferente. Em sua coleção de obras autobiográficas, intitulada Markings, ele escreveu sobre "essa perversa contraposição do mal em nossa natureza", que nos leva a fazer até do nosso serviço aos outros "o fundamento para a nossa própria auto-estima e preservação da nossa vida".

Em segundo lugar, Jesus ensinou sobre a natureza egocêntrica da maldade humana. Em Marcos 7 ele enumerou treze exemplos. O que há de comum entre todos eles é que cada um é uma afirmação do ego, seja contra o nosso próximo (inclusive homicídio, adultério, furto, falso testemunho e cobiça - violações da segunda metade dos Dez Mandamentos), seja contra Deus (sendo que "orgulho e insensatez" são claramente definidos no Antigo Testamento como negação da soberania de Deus e até da sua própria existência). Jesus resumiu os Dez Mandamentos em termos de amor a Deus e amor ao próximo, e todo pecado é uma forma de revolta egoísta contra a autoridade de Deus ou contra o bem-estar do nosso próximo.

Terceiro, Jesus ensinou que a maldade do homem é de origem interna. Sua fonte se encontra, não em um ambiente ruim, nem em uma educação falha (se bem que ambos possam exercer uma forte influência sobre jovens impressionáveis), mas, sim, em nosso "coração", nossa natureza herdada e pervertida. Quase se poderia dizer que Jesus nos introduziu ao freudianismo antes mesmo de Freud. Pelo menos aquilo que ele chama de "coração" é, em termos aproximados, equivalente ao que Freud chama de "inconsciente". Isso nos faz lembrar um poço bem profundo. A espessa camada de lama que jaz no fundo geralmente não se vê, e muito menos se suspeita. Mas quando as águas do poço são agitadas pelos ventos da emoção violenta, a imundície mais fétida e nojenta sai borbulhando das profundezas e irrompe na superfície: ódio, raiva, lascívia, crueldade, ciúmes e revolta. Em nossos momentos mais sensíveis nós somos atormentados pela nossa potencialidade para o mal. E de nada adiantam tratamentos superficiais.

Em quarto lugar, Jesus falou do efeito contaminador da maldade humana. "Todos estes males vêm de dentro", disse ele, "e contaminam o homem".  Para os fariseus, a contaminação era algo muito mais exterior e cerimonial; eles se preocupavam com alimentos limpos, mãos limpas e vasilhas limpas. Mas Jesus insistiu em dizer que a contaminação é algo moral, que vem de dentro. O que nos torna impuros aos olhos de Deus não é o alimento que entra em nós (que vai para o nosso estômago), mas o mal que sai de nós (que sai do nosso coração).

Todas as pessoas que já conseguiram ver, ao menos de relance, a santidade de Deus, foram incapazes de suportar essa visão, de tão chocadas que ficaram diante da sua própria e contrastante impureza. Moisés escondeu o rosto, com medo de olhar para Deus. Isaías gritou, horrorizado, chorando sua própria impureza e perdição.

Ezequiel ficou ofuscado, quase cego, ao ver a glória de Deus, e caiu de rosto em terra.  Quanto a nós, mesmo que nunca tenhamos tido, como esses homens, sequer uma visão momentânea do esplendor do Deus Todo-poderoso, sabemos muito bem que não temos condições de entrar em sua presença, seja agora ou na eternidade.

Ao dizermos isso, nós não estamos esquecendo a nossa dignidade humana, com a qual se começou este capítulo. Devemos, no entanto, fazer jus à avaliação do próprio Jesus sobre a maldade da nossa condição como seres humanos. Ela é universal (em todo ser humano, sem exceção), egocêntrica (uma revolta contra Deus e contra o próximo), íntima (brota do nosso coração, de nossa natureza caída) e aviltante (torna-nos impuros e, portanto, indignos diante de Deus).