domingo, 28 de junho de 2015

Jesus e o Anti-Marketing Religioso

Em 355 a.C, próximo a Atenas, Aristóteles fundou o seu Liceu para repassar ensinamentos aos discípulos que desejassem aprender sobre lógica, física, matemática, retórica, ciências, entre outros saberes.

Tratava-se de um amplo espaço, com um enorme bosque, onde havia aulas regulares pela manhã e a tarde, com públicos diferentes, com vistas a fomentar a filosofia e o desenvolvimento do pensamento para o bem da vida.

Pois bem, eu confesso estar imensamente intrigado por que Jesus não andou neste mesmo “mover”, por que não seguiu a receita de sucesso daqueles que vieram antes de si, por que não fez uso de estratégias de multiplicação? Sim, encasqueta-me o juízo saber por que Jesus foi tão obtuso e não se valeu de seu enorme potencial homilético, de seu imenso carisma e, sobretudo, de sua capacidade extraordinária de realizar milagres?!

Em tempos de “expansão” de ministérios, de pregadores televisivos, de construções de templos salomônicos, de aumento da população evangélica com vistas a se tornar a religião hegemônica no Brasil, parei para refletir sobre a vida de Jesus e seus discípulos...

Na verdade, a dúvida sobre os métodos de Jesus não é só minha, não. A própria família do Senhor também não entendia por que ele usava estratégias tão ultrapassadas e não fazia qualquer marketing pessoal. Em Jo. 7:4, o Galileu ouviu dos de casa o seguinte: “Ninguém que deseja ser reconhecido publicamente age em segredo. Visto que você está fazendo estas coisas, mostre-se ao mundo". Mas, curiosamente, ele insistia na simplicidade e na fé...

O que eu queria mesmo era que Jesus tivesse alugado um espaço, quem sabe próximo ao Templo de Herodes, numa área nobre de Jerusalém, e botasse pra quebrar! Sim, fico pensando numa mega catedral, com cultos, ao menos, três vezes por dia, louvor gospel com bandas extravagantes – assim atrairia também a juventude – e mensagens bombásticas para os miseráveis daquela região. Ia ser o pipoco! O Sinédrio ia esquentar a chapa e teria que se cuidar com a nova concorrência!

Na verdade, com a capacidade que o Galileu tinha, certamente conseguiria levantar muitos fundos entre a classe dos publicanos. Com estes recursos, poderia construir o Liceu de Jesus, um lugar para treinar novos evangelistas e enviar obreiros para abrir igrejas em todo o Oriente! Ao invés de apenas 12 discípulos, ele teria 12 mil pastores sendo preparados para detonar com a doutrina da Lei Mosaica dos Judeus. Além de inovador, seria imbatível!

Fico pensando em Jesus realizando milagres de todo tipo, pirotecnia pra todo lado, descendo voando do pináculo da catedral e aterrizando, suavemente, no altar central? Ô benção! Ele ao invés de anunciar o Evangelho do Reino, pregaria sobre a Teologia da Prosperidade, acabaria com aquela fixação estranha de morte na Cruz e se voltaria para o Palácio de Pôncio Pilatos, o qual, inclusive, devidamente “trabalhado”, certamente se constituiria num poderoso aliado.

Ah Jesus... Quanto poderia ter sido feito... Mas você, Senhor, optou pelo caminho mais difícil, pela porta estreita, por fazer a vontade do Pai, abraçando a proclamação da Verdade e escolhendo o cuidado dos pobres e necessitados da Terra. Que enorme desperdício!

Mas nem tudo está perdido, meu Senhor... Hoje, seus “discípulos” estão remendando a história, colocando a “igreja”, novamente, nos trilhos da “fé”, realizando o que você se negou a fazer. Eles constroem templos suntuosos, manipulam a sã doutrina, esfolam o povo para tirar-lhes dinheiro e se regalam nas benesses do “evangelho”.

Olha, Jesus, tenho que admitir que eles estão executando tudo o que você nunca fez e ainda esperam que, ao final, o Pai os receba na glória eterna, com banda de música, confete e serpentina! Então Senhor, por favor, não vá os decepcionar, pois eles estão fazendo tudo ao contrário, mas estão alcançando um “”sucesso” inquestionável...


domingo, 21 de junho de 2015

O Amor de Deus e o Amor por Deus


Por George M. Marsden

Um dos maiores tratados que Jonathan Edwards escreveu no relativo isolamento da vila missionária, em meados da década de 1750, foi chamado A Natureza da Verdadeira Virtude. Nesse tratado, ele argumentou que os padrões para a virtude derivados da razão natural, como eram postulados pelos filósofos iluministas de seus dias, definiam a virtude muito estreitamente. Através das eras, os filósofos haviam louvado virtudes como amor à família, amor à comunidade e amor à nação. Estes podem ser boas características, disse Edwards, mas são parte da verdadeira virtude somente se começam com amor a Deus. Todos os amores cujos objetos mais elevados são menos do que Deus são amores parciais e não universais. Alguém só pode participar do amor verdadeiramente universal se começar com o amor a Deus e, depois, estabelecer como alvo amar tudo que Deus ama. Se o objetivo de alguém é amar tudo que Deus ama, então, pode começar a realizar verdadeiro sacrifício pessoal.

Outra obra importante deste período foi O Fim para o qual Deus criou o Mundo. Nela, Edwards abordou a questão implícita no título: por que um ser perfeito como Deus precisava criar seres menos perfeitos? A resposta, disse Edwards, é que Deus é perfeitamente amoroso e, por isso, deseja compartilhar seu amor com criaturas capazes de amar. O ponto de partida de Edwards foi que um Deus amoroso está no âmago do universo. Portanto, para Edwards, o universo é essencialmente pessoal; é a expressão criativa de uma pessoa. A ênfase de Edwards em personalidade no centro da realidade apresenta um contrate acentuado com os pontos de vista modernos. Desde o Iluminismo, muitos pensadores modernos têm elaborado teorias baseadas na premissa de que o universo é essencialmente impessoal, controlado por leis naturais. Edwards desafiou esse ponto de vista com uma alternativa vital: que no âmago da realidade está um Deus amoroso e que esse amor é a dinâmica por trás da criação do universo e de tudo que há nele.

Começar com um senso do amor de Deus no centro da realidade muda a maneira como pensamos sobre a verdadeira virtude. No âmago da realidade está a beleza do amor de Deus se derramando, para que o bem mais elevado seja retornar esse amor a Deus. Se amamos verdadeiramente a Deus, devemos também amar o que Deus ama, que é toda a criação, excetuando o mal ou a negação do amor. As filosofias modernas, disse Edwards, começam tipicamente no lugar errado, com os seres humanos e suas necessidades. Elas veem a felicidade humana como o objetivo da criação e, depois, julgam a Deus por seus padrões limitados. Cada pessoa, comunidade ou nação tem suas próprias ideias do que lhes trará felicidade, e as pessoas entram em conflito umas com as outras porque seus padrões de virtude são muito limitados. Somente a verdadeira virtude, que começa com o amor ao Criador, pode unir as pessoas. Este amor universal pelos outros, que deve se desenvolver do verdadeiro amor a Deus, Edwards o chamou “amor ao ser em geral”.


George M. Marsden: (Ph.D) é historiador, professor e escritor prolífico. É professor emérito da Universidade Notre Dame, nos EUA, autor de várias obras de referência nas áreas de história da religião, cultura, igreja e evangelicalismo norte-americanos. Entre suas publicações, destaca-se a extensa e bem documentada biografia de Edwards: “Jonathan Edwards, a life”, publicada pela editora Yale e laureada com o renomado prêmio literário Brancroft Prize, concedido pela Universidade Columbia.


Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/05/o-amor-de-deus-e-o-amor-por-deus/

domingo, 14 de junho de 2015

Salvos pela morte... pela vida.


Por Leonel Elizeu Valer Dos Santos


“Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, tendo sido já reconciliados, seremos salvos pela sua vida.” Rom 5; 10

Duas coisas chamam atenção na afirmação de Paulo: Apresenta a reconciliação dos cristãos com obra concluída; “... fomos reconciliados...” a salvação, como algo a ser feito; “... seremos salvos...”. Mais: A reconciliação se deu pela morte de Cristo; a salvação se dará pela vida.

Normalmente acostumamos a ver a coisa como única. Aceitei ao Sacrifício de Cristo em meu favor, me arrependi, confessei, estou salvo. Tudo se encerraria com a morte do Salvador. Entretanto, os reconciliados são chamados à vida de, e, em Cristo, para, enfim, gozarem a salvação.

Assim, se para reconciliação se nos requer identificação com a morte, a salvação demanda identidade de vida. “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” Cap 6; 3 e 4

Viver a vida de Cristo só por imitação, claro! Como dissera Jó sobre sua relação com Deus: “Nas suas pisadas os meus pés se firmaram; guardei seu caminho, não me desviei dele.” Jó 23; 11

O que nos pode encerrar no erro do simplismo irresponsável é a ideia de tratarmos a vida eterna pela duração, não pela essência; então, seria mera existência sem fim que herdaríamos após o sono do corpo. Contudo, vai mui além disso. Tem mais a ver com o caráter de quem a lega, do quê, com extensão. Algo em que podemos e devemos ingressar ainda em nossa peregrinação terrena. “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas.” I Tim 6; 12 Essa é a Vida de Cristo que somos instados a viver.

Vários textos apresentam a conversão como “passar da morte para a vida”; ou, “nascer de novo”. Se, no âmbito natural é considerado um ser vivo aquele que nasce, cresce, vive, reproduz e morre, no espiritual, a última parte deixa de existir, a morte.

Pedro preceitua a alimentação dos renascidos: “Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, fingimentos, invejas, as murmurações desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo;” I Ped 2; 1 e 2 Algumas coisas bem “adultas” precisamos deixar, concomitante ao recebimento da alimentação infantil.

Feito isso virá o crescimento espiritual, como asseverou Paulo. “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” I Cor 13; 11

Todavia, o negligenciar essa faceta prioritária da vida em Cristo atrofia, paralisa, como se deu com certos hebreus. “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; vos haveis feito tais que necessitais de leite, não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas, o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem quanto o mal.” Heb 5; 12 a 14 Então, um traço visível de maturidade espiritual é discernimento.

Em suma: A reconciliação mediante o Sangue de Jesus Cristo é papel nosso, dos cristãos promover entre os que se mantêm em inimizade com o Pai. “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.” II Cor 5; 20

Entretanto, a vida do reconciliado é de responsabilidade sua; não lhe é tolhido o arbítrio por ocasião da conversão; apenas é facultado pelo Espirito Santo escolher as coisas que agradam ao Pai, desde então. “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome;” Jo 1; 12

Desse modo, nossa salvação é “provisória”; “Porque em esperança fomos salvos...” Rom 8; 24 coisa que requer perseverança e desenvolvimento para gerar certeza. “Mas, desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança;” Heb 6; 11

Infelizmente, a negligência na edificação enseja vermos clamando pelo Sangue de Jesus pessoas que recusam viver Sua vida. Se a Obra da salvação é completa, perfeita aos olhos de Deus, de nós se requer tomar a cruz todos os dias.


domingo, 7 de junho de 2015

Chamando fracasso de sucesso!


Por Josemar Bessa

Em 31 de Outubro de 1517, quando teve início a Reforma, a Igreja era rica, poderosa, influente. Ele dominava reinos, nações...um mundo. Nunca antes ou depois ela teve tanto poder, então por que a Reforma era sua única esperança?

Todo fruto na vida do homem regenerado flui de Cristo e não do homem: “Sem mim nada podeis fazer!” – Muitos aceitam isso na teoria, mas na prática, logo dão um jeito de explicar a causa do sucesso de maneira que ela flua do homem.

Se somos abençoados em qualquer área da vida, logo buscamos uma explicação que não somente nos inclua, como achamos ter um segredo de sucesso para compartilhar. Se a igreja cresce,  por exemplo, escrevemos um livro sobre como fazer... e assim acontece em todos os aspectos da vida. Mas o fato é que Ele é o Senhor a quem devemos todo o sucesso já alcançado.

Temos sido sistematicamente derrotados em tudo quando batalhamos em nossa própria força. E qualquer “Sucesso” que flui de algo diferente daquele em que Deus receba toda a glória e que seja sucesso segundo os padrões dEle, não é sucesso de forma nenhuma. Muitas vezes é o nosso delírio que nos faz chamar FRACASSO  de sucesso.

A igreja de Laodicéia é um bom exemplo disso: “Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta” - Apocalipse 3:17 – Que outro nome poderíamos dar a isso que não seja: “Uma igreja em delírio”? Quando nossas mentes repousam me nossa ideia de sucesso, estamos em delírio. A resposta de Deus é devastadora: “...e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu... e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. - Apocalipse 3:18

Deus disse para eles: “Eu vou vomitá-los!” – Mude sua complacência em arrependimento zeloso (v.19). Hey!! Você está me ouvindo? Eu sou aquela voz fraca que mal conseguem ouvir mais... Estou fora de sua igreja, batendo na porta. ( Como é bom lembrar isso – esse texto de Jesus batendo na porta – não está falando da conversão do mundo – Jesus batendo na porta do coração do pecador... Usar este texto assim é uma perversão da verdade e manipulação de um texto bíblico) – Ele está falando com uma igreja que nem percebeu, em seu delírio de sucesso, que Cristo não estava mais lá. Então Cristo está dizendo – Estou fora de sua igreja, batendo em sua porta. Você nem percebeu quando eu saí, mas estou de volta mais uma vez. Haverá comunhão entre nós? Já percebeste teu fracasso delirante? Uma igreja verdadeira deve ter um coração aberto e honesto.

Era hora daquela igreja, apesar dos sinais externos de sucesso (segundo a percepção mundana) admitir: “Eu não sou rica, eu não estou prosperando aos olhos de Deus, eu preciso de tudo, pois não tenho nada! Me dê vestes brancas, cure meus olhos, tape a minha nudez!”

Você nunca lutou com o que importa, você nunca lutou com o pecado, a tentação, com a dúvida e venceu, exceto pela ação toda poderosa do Espírito. Nenhuma alma jamais foi salva, ninguém jamais foi valente pela Verdade e contra o engano, ninguém jamais fez algo realmente empreendedor aos olhos de Deus para o sucesso do reino, sem que Deus não estivesse operando tudo.

É simplesmente uma questão de justiça que quem operou o milagre deva receber toda a honra. Teria sido uma vergonha se Miriam tivesse cantado em louvor a Moisés e Aarão no Mar Vermelho. Mas ela cantou: “Cantai ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; e lançou no mar o cavalo com o seu cavaleiro”. Êxodo 15:20-21 – Por sua vez, Moisés não lançou o livro: “Como abrir e atravessar um mar!” – Não! Ele também cantou um hino: “Então cantou Moisés e os filhos de Israel este cântico ao SENHOR, e falaram, dizendo: Cantarei ao SENHOR, porque gloriosamente triunfou; lançou no mar o cavalo e o seu cavaleiro. O SENHOR é a minha força, e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto ...” - Êxodo 15:1-2

“Ele triunfou gloriosamente!” – Esse é o nosso cântico? Em cada luta, em cada combate travado no mundo, atribuímos o poder e a vitória a quem merece por direito?

“Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua benignidade e da tua verdade” - Salmos 115:1


Fonte: http://www.josemarbessa.com/2015/06/chamando-fracasso-de-sucesso.html