domingo, 28 de julho de 2013

Igreja Subversiva: Virando o mundo de pernas pro ar


                                                                      Por Hermes C. Fernandes

“Um outro mundo é possível!” Esta frase sintetiza o ideal de pessoas como Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, Martin Luther King, John Lennon e outros. Mesmo alguém como Che Guevara, a quem se atribui tantos crimes praticados na guerrilha, acreditava piamente em seu ideal, e por ele se dispunha a morrer. Por isso, fiz questão de inclui-lo em minha pequena lista de ícones idealistas do último século. Apesar de confessarem credos diferentes, ou de atuarem em frentes diversas, ou utilizarem métodos questionáveis, o que essas pessoas tinham em comum era o idealismo, ítem cada vez mais raro em nossos dias.

Não compro pacotes fechados! Posso admirar e até inspirar-me no idealismo de alguém, sem com isso abraçar sua ideologia. Posso compartilhar de seus sonhos, sem comprometer-me com seus métodos. Posso almejar atingir seus alvos, sem sentir-me obrigado a percorrer seu caminho.

Alguns podem protestar pelo fato de incluir pessoas de outras religiões em minha lista. O que diriam de Paulo, que em sua pregação no Areópago de Atenas, citou filósofos gregos pagãos?

Será que jamais ouviram falar de “graça comum”?

Posso reconhecê-la no brilho do olhar de um jovem idealista, ainda que este se pronuncie ateu. Posso reconhecê-la nas linhas harmônicas das obras arquitetônicas de Niemeyer, outro célebre idealista ateu. Se tão-somente nos livrássemos de nosso preconceito, quanto da graça não identificaríamos naqueles que sonham e trabalham por um mundo diferente! Mas em vez disso, preferimos o gueto, o evangeliquêsinsosso, a espiritualidade alienante e entorpecente. Por favor, não se sintam agredidos. Se sou pesado em palavras é porque almejo despertar sua consciência.

E quanto àqueles a quem consideramos os ícones do que chamamos de sucesso? Uns começaram de baixo, e alcançaram posições tão sonhadas por muitos de nós, pobres mortais. Outros, como Paris Hilton, são herdeiros de enormes fortunas. Conquanto tenham origens diferentes, têm em comum o fato de haverem perseguido e realizado seus sonhos pessoais. Algum demérito nisso? Não! O problema é que a maioria deles tem a oportunidade de mudar o mundo, mas não a aproveita, simplesmente porque seu sucesso depende das coisas como elas são. É aquela velha estória: em terra de cego, quem tem um olho é rei.

Quem, neste mundo, chega a ser um bilionário sem ter que transigir com alguns princípios?

É verdade que alguns deles, como Bill Gates, por exemplo, são filantropos, isto é, distribuem parte de sua fortuna para obras de caridade em todo o mundo. Palmas para ele! Porém, o que o mundo precisa não é meramente de filantropia, e sim de justiça. O mesmo Bill Gates já comprou muitas pequenas empresas de software, para coibir a concorrência. Não foi em vão que Paulo denunciou a possibilidade de se distribuir bens para os pobres, sem necessariamente ser motivado por amor. Muitos bilionários o fazem pra aumentar a credibilidade de suas marcas junto a opinião pública. Não posso afirmar ser este o caso do dono da Microsoft, mas certamente é o caso de inúmeros outros.

Se você tivesse a oportunidade de associar sua imagem a um destes grupos, em qual deles você se sentiria mais confortável? Talvez você preferisse ter sua foto vinculada a figuras como Billy Graham, ou Mandela, não por acreditar no mesmo idealismo que os motivava, mas por querer ficar bem na fita. Lembre-se que Deus não julgará apenas nossas ações, mas também nossas motivações.

Sinceramente, quem não gostaria de ter seu rosto figurando naquele panteão de pessoas famosas e bem-sucedidas? Será que vale a pena viver por isso?

O evangelho da prosperidade insiste que sim. Para seus defensores, o importante é ter, mesmo que em detrimento do ser.

Na concepção do mundo, sucesso é concentrar riquezas e ser reconhecido por aquilo que faz. Porém, na concepção genuinamente cristã, sucesso é fazer de sua vida um motivo de gratidão a Deus por parte daqueles que se beneficiam dela.

Aos olhos de Deus, bem-sucedido é quem vive em função do bem-comum, e não de seus próprios sonhos de consumo.

Qualquer um dos que figuram na lista de celebridades, caso se encontrasse com Jesus, ouviria d’Ele o mesmo que o jovem rico ouviu: “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu. Então vem, e segue-me” (Mt.19:21). Será que algum dentre eles se habilitaria? E você?
Na há mensagem mais subversiva do que a pregada por Aquele jovem Galileu revolucionário de cabelos cumpridos. Quem ousa vivê-la às últimas consequências?

Chega deste lixo de teologia da prosperidade! Chega deste desevangelho medíocre, que só faz estimular nas pessoas o pior que há em sua natureza. Que nossos ícones sejam outros, em vez daqueles oferecidos pelo capitalismo selvagem. Que nos inspiremos em homens como Francisco de Assis, que peitou o Papa e o desafiou a voltar à simplicidade do Evangelho. Ou em homens como Dietrich Bonhoeffer, o ministro alemão que resistiu ao nazismo de Hitler, pagando com sua própria vida.

Lembre-se que os discípulos de Jesus foram reconhecidos originalmente como aqueles que estavam colocando o mundo de pernas pro ar.

Rompa com o sistema! Não seja mais uma engrenagem dele. Sabote-o! Torne-se num discípulo subversivo de alta periculosidade. Denuncie o erro. Encarne a mensagem. Aponte o caminho para as próximas gerações.

Longa vida à revolução reinista!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A centralidade da cruz








John Stott

Porque, quando estive com vocês, resolvi esquecer tudo, a não ser Jesus Cristo e principalmente a sua morte na cruz. [1 Coríntios 2.2, NTLH]
Qualquer pessoa que estude o cristianismo pela primeira vez logo ficará impressionada com sua ênfase na morte de Jesus e, como já vimos, particularmente com o espaço desproporcional que os evangelistas dedicam à sua última semana de vida.
Os autores dos Evangelhos haviam aprendido essa ênfase com o próprio Jesus. Em três ocasiões distintas e solenes Jesus predisse sua morte dizendo: “Era necessário que o Filho do Homem sofresse muitas coisas… e… fosse morto” (Mc 8.31). Era necessário que isso acontecesse — ele insistiu — porque havia sido predito nas Escrituras do Antigo Testamento. Jesus também se referiu à sua morte como a sua “hora”, a hora para a qual ele viera ao mundo. No começo, ele repetiu que ela ainda “não havia chegado”, mas finalmente pôde dizer que “sua hora chegara”.
Talvez o mais impressionante de tudo isso seja o fato de Jesus ter determinado, de modo deliberado, como gostaria de ser lembrado. Ele instruiu seus discípulos a tomar, partir e comer o pão em memória de seu corpo, que seria partido por eles, e a tomar, derramar e beber o vinho em memória de seu sangue, que seria derramado em favor deles. A morte era representada por ambos os elementos. Nenhum simbolismo poderia ser mais claro. Como ele queria ser lembrado? Não por seu exemplo ou seu ensino, não por suas palavras ou obras, nem mesmo por seu corpo vivo ou pelo sangue que corria em suas veias, mas por seu corpo entregue e seu sangue derramado no sacrifício da cruz.
Assim, a igreja acertou na escolha do símbolo do cristianismo. Ela poderia ter escolhido qualquer outra entre muitas opções — por exemplo, a manjedoura, simbolizando a encarnação; a carpintaria, que comunica a dignidade do trabalho manual; ou a toalha, símbolo do serviço humilde. No entanto esses símbolos foram ignorados em favor da cruz.
A escolha da cruz como o símbolo supremo do cristianismo foi totalmente extraordinária porque na cultura greco-romana a cruz era objeto de vergonha. Como, então, o apóstolo Paulo pôde dizer que se gloriava nela? Esta é uma pergunta cuja resposta buscaremos esta semana.
Para saber mais: 1 Coríntios 1.17-25
>> Retirado de A Bíblia Toda, o Ano Todo [John Stott].  Editora Ultimato.

domingo, 21 de julho de 2013

Otimismo não é fé!



Vivemos numa época em que a igreja confunde pensamento positivo com fé. Mas é sutil, ao olharmos para os problemas da vida, da sociedade, da igreja... acharmos que o otimismo simplesmente é a chave...

Quem tem menos chance de sobreviver a um campo de prisioneiros de guerra? Provavelmente nenhum de nós experimentou tal situação... Quem tem menos chance de sobreviver?

Um otimista!

Espere antes de discordar. Segundo o general Stockdale, que foi mantido em cativeiro por oito anos durante a Guerra do Vietnã e foi torturado inúmeras vezes antes de finalmente ser liberto e voltar para casa, foi principalmente – quase em sua totalidade – os otimistas que não saíram de lá vivos.

Que explicação ele dá para isso? Ele diz: “Eles foram os únicos que disseram – ‘Nós vamos estar em casa até o Natal'. E o natal chegava e nada tinha acontecido. Então eles diziam, ‘Nós vamos estar em casa até a Páscoa’. E a Páscoa chagava e nada. ‘Estaremos em casa até o dia de Ações de Graças...’ Nada! E então seria no Natal novamente... E eles morreram de um coração partido e desiludido”

Mero otimismo é completamente diferente do que podemos chamar de fé realista: - “Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” -  Romanos 14:8

Em completo contraste com o que podemos chamar de falso otimismo, Stockdale atribui a sua sobrevivência a fé realista. Ele diz: “Você nunca deve confundir a fé que você por fim pode prevalecer sobre aquela situação, com o “otimismo” que faz esvair toda a disciplina para enfrentar os fatos mais brutais de sua realidade atual, seja o que ela possa ser no momento”. 

Isso que é que podemos chamar de O Paradoxo Stockdale – A fé supera o otimismo! Ou seja, abandonar a ideia que é apenas uma miragem no deserto. Que temos balas de prata para matar o monstro... que tudo simplesmente vai se ajustar... mas que somos chamados a perseverar em meio as aflições – “Sabendo que a prova da vossa fé opera a paciência” - Tiago 1:3 – “...e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, E a paciência a experiência, e a experiência a esperança.” - Romanos 5:2-4

Devemos aplicar esse princípio as nossas vidas, nossos ministérios... Muitas vezes tudo que os cristãos fazem é entreter otimismo sem fim na “próxima grande coisa” – na próxima “grande estratégia” – no próximo “grande método” – no próximo “grande avanço”... em suas vidas, igrejas... A consequência é o aumento do número de cristãos, pastores, igrejas... desiludidos. Como disse Stockdale, “morrendo de corações partidos”.

Só podemos evitar isso abandonando todo otimismo centrado na próxima grande coisa, ministério, personalidade... no próximo grande sermão, técnica, estratégia, contextualização, filme, música... achando que isso será o ponto de virada para corrigir nossa vida, igreja... Tudo isso nos tira da realidade e por fim explode em nossa cara.

Devemos enfrentar a realidade brutal em nossas vidas, em nossas famílias, em nossas igrejas, em nossa sociedade... Tendo uma fé inabalável na Palavra de Deus. Na Sua promessa que não pode falhar de que ela nos fará perseverar: “Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória” - Judas 1:24 – Irá edificar a Sua igreja: “...edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” -  Mateus 16:18 – Fará tudo cooperar para o bem daqueles que Ele chamou soberanamente: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” -  Romanos 8:28 – Quer vivamos, quer morramos:“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou vivamos ou morramos, somos do Senhor.” -  Romanos 14:8

Otimismo não é fé. Mas a fé é otimista.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Querer


David CNOC Shrader

Andando errante neste mundo
Não tinha paz nem alegria
Andava sujo e imundo
Mas Ele conheci um dia
Vagando me encontrou
E da morte me salvou

Quero beber da fonte de água cristalina
Quero sentir em mim o teu amor
Quero conhecer a luz que ilumina
Quero viver pra ti meu Salvador

Não mais sede terei
Pois com Cristo viverei
Lá a dor não sentirei
Pois com Cristo viverei
Morte lá não haverá
Minha lágrima Ele limpará

* Via Skipe: O autor é colaborador desse blog desde 2010.

terça-feira, 16 de julho de 2013

A nascente da corrupção

Ultimatoonline

O que interessa mais: um texto sobre a nascente da corrupção ou um texto sobre a história da corrupção? Como o primeiro é o prefácio do segundo torna-se claro que aquele é mais importante que este. Antes de percorrer o rio Amazonas até a sua foz ao norte da ilha de Marajó, é de bom alvitre conhecer como e onde ele nasce nos Andes peruanos a mais de 5 mil metros acima do nível do mar. Para conhecer a história da corrupção e todas as suas implicações, é preciso conhecer a nascente da corrupção nos primórdios da história.

Para descobrir a idade da corrupção basta descobrir a idade do ser humano. Isto quer dizer que a corrupção é tão antiga quanto a criatura humana. Para ser mais exato, a corrupção é um pouco mais nova. Entre a criação do ser humano e a queda há um espaço de tempo ignorado.

Há um acontecimento de grande importância que envolve toda a humanidade que, em linguagem teológica, tem o solene nome de “a queda do homem”. A experiência da queda, que Agostinho chamava de “pecado original”, destrói a naturalidade, divide a personalidade, altera dramaticamente o comportamento e desaponta o ser humano. Embora essa queda tenha ocorrido em tempos remotíssimos e historicamente diga respeito ao primeiro ser humano, tal experiência é universal e coletiva – não poupa ninguém. Todo homem é solidário a Adão e vem ao mundo com esta natureza decaída.

Ao discorrer sobre o assunto, Lutero é veemente: “O pecado original é uma privação total de toda a retidão e de toda a potência de todas as forças tanto do corpo quanto da alma do homem por inteiro, interior e exterior”.

É certo, como diz Paul Tillich, que “as forças biológicas, psicológicas e sociológicas exercem uma influência real sobre toda decisão individual”. Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que, à luz das Escrituras Sagradas (Gn 3), “a atual miséria humana da humanidade originou-se do pecado, presente na humanidade desde o início”, muito embora essa imagem não corresponda à intenção criadora de Deus.

Essa corrupção hereditária, isto é, a presença do mal dentro do ser humano, não importando seu sexo, sua idade, sua época, seu grau de cultura, sua crença e seu nível social, é repetidamente admitida e confessada através da história. No primeiro século da era cristã, Sêneca declarou: “Somos todos perversos. O que um reprova no outro, ele acha em seu próprio peito. Vivemos entre perversos, sendo nós mesmos perversos”. Na mesma época, Paulo confessava abertamente: “No íntimo do meu ser tenho prazer na lei de Deus; mas vejo outra lei atuando nos membros do meu corpo, [...] tornando-me prisioneiro da lei do pecado que atua em meus membros” (Rm 7.22-23). No século 17, Blaise Pascal afirmou que “o coração humano é oco e cheio de baixeza”. No século 18, Johann Goethe foi muito honesto ao dizer: “Não vejo falta cometida [por outra pessoa] que eu não pudesse ter cometido”. No século 19, Fiódor Dostoiévski não hesitou em afirmar que “em todo humano, naturalmente, há um demônio escondido”. No século 20, Francis Schaeffer, um ex-agnóstico convertido à fé cristã, explicou: “O homem em primeiro lugar está separado de Deus; em segundo, está separado de si mesmo (daí os problemas psicológicos da vida); em terceiro, está separado dos outros homens (daí os problemas sociológicos da vida); e em quarto, está separado da natureza (daí os problemas ecológicos)”. E agora, ainda no início do século 21, o psicanalista Contardo Calligaris reflete: “Há, às vezes (mais vezes que parece), escondidas em nosso âmago, ambições envergonhadas ou vergonhosas, que não confessamos nem a nós mesmos”.

O que mais surpreende é que a maior parte desses testemunhos de corrupção hereditária é redigida não por religiosos e teólogos, mas por jornalistas, escritores e profissionais liberais, como pode ser visto no livro Por que (Sempre) Faço o que não Quero?, em que há mais de cem pronunciamentos nessa linha, retirados em seu maior número de revistas e de jornais seculares.


Equipe Editorial Web
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sábado, 13 de julho de 2013

As Riquezas Infinitas de Cristo - João Calvino


 Sem o evangelho
tudo é inútil e vão;
sem o evangelho
não somos cristãos;
sem o evangelho
toda riqueza é pobreza;
toda sabedoria, loucura diante de Deus;
toda força, fraqueza;
e toda a justiça humana jaz sob a condenação de Deus.
Mas pelo conhecimento do evangelho somos feitos
filhos de Deus,
irmãos de Jesus Cristo,
compatriotas dos santos,
cidadãos do Reino do Céu,
herdeiros de Deus com Jesus Cristo, por meio de quem
os pobres são enriquecidos;
os fracos, fortalecidos;
os néscios, feitos sábios;
os pecadores, justificados;
os solitários, confortados;
os duvidosos, assegurados;
e os escravos, libertados.
O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê. Assim, tudo o que poderíamos pensar ou desejar deve ser achado somente neste mesmo Jesus Cristo.
Pois ele foi
vendido para nos comprar de volta;
preso para nos libertar;
condenado para nos absolver.
Ele foi
feito maldição para nossa bênção;
ofertado pelo pecado para nossa justificação;
desfigurado para nos tornar belos;
Ele morreu pela nossa vida para que, por seu intermédio,
o furor converta-se em mansidão;
a ira seja apaziguada;
as trevas tornem-se luz;
o temor, reafirmação;
o desprezo seja desprezado;
o débito, cancelado;
o labor, aliviado;
a tristeza convertida em júbilo;
a desdita, em felicidade;
as emboscadas sejam reveladas;
os ataques, atacados;
a violência, rechaçada;
o combate, combatido;
a guerra, guerreada;
a vingança, vingada;
o tormento, atormentado;
o abismo, tragado pelo abismo;
o inferno, trespassado;
a morte, assassinada;
a mortalidade convertida em imortalidade.
Resumindo,
a misericórdia tragou toda a miséria;
e a bondade, toda a infelicidade.
Porque todas essas coisas, que deveriam ser as armas do mal na batalha contra nós, e o aguilhão da morte a nos trespassar, transformam-se em provações que podemos converter em nosso benefício.
Se podemos exultar com o apóstolo, dizendo, Ó inferno, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão? É porque, pelo Espírito de Cristo prometido aos eleitos, já não somos nós quem vive, mas é Cristo quem vive em nós; e, pelo mesmo Espírito, estamos assentados entre aqueles que estão no céu, de modo que, para nós, o mundo já não conta, mesmo que ainda coexistamos nele; mas em tudo estamos contentados, independentemente de país, lugar, condição, vestimentas, alimento e todas essas coisas.
E, portanto,
somos consolados na tribulação,
nos alegramos no infortúnio,
glorificamos quando vituperados,
temos abundância na pobreza,
somos aquecidos na nudez,
pacientes entre os maus,
vivos na morte.
Eis, em síntese, o que deveríamos buscar em toda a Escritura: conhecer verdadeiramente Jesus Cristo e as riquezas infinitas compreendidas nele, as quais nos são ofertadas nele por Deus, o Pai.
Extraido deMonergismo
Fonte: “Preface to Olivétan’s New Testament” em Westminster Library of Christian Classic (Vol. XXIII), Calvin: Commentaries – Westminster John Knox Press, julho/79, pp. diversas.
Fragmentos do prefácio de Calvino à versão francesa do Novo Testamento (1534) traduzido por Pierre Robert Olivétan.
Seleção e arranjo: Tiago Canuto Baia
Tradução: Marcos Vasconcelos
Recife, 28 de julho de 2009

Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2009/08/joao-calvino-as-riquezas-infinitas-de-cristo/

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O mundo seria a mesma tragédia mesmo sem dor, morte e tristeza.


 POR JOSEMAR BESSA

O “evangelho” que produz paixão em muitos hoje é simplesmente uma forma e maneira de consertar o mundo. Toda espécie de coisas tendem a substituir Deus em nossos corações. Calvino dizia que o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Não nos admiramos de o primeiro mandamento, dos 10 Mandamentos, seja: “Não terás outros deuses diante de mim.” - Êxodo 20:3

Entre muitas coisas, olhemos apenas uma que nos mostra como  mesmo que o homem tivesse a plenitude de tudo que é bom na criação, prazer, saúde... a tragédia não se desapegaria da sua existência.

Use o melhor de sua imaginação e olhe para o homem no Paraíso. Não só o homem, mas todas as criaturas estavam na melhor condição possível, sem dor, sem sofrimento... só beleza... não sujeitos a vaidade, a morte... como agora. Tudo que Deus fez era muito bom e Adão tinha tudo o que Deus fez, e tudo aquilo não era a sua felicidade.

Se a perfeição do Paraíso, se as criaturas num esplendor que só podemos imaginar agora... não foram a felicidade do homem, imagine toda a criação caída e sujeita a vaidade. Quão fútil é a busca de satisfação e felicidade agora neste mundo.

Colocar e buscar a felicidade no prazer da criatura – coisas, natureza, pessoas... – É um  pecado muito pior do que o de Adão, pois em seus dias de Éden, as criaturas eram perfeitas, puras, infinitamente mais atraentes e sedutoras do que são agora debaixo da maldição divina.

O Éden não podia ser a felicidade de Adão, era apenas um símbolo do amor de Deus. Se você tivesse tudo centrado em você, todo o gado sobre todas as montanhas do mundo, todos os sacos de ouro que possam existir, toda a beleza e honra do mundo... eu diria para você o mesmo que um homem sábio me disse: “Homens não sabem amar pela prosperidade, como sabem odiar pela adversidade”.

Na verdade, o mundo, grande e bom como é, ou era, não é bom o suficiente para um amor dominador. Deus enviou seu Filho, e nada mais do que ele, e o que está nele, é o pode ser o objeto de um amor dominador, completo e satisfatório em nosso coração.

Concluímos então que, a felicidade é de uma natureza mais elevada do que a criação, e seu objeto não pode ser nada menos que o próprio Deus, e que o homem é um tolo em procurar em outro lugar, mas o pecado subverteu toda mente natural e fez de todos os homens tolos completos.


“...porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos, e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém.” - Romanos 1:21-25

sábado, 6 de julho de 2013

Sobre os Protestos no Brasil

                               Imagem: Nelson Antoine/Fotoarena/Folhapress

Ricardo Coelho Moreira

“O Brasil acordou!” Essa frase se tornou clichê nos últimos dias. O levante, visto positivamente pela maior parte da população, assusta alguns. A geração passada, desacreditada da nossa, está felizmente chocada. Mas o espanto das classes dominantes e dos políticos beira, em alguns casos, o terror. Há alegria no coração do povo e medo na liderança nacional. Protesto tupiniquim, com força, com festa e tom pacífico. As exceções violentas, seja por vandalismo ou ideologia anarquista, são sociologicamente explicáveis e ínfimas em relação à totalidade do movimento histórico.

Nas mídias tradicionais ou na internet, a maior parte aprova. Alguns por medo criticam. Outros estão calados ou alienados. Um movimento apartidário, do povo e para o povo. Sem partido político ou religioso. 

No entanto, escrevo para apontar a apatia que tenho visto por parte da maioria da Igreja Evangélica Brasileira. Enquanto a Igreja Católica lutava embasada pela Teologia da Libertação nos tempos de Ditadura, os evangélicos estavam submissos. O Brasil protesta e a maior parte do evangelicalismo limita-se a apenas observar tudo com ar de desconfiança. Por outro lado, alguns cristãos protestam de uma forma que envergonham o nome de Cristo. 

De forma direta, com o tom dos gritos das ruas:

O texto de Romanos 13, usado por muitos para justificar a própria apatia e condenação dos envolvidos nas manifestações, se analisado em seu contexto, não reprova protestos públicos ordeiros por parte do povo. Como a história nos conta, os primeiros a reivindicarem a abolição da escravatura foram cristãos protestantes. Martin Luther King, um dos maiores nomes contra a segregação étnica nos EUA era um pastor evangélico.

O uso de força e violência, ainda que justificado por algumas correntes ideológicas, não são coerentes com a ética cristã.

O protesto nas ruas por parte dos cristãos, sem o cumprimento do imperativo bíblico de I Tm 2:1-2, é no mínimo uma inversão de ações e também pecado e incoerência.

Lutar contra a corrupção dos governantes, não lutando diariamente contra nossa corrupção interior é hipocrisia. Buscar justiça social sem averiguar como anda sua própria justiça é tolice. 

Nossa primeira cidadania é a celestial, isso não nos exclui do exercício da cidadania terrena, ao contrário, nos convida a dar o exemplo de “como fazer”. Com caráter, oração e ação persistente! 

Pra cima deles Brasil!

Fonte:http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/sobre-os-protestos-no-brasil
Site: http://galeradabasileia.blogspot.com

terça-feira, 2 de julho de 2013

Indignação: dever cívico e cristão

Por Alderi Souza De Matos

Estamos acostumados a pensar na indignação como um sentimento negativo. Certamente ela pode ter essa conotação, como a própria Escritura aponta em diversas passagens. O apóstolo Paulo, ao falar de algumas atitudes que os cristãos deviam abandonar, começa a lista mencionando a ira, a indignação e a maldade (Cl 3.8). É claro que aqui o termo significa desejar o mal para outra pessoa, sentir ódio, e nesse sentido só pode ser algo condenável. Em outros textos, porém, a palavra adquire um sentido positivo, indicando uma reação de inconformidade e de repúdio ao mal, ao erro, à injustiça. Um dos provérbios de Salomão afirma: “Os que desamparam a lei louvam o perverso, mas os que guardam a lei se indignam contra ele” (Pv 28.4). O próprio Jesus teve esse sentimento em algumas ocasiões (Mc 3.5; 10.14).

Corretamente entendida, a indignação pode ser uma atitude não apenas aceitável, mas absolutamente necessária para que certas situações sejam transformadas. Sentir indignação significa reagir diante do mal, não ficar passivo e indiferente, protestar ativamente contra aquilo que atenta contra a verdade, contra a justiça, contra a dignidade humana. Esse é um sentimento que infelizmente tem faltado aos brasileiros, em especial a muitos cristãos. Vivemos num país marcado por clamorosas distorções, por horrendas deturpações em nossa vida nacional... e ficamos calados. Com o nosso silêncio, contribuímos para que o mal se perpetue, aumente e pareça normal. Existem algumas áreas em que devemos mostrar o nosso protesto vigoroso, e também a nossa disposição de dar uma contribuição positiva, de oferecer alternativas melhores.

Sociedade e cultura
Ao lado de muitas coisas apreciáveis, a nação brasileira possui elementos de grande malignidade, que deveriam despertar a indignação de todos, a começar dos cristãos. O nível de violência de nossa sociedade é inaceitável para um país que se diz civilizado, uma “potência emergente”. A criminalidade é um câncer que corrói o tecido social, gerando destruição, desespero, um senso permanente de medo e ansiedade. A periculosidade do trânsito em nossas ruas e estradas é sabidamente uma das maiores do mundo. Devido a esses males, todos os anos milhares de pessoas, a maior parte jovens, perdem a vida, deixando famílias destroçadas pela dor e imensos prejuízos para o país. O desrespeito pela vida humana no Brasil também assume outras formas, como as condições aviltantes em que vivem milhões de pessoas e a lamentável situação de boa parcela dos serviços de saúde pública. No entanto, o fatalismo amortece as consciências e pouco se faz para mudar tais situações.

Precisamos protestar e clamar contras essas indignidades de maneira vigorosa e ao mesmo tempo inteligente e criativa. Um belo exemplo desse tipo de iniciativa é o movimento Rio de Paz, da Igreja Presbiteriana da Barra da Tijuca, pastoreada pelo Rev. Antônio Carlos Costa, que por meio de ações silenciosas, mas de grande dramaticidade (como colocar milhares de cruzes numa praia), procura sensibilizar governantes e opinião pública para os números da violência no Brasil. Todos nós podemos fazer telefonemas, enviar e-mails, contatar os nossos representantes, apelando contra a impunidade, reivindicando leis mais rigorosas, exigindo maior responsabilidade e eficiência das autoridades. 

Política e governo
Outra área em que ocorrem chocantes deformações da vida nacional brasileira é o setor político. Diariamente, nos noticiários, somos obrigados a assistir ao espetáculo deprimente dos órgãos legislativos com suas CPIs ineficazes, com seus conselhos de ética coniventes com o erro, com seus deputados e senadores sob permanente suspeita de irregularidades. São nossos representantes, são pagos com os nossos impostos, mas muitos deles estão mais interessados em defender as suas agendas pessoais, os seus mesquinhos interesses paroquiais e partidários. Quanto ao executivo federal, é dirigido por um líder que gosta de exaltar as virtudes da democracia, mas tolera ações ilícitas de movimentos de esquerda, prestigia governantes estrangeiros que violam direitos humanos e, em nome do questionável conceito de “governabilidade”, adula partidos e políticos conhecidos por sua falta de integridade moral.

Onde está a nossa indignação contra tal estado de coisas? Seria maravilhoso se o povo brasileiro demonstrasse nesse âmbito o mesmo entusiasmo que tem, por exemplo, pelos esportes. Muitos fazem tudo pelo seu time preferido, até cometem desatinos, mas onde está a torcida organizada a favor do Brasil, onde estão aqueles que vestem a camisa do patriotismo, da defesa da lei e da ordem, a começar pelas altas esferas do poder? Precisamos nos mobilizar, mostrar a nossa insatisfação, a nossa divergência do que está ocorrendo, sair do marasmo, da passividade cúmplice, pelo voto responsável, pela cobrança de coerência, de resultados, de ações moralizadoras. A experiência tem demonstrado que, quando as pessoas se mobilizam e reivindicam, os mandatários respondem.

A própria carne
Os cristãos em geral e os evangélicos em particular não terão autoridade moral para clamar contra essas aberrações da vida brasileira, não poderão ser a “consciência do Estado”, se não tomarem providências, ao mesmo tempo, para pôr em ordem a sua própria casa. Em décadas passadas, a imagem dos crentes era positiva. Embora considerados um tanto esquisitos, chamavam a atenção pelo estilo de vida simples, pela integridade pessoal, pela rigorosa honestidade. Hoje, teologias deturpadoras do evangelho geram uma cultura religiosa triunfalista que anestesia as pessoas e as torna incapazes de ver os seus próprios erros. Os líderes recebem dos seus fiéis carta branca para fazerem o que desejam sem ser questionados ou criticados. Quando ocorre alguma denúncia, por mais fundamentada que seja, é interpretada como perseguição, ataque do “inimigo” e desrespeito pelo servo do Senhor.

Com isso, as igrejas evangélicas deixaram há muito tempo de ser sal e luz na sociedade brasileira. São percebidas como mais um segmento a lutar pelo próprio sucesso, pela defesa de seus interesses corporativos, e não pelo bem da coletividade. Os evangélicos conscienciosos são desafiados a clamar contra os pecados da igreja brasileira, sua rendição aos valores da sociedade materialista, seu afastamento dos preceitos de Cristo. Eles precisam se levantar e bradar contra os erros de seus dirigentes, contra as mensagens falsas e demagógicas de seus pregadores televisivos, e dizer-lhes que terão de prestar constas de seus atos às pessoas e a Deus.

Conclusão
É compreensível o sentimento de impotência e desalento que toma conta de muitos brasileiros de boa vontade, inclusive nas nossas igrejas, diante de vícios tão antigos, poderosos e arraigados que existem em nossa sociedade. Tem-se a impressão de que será impossível extirpá-los do nosso meio. No entanto, a experiência de outros povos mostra que não precisa ser assim. Na Inglaterra do século 18, a indignação e as ações concretas de muitos líderes cristãos, como o político William Wilberforce, contribuíram para o fim do tráfego de escravos e a eliminação do trabalho infantil. Nos Estados Unidos, já no século 20, o protesto do pastor Martin Luther King iniciou o vigoroso movimento que resultou no fim da segregação racial. Mesmo quando os esforços dos cristãos terminam em aparente derrota, como no caso de Dietrich Bonhoeffer, que foi morto por conspirar contra o diabólico regime de Hitler, seu exemplo e testemunho inspiram muitas pessoas a lutar pelo bem. Fiquemos indignados de maneira correta, pelos motivos corretos -- é nosso dever como cristãos e como cidadãos.


Autor de A Caminhada Cristã na História, Alderi Souza de Matos é pastor presbiteriano e professor no Centro de Pós-Graduação Andrew Jumper, em São Paulo. É bacharel em teologia, filosofia e direito, mestre em Novo Testamento (S.T.M.) e doutor em História da Igreja (Th.D.). É também o historiador da Igreja Presbiteriana do Brasil e escreve a coluna “História” da revista Ultimato.


Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/indignacao-dever-civico-e-cristao