domingo, 28 de dezembro de 2014

A Graça e o Bom Tesouro do Coração


Por Alberto Redondo

Jesus disse que: “O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o mal; pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Lucas 6.45).

A palavra “tesouro”, no original, tem o sentido de depósito. Olhando de outra forma, Jesus estava dizendo que o homem tira do seu coração de acordo com o que depositou.

Muitas vezes achamos que o bom tesouro (ou, o bom depósito) é nunca ter algum mau pensamento, ser sempre altruísta, generoso, honesto, super espiritual. Da mesma maneira, pensamos no mau tesouro como sendo o coração inclinado para o mal, cheio de lascívia, desonesto, mentiroso, egoísta, enfim, o típico sujeito visto como mau-caráter.

Numa outra ocasião, Jesus falou sobre dois homens que foram orar no templo. Um deles, o fariseu, gabava-se diante de Deus da sua aparente pureza, generosidade, vida reta, santa. O outro, publicano, clamava a Deus por misericórdia, pois reconhecia seu pecado.

Hoje, se ambos aparecessem nas reuniões das nossas igrejas, o fariseu provavelmente seria respeitado como o homem bom e o publicano visto como homem mau. Muitas vezes, isso é o que é mostrado nas pregações e nas atitudes da igreja.

Mas, para Jesus, o publicano era o homem bom, e o fariseu, o homem mau. Para Jesus, o bom tesouro era o coração quebrantado e contrito, e o mau tesouro era o orgulho, a jactância, a aparência de piedade.

Para Jesus, o bom tesouro estava no coração da pecadora que derramou lágrimas sobre seus pés, da mulher pega em adultério, de Zaqueu, de Maria Madalena. Também estava no coração de Pedro, que negou o Mestre, de Jacó, que enganou o pai e o irmão, de Davi, que adulterou, de Elias, que teve medo.

Paulo deixou claro que nenhum de nós tem algo de bom vindo de si mesmo. Ele disse que toda a raça humana pecou e foi destituída da glória de Deus. Por isso, para encher nosso coração com o bom tesouro, precisamos de algo que somente Deus pode nos dar: a sua graça.

Precisamos que essa mesma graça tome conta da nossa vida de tal forma que ao abrirmos a boca, seja a graça que flua a partir do bom tesouro do nosso coração.

Isso é algo que nem eu nem você podemos fazer por nós mesmos. Quando nos colocamos diante de Deus com o coração quebrantado, então a sua graça começa a nos encher. Quando estamos desejosos de ver a sua glória manifesta, então o bom tesouro vai tomando o lugar do mau no nosso coração.

A Ele seja toda a glória!


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-graca-e-o-bom-tesouro-do-coracao

domingo, 21 de dezembro de 2014

Maria -a subversiva mãe de Jesus- e o natal

                                                 
                                                                       Hermes C. Fernandes


É claro que a figura central do Natal é Cristo. José, Maria, os Magos, os pastores de Belém, e até os anjos, são apenas coadjuvantes nesta história de esperança para a humanidade. Cada um deles reagiu de maneira diferente à chegada do Redentor ao Mundo. Os pastores anunciaram a todos. Os anjos cantaram nas alturas. Os Magos O presentearam. E Maria, o que fez? Qual teria sido a reação daquela que hospedou em seu ventre o Filho de Deus?

Somente Lucas preocupou-se em relatar o cântico com que Maria expressou sua felicidade e expectativa com a chegada do Messias prometido. Seu cântico ficou conhecido como Magnificat:

"A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador; porque atentou na condição humilde de sua serva; desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Poderoso me fez grandes coisas; e santo é o seu nome. E a sua misericórdia vai de geração em geração sobre os que o temem. Com o seu braço agiu valorosamente; dissipou os soberbos no pensamento de seus corações. Depôs dos tronos os poderosos, e elevou os humildes. Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos. Auxiliou a Israel seu servo, recordando-se da sua misericórdia; como falou a nossos pais, para com Abraão e a sua descendência, para sempre." Lucas 1:46-55

Embora tivesse "sangue azul", pois pertencia à dinastia de Davi, Maria viveu na simplicidade e no anonimato, casada com um operário braçal. O trono antes ocupado por seus ancestrais, agora era ocupado por um rei marionete do império romano, cujo nome era Herodes. Seu povo vivia sob a tirania imperial. Maria era virgem, mas não ingênua. Humilde, mas não idiota. Santa, não alienada.

A imagem que construiu-se de Maria não faz jus à sua postura subversiva expressada neste cântico. A jovem desposada com José era uma adolescente questionadora, com um espírito rebelde e revolucionário. Sua alma anelava por mudanças. Ao receber o anúncio trazido por Gabriel, ela soube que o ente gerado em seu ventre era a resposta aos seus anelos.

Como que vislumbrando o futuro, Maria declarou profeticamente que Deus havia deposto os poderosos do trono, e elevado os humildes. Ela fala como alguém que vivia além do seu próprio tempo. Era como se fosse uma visitante proveniente do futuro. Pra ela, tais fatos não aconteceriam um dia, mas já teriam acontecido. Deus já teria enchido de bens os famintos, e despedido vazios os ricos. Se isso não é uma revolução social, o que é, então? Os defensores do status quo preferem espiritualizar passagens como esta, para que se encaixem em sua agenda ideológica e política. Porém, a jovem Maria não está falando de coisas estritamente espirituais, mas concretas, abrangendo a realidade sócio-econômica, política e cultural.

O nascimento de Jesus anunciava que o tempo havia sido subvertido, e o futuro invadira o presente. Aquele que Se apresenta como o Princípio e o Fim, agora vive em nosso meio. A ordem predominante teria que ser colapsada para dar vazão ao Reino de Deus. A revolução há muito esperada fora deflagrada, e aquele seria, definitivamente, um caminho sem volta. Nunca mais o mundo seria como antes.

Como todo subversivo que ameaça o establishment, Maria teve que exilar-se com seu filho e esposo no Egito, onde viveram na clandestinidade até o momento designado por Deus.

Pelo cântico que compôs, dá para inferir que valores Maria teria transmitido para seu Filho.

Com o tempo, o cristianismo deixou sua marginalidade essencial, para tornar-se em religião oficial. Maria deixou de ser vista como subversiva, para tornar-se numa espécia de padroeira do status quo. Domesticaram a mãe do Salvador. Desproveram-na de sua rebeldia. Tornaram-na inofensiva. O mesmo fizeram com a igreja cristã, que deu as costas aos pobres, humildes e oprimidos, para aliar-se aos poderosos.

Se quisermos ver as profecias de Maria cumpridas, temos que dar meia-volta, trair nossos laços com os interesses econômicos e políticos, e abraçar nossa vocação subversiva. Se Maria estava certa, e de fato, anteviu o futuro, isso eventualmente acontecerá. E quando ocorrer, o Natal passará a ser celebrado como uma data revolucionária, como é a celebração da revolução francesa ou da inconfidência mineira.


domingo, 14 de dezembro de 2014

Consciência cauterizada, consciência morta


Por Ronildo Baldo

“Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência” (1 Timóteo 4:1-2).

A Consciência viva é extremamente importante para que nos coloque em alerta quanto a nossa conduta diária. Ela é psíquica e possui atributos espirituais, leis perceptivas que Deus pôs para que possamos compreender sensitivamente o certo e o errado. Sobre esse assunto, Paulo escrevendo a Timóteo, jovem pastor, disse: “Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Romanos 2.15).
Entretanto a consciência pode cauterizar-se, tanto como pode adoecer de diversos males. Uma mente cauterizada é uma mente que foi queimada a semelhança de uma superfície do corpo humano, dependendo da gravidade torna-se insensível, não respondendo mais ao toque. Deste modo, uma mente cauterizada é uma mente que submergiu ao seu emprego e a capacidade de ponderar e observar os processos que se dão ao seu redor. Perdeu o poder de filtrar informações, sobretudo aquelas de caráter espiritual. O dicionário Informal diz: “Cauterizar: o mesmo que congelar, paralisar a mente ao ponto de não permitir que a pessoa tenha raciocínio próprio, está como que drogada, não consegue pensar corretamente”.
Carecemos entender que os processos da consciência no individuo após diversas tentativas e alertas disparados, mas ignorados, acaba tornando a mente cauterizada e disfuncional. Sob essas condições o individuo passa a acredita que o que faz e crê ou ouve não é errado. Assim a blindagem foi estabelecida com sucesso e tornou a mente insensível, mesmo que o obvio esteja diante dos olhos.
Não tenho dúvidas de que o Genuíno Evangelho sucumbiu na mente de muitas pessoas devido aos processos doentios desenvolvidos insistentemente pelo contexto religioso que alguns viveram por muito tempo sem reagir. O evangelho da patifaria e o espetáculo circense estão bem guardados sob a cauterização mental do fiel.
Os fariseus de ontem morreram, mas deram lugar a uma nova classe, mais sofisticada, cheia de requintes encantadores, mas que destroem. Mesmo que a bíblia explicite a verdade e condene o atual evangelho pregado por eles, a mente cauterizada não responde mais, exceto por um milagre divino. Por isso falamos, na esperança de que alguns se deixem convencer pelo Espirito Santo e voltem ao verdadeiro Evangelho de Cristo. E se assim não for, haverá consequências pelas nossas escolhas insistentes. Tudo que semearmos haveremos de colher, é a lei da semeadura e da colheita. Funciona há séculos!
Assim o festival continuará, mas somente até o dia do julgamento divino, acredite ele chegará, não queira estar lá como réu, pois não haverá chance alguma contra o Eterno Deus. Os principais fariseus, (Líderes da atualidade) que enganam e exploram e cauterizam a mente dos fieis, que se cuidem, porque o dia virá e a prestação de contas será exigida, ninguém escapará. Se você não se enquadra a essas palavras, descanse em paz, a carapuça não serve em você. No amor de Cristo. Ronildo


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Pra Sempre, Sempre Acaba



Carlos Moreira

"Ele fez tudo apropriado há seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim este não consegue compreender inteiramente o que Deus fez”. Ec. 3:11

Depois de certa idade você começa a entender que tudo na vida é passageiro, fugaz, demasiadamente breve. Hoje, existe; amanhã, quem sabe? Esta é uma das grandes chatices da vida, nada é pra sempre; pra sempre, como poetizou Renato Russo, sempre acaba...

Eu já vivi a ilusão de que algumas coisas na existência eram pra sempre. Ah, como isso me fazia bem... Mas não era real... Hoje penso que, às vezes, é melhor acreditar numa boa ilusão do que ter de encarar uma dura realidade. Pena que meu pragmatismo não me permita viver com tal regalia.    

Houve um dia em que eu pensei que seria jovem para sempre, mesmo que meu corpo viesse a sofrer os desgastes próprios do tempo. Hoje, na meia idade, percebi que o envelhecimento não tem nada a ver com a degeneração do físico, mas com a perda da inocência, da irreverência, da anarquia, da capacidade de sonhar sonhos impossíveis.

Houve um tempo em que eu pensei que os amigos seriam amigos para sempre. Ao depois, entretanto, percebi que as amizades acabam por tornarem-se circunstanciais, algumas, inclusive, são meramente calcadas em interesses, outras, desfazem-se quando mudamos de endereço, de telefone, de empresa, de igreja... Constatei que minhas amizades, quais pedras de barro, foram se esfarelando até tornarem-se apenas poeira que cobre os meus pés exaustos de tanto chão.

Houve um tempo em que eu pensei que a paixão seria para sempre. Mas paixão é “bicho” indolente, foi feita pra voar, não para viver presa, por isso não é possível aprisioná-la na “gaiola” do coração humano. A paixão é como foguete de São João, quando despertada, rasga o céu com exuberância e desenvoltura, depois, todavia, desvanece, silencia, some na escuridão da noite do ser.  

Houve um tempo em que eu “vivi a ilusão de que ser homem bastaria”. Mas aí eu cresci, senti a necessidade de ser gente, quis ser reconhecido, singular, irrepetitível. Ser gente é mais do que simplesmente ser homem, pois homens não duram pra sempre. Aos poucos, entretanto, percebi que meus sentimentos se complexificaram, que minha alma tornara-se “sofisticada”, que minha consciência, momentaneamente iludida, imaginara ter evoluído a tal ponto de prescindir do meu coração. Sendo gente, pensei, jamais serei esquecido, ignorei o fato de que tudo na existência ruma para o irremediável, sucumbe em silêncio e solidão.

Houve um tempo em que eu sentia estas coisas... Tudo isto invadia minha alma como raios de sol que rasgam as frestas da velha janela, até que atentei para o fato de que o único absoluto da vida é Deus, tudo o mais, sendo relativo, é passageiro e finito. Deus colocou a eternidade como pulsação interior no coração do homem, mas este, não compreendendo as dimensões e implicações deste estado pós-matéria, tenta tornar eterno aquilo que é apenas temporal.

De fato, pra sempre, sempre acaba, pois, no final desta estrada na qual todos nós estamos caminhando, existe uma grande placa onde estão presentes os seguintes dizeres: “Fim da Linha! Bem vindo à eternidade!”. Nesta nova dimensão pós-existencial, pra sempre é pra sempre mesmo, pois Deus assim o diz, e Sua Palavra, para mim, é mais do que suficiente para me fazer crer. E para você?...


domingo, 7 de dezembro de 2014

Radiografia, diagnóstico e cura








Por Elben César


Vê se em minha conduta algo te ofende. (Sl 139.24.)

Qual é a nossa conduta? Precisamos saber a verdade nua e crua. Não devemos aceitar falsos elogios nem desaprovação injusta. Precisamos de uma avaliação que mostre os erros e os acertos. O nosso próprio juízo não basta, porque não conseguimos ser rigorosos com nós mesmos como o somos com os outros. Enxergamos o cisco que está no olho do nosso irmão, mas não vemos a viga que está em nosso olho (Mt 7.3).

É essa dificuldade generalizada que leva o salmista a suplicar a Deus: “Vê se em minha conduta algo te ofende” (Sl 139.24). É a análise do maravilhoso conhecimento de tudo e de todos da parte de Deus que encoraja o salmista a entregar-se ao julgamento divino. Ele insiste na oração: “Sonda-me”, “Examina-me”, “Perscruta-me”, “Conhece-me”, “Prova-me”. Ele está se expondo diante de Deus, está tirando a roupa na presença do Senhor, está se mostrando àquele que conhece inteiramente até mesmo a palavra que ainda não terminou o percurso entre o cérebro e a língua.

O salmista confessa que não se conhece direito, que o seu conhecimento é limitado. Ele quer que Deus revele sua verdadeira identidade, pois ele parece ser um hoje e outro amanhã. Ele quer que Deus conheça seus pensamentos, seus sentimentos, suas preocupações e suas inquietações. Ele quer uma radiografia não dos órgãos que estão no ventre, mas do seu íntimo, pois é dali que sai tudo que é ruim e tudo que é bom (Mt 15.19).

Além da sondagem, o salmista deseja ter o diagnóstico e a cura: “Vê se em minha conduta algo te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno”.

>> Retirado de Refeições Diárias com os Salmos. Editora Ultimato.


Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2014/11/27/autor/elben-cesar/radiografia-diagnostico-e-cura/

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Mentiroso social


Por Alessandra Dantas

Por muitas vezes se tem afirmado por ai que as palavras são portas e janelas. Se destranco as portas, a história do mundo me visita, se me debruço e olho através das janelas descubro o mundo.
Fascinante é ainda certificar-se de que o homem e todo o universo foram criados a partir da palavra: faça-se a luz, façam-se as águas, faça-se o céu, faça-se o homem...(Gênesis 1). A palavra, de fato, realiza aquilo que prenuncia.
E pode a palavra fazer mais para o homem do que remediar sua solidão? Vejo duas espécies de solidão: uma que inibe e a outra que desafia. Padecendo da primeira, o homem se vê só e sem força movedora para encontrar-se nas relações, fecha-se e sofre. Na segunda, a dor é menor, mesmo sabendo se condenado à solidão, o sujeito procura, busca, insiste em estar com alguém. E é nesse contexto, que os argumentos, que a necessidade de se fazer notar pelo outro ganha uma grande dimensão social: eu preciso justificar minhas faltas, minhas falhas a qualquer preço.
Um argumento, há séculos, já sabiam os gregos, pode ser definido como uma afirmação acompanhada de justificativa (retórica) ou como uma justaposição de duas afirmações opostas, argumento e contra-argumento, por outro lado, em nossas práticas sociais, ao fazermos uso da palavra, estamos constantemente, consciente ou inconscientemente, transformando nossos argumentos em uma falácia, ou seja, um argumento inválido que parece válido, ou um argumento válido com premissas "disfarçadas". Resumindo: o ser humano vive numa busca incessante pela aceitação e essa busca faz com que se crie a necessidade de justificar-se.
Por vezes, mentimos... erramos e perante a consciência do nosso ato, procuramos justificar esses atos, tentando encontrar uma explicação tanto para nós como para aqueles que magoamos. Os argumentos usados de uma maneira negativa, sempre nos impede de crescermos e nos impele a sermos grandes '' mentirosos sociais'', pois através deles, justificamos as nossas pequenas mentiras, ''não tive tempo para cumprir um compromisso porque meu carro estragou, minha unha quebrou, não podia faltar à academia, estava chovendo'' e assim por diante.
Nesse sentido, o argumento que não argumenta, se torna uma falácia, que apenas serve de desculpa, é servil e esta sempre a serviço de determinados caprichos. Não podemos ficar ''mal na fita'', assumimos compromissos que sabemos que não seremos capazes de cumprir e assim, exercitamos nossa lábia de cada dia, comprometida com o não compromisso, com a nossa conveniência.
A vida não é tão delinear, porém isto não deve ser uma justificativa a favor de meus falsos argumentos, quando eu me torno um mentiroso social e não cumpro com meus compromissos.
Alessandra Dantas


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/mentiroso-social

sábado, 29 de novembro de 2014

Isto faz parte da sua loucura!


Por Josemar Bessa


Lendo este breve texto de Erasmo (1466 – 1536), fiquei com a estranha sensação de que ele tem frequentado os cultos de nossos dias:

“O espírito do homem é feito de maneira que lhe agrada muito mais a mentira do que a verdade. Fazei a experiência: ide à igreja, quando aí estão a pregar. Se o pregador trata de assuntos sérios, o auditório dormita, boceja e enfada-se, mas se, de repente, o zurrador (perdão, o pregador), como aliás é frequente, começa a contar uma história de comadres, histórias engraçadas, toda a gente desperta e presta a maior das atenções.

Como é fácil essa felicidade! Os conhecimentos mais fúteis, como a gramática por exemplo, adquirem-se à custa de grande esforço, enquanto a opinião se forma com grande facilidade, contribuindo tanto ou talvez mais para a felicidade. Se um homem come toucinho rançoso, de que outro nem o cheiro pode suportar, com o mesmo prazer com que comeria ambrósia, que tem isso a ver com a felicidade? Se, pelo contrário, o esturjão causa náuseas a outro, que temos nós com isso? Se uma mulher, horrivelmente feia, parece aos olhos do marido semelhante a Vénus, para o marido é o mesmo do que se ela fosse bela. Se o dono de um mau quadro, besuntado de cinábrio e açafrão, o contempla e admira, convencido de que está a ver uma obra de Apeles ou de Zêuxis, não será mais feliz do que aquele que comprou por elevado preço uma obra destes pintores e que olhará para ela talvez com menos prazer?” -

Erasmo de Roterdão, em "Elogio da Loucura" - ensaio escrito em 1509.

Loucura, o homem ama e sente essa FELICIDADE FÁCIL com a MENTIRA e não com a VERDADE. Deixaremos de pregar e Verdade então? É isso que tem feito a igreja pragmática dos nossos dias. Por quê? Porque essa igreja está centrada na "felicidade" do homem, não na GLÓRIA de Deus. Mas quando a glória de Deus é abandona, a felicidade ( não a fácil ) já não é mais possível, e a igreja passa a fazer o papel do enganador. Dá uma imitação barata. O mundo ama a Mentira, isto faz parte da sua loucura - "porque a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a Luz!" - O homem foi criado para "glorificar a Deus e ter prazer nEle para sempre" - A "igreja" já não acredita mais nisso. Por isso ela escolhe pregar a mentira e o engano da felicidade fácil. E como o homem sente prazer nisso! E como o homem passou a definir a verdade em termos dos seus prazeres. ELE PREFERE A MENTIRA EM LUGAR DA VERDADE. Vender felicidade fácil certamente é mais fácil, mas custará tão caro!!!

Como Erasmo disse: "Não há nada de tão absurdo que o hábito não torne aceitável" - Eis a nossa realidade hoje.


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Deus e o sofrimento humano.


R. C. Sproul

No âmago da mensagem do livro de Jó, acha-se a sabedoria que responde à questão a respeito de como Deus se envolve no problema do sofrimento humano. Em cada geração, surgem protestos, dizendo: “Se Deus é bom, não deveria haver dor, sofrimento e morte neste mundo”. Com este protesto contra as coisas ruins que acontecem a pessoas boas, tem havido tentativas de criar um meio de calcular o sofrimento, pelo qual se pressupõe que o limite da aflição de uma pessoa é diretamente proporcional ao grau de culpa que ela possui ou pecados que comete.

No livro de Jó, o personagem é descrito como um homem justo; de fato, o mais justo que havia em toda a terra. Mas Satanás afirma que esse homem é justo somente porque recebe bênçãos de Deus. Deus o cercou e o abençoou acima de todos os mortais; e, como resultado disso, Satanás acusa Jó de servir a Deus somente por causa da generosa compensação que recebe de seu Criador.

Da parte do Maligno, surge o desafio para que Deus remova a proteção e veja que Jó começará a amaldiçoá-Lo. À medida que a história se desenrola, os sofrimentos de Jó aumentam rapidamente, de mal a pior. Seus sofrimentos se tornam tão intensos, que ele se vê assentado em cinzas, amaldiçoando o dia de seu nascimento e clamando com dores incessantes. O seu sofrimento é tão profundo, que até sua esposa o aconselha a amaldiçoar a Deus, para que morresse e ficasse livre de sua agonia. Na continuação da história, desdobram-se os conselhos que os amigos de Jó lhe deram — Elifaz, Bildade e Zofar. O testemunho deles mostra quão vazia e superficial era a sua lealdade a Jó e quão presunçosos eles eram em presumir que o sofrimento indescritível de Jó tinha de fundamentar-se numa degeneração radical do seu caráter.

Eliú fez discursos que traziam consigo alguns elementos da sabedoria bíblica. Todavia, a sabedoria final encontrada neste livro não provém dos amigos de Jó, nem de Eliú, e sim do próprio Deus. Quando Jó exige uma resposta de Deus, Este lhe responde com esta repreensão: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu te perguntarei, e tu me farás saber” (Jó 38.2, 3). O que resulta desta repreensão é o mais vigoroso questionamento já feito pelo Criador a um ser humano. A princípio, pode parecer que Deus estava pressionando Jó, visto que Ele diz: “Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra?” (v. 4) Deus levanta uma pergunta após outra e, com suas perguntas, reitera a inferioridade e subordinação de Jó. Deus continua a fazer perguntas a respeito da habilidade de Jó em fazer coisas que lhe eram impossíveis, mas que Ele podia fazer. Por último, Jó confessa que isso era maravilhoso demais. Ele disse: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (42.5-6).

Neste drama, é digno observar que Deus não fala diretamente a Jó. Ele não diz: “Jó, a razão por que você está sofrendo é esta ou aquela”. Pelo contrário, no mistério deste profundo sofrimento, Deus responde a Jó revelando-se a Si mesmo. Esta é a sabedoria que responde à questão do sofrimento — a resposta não é por que tenho de sofrer deste modo particular, nesta época e circunstância específicas, e sim em que repousa a minha esperança em meio ao sofrimento.

A resposta a essa questão provém claramente da sabedoria do livro de Jó: o temor do Senhor, o respeito e a reverência diante de Deus, é o princípio da sabedoria. Quando estamos desnorteados e confusos por coisas que não entendemos neste mundo, não devemos buscar respostas específicas para questões específicas, e sim buscar conhecer a Deus em sua santidade, em sua justiça e em sua misericórdia. Esta é a sabedoria de Deus que se acha no livro de Jó.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Igrejas em crise

Por Derval Dasilio

Religião, hoje, é assunto financeiro e estatístico, em primeiro lugar. Negócios e número de adeptos completam sua finalidade. Assim, se a religião não alcança associados, contribuintes, ou não obtém lucros, segue o destino das empresas destinadas à falência (já ouvimos isso com todas as letras, em nosso meio, dentro de nossas igrejas). Nunca houve equívoco maior, no ambiente eclesiástico mundial, exceto no século das indulgências (XVI), que exigiu uma reforma na Igreja. Nascia, então, a igreja evangélica protestante, para ser diferente, no cristianismo histórico. Essa igreja foi traída às últimas consequências.

O cristianismo, tanto o católico como o protestante evangélico, mudou -- não importam as identidades modernas das igrejas que confessam ser “cristãs”. A ação ideológico-pentecostal no século 21, pretendendo alcançar as multidões, passou a funcionar à semelhança dos grandes movimentos políticos do século 20. Desde a I Guerra Mundial, fascismo, comunismo e nazismo se introduzem na religião, conquistando adesões expressivas. Mesmo quando a mesma religião se declara à parte dessas ideologias, seus métodos equivalem. Se socialistas falam com linguagem “religiosa” sobre conversões autoritárias, não menos capitalistas, neoliberais, adotam a linguagem fascista ou intervencionista. Nas igrejas, para impor a “liberdade de mercado” como meio de promoção da expansão pentecostal, cristaliza-se esse conceito.

Lideranças pastorais adotam as imagens de déspotas famosos, como Hitler – enquanto desprezam vultos como Tolstoy, Ghandi, Luther King, e o nosso Jaime Wright, símbolos da resistência não-violenta –, e aderem ao sionismo judaico-cristão, assumindo gestos e símbolos autoritários, fundando igrejas nacionais – também criando rachaduras internas; criando interminavelmente outras facções eclesiásticas –, com expressivo sucesso de público nunca antes imaginado. É a deificação do “homo religiosus” e, ao mesmo tempo, da religião de mercado. Às igrejas e lideranças desse meio, tudo é permitido, inclusive o esforço por revogar direitos constitucionais fundamentais, conquistas democráticas e pregar a exclusão e violência contra minorias; contra a mulher e a criança, o adolescente, e contra homoafetivos de ambos os sexos. Se ao Estado autoritário é permitido estabelecer uma ordem na vida e nos interesses da pessoa, a religião acompanha a mesma inclinação.

É nestas fronteiras específicas que se concentra, nos dias de hoje, o trabalho de humanização feito por Deus, pregava Richard Shaull. É nelas que está sendo jogado o futuro do homem e das nações emergentes e em vias de desenvolvimento. “Hoje, de modo geral, a igreja local conserva os mesmos padrões de trabalho e o mesmo conjunto de instituições modelado no período do ‘protestantismo de missões’ (seria por demais extensivo falar sobre o colonialismo missionário na África, Ásia e Oceania)? Este tipo de atuação é ainda relativamente eficaz junto a povos que, até o momento presente, não foram muito atingidos pelo impacto do Ocidente e onde os velhos padrões de vida permanecem quase intactos”, dizia Richard Shaull. Hoje, a observação mudaria, quem sabe: dos velhos padrões, não permaneceu pedra sobre pedra…

Com a mentalidade que acompanha a igreja evangélica, moldar o futuro, neste caso, estas áreas dos atuais desencontros da identidade original obscureceram e se aproximam da escuridão total. Paralelas ao êxito religioso do pentecostalismo evangélico, as comunidades têm cada vez menos significação e relevância diante dos problemas de uma nação ou continente. Não se admira que tenham sido solapadas, as igrejas históricas que não se entregaram ao pentecostalismo. Mais cedo ou mais tarde também abdicariam dos fundamentos e princípios originários.


Legenda: detalhe do “Templo de Salomão” em São Paulo (SP).
Créditos: Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas (29/07/2014)

Derval Dasilio: É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Quando igrejas definham, o nome de Deus é zombado


Por Bobby Jamieson

Se você visse um jardim coberto de ervas daninhas, simplesmente plantaria alguns belos lírios bem no meio dele? Se você não pudesse ouvir o noticiário da TV porque seu rádio estava alto demais, simplesmente aumentaria ainda mais o volume da TV?
É por esse e outros motivos que Bobby Jamieson afirma que “revitalização de igrejas é uma responsabilidade bíblica” [link do artigo completo]. No trecho abaixo, ele lista um motivo em prol da revitalização de igrejas: a honra de Deus.

O Povo de Deus Carrega o Nome de Deus

Uma outra motivação que a Escritura nos dá para a reforma e revitalização de igrejas é que o povo de Deus carrega o nome de Deus. Os cristãos são batizados no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). Os cristãos são o templo dos últimos dias, a corporificação do lugar onde Deus fizera seu nome habitar (1Rs 8.17, 19). A igreja é o povo que foi chamado pelo nome do Senhor, os quais ele criou para a sua glória, os quais ele formou e fez (Is 43.7).

Além disso, Deus é zeloso pela glória do seu nome (Is 48.9-11) – e nós deveríamos sê-lo também.

Mas, como dissemos, quando igrejas definham no pecado, na divisão e no nominalismo, o nome de Deus vira zombaria na praça. Tais igrejas difamam o nome de Deus, em vez de adorná-lo e magnificá-lo.

Uma igreja decadente e mergulhada no pecado é como um farol com a lâmpada e o refletor quebrados. Em vez de refletir a luz da glória de Deus milhas a frente, de chamar pecadores ao porto seguro da misericórdia de Deus, uma igreja assim deixa a noite tão negra quanto estava antes – ou até mais. É como uma estação de rádio cujo sinal foi sequestrado: não importa o que ela confesse crer, tal igreja difunde mentiras sobre Deus, em vez da verdade.

Assim, uma preocupação com o nome de Deus, o qual ele pôs sobre o seu povo – e sobre as suas assembleias corporativas em um sentido especial (Mt 18.20) – deveria nos impulsionar à reforma e revitalização de igrejas. Como Mark Dever tantas vezes disse, revitalizar igrejas é como um pague-um-leve-dois pelo reino. Você derruba uma má testemunha e ergue uma boa testemunha em seu lugar.


Esse artigo é um trecho do texto “Revitalização de Igrejas: Uma Responsabilidade Bíblica”.
Leia o artigo completo

Por: Bobby Jamieson. © 2011 9Marks. Original: The Bible’s Burden for Church Revitalization.

Tradução: Vinícius Silva Pimentel. © 2014 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Revitalização de Igrejas: Uma Responsabilidade Bíblica.


Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2014/11/quando-igrejas-definham-o-nome-de-deus-e-zombado/

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

A Reforma Protestante em quatro doutrinas

Por Christian Gillis

Aos 31 de outubro de 1517, Matinho Lutero afixou as 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg, dando início ao movimento que viria a ser conhecido como Reforma Protestante, donde se originaram, direta ou indiretamente, as chamadas igrejas evangélicas. O interesse pela Reforma não é o de um antiquário, mas sim o de verificar a identidade, o significado e a relevância da mesma para nossos dias, com o propósito de receber inspiração da fé ali vivenciada. O que Karl Marx teria percebido para declarar algo como “Lutero venceu a servidão pela devoção, porque ele substituiu a última pela convicção. Ele quebrou a fé na autoridade, por que restaurou a autoridade da fé”?

As teses de Lutero representam um marco para a recuperação da sã doutrina. Elas registram o início da teologia que produziu a reforma na igreja. Embora ainda fizessem referência a resíduos do romanismo tais como: o purgatório, o papado, os santos e Maria como mãe de Deus, sem contestá-los a princípio, percebemos, já nesse momento, as formulações embrionárias das doutrinas que vão caracterizar a identidade protestante.

De fato, Lutero não elaborou novas doutrinas, mas, numa volta à Bíblia como fonte de conhecimento teológico e espiritual, elucidou a mensagem consignada nas Escrituras que se encontrava soterrada sob os escombros da tradição medieval. Podemos resumir a mensagem da Reforma a alguns postulados:

1. A autoridade das Escrituras – Sutilmente, durante o período medieval, as tradições tornaram-se o fator fundamental para determinar os conteúdos da fé e da moral. Um monte de entulho asfixiou a mensagem bíblica. A Reforma resgatou e restabeleceu a Escritura como fonte suprema e final quanto ao conhecimento de Deus e da sua vontade, para o indivíduo e para a igreja.

2. Justificação pela graça mediante a fé – Contestando a compreensão romanista de salvação por mérito pelas obras, que tinha como símbolo distintivo a venda de indulgências (compra do perdão) a Reforma resgatou o ensino bíblico de que a salvação (perdão, aceitação diante de Deus e santificação) é concedida gratuitamente por Deus àqueles que confiam em Jesus como seu salvador. A salvação não pode ser comprada, mas procede da misericórdia de Deus para com o pecador que se volta para a cruz de Jesus.

3. A centralidade de Cristo – A igreja romana enalteceu o papa como cabeça da igreja e representante terreno da esfera celestial. Também Maria e os santos eram mediadores e intercessores junto a Deus. A reforma acentua que Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Só ele tem poder para efetivamente perdoar pecados. A sua obra na cruz é suficiente e exclusiva para a nossa salvação. É Ele que intercede junto a Deus, como advogado, por aqueles que Nele confiam.

4. Sacerdócio de todos os crentes – Contrastando com o ensino de que somente a hierarquia da igreja (o clero) constitui o sacerdócio autorizado para representar a Deus diante dos homens e vice-versa, a Reforma ensina o sacerdócio universal, isto é, que todos podem comparecer diante de Deus, estudar a sua palavra e ser agentes a seu serviço. A Reforma, conquanto reconheça vocações eclesiais específicas, afirma que todo o povo de Deus é igreja, uma igreja onde todos são chamados a servir a Deus.

Com essas e outras afirmações, os reformadores conseguiram minimizar o distanciamento da igreja medieval do modelo observado no Novo Testamento. Conquanto a obra da reforma não tenha sido completa – e os descendentes espirituais da reforma compreendam que a igreja reformada está constantemente se avaliando à luz do padrão bíblico – a Reforma continua sendo um marco para uma genuína identidade evangélica, em meio ao conturbado contexto religioso contemporâneo.

Essas doutrinas provocaram uma enorme transformação social porque, na verdade, foram a plataforma para a libertação pessoal diante de Deus.


• Christian Gillis é pastor na Igreja Batista da Redenção, membro do Conselho Gestor da Aliança Evangélica e coordenador em Minas Gerais da Fraternidade Teológica Latino-Americana/ Setor Brasil. Twitter: @prgillis

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-reforma-protestante-em-quatro-doutrinas

Imagem: Martinho Lutero (à direita) confrontando o Imperador Carlos V, um cardeal e outros cléricos. The Granger Collection, New York. Ilustração retirada do site da Enciclopédia Britânica.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Um tempo de Reforma pode estar chegando?

Por Josemar Bessa

                              Como um Coração anseia por uma Reforma?

Em Israel houve um rei chamado Manassés. Ele foi um dois piores reis de Israel, e olhe que a lista de péssimos reis em Israel era bem grande. Manassés superou todos, podemos dizer que é o cara mais ‘mau’ da Bíblia sem exagero (Sabendo, é claro, que todos os pecadores são maus). Como rei ele teve um governo corrupto, um governo pautado na maldade, na completa exclusão de Deus – apesar disso – ele governou durante 55 anos. Nós que na maioria das vezes não suportamos governos que duram 4 ou 8 anos, podemos imaginar o que aquelas pessoas tiveram que suportar. Cinquenta e cinco anos é uma geração inteira.

Ele incentivou a prática de cultos pagãos (parecido com o que temos visto no meio da igreja hoje) – Patrocinou o envolvimento da comunidade em orgias sexuais aos deuses da fertilidade, instituiu prostitutas sagradas em santuários espalhados por todo o país, importou magos de outras nações e escravizou o povo com toda sorte de superstições.

O compromisso com a Verdade e Santidade nada tem a ver com a época em que nascemos, por mais corrompida que ela seja – Foi nessa geração que nasceu Jeremias. Ele não teve uma vida de excelência por ter nascido numa geração que o favorecia para isso – Jeremias nasceu numa geração mergulhada na mais profunda trevas e no pior de todos os péssimos reis de Israel. Numa sociedade completamente pervertida foi onde o menino Jeremias cresceu e foi educado. Onde tudo era permitido, toda perversão sexual aceita, todo mal tolerado... orgias sexuais eram culto. Neste ambiente o menino Jeremias se tornou homem.

Manassés morreu e seu filho Amom tomou seu lugar – não é sem significado que o filho de Manassés tem o nome de um deus pagão. A pequena parte do povo que esperava uma mudança logo se frustou – Amom repetiu tudo o que o seu pai fez e alguns servos do palácio o mataram – E seu filho – Josias – precocemente, com 8 anos teve que assumir o trono – e a medida que crescia se dá um dos melhores tempos da história de Israel – mesmo precoce – quando ainda era adolescente um grande Reforma foi vivida pela nação.
Mas ele não tinha referenciais – seu pai e avô eram completamente profanos – Que padrão ele deveria seguir? Que herança ele tinha? Que modelos ele poderia seguir para a Reforma. É inexplicável humanamente o desejo por Reforma se instalar no pequeno coração de Josias tendo como avô Manassés e como pai Amom. Esse desejo é algo novo e sobrenatural que Deus introduz no coração.

Jeremias e Josias – Produtos de uma geração corrompida, profana, que corrompeu completamente o culto a Deus (como a nossa) – auto-indulgente, pérfida... Como nesses corações pode brotar uma paixão por uma Reforma? Como não ser um produto da sua geração? O processo de implantação de Deus de uma coração assim é algo que em sua plenitude é inacessível a nós – mas Deus pode fazer isso na geração de Manassés e Amom – Deus pode e faz isso hoje.

É possível naquela geração, como Josias, crescendo naqueles palácios, cercado com toda a possibilidade e facilidade para o culto ao sexo e a qualquer prazer corrompido imaginado, Deus levantar um garoto com um Santo desejo por Reforma. Jeremias, criado no meio do povo comum – naquela mesma geração – também foi tocado pelo dedo de Deus e seu coração ardeu por Reforma que colocasse a glória de Deus no centro da vida da nação.

Creia no poder da vida de Deus quando ele toca o coração humano e o invade o tornando novo. Isso me faz lembrar toda a devastação na natureza que o homem faz para o seu conforto – destruímos tudo – calçamos tudo, colocamos asfalto em tudo, criamos o que poderíamos chamar de selva de pedra...  Parece que a feiúra nascida da ambição é invencível – como os dias espirituais de hoje no que ainda chamamos igreja. Mas então, quando parece que a vida não tem mais chance – que poder a vida tem – Se os homens abandonarem um lugar por mais cimentado, concretado, asfaltado que esteja – começa haver rachaduras, e dessas rachaduras começa a brotar vida. Mato, ervas, árvores... e sem a atuação danosa humana – logo aquele lugar volta ao viço verde de outrora. É o poder da vida sobre o horror da morte na criação de Deus.

Mas estamos falando de algo infinitamente maior – o Poder da Vida de Deus quando invade e dá uma nova natureza – a geração que nascemos, a perversão do ambiente, a queda da igreja mais baixo quanto possível, a perversão do culto... não podem impedir que Josias e Jeremias sejam levantados com um desejo por Reforma, e mais do que isso, como instrumentos  para ela.

Depois de tanta vilania prosperando por décadas através de Manassés e Amom, parecia impossível que a vida de Deus se manifestasse tão poderosamente como foi demonstrada na Reforma que veio através de Josias e depois o ministério com um homem chamado Jeremias.

Anime-se, um tempo de Reforma pode estar chegando. Deseje e se prontifique ser um Josias e um Jeremias em tempo de desolação.

                                                                            Soli Deo Gloria!!

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Toda autoridade no céu e na terra


Por Roland Barnes

Quem tem autoridade para mandar em outros? O que dá a alguém o direito de mandar em alguém? Essa questão pode ser levantada em relação a todas as áreas da vida: a vida em família (pais), a vida na igreja (pastores, presbíteros), a vida civil (governantes, reis e assim por diante). Quem autoriza os pais, pastores, presbíteros e reis a governarem em suas respectivas esferas?

É digno de nota que, antes de Jesus comissionar seus discípulos em Mateus 28.18-20, ele asseverou a sua autoridade para fazê-lo. Havendo realizado a obra da redenção, ele antecipou sua ascensão e coroação, aquele ponto em que ele haveria de se assentar à destra do Pai e receber o nome que está acima de todo nome nos céus e sobre a terra (Efésios 1.20-23).

Autoridade é o direito de governar, de mandar, de exercer domínio. A palavra grega exousia, traduzida para o português como autoridade em Mateus 28.18-20, literalmente significa “aquilo que emerge do ser”. É o direito de governar que emerge das presentes condições (estado de ser) ou da relação em que alguém se encontre. Um pai tem o direito de governar em virtude da relação ordenada por Deus que o pai tem com seu filho. Jesus tem o direito de governar em virtude do seu presente estado de ser, ou condição, como aquele que venceu o pecado, a morte e o inferno.

Assim, antes de o Senhor Jesus comissionar os seus discípulos, ele asseverou a sua autoridade para fazê-lo. Eis aqui a reivindicação de autoridade universal e ilimitada. Devemos notar primeiro a fonte de sua autoridade: ele a recebeu de seu Pai. Em seu estado de humilhação (a sua vida terrena antes da ressurreição), ele possuía autoridade, mas havia voluntariamente limitado o seu exercício. Contudo, em algumas ocasiões ele a asseverou com grande poder.

Durante o seu ministério, a sua autoridade era manifestada no modo do seu ensino (Mateus 7.29), ao assegurar o perdão de pecados (9.6), ao acalmar o mar (8.26), ao curar toda sorte de enfermidade e doença (9.35), ao expulsar demônios (12.22) e ao obter a vitória sobre a própria morte (João 11.43).

Mas todos esses exercícios de autoridade não eram senão manifestações pálidas da autoridade ilimitada e universal que lhe foi devolvida pelo Pai em sua exaltação.

[...] Veja o desenvolvimento final do texto: Leia o artigo completo


Rev. Roland Barnes é pastor sênior da Trinity Presbyterian Church (PCA) em Statesboro, Ga. Ele também faz parte da diretoria da Sociedade Missionária Cristã (Christian Missionary Society).

Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2014/10/toda-autoridade-ceu-e-na-terra/

domingo, 2 de novembro de 2014

Há muito tempo algo maravilhoso aconteceu








Por Elben César

Há muito tempo Deus deu uma ordem, e os céus e a terra foram criados. (2Pe 3.5)

Para Pedro e para o povo eleito do Antigo e do Novo Testamento não havia a menor dúvida, a menor especulação e a menor confusão: “No começo [o mais remoto de todos] Deus criou os céus e a terra” (Gn 1.1). Mais ainda, o universo veio à existência graças a uma ordem dada pelo soberano Deus. Isso fazia parte da cultura judeu-cristã.

A fonte primária dessa simples verdade encontra-se no primeiro capítulo da Bíblia. Nessa página, a expressão “Deus disse” aparece nove vezes. As coisas foram surgindo uma após a outra em resposta ao “Deus disse”: a luz, o céu e a terra, a terra seca (os continentes) e os mares (oceanos), as plantas e árvores, o dia e a noite, os seres vivos de todas as espécies e os seres humanos.

Durante um longo período de tempo não houve controvérsia em torno dessa singela e tremenda versão: “Há muito tempo Deus deu uma ordem, e os céus e a terra foram criados”. Hoje é um problema desnecessário para boa parte dos universitários e cientistas. A luz da história da criação, segundo a versão confiável das Escrituras, se apagou para muita gente, que tem uma lanterna na mão para descobrir a origem de tudo.

Por causa dessa herança histórica, muitos poemas têm sido escritos. Talvez o mais bonito de todos seja o Salmo da grandeza do Deus de Israel, escrito pelo profeta Isaías (muito tempo depois da criação e setecentos anos antes de Cristo). Logo no início se lê:

“Quem mediu a água do mar com as conchas das mãos ou mediu o céu com os dedos? Quem, usando uma vasilha, calculou quanta terra existe no mundo inteiro ou pesou as montanhas e os morros numa balança?” (Is 40.12-31).

>> Por ter criado todas as coisas, Deus é digno de receber glória, honra e poder!

>> Retirado de Refeições Diárias com os Discípulos. Editora Ultimato.


Fonte: http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2014/10/24/autor/elben-cesar/ha-muito-tempo-algo-maravilhoso-aconteceu/

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Algo mais seguro: inspiração e autoridade da Palavra


Por Kevin De Young

Texto base: 2 Pedro 1.16-21

Pedro escreveu esta carta combatendo falsos mestres que ensinavam que a graça de Deus dá permissão para pecar. Uma das motivações para buscar a piedade é a volta de Cristo e a certeza da volta de Cristo está fundamentada em (1) testemunhas oculares (e não em mitos v.16; 2 Tm 4.3-4) e em (2) fontes autoritárias.

Essa fonte autoritária é a “palavra profética”, a Escritura, e Pedro destaca três características dela:

1) A Escritura é a Palavra de Deus.
Teólogos neo-ortodoxos normalmente tentam separar a Palavra de Deus da Escritura. Outros tentam colocar uma divisão onde não existe: ou você é um cristão do Espírito ou da “letra”, “da Bíblia”. Contudo, Pedro usa o termo “graphe”, que implica dizer que a autoridade reside no texto objetivo e não em nosso sentido subjetivo.

E se a própria Palavra de Deus contém a própria autoridade de Deus (v.20), então a própria Escritura carrega a autoridade de Deus. Pastor, quando você vai pregar, você sente que tem uma Palavra poderosa que você está pregando ou que prega uma palavra fraca? Há poder e autoridade na Palavra de Deus!

2) Esta Palavra foi registrada sob inspiração dinâmica.
Ao registrar a Escritura, Deus usou a personalidade dos seres humano, não foi algo mecânico

3) A Bíblia é inerrante.
Pedro afirma que nada na Escritura foi escrito por iniciativa humana (v. 20-21). A Bíblia é um livro divino, totalmente confiável. Quando rejeitamos a Inerrância, colocamo-nos como juízes da Palavra de Deus, dizendo o que é ou não é confiável.

Tendo isso em vista, Pedro, que viu a transfiguração de nosso Senhor, coloca a “palavra profética” acima de sua experiência. Assim, mesmo uma experiência espetacular com Deus não é mais certa que a Escritura (v. 19). Você não precisa de uma revelação especial além das Escrituras.

As boas novas são que cada um de nós pode ouvir a Deus hoje, agora! Deus ainda fala. E ele tem uma Palavra para nos que é certa, segura e inerrante. Você não precisa de uma revelação de Deus fora da Bíblia. Você pode ouvir a voz de Deus todos os dias. Cristo ainda fala porque o Espírito já falou. Se você quer ouvir a Deus vá para o livro que registrou somente aquilo que ele disse. Mergulhe na Palavra de Deus. Você não encontrará nada mais seguro.

Muitas vezes ficamos esperando ansiosamente ouvir a voz de Deus, mas temos a certa Palavra de Deus registrada na Bíblia. Quer ouvir o Espírito Santo? Abra a Bíblia!


Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério ­ The Gospel Coalition.

domingo, 26 de outubro de 2014

O EFEITO CINDERELLA (na Igreja)


Por Carlos Moreira

Não há consenso sobre a origem do Conto de Fadas mais arrebatador da humanidade: “Ciderella”. A versão mais popular dá conta de que ele é produto do famoso escritor francês Charles Perrault e teria sido escrito em 1697.

Decerto, Cinderella é uma história maravilhosa. De suas muitas nuances, uma me chamou particularmente a atenção nestes dias: a magia que transforma, momentaneamente, a garota rejeitada e descuidada em uma princesa estonteante.

Mas tudo na vida tem um custo... Aquele encantamento, que abria possibilidades e entretecia sonhos, tragicamente, tinha prazo de validade – dia, hora e lugar para acabar. E foi assim que, no bom da festa, Cinderella teve de correr para não se transfigurar na frente de todos e do príncipe, numa “gata borralheira”.

Como pregador e pensador deste tempo, percebo um fenômeno que vem acontecendo entre aqueles que dizem seguir a Jesus e ao Evangelho: o “Efeito Cinderella”. Trata-se de um tipo de prática religiosa que acaba por tornar o sujeito um refém da agenda do sagrado.

O Efeito Cinderella é a crença confinada ao ambiente, a espiritualidade de ocasião que consagra o personagem, a religião com hora marcada. Neste tipo de profissão de fé, o indivíduo pensa e age como crente apenas quando está conectado ao calendário da igreja, num culto, num movimento ou numa vigília de oração. Nestas circunstâncias, muda o olhar, a fala, os gestos, os atos, as convicções. Passa a seguir ritos, acredita em mitos, fala sério, torna-se ético no proceder e ascético quanto ao pecado.

Contudo, findo o “efeito mágico”, alterado o ambiente e as ambiências, a pessoa fica livre para viver conforme sua própria conveniência, entregue a tórridas concupiscências, dessensibilizado de consciência,
amargurado de alma e petrificado de coração. No fundo, é como se a fé estivesse condicionada ao acionamento de um botão on/off , que liga e desliga conforme a ocasião e as circunstâncias.

Com tristeza, encontro maridos exemplares no Templo, mas que são adúlteros contumazes no escritório. Vejo gente sincera trabalhando em movimentos, mas mentindo descaradamente na sala de aula, pudica na EBD e depravada na mesa do bar. Para nossa vergonha, é a consagração do estelionato espiritual, a bipolaridade existencial, a dialética religiosa sem síntese, nem tem propósitos, nem se desdobra de forma consequente.

Bem dizia a canção consagrada na voz imortal da Elis Regina: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Sim, “nossos pais” adoravam no Templo, por isso tornamo-nos devotos de espaços pseudo-sacralizados, de geografias espirituais, batemos no peito diante do altar, mas ignoramos o necessitado agonizante em nosso caminho, somos sacerdotes que ofertam o ideal no altar da conveniência.

Mas não esqueçamos que no grande banquete que nos aguarda, onde estaremos diante do Rei, não adiantará encantamentos. Naquele dia, não haverá como esconder a fratura exposta de nossa consciência, atrofiada por práticas refratárias ao amor. Ali, ou você se revestirá de vestes de louvor ou trajará trapos de imundice.

Ainda é tempo de lembrar que Jesus nos desafiou a encarnar um tipo de espiritualidade que se projeta de ambientes para as dinâmicas do cotidiano. “Nem neste Templo e nem no Monte”, disse a Samaritana, mas andando em Espírito e em Verdade! Deus continua buscando gente que não se satisfaça com rotinas religiosas e que não se torne prisioneiro de catedrais. Sim, para estes, Ele ainda continua a dizer: “Vem e Segue-me!”.


Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2014/10/o-efeito-cinderella-na-igreja.html

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Por que Deus não impediu a Queda?

Hermes Fernandes

Eis uma das mais delicadas questões com que se depara a Teologia cristã. Como crentes na soberania divina irrestrita, não podemos supor que a Queda tenha pego Deus de surpresa.

A prova de que Deus não apenas previa a desobediência humana, como a permitiu, e a incluiu em Seu glorioso plano, é que, antes mesmo da fundação do mundo, Ele havia provido um meio de equacionar o problema do pecado. De forma que a Bíblia nos apresenta Cristo como o “Cordeiro que foi morto desde antes da fundação do mundo” (Ap.13:8b).

Não há improvisos no plano arquitetado por Deus. E a prova disso é que Ele já havia feito ampla provisão.

Antes do início da História, um plano foi arquitetado, em que cada evento foi previamente decretado pelo Criador. Em Sua Onisciência, Deus sempre soube com antecedência de todas as coisas. O Deus das Escrituras não deve ser confundido com o “deus” da chamada teologia de processo, que nada sabe quanto o futuro, pois é refém do tempo que ele mesmo criou.

Definitivamente, Deus não é refém do tempo. Ele vive na Eternidade, onde não há passado ou futuro, mas um eterno agora. Todas as coisas estão diante d’Ele concomitantemente. Ele não precisa lançar mão de dados estatísticos, para saber a probabilidade de algo acontecer ou não. Ele simplesmente sabe.

Em Sua sabedoria, Ele decidiu que o homem só conheceria Seu amor e Sua graça, se tropeçasse e caísse de seu estado original.

Agostinho foi feliz ao declarar: “Oh bendita queda, que nos proporcionou tão grande redentor!”. Se não houvesse Queda, não haveria necessidade de Redenção. Se não ocorresse a Ruptura, também não haveria a Convergência em Cristo na Plenitude dos Tempos. Portanto, não haveria cruz; jamais entenderíamos a profundidade do amor de Deus. A graça nos seria um conceito desprovido de qualquer sentido.

Sem a Queda, fatalmente seríamos corrompidos por nossa própria perfeição, como aconteceu com um tal querubim ungido.

Foi melhor sermos humilhados, para ser depois exaltados pela Graça divina, do que nos exaltarmos, e sermos definitivamente derrubados de nossa arrogância.

Tudo estava no plano de Deus. A maneira como cairíamos, e como seríamos reconduzidos à glória.

A serpente não entrou no paraíso por um descuido de Deus.

A provisão de Deus para a reversão da Queda é Cristo. Ele reverteu, através de Sua obediência, o processo desencadeado pelo pecado.

Ele não só zerou nosso débito, mas colocou-nos numa situação de crédito com Deus.

Adão foi tentado no paraíso e caiu. Jesus foi tentado no deserto, e não caiu. Enquanto Adão podia comer de todas as árvores, Jesus, no deserto, não tinha alternativa pra saciar Sua fome, senão transformar pedras em pão. Mas Ele resistiu até o último instante.

Agora, Sua vida justa e santa é creditada em nossa conta, enquanto nossos pecados foram debitados na Sua. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co.5:21).


Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2014/10/por-que-deus-nao-impediu-queda.html

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O corpo e a fome na Ceia do Senhor


Por Derval Dasilio

A mensagem é profética, de Jesus Cristo, observada a linguagem diferenciada própria do evangelho de Mateus sobre o sentido do corpo dado em sacrifício, enquanto se identificam os céus como símbolos de plenitude. A vida com Deus, o lugar onde se constata sua presença, suas ações libertadoras (Mt 22.1-14). A esperança de Jesus de que o reinado de Deus fosse irromper logo, abrindo uma nova era, antes mesmo que seus contemporâneos viessem a falecer, é confirmada nos vaticínios e nas parábolas de Jesus relatadas por Mateus (cmp. Mc 13.13; Mt 10.23, par.). “Vamos comemorar, juntos, em comunhão (‘koinonia’) com o Senhor, a chegada do reinado de Deus, consumindo o que é do bom e bom e do melhor...”, poderia ser uma paráfrase adequada para o grande banquete, que a Ceia do Senhor prenuncia.

Em 1958, o mais importante cineasta europeu, Roberto Rosselini, desembarcava no Brasil para filmar “Geografia da Fome”. Tratava-se de uma adaptação cinematográfica do livro de Josué de Castro, médico e sociólogo que cuidou de uma radiografia da grande mazela nacional, mais tarde identificada como o maior de todos os problemas mundiais: a fome. Visitou o Canal do Mangue, folclórica zona da pobreza e do meretrício, mas também famosa pelo afogamento de mendigos, no intento de “limpeza social”, promovido durante o governo de Carlos Lacerda. Foi à procura dos populares caranguejeiros da época, personagens de Josué de Castro. A imprensa queria que ele filmasse outros assuntos, lembrando a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, e do romance açucarado de José de Alencar -- que ignorava a escravidão africana no Brasil --, como tema ideal. Negaram-lhe financiamento porque insistiu no tema que o interessava: a fome.

As oferendas da mesa que serão consumidas no banquete comemorativo da chegada do Reino, porém, comportam todos os sabores da vida desejável, e de todas as formas de bem-estar. Fim da fome, das desigualdades e das injustiças. Encontraremos um fio condutor, no evangelho de hoje, onde a imagem do banquete eucarístico nos permitirá saborear todos os temperos, cheiros e gostos, de uma culinária libertária e maravilhosa, ao mesmo tempo.

Ariano Suassuna, autor de sucessos como “O Auto da Compadecida”, contou uma história sobre “as comidas que nos faltam”, usando um exemplo simples – uma história de cachorros. “Entre o osso e o filé, o que um cachorro prefere? Lógico que é o filé. Osso é para roer, insinuava sobre o ‘fast food’ tupiniquim contemporâneo, repleto de hambúrgueres criticados pelo mestre nordestino. Então “está faltando oportunidade aos jovens brasileiros de conhecer o filé da nossa cultura”.

Roberto da Mata informa: as manifestações mais humildes de uma sociedade são as mais reveladoras de sua índole… e dos seus valores. A comida, a música, a televisão, os sotaques, como os dos nordestinos, sulistas, sudestinos goianos e mineiros, por exemplo, tão gostosos e variados, identificam as origens brasileiras. Modos insuspeitos, quase sempre identificados com clareza singular, revelam tendências, preocupações, aspirações. No Brasil, quando podemos, misturamos farinha com feijão, fazemos tutu juntando temperos como cebolinha e alho. E acrescentamos o torresmo. Dentro da lógica, não do alimento, mas de uma mistura mestiça e mulata, nos expressamos culturalmente.

Como gente do povo, preferimos a feijoada amiga, que mistura paio, carne seca, pé-de-porco, toucinho magro, servindo-a com couve refogada. Não há uma lógica nessa mistura que iguala os alimentos sem discriminá-los. Todos esses hábitos falam de sociedades, de valores, e modos de construir e sustentar o próprio corpo social. Assim é este Brasil original.

Quem aceita o convite para o banquete da vida? Quais são os convidados que vestem roupas brancas de núpcias (símbolo bíblico dos que praticam a justiça), demonstrados no Apocalipse: “Esta é a mensagem daquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas. Eu sei o que vocês estão fazendo. Vocês dizem que estão vivos, mas, de fato, estão mortos. Acordem e fortaleçam aquilo que ainda está vivo, antes que morra completamente. (...) Aqueles que conseguirem a vitória (da justiça) serão vestidos de branco, e eu não tirarei o nome dessas pessoas do Livro da Vida. Eu declararei abertamente, na presença do meu Pai e dos seus anjos, que elas pertencem a mim. Portanto, se vocês têm ouvidos para ouvir, então, ouçam o que o Espírito de Deus diz às igrejas” – Ap 3.1-6]? São convidados os perseguidos, pobres, prostitutas, deficientes, portadores de necessidades especiais, coxos, cegos, surdos, doentes, que estão na agenda de Deus, em primeiro lugar.


Derval Dasilio: É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-corpo-e-a-fome-na-ceia-do-senhor

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A Obra do Espírito Santo e a Consciência


Por Kevin De Young

Lutero, com sua consciência cativa à palavra de Deus, diante da Dieta de Worms, disse: “A menos que me convençam, pela Escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras. Não posso nem quero me retratar, de vez que não é seguro nem correto agir contra a consciência. Deus me ajude. Amém”.

Podemos dizer que a história da Reforma mudou porque Lutero não fez aquilo que sabia que era errado. Ele levou a sério sua consciência. Como você trata sua consciência?

2 Coríntios 1.12, 15-17, 23 – Algumas pessoas de Corinto estavam colocando Paulo em dúvida, acusando-o por inúmeros motivos. Porém Paulo diz que tem uma consciência limpa – para ele isso era crucial (Rm 9.1, 2 Tm 1.3). A consciência pode não ser o juiz final de nossas acusações, mas é um bom indicador. Consciência é a faculdade que Deus colocou em nós para que nos conheçamos e para que possamos discernir o certo do errado. E o Espírito age através e influencia a nossa consciência. Os puritanos diziam que a consciência é o espião de Deus e o superintendente do homem.

Rm 2.14-15 – A consciência pode ser como um promotor, acusando-nos de nossos pecados. Mas a consciência também tem um papel positivo de nos defender que estamos corretos mesmo diante de acusações. A Escritura coloca a falta de uma consciência desenvolvida como um atributo infantil. Entender o papel da consciência é indispensável à maturidade cristã.

Hb 10.22 – Mas podemos ter uma consciência má, a qual nos acusa de fazer o mal, mas não nos leva a fazer nada a respeito disso.

1 Tm 4.2 – Se você ignora sua consciência por muito tempo, sua consciência má se tornará cauterizada.

Tt 1.15 – Há também uma consciência corrompida, que não consegue discernir entre o certo e errado e você começa a celebrar o que é mal e condenar o que é bom.

1Co 8.7-13 – Há também o que Escritura chama de consciência fraca, que é quando nos sentimos culpados de algo que não é inerentemente indigna. Tornamo-nos muito meticulosos com coisas que não são necessariamente errada (p.e.: bebida alcóolica, cinema).

At 17.26; Tt 3.9; 1 Pe 3.16 – Nosso objetivo é ter uma consciência boa e tranquila.

Duas coisas que devemos fazer para ter uma boa consciência:

1) Abandone o pecado quando sua consciência diz que o que você vai fazer é errado. Se você está vendo um filme e está se sentindo mal e ficaria envergonhado se alguém visse você, então simplesmente deixe de ver. Quando ignoramos a consciência nos colocamos em grande perigo. Nós nos tornamos uma pedra de tropeço diante de outros crentes quando o incentivamos a ignorar sua consciência, mesmo que não seja algo absolutamente errado.

2) Volte-se a Cristo, quando sua consciência lhe acusar de algo que você fez (1Jo 1.9; Hb 9.14). A consciência é para ser nossa amiga, pois Deus a deu para nos levar a cruz. A própria pregação deve se dirigir a consciência.

Dependendo de como você foi criado, você pode ter uma consciência muito sensível, se sentindo constantemente uma falha. Saiba que a cada vez que você olhar para si mesmo, olhe dez vezes para Cristo. Não é para isso que Deus lhe deu sua consciência. Outros já tem uma consciência cauterizada que não percebem os perigos do pecado. Você é chamado para ter uma consciência limpa e não inexistente.

Paulo vivia com uma consciência limpa (1Co 4.4). Com isso Paulo não está dizendo que não peca, mas que vive uma vida de constante arrependimento e de fé em Cristo. Ele confessava e olhava para cruz assim que pecado. É assim que a vida cristã deve ser.


Kevin De Young é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério ­ The Gospel Coalition.

sábado, 18 de outubro de 2014

Sola Gratia

 Por Willian Lane
                                                   
Rodrigo Mendoza, o mercador de escravos espanhol, do filme A Missão, de Roland Joffé, protagonizado por Robert De Niro, depois de matar seu próprio irmão por amar a mesma mulher que ele, se torna um noviço jesuíta e se une aos companheiros da ordem na missão entre os índios. O cenário é encantador: as cataratas de Foz do Iguaçu. A trilha sonora de Ennio Morricone embeleza o cenário com drama e suspense. Para chegar à missão, precisavam subir o rio e escalar as íngremes encostas. Movido pela culpa da morte de seu irmão, Rodrigo arrastava toda sua armadura embrulhada em uma bagagem de cordas amarrada ao seu corpo como forma de penitência. Após diversas tentativas e quedas para chegar ao topo, chegando ao final e diante do olhar atônito de seus companheiros, seus superiores, e dos índios aos quais, em outros tempos, tentou escravizar, está a ponto de exaustão. Nessa cena dramática e agonizante, um dos índios o reconhece e ameaça vingá-lo pela morte de seus parentes, porém, orientado pelo chefe da tribo, corta a corda que envolvia o seu corpo e lança rio abaixo a sua bagagem. Com isso, Rodrigo cai aos prantos totalmente surpreso por aquele gesto de perdão.

Sempre vi essa cena como uma magnífica representação moderna de uma verdade bíblica tão cara à tradição reformada, porém, tão difícil de ser vivida e praticada de forma plena: a graça, somente a graça. 

Em sua luta contra as práticas abusivas das indulgências e o conceito de que a salvação depende das boas obras, os reformadores do século 16 defenderam a doutrina bíblica de que a salvação é somente pela graça. Não que a igreja cristã medieval não cresse e aceitasse que a salvação era pela graça. Pelo contrário, no final do século 4º, Agostinho e Jerônimo já combatiam veementemente a doutrina de Pelágio, que afirmava que a salvação do ser humano dependia estritamente das decisões do próprio indivíduo que nascera moralmente neutro e capaz de decidir por sua salvação. Agostinho, por outro lado, argumentava que o ser humano foi gerado em pecado e somente pela graça de Deus podia ser salvo. Em 418 d.C., no Concílio de Cartago, o “pelagianismo”, como ficou conhecida a doutrina, foi formalmente condenado como heresia pela igreja.

Mais do que defender a doutrina da salvação pela graça, os reformadores enfatizavam o sola, somente, pela graça. A grande diferença entre o ensino dos reformadores e as doutrinas e práticas da época foi o fato de afirmarem que a graça não requer boas obras para atender a exigência do perdão dos pecados. Os reformadores se firmaram em textos bíblicos que ensinam explicitamente a suficiência da graça para a salvação. Efésios 2.8-9, em particular, afirma a suficiência da graça: “Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la” (NTLH).

No entanto, muito mais do que ver isso como um debate histórico e um legado dos reformadores, penso que a igreja cristã precisa a cada geração reafirmar sua convicção na graça, não só como meio de salvação, mas como meio de contínua convivência e comunhão na fé. 

Vejo que o ensino da graça de Deus é fácil de entender e aceitar, mas difícil de vivenciá-lo. Apesar de nossa convicção da graça de Deus, boa parte de nossa pregação, ensino e prática religiosa é pautada na culpa. O sentimento de culpa e de ter de se acertar com Deus é a força propulsora de muitos ministérios. Pastores e líderes têm dificuldade de engajar pessoas na missão da igreja com a pregação da graça, por isso, introduzem à mensagem a culpa ou a recompensa como forma de obter apoio dos fiéis.

A igreja evangélica hoje se distancia do ensino da graça sempre que exige contrapartida das pessoas para a obtenção de um favor divino. Às vezes parece que estamos voltando à Era Medieval. O perdão é alcançado mediante obras e ofertas. Cada vez mais, vemos como a igreja evangélica cede às formas de religiosidade popular. Poucas igrejas cristãs evangélicas e protestantes admitiriam que as boas obras são essenciais ao alcance da graça, contudo, muitas sucumbem à prática da lógica das obras. Para alguns, a influência vem da lógica de mercado de uma sociedade consumista e materialista. Porém, penso que as tendências religiosas ou materiais adquirem força por causa do enfraquecimento da compreensão da graça. 

Creio que começamos a compreender a graça quando somos capazes de servir a Deus - até mesmo sacrificialmente - em gratidão ao sacrifício de Cristo, e quando somos igualmente capazes de estender o perdão e a graça aos “nossos devedores”.


• William (Billy) Lane é pastor presbiteriano, doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo, RS. É diretor acadêmico da Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina, PR.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/sola-gratia