sábado, 28 de setembro de 2013

Jogue o legalismo no lixo!


                                                                Por Hermes C. Fernandes


Imagina uma criança que acaba de nascer. Ao ser retirada do ventre de sua mãe, a placenta que a protegeu por nove meses também é removida. Uma vez cumprido o seu papel, ela vai parar no lixo, junto com o cordão umbilical através do qual a criança se alimentava.  Depois de limpa do líquido amniótico, a criança é embalada numa manta e colocada num confortável berço. É claro que nada se compara ao ambiente acolhedor do ventre materno. Mas este tempo não voltará jamais. É hora de enfrentar o mundo externo e se preparar para crescer.

Digamos que algum desavisado resolva resgatar a placenta da lixeira para reaproveitá-la. Tal atitude poderia ser considerada sensata? Obviamente que não. Imagine, ainda, se esta pessoa resolvesse levar a placenta para casa e criá-la como se fosse a própria criança. Isso seria o cúmulo do absurdo, concorda?

E se esta pessoa começasse a criticar a mãe que depositou o recém-nascido no berço?
- Que vergonha! Desprezando a placenta que foi tão útil... Como ela poderia ser tão ingrata? Como pode trocar algo natural, acolhedor, protetor, por algo artificial? Essa mãe está muito moderninha para o meu gosto.
É claro que ninguém em sã consciência pensaria desta maneira. Todavia, tem sido assim que muitos têm se portado com relação às estruturas, estratégias e modelos eclesiásticos.

De um tempo para cá, tenho sido duramente criticado por posturas consideradas pós-modernas. Há até quem faça aquele comentário maldoso, do tipo, “já não se faz pastores como antigamente”. Tomando emprestada uma fala de Ed René Kivitz, não se faz pastores como antigamente, pelo simples fato de já não se fazer pastores PARA antigamente.  

Modelos servem como placentas. Depois de cumpridos o seu papel, devem ser descartados. Não devemos fidelidade a tais estruturas, mas a Deus somente e aos Seus propósitos.

A igreja dos Gálatas estava voltando à lixeira em busca de placenta e do cordão umbilical; trocaram a graça genuína pelos ritos ultrapassados exigidos pela Lei Mosaica.

Infelizmente, muitos pararam no tempo, tornando-se reféns de um saudosismo nada saudável. Tiraram o foco da criança recém-nascida para a placenta que já não serve para nada. Criam a placenta, enquanto lançam a criança no lixo.

Não se pode querer criar a criança juntamente com a placenta, assim como não se pode conciliar a liberdade da graça com as demandas da Lei. O máximo que a Lei oferece ao pássaro enjaulado é um passeio matinal, mas sem sair da gaiola. Isso, quando não corta as suas asas. A graça abre a gaiola e convida o pássaro a voar. Tenho percebido, por parte de algumas denominações, um empenho de conciliar uma coisa à outra. Algumas parecem tão descoladas no formato, na linguagem, mas escondem por trás disso o mesmo veneno legalista. Tudo não passa de uma passeio sem sair da gaiola. 

Depois de conhecer o gostinho da liberdade, nunca mais o pássaro quer saber de viver engaiolado. Não faria sentido armar um alçapão para tentar capturá-lo novamente. É isso que fazemos quando recorremos a expedientes que são contrários ao espírito da graça. É o mesmo que tentar misturar água e óleo. Se você experimentou a liberdade da graça, redobre os seus cuidados com os alçapões. Querem lhe recapturar! Fique esperto!

Paulo denuncia alguns que se infiltraram no meio da igreja para espionar a liberdade que os irmãos tinham em Cristo e os reduzir à escravidão. O apóstolo dos gentios declara que em momento algum submeteu-se a eles para que isso não comprometesse a integridade do evangelho (Gl.2:4-5).

Em sua epístola aos Colossenses, ele reage duramente ao assédio destes porta-vozes do legalismo:

"Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo (...) Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados (...) Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão (...) Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne." Colossenses 2:8, 14-16, 18, 20-23
Ou somos frios ou quentes. Ou vivemos sob a égide da graça ou nos rendemos à opressão da Lei. Deus não tolera mornidão.

Sempre estive ciente dos riscos envolvidos. Porém, prefiro corrê-los a viver aquém daquilo que me tem sido revelado.  Como disse Soren Kierkegaard, "ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se.”

Deixe a placenta na lixeira. Ela já não tem préstimo algum. Já, já, vai começar a cheirar mal. Esqueçamos das coisas que ficaram para trás e avancemos para as que estão diante de nós. Da mesma maneira como descartamos a placenta, vai chegar a hora de aposentarmos o berço, e pouco mais adiante, trocaremos a mamadeira por talheres, as fraudas por roupas cujos números serão alterados ano após ano, até que cheguemos à estatura de perfeita varonilidade. 

Deixando de lado o rock, apelo a um conhecido enredo de samba:

"Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!" E que ninguém se atreva a querer cortá-las...

Prefiro a vertigem que a liberdade provoca ao insuportável jugo da Lei.


Fonte:http://www.hermesfernandes.com/

sábado, 21 de setembro de 2013

Grato!



Obrigado Senhor, por colocar cascas na maioria das frutas. Só um pai atencioso, amoroso e totalmente presente faz isso.

Obrigado Senhor, pela precisão dos astros no universo. No caso do sol, um pouquinho mais próximo e a terra se incendiaria. Por outro lado, um pouquinho mais distante, congelaríamos.

Obrigado por riscar o limite do mar.

Obrigado por colocar sementes nos alimentos, abençoando assim todas as gerações. Que mente brilhante, poderosa e generosa a Tua.

Obrigado por imprimir no corpo humano, bilhões de bilhetinhos cheios de informações preciosas. A ciência moderna chama de células tais bilhetes.

Obrigado por dividir o segredo da vida entre macho e fêmea. Uma maneira carinhosa de unir ambos no "plantil" da vida.

Obrigado por "usar" Teu infinito poder através do Teu amor inexplicável, ao ponto de alguns homens sem amor algum, amaldiçoarem os céus achando que não há ninguém do outro.

Obrigado pelo pão.

Obrigado pela música. O que seria do mundo sem música?

Obrigado por amar o mundo de tal maneira... Obrigado por enviar Teu único Filho...

Obrigado por nos amar e lutar por nós.

Obrigado por me deixar fazer parte de Tua família na terra. Obrigado por todos os meus irmãos.

Obrigado por nos ensinar a orar no plural, quebrando a maldição do egoísmo humano. O pão nosso. Perdoe as nossas dívidas. Livra-nos do mal. Tudo pra nos ensinar a dividir as coisas boas da vida.

Obrigado, Pai nosso.


domingo, 15 de setembro de 2013

Venha teu reino, mas seja feita nossa vontade


Leonel Elizeu Valer Dos Santos

Venha teu reino; seja feita nossa vontade…

“E partiram indo habitar em Gerute-Quimã, que está perto de Belém, para dali irem e entrarem no Egito, por causa dos caldeus; porque os temiam, por ter Ismael, filho de Netanias, matado a Gedalias, filho de Aicão, a quem o rei de Babilônia tinha feito governador sobre a terra.” Jr 41; 17 e 18 

Israel fora levado cativo para Babilônia; entre os remanescentes, colonos, soldados; certo Ismael assassinara ao rei vassalo Gedalias, que Nabucodonosor constituíra para dar contas aos Caldeus dos assuntos da terra. Mesmo Jeremias estando preso fora solto por um capitão caldeu, e ficara entre o povo que agora, olhava para o Egito como lugar seguro temendo a represália Babilônica por causa do assassinato.

Mas, antes de fugir decidiram consultar a Vontade de Deus mediante ele. “…roga ao Senhor teu Deus, por nós e por todo este remanescente; porque de muitos restamos uns poucos, como nos vêem os teus olhos; para que o Senhor teu Deus nos ensine o caminho por onde havemos de andar e aquilo que havemos de fazer.” 42; 2 e 3 Aparentemente, uma sábia postura, até por que se dispuseram a obedecer qualquer que fosse a diretriz; “Seja ela boa, ou seja má, à voz do Senhor nosso Deus, a quem te enviamos, obedeceremos, para que nos suceda bem, obedecendo à voz do Senhor nosso Deus.” V 6

Seria blasfemo supor que a Vontade de Deus em algum momento seja má, em si; pois, mesmo quando nos corrige tem nosso bem como alvo. “… para que experimenteis qual seja a boa, perfeita e agradável Vontade de Deus” Rm 12; 2 Então, parece lógico entender que uma vontade “má” equivaleria a algo difícil, contrário à inclinação humana.

Bem, o profeta orou, e após dez dias o Senhor respondeu. Como os líderes temiam, a Vontade do Eterno foi mesmo “má”; “Não temais o rei de Babilônia, a quem vós temeis; não o temais, diz o Senhor, porque eu sou convosco, para vos salvar e para vos livrar da sua mão. E vos concederei misericórdia, para que ele tenha misericórdia de vós, e vos faça voltar à vossa terra.” Vs 11 e 12 De tal forma que “concluíram” que nem era Deus, devia ser uma invenção do “subornável” profeta. “Então falaram Azarias, filho de Hosaías, e Joanã, filho de Careá, e todos os homens soberbos, dizendo a Jeremias: Tu dizes mentiras; o Senhor nosso Deus não te enviou a dizer: Não entreis no Egito, para ali habitar; mas Baruque, filho de Nerias, te incita contra nós, para entregar-nos na mão dos caldeus, para nos matarem, ou para nos levarem cativos…” 43; 2 e 3 O fato é que fugiram para o Egito e ainda levaram a Jeremias consigo.

Triste quadro do ser humano após o “sereis como Deus”; já não consegue delegar a outro a decisão sobre o bem e o mal, mesmo que esse Outro seja o Criador. O que intriga é a hipocrisia de trair a si mesmo; fazer o que dá na telha, “envernizando” as próprias escolhas como “Vontade de Deus”. O Santo havia prometido proteção ficando na terra, e ameaçado desdita mesmo no Egito; Insistiram e foram; e a espada babilônica que temiam os alcançou mesmo lá.

Talvez essa perfídia auto aplicada seja uma espécie de plano B, em face à insegurança íntima de agir de modo próprio; no fundo, saber que é um erro; mas, quando isso ficar patente, atribuir a Deus a culpa. Assim, desejamos mais a reputação cínica de inocentes que agir de modo inculpável.

Ora, o mais sábio humano dissera: “Do homem são as preparações do coração, mas do Senhor a resposta da língua. Todos os caminhos do homem são puros aos seus olhos, mas o Senhor pesa o espírito. Confia ao Senhor as tuas obras e teus pensamentos serão estabelecidos.” Pv 16; 1 a 3

Enfim, nosso lugar protegido contra a espada do inimigo é onde Deus se dispõe a guardar; não, onde nos sentimos melhor. Ele limita em Sua Palavra o “Terreno” seguro; “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte.” Rom 8; 1 e 2

O mesmo Jeremias advertira contra os logros cardíacos: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” Jr 17; 9 Enquanto ao mundo parece sábio agir com todo coração, a nós, só será se nosso estiver secundando Deus. “Achei a Davi, filho de Jessé, homem conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade.” Atos 13; 22

Fonte:http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/venha-teu-reino-mas-seja-feita-nossa-vontade

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quando parecer legal é o objetivo!


POR JOSEMAR BESSA

Inicialmente, contextualização geralmente começa por um ponto óbvio, que para atravessar barreiras linguísticas e culturais de forma eficaz, precisamos traduzir e ilustrar nossa mensagem de forma que seja adequada para a compreensão das pessoas ou grupos que desejamos alcançar. Ou seja, que contextualização implica em nada mais do que a tradução e ilustração – se fosse apenas isso toda a discussão seria supérflua e a palavra contextualização não seria defendida com uma paixão que as palavras, regeneração, expiação, justificação... não são.

Hoje ela significa muito mais do que a tradução e ilustração das verdades bíblicas.

Num primeiro momento, a ideia de contextualização ganhou força entre os evangélicos no campo da tradução da Bíblia, e é fácil perceber o porque. Por exemplo, se você pregar a palavra de Deus a uma cultura esquimó, onde eles não tem ideia do que são ovelhas, você precisa ( pelo menos essa é a ideia ) encontrar uma maneira de explicar todas as referências em termos pastorais que os esquimós possam entender. Por exemplo o Salmo 100.3 – “Nós somos o seu povo e ovelhas do seu pasto” – Um esquimó teria dificuldade de visualizar, algo que outros povos não teriam.

Então, em um caso real, um grupo de tradutores da Bíblia trabalhando na língua esquimó traduziram a palavra “ovelha” como “caribus”... em toda a Escritura. Apesar disso, como explicar exatamente o Salmo 23 dessa forma? Seria mais fácil ensinar aos esquimós o que são ovelhas. Eu por exemplo, nasci no Rio de Janeiro e não tinha contado nenhum com neve na minha vida. Meu pai para me ensinar  que Deus tornaria o meu pecado mais alvo que a neve, simplesmente me ensinou o que era neve. E também nunca vivi num contexto de contato com ovelhas mas simplesmente me ensinaram o que era. Quando meu pai me ensinou que Cristo era o “leão da tribo de Judá” – era óbvio que eu não tinha contato com o animal africano – mas foi mais fácil me ensinar o que é um leão do que tentar "contextualizar" com os animais que eu tinha contato. Então veja, olhamos só um exemplo de contextualização verbal que por fim, obscurece mais do que esclarece. Mas o que temos hoje é algo muito pior.

A estratégia pós-moderna missional de contextualização sempre parece envolver abraçar os valores da cultura alvo. Ouça aqueles que mais falam sobre “contextualizar”, como se fosse um mantra de tão repetitivo, e veja que com a ideia de tornar o evangelho “mais claro”, às vezes deliberadamente, às vezes inconscientemente, envolve fazer com que o cristianismo pareça mais familiar e mais confortável e muito menos contra-cultural.

Então o que é dito é que a contextualização adequada envolve, pelo menos “temporariamente”, adotar qualquer visão de mundo das pessoas ou grupos que queremos alcançar, de modo que a partir desse ponto, possamos falar com eles como parte do grupo, e não como estranhos ou estrangeiros.

Na verdade então, a contextualização vai muito além de traduzir e ilustrar as verdades. Também vai muito além de adotar a linguagem e as convenções sociais da cultura educada, evitando certos tabus culturais. A contextualização vai muito além, e os “contextualizadores” hoje estão tentando adaptar o conteúdo da mensagem do evangelho, tanto quanto possível, a visão de mundo de qualquer subcultura que eles vejam como público-alvo. Não só os leões marinhos ou caribus se tornam substituto para as ovelhas; tolerância pós-moderna se torna um substituto aceitável para “amor cristão”.

Para resumir – a idéia não é deixar a mensagem da cruz e toda a ofensa da Verdade de Deus para o homem natural mais clara. Porque ficaria até mais claramente ofensiva ao homem natural.

Ouça atentamente o missiólogo típico, ou “plantador” de igreja que defende a ideia da contextualização como a grande descoberta para “salvar” o evangelho da irrelevância, e o que normalmente você vai ouvir é alguém tentando desesperadamente tornar o evangelho mais palatável, agradável e que se encaixe no estilo de vida do público alvo.

O entusiasmo desenfreado sobre esse tipo de "contextualização" mudou drasticamente a estratégia evangelística  - tomando como missão o como a igreja pode assimilar o mundo, tanto quanto possível; e acima de tudo, como parecer legal para o mundo (com todas as suas sub-culturas – do esquimó ao apaixonado por touradas, Vale-tudo, filosofia da tolerância...), para que todos gostem de nós.

Essa realmente é a ideia motriz que está por trás do “pregador sensível” e da abordagem da Igreja Emergente e outras. Essa ideia de “contextualização”  - ajustando o cristianismo ao mundo e seus grupos específicos, crenças existentes, valores, tradições, entretenimento... foi a “contribuição” mais “significativa” das últimas décadas para a estratégia da igreja. O que foi péssimo.

Conseguiu e está conseguindo tornar a igreja e o mundo indistinguível, indistinta na essência da visão de qual é o objetivo do evangelho centrado na glória do Deus que é santo, santo, santo. E, francamente, ineficaz como força transformadora, e sim se tornando algo moldado pelo mundo e seus valores.

A mensagem tem de ser comprometida, pois o mundo jamais vai achá-la legal! O homem odeia a verdade por um motivo muito mais profundo do que nosso vocabulário. Jesus foi um homem perfeito. Perfeito em amor e em tudo o mais que se possa imaginar. Por que Ele foi odiado neste mundo? Contextualizou errado? Não usou a linguagem da cultura?

Escute Cristo: “O mundo não vos pode odiar, mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más”. - João 7:7

O mundo, a não ser que o homem seja regenerado, não suporta ouvir isso: “dele testifico que as suas obras são más”. Nunca vai achar isso legal!

Quando parecer legal é um objetivo, já nos perdemos e teremos sérios problemas com a mensagem.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sem o Deus dos teólogos


Robson Santos Sarmento

''Todo o debruçar na teologia, sem ir aos enredos da oração, da confissão e da comunhão espiritual, desemboca numa trajetória cristã dissociada da criatividade, da imaginação e do próximo.''

Ao término de mais uma sexta - feira, com o pano de fundo acinzentado e o sopro gélido dos derradeiros momentos do inverno, ao chegar em casa, puxei a cadeira e sentei para tricotar o por qual motivo os teólogos debatem e se engalfinham por defender, com unhas e dentes, seus pontos de vista. Alias, com figura de Deus, como objeto fundamental de suas militâncias e apologias.

Deve ser dito, suas lágrimas são sepultadas e suas emoções laceradas e, assim, evitar toda e qualquer interpretação de colocações emocionais distantes do senso e coerencia.

Talvez, por isso, prefiro as palavras livres, revolucionárias do Carpinteiro e suas peripécias. Diga - se de passagem, uma revolução com cheiro de gente, com as pegadas de quem vive o cotidiano, com faces de incerteza e dúvida e, em meio a tudo isso, com a promessa de uma eternidade apaixonada pelo viver.

Ah, sim e sim, quero ser despido desse Deus, mais parecido com um carta na manga, preso aos vitrais dominicais, achatado por miríades de doutrinas e dogmas mortificados. Então, aceito o desafio de observar o bailado dos oceanos, o ressoar suave das gaivotas, o alumiar pulsatil da noite, a inocência do primeiro beijo, a descoberta de que amar não é nenhum bicho de sete cabeças.

Vou adiante, aceito, de bom grado, prosear com a imaginação alforriada dos grilhos de uma obediência deformadora do ser livre e responsável para decidir e recomeçar, de uma espiritualidade criativa e de uma oração franca para se envolver no ardor da salvação, a qual estabelece a cura da realidade.

Não por menos, arrisco estender as mãos e partilhar de um amor sem fronteiras, sem o jugo e o tacão de uma ditadura hedonista; como também subo ao navio para desvendas e ser desvendado por um amor enredado em palavras, ao qual trilha pelos enredos do ouvir e deleita - se na confissão simples e sincera dos recomeços.

É bem verdade, o Carpinteiro esparrama a reconciliação e verbera o direito e o dever por ir a direção do próximo. Sem hesitar, suas palavras lancinantes e dotadas de certa traquinice derrubam as teses sequiosas e sem sabor de tantos tratados. Por fim, desato as cordas e prefiro o Deus da mulher samaritana, da mulher hemorrágica, do cego Bartimeu, da mulher adúltera e, portanto, personificado no Cristo Ressuscitado.

Fonte:http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/sem-o-deus-dos-teologos