domingo, 25 de setembro de 2016

A noiva, o servo, o filho e o soldado



Por Anísio Renato De Andrade


A bíblia nos fala de tantas maneiras diferentes, que podem parecer contraditórias. Somos a noiva de Cristo, servos de Deus, seus filhos ou soldados? Somos tudo isso. Uma visão voltada exclusivamente para uma dessas facetas pode causar distorção no entendimento e na prática cristã. Todos esses termos referem-se à realidade espiritual, mas, em primeira análise, devem ser considerados como metáforas plenamente conciliáveis no que tange às lições transmitidas. Pensando assim, não perguntaremos como Jesus pode ser, ao mesmo tempo, o pastor e a porta das ovelhas, o cordeiro de Deus e o leão de Judá (João 10.7,11; João 1.29; Ap.5.5).
Jesus contou muitas parábolas relacionadas ao reino de Deus, como se vê, por exemplo, nos capítulos 13 e 25 do evangelho de Mateus. Por que tantas? Não seria repetitivo? O que ocorre é que nenhuma parábola é suficiente para expressar toda a realidade espiritual. Então, o Mestre contou diversas. Cada uma demonstra diferentes aspectos, conceitos e valores do reino.
Em Mateus 25, Jesus começou falando sobre 10 virgens que esperavam o noivo, mas, desejando mostrar o outro lado da questão, ele falou, na sequência, sobre 3 servos que esperavam o seu senhor (Mt.25.14-30). Jesus deseja que tenhamos uma visão cada vez mais ampla sobre a sua pessoa, sobre o Pai, o reino de Deus, a segunda vinda e sobre nós mesmos, nossa posição, privilégios, deveres e responsabilidades.
"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória; porque vindas são as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se aprontou" (Ap.19.7).
A igreja é a noiva de Cristo. Esta figura nos lembra a pureza, o amor, o compromisso, a preparação, o casamento, a festa e a intimidade. O noivo não é uma pessoa estranha ou indiferente. Isso nos mostra que Cristo se importa conosco e nos ama profundamente. O amor é a base de tudo, mas não é o fim. Existe muito mais na nossa relação com Deus.
"Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Rm.6.22).
Na parábola dos talentos, somos representados pelos servos (Mt.25.14-30). É outra perspectiva que o cristão precisa ter acerca de si mesmo. Agora, não se fala em festa, mas em recursos, responsabilidades, trabalho e prestação de contas. O senhorio de Cristo está em evidência. Precisamos servi-lo de acordo com os dons que ele nos confiou. Contudo, não podemos ter apenas essa visão, transformando a vida cristã em ativismo mecânico ou meramente profissional. Precisamos servir por amor, ainda que haja uma recompensa.
"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus" (João 1.12).
Quando nos trata como filhos, a Palavra nos lembra o novo nascimento, nosso vínculo com o Pai, a participação na família de Deus, uma nova natureza e uma herança incorruptível no céu. O que define a condição de filho não é o que ele faz ou possui, mas o que ele é.
Contudo, não podemos nos esquecer do nosso alistamento no exército de Deus. Somos soldados. Isso nos lembra disciplina, treinamento, armamento, inimigos, lutas, guerras e vitórias.
"Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo" (2Tm.2.3).
A percepção parcial da identidade cristã pode criar expectativas indevidas. Como filhos, esperamos benefícios, provisão, carinho e proteção. Não está errado, mas o que faremos quando Deus permitir dificuldades em nossas vidas? Quem não tem luta é soldado morto.
"Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse" (IPd.4.12).
Portanto, a vida espiritual assemelha-se muito à vida natural quanto à diversidade de papéis, fases e situações. Queremos bênção sem compromisso? Vitória sem luta? Canaã sem deserto? Festa sem trabalho?
O evangelho traz, não apenas bênção e salvação, mas também transformação e missão. Não é algo apenas para mim, mas a partir de mim para o outro. Esta realidade interfere na nossa visão sobre nós mesmos, sobre o próprio Deus e sobre a igreja.
Devemos confiar no Senhor e aceitar o que ele tem para nós, certos de que, "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus (Rm.8.28).


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-noiva-o-servo-o-filho-e-o-soldado

domingo, 18 de setembro de 2016

MATURIDADE

Por João Marcos Bezerra


No censo do IBGE, realizado em 2010, provou algo que já era visível, mas que não se tinha dados gerais concretos, o número de evangélicos no Brasil está crescendo muito. Em 10 anos os evangélicos cresceram 61,45% com 42,3 milhões de adeptos no ano citado. Todavia, é importante refletirmos se este crescimento mostra também se a igreja brasileira está saudável, se há qualidade nos seus fiéis. O que você acha?!
Diante da atuação dos ditos cristãos evangélicos nos cenários político, social, cultural, religioso etc. é possível ver o reflexo do nosso Senhor Jesus Cristo na vida destes, como já estudamos sobre Semelhança com Cristo? Infelizmente, a resposta é não. Por isso, repito as palavras de John Stot no nosso livro base, vivemos um “crescimento sem profundidade”, ou seja, somos cristãos completamente superficiais e, consequentemente, imaturos.
Entretanto, isto não é um problema da igreja brasileira. A China, a Europa, a África e os EUA também vivem esta situação de imaturidade. Também não é uma característica somente da igreja contemporânea. O apóstolo Paulo (mais uma vez citamos ele) advertiu os irmãos de Corinto sobre isto em 1Coríntios 3.1-3 porque eles pareciam crianças espirituais e não adultos maduros.

Irmãos, não lhes pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a crianças em Cristo. Dei-lhes leite, e não alimento sólido, pois vocês não estavam em condições de recebê-lo. De fato, vocês ainda não estão em condições, porque ainda são carnais. Porque, visto que há inveja e divisão entre vocês, não estão sendo carnais e agindo como mundanos?

Com isso, algumas perguntas podem estar na cabeça, assim como já estiveram na minha e me colocaram em vários momentos de reflexão sobre isso: Afinal de contas, o que é maturidade? Como reconhecemos que uma pessoa é madura? No texto de 1Coríntios citado acima, em Colossenses 3.5-11 e também Gálatas 5.19-21, vemos características de imaturidade e as obras da carne e percebemos que tudo isso é reflexo do velho homem em nossas vidas. O que nos torna carnais e não espirituais.
“Ok! Então podemos aprender que uma pessoa madura é que não age na carne”. Não somente isso! Vejamos Cl 1.28,29, onde está escrito: “Ao qual anunciamos, advertindo a todo homem, e ensinando a todo homem em toda sabedoria; para que apresentemos a todo homem como perfeito, em Cristo Jesus. No qual eu também trabalho, combatendo conforme o seu agir, que age em mim com poder”. Este texto nos mostra o que é maturidade cristã e o que nos torna uma pessoa espiritualmente madura.
Para começar, uma pessoa madura é representada por Paulo como alguém perfeito. Esta palavra, por sua vez, vem do grego teleios e é definida também por aquele “que não carece de nada necessário para estar completo”, ou seja, uma pessoa madura é alguém completo, perfeito. Mas não basta isto por si só, só podemos ser completos “em Cristo”, que quer dizer que é necessário “estar relacionado a Ele de forma pessoal, vital e orgânica” (John Stot). Assim sendo, quanto mais forte for o relacionamento de alguém com Cristo mais fácil será reconhecer a maturidade espiritual dela, pois ela será semelhante a Jesus e, por isso, o mais completa possível.
Daí, surge outro questionamento: como se tornar maduro? “Que pergunta mané, João, você acabou de dizer! É estar em Cristo, ter um relacionamento forte com Cristo”. Beleza! Mas como ter esse relacionamento forte? Primeiro, precisamos ter uma visão clara de quem Ele é (revelação visível de Deus, cabeça da criação e da Igreja – Cl 1.15-20, o caminho, a verdade, a vida e o único caminho ao Pai – Jo 14.6, etc.). Para ter um relacionamento não é suficiente somente saber quem o outro é. Para ser meu amigo não basta saber quem eu sou, precisa me conhecer de forma mais profunda. Por isso, é necessário conhecer o máximo possível de Cristo também. A Bíblia é a fonte autêntica deste conhecimento e a oração é o meio de se aproximar mais ainda Dele e criar um laço de intimidade.
“Legal! Mas isso não é para todo mundo, João!” – podem afirmar alguns, mas o texto que lemos de Colossenses diz: “advertindo a TODO homem e ensinando a TODO homem… a fim de que apresentemos TODO homem perfeito”. Isto é, a maturidade é para toda a humanidade que está em Cristo. Esta cultura pseudocristã de que só alguns chegam a maturidade espiritual é doutrina gnóstica (heresia defensora de que o conhecimento é que leva salvação ao homem).
Os gnósticos acreditavam que existiam duas categorias de cristãos: o rebanho comum – unidos pela fé, e a elite (hoi teleioi) que tinha o conhecimento especial. O apóstolo Paulo não só discorda desta doutrina como usa a própria palavra dos gnósticos (teleio) para rogar aos irmãos que se apresentem perfeitos em Cristo como ramos maduros ligados a videira (Jo 15). Não no conhecimento, sabedoria humana, mas em Cristo.

Então, podemos sintetizar tudo o que aprendemos sobre maturidade da seguinte forma: ela é o abandono completo do velho homem, por meio de um relacionamento forte com Jesus; sem a Bíblia e a oração não conseguiremos ter e/ou manter esta relação; e, que todo homem e mulher cristãos são convocados a esta maturidade. Daí, precisamos não só entender e aplicar esta verdade em nossas vidas, mas precisamos ensinar aos nossos irmãos, assim como Paulo fez com a igreja em Colossos (anunciando, advertindo e ensinando). Deus abençoe!


3º Estudo da Série - Texto base: Cl 1.28,29


Fonte: http://jmarcosbezerra.blogspot.com.br/2016/08/discipulo-radical-iii.html

domingo, 11 de setembro de 2016

Um fogo que não se apaga!


Por Josemar Bessa


Viajar de um mundo fugaz para um eterno é uma longa jornada. Do que precisamos? “E o Senhor ia adiante deles, de dia numa coluna de nuvem para os guiar pelo caminho, e de noite numa coluna de fogo para os iluminar, para que caminhassem de dia e de noite.” - Êxodo 13:21

Do que Israel precisava?

Precisava de um guia em sua jornada do deserto ao lar.
Eles teriam uma longa jornada de quarenta anos.
Eles teriam que caminhar por um caminho estranho que jamais haviam pisado antes.

Inúmeros inimigos iriam se esforçar dia e noite para impedir o seu progresso.
Os perigos forravam cada parte do caminho.
Eles tinham corações enganadores.

Essa não é a história de cada homem regenerado? Um peregrino numa viagem para um país que Deus nos descreveu e chamou? A viagem é longa... Leva talvez cerca de 20, 30, 40, 50, 60, 70... anos.
Eu posso resistir?

Todos nós temos momentos em que olhar para frente com suas aflições, lutas... reais ou imaginárias, e é de se admirar que pensamentos furtivos venham até nós...

Será que vou ter forças para continuar confiando em Cristo como meu prazer todo suficiente, minha delícia perpétua?
E se o sofrimento for demais para mim?
Se, nestes momentos, não sabemos o que a Palavra de Deus ensina, podemos ser sobrecarregados com medo e desespero.

Então, o que a Palavra de Deus ensina? Aqui estão nas Escrituras que eu encontrei útil - Judas 1:24-25

No final de sua carta Judas levanta uma palavra de louvor a Deus:
Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém.

Observe que agora, nesta vida, Deus é capaz de mantê-lo livre de tropeçar. O que significa que, na Segunda Vinda, Deus vai lhe apresentar irrepreensíveis diante dele com grande alegria.

Então em todas as aflições, artimanhas do diabo, mundo, carne... entre o agora e o céu, Deus vai estar lá – impedindo de tropeçar, fortalecendo sua fé, dando-lhe toda esperança, resistência e coragem que você precisa para se manter confiando em Cristo. Confiando nEle como fonte e pão – ou seja, satisfação completa, saciedade e prazer – o que impede de prazeres falsos se mostrarem capazes de enganar fazendo escolhermos algo que quebre a comunhão com o prazer final – Cristo!

Observe o que Paulo diz sobre os crentes que viviam em Filipos:

Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo - Filipenses 1:6

A fé é uma boa obra que Deus começa em nós. Ele pega o nosso coração de pedra, e dá-nos um coração de carne que confiam em Cristo da maneira descrita – como fonte, como pão, como deleite, como a delícia da vida – tudo o mais se torna apenas um eco disso – “...dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” - Ezequiel 36:26-27

É a promessa infalível de Deus! Como John Bunyan ilustra isso no grande clássico O Peregrino?

No livro O  Progresso do Peregrino, John Bunyan deu uma ilustração poderosa desta verdade.

No capítulo 5, personagem central de Bunyan, que é chamado de "cristão", encontra um ajudante chamado "intérprete". O trabalho do “intérprete” é ensinar as verdades cristãs fundamentais que ele vai precisar para a caminhada de fé.

Intérprete mostra a “cristão”  um fogo que arde contra uma parede, e mostra alguém que estava de pé junto ao fogo constantemente tentando apagar o fogo jogando água sobre ele.

Mas o fogo não se apaga. Não só não apaga, ele queimava cada vez mais forte e mais quente.

Assim, “Cristão” pergunta a  Intérprete - O que isso significa?

Intérprete explicou que o fogo é a obra da graça que Deus produz em nossos corações - a graça dá confiança em Cristo e amor por ele.

Mas o diabo está constantemente tentando apagar este incêndio, este fogo, derramando sobre ele a água das tentações e preocupações e provações...

O que mantém o fogo que queima? Pergunta “Cristão”.

Então Intérprete quer mostrar a Cristão como o fogo não só é mantido aceso, mas mantido queimando cada vez mais alto e mais quente. Ele (Intérprete) pegou Cristão e o leva para o lado de trás da parede, onde ele vê um homem que tinha um pote de óleo em sua mão que ele derramava continuamente no fogo.

Então Cristão pergunta mais uma vez -   o que isso significa?

E respondeu Intérprete:

Esta é Cristo, que continuamente com o óleo de sua graça mantém o trabalho já iniciado no coração; por meio do qual, não obstante tudo o que o diabo possa fazer, as almas de seu povo ficam mais cheias de graça soberana que prevalece sempre: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza...” - 2 Coríntios 12:9 –
O que vistes, o homem atrás da parede, te ensina que a tentação, provações, tristezas... não pode senão – pela ação soberana de Deus – aumentar o poder da graça que um dia apresentará todos os regenerados diante de Deus. A trabalho da graça soberana que é sempre mantido na alma.

Veja a imagem inteira que Bunyan quer mostrar...

Se tudo o que vemos é a chama da nossa fé e a água que o Diabo está derramando, podemos facilmente nos desesperar. Essa é a tragédia de não conhecer as doutrinas fundamentais – como a Perseverança dos Santos, por exemplo.

É por isso que é crucial ver o que Jesus está fazendo. Agora e para o resto de sua vida, ele vai continuar a derramar em sua chama todo o óleo que você precisa – O poder infinito da Graça Soberana – que predestinou, chamou e irá glorificar (Romanos 8.29) – Ele derrama e vai continuar a derramar todo o óleo que é necessário não apenas para que a sua fé continue, mas para que ela queime mais alto, e mais quente, e mais forte...


domingo, 4 de setembro de 2016

Ame e faça o que quiser



Por Noeme Rodrigues De Souza Campos


A exaltação dos sentimentos como guia para a conduta é mais um sintoma da insanidade de nossa época.
Um mundo guiado por paixões é um mundo doente, fadado ao caos e ao desespero.
O que é o sentimento? Uma sensação despertada pela conjuntura interna e externa ao indivíduo, sempre adicionada da intenção (realizada ou frustrada) de obter algum tipo de prazer.
Se os hormônios e as circunstâncias variam, é natural que os sentimentos variem na mesma proporção.
Obviamente, fazer disso bússola para a vida, é gastar a existência numa agitação frenética, com sérios prejuízos emocionais e físicos, além dos danos causados à terceiros.
Conduzir se por sentimentos é absolutizar o egoísmo como método de vida. Quem age assim, desconsidera o impacto de sua ação sobre sua própria vida e sobre as vidas de outros - elege apenas suas sensações como dignas de serem atendidas.
Resultados: famílias desfeitas, filhos crescendo sem a segurança de um lar, feridas emocionais, adultos imaturos e egoístas demais para estabelecer qualquer relacionamento saudável…
Como disse Agostinho, “ama e faze o que quiseres. Tudo é permitido, que o amor permite; tudo é proibido, que o amor proíbe.”
Só não vale confundir sentimento com amor. Amor não é egoísta, não é inconsequente, não acaba. A base do amor é o compromisso, não as oscilações de humores.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/ame-e-faca-o-que-quiser