segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O Sofrimento deve ser Valorizado - J. I. Packer



Este pensamento lhe perturba? Não deveria. O mundo não vê nenhum valor no sofrimento. Também não tem nenhuma razão para ver. Mas os cristãos estão em uma posição diferente, pois a Bíblia lhes garante que Deus santifica o seu sofrimento e produz, ao final, um resultado bom. Não devemos nem mesmo fingir mostrar, em uma exibição de orgulho estóico, que não sentimos nenhuma dor ou angústia. Por outro lado, não devemos passar o nosso precioso tempo discorrendo sobre como sofremos, porque isto seria uma autocomiseração pecaminosa. Em qualquer dos casos, existem coisas mais importantes a serem feitas. Nossa tarefa é suportar o sofrimento, não como se fosse algo prazeroso, pois não o é, mas com o entendimento de que Deus não deixará que ele nos massacre e que o usará, sobrenaturalmente, para produzir, pelo menos, três bons resultados.

1. Nosso Sofrimento Produz Caráter. Deus faz com que as nossas feridas sejam um instrumento para nossa transformação moral, nos assemelhando à imagem do nosso Salvador. "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança" (Rm 5.3,4; Tg 1.2-4). A maneira como isto acontece é explicada em Hebreus 12.5-11, conforme já vimos anteriormente. O escritor, tendo conclamado os seus leitores para que corram a corrida da vida com os olhos fixos em Jesus, sem dar nenhum espaço para o pecado, segue dizendo-lhes que suas dores e aflições são o treinamento moral aplicado pelo Pai celestial, infligidos, não como resultado de uma indiferença brutal, mas para conduzi-los a um estágio de vida santa. "É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como a filhos); pois que filho há que o pai não corrige? (...) Pois eles nos corrigiam por pouco tempo, segundo melhor lhes parecia; Deus, porém nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade. Toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de justiça" (Hb 12.7,10,11). As cicatrizes ligam-se à santidade. A dor tem um efeito educacional.

Dor educacional? Isto soa muito brutal! Mas ela é algo muito real! "Que filho há que o pai não corrige?" Pais que realmente amam seus filhos gastam tempo em sua disciplina, quando jovens, para que possam, um dia, ser adultos que irão deixá-los orgulhosos. Esta é a pura verdade. Qual é a alternativa? "Se estais sem correção (...) sois bastardos e não filhos" (Hb 12.8). O cenário triste, no qual o pai biológico não assume a responsabilidade pelo bem-estar de seus filhos ilegítimos (e dos legítimos também, em alguns casos), era tão familiar no mundo antigo quanto o é no inundo atual. O fato é que, sem a santidade que vem por meio da disciplina de Deus, "ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14). Mas se Deus está usando o problema para nos treinar na área da retidão, aqui e agora, isto mostra que ele está nos preparando para uma eternidade de alegria com o nosso Senhor Jesus Cristo sentado à sua destra. É assim que o nosso Santo Pai, no céu, trabalha para o nosso bem.

A educação divina, que estamos discutindo agora, tem dois lados. O primeiro foi expressado por George Whitefield, o famoso evangelista do século 18 que falou do nosso bondoso Senhor colocando espinhos em nossas camas para evitar que, como aconteceu com os discípulos no Getsêmani, não sejamos achados dormindo, quando deveríamos estar vigiando e orando. Assim como o desconforto corporal nos mantém acordados fisicamente, a ausência de situações confortáveis e contentes nos manterão espiritualmente alertas.

O segundo lado é revelado pela palavra dada por Jesus a cada um que queira ser seu discípulo, quando disse: "Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lc 9.23; cf. 14.27). As únicas pessoas, nos dias de Jesus, que carregavam suas próprias cruzes eram os marginais, escravos ou não-judeus, condenados a levá-las até o lugar de sua crucificação. Eles eram pessoas que tinham perdido os seus direitos civis e a quem a sociedade havia declarado que os preferia ver mortos, cujo sofrimento iminente e devemos nos lembrar que a crucificação era a forma mais cruel de execução -não motivaria ninguém a fazer nada por eles. Jesus, ao final de sua vida, literalmente, juntou-se a esta categoria. Mas o que ele estava dizendo, nas palavras mencionadas anteriormente, era que, moralmente, já se encontrava crucificado, pela atitude negativa do povo em relação a ele. Os seus seguidores, então, precisam também, claramente, aceitar tal atitude negativa da comunidade ao seu redor, pois isto é o que acontecerá se eles forem leais ao Senhor.

Este é o significado real do "negar-se a si mesmo" - não um simples retorno à alguma forma de comodismo privado, mas uma submissão total do desejo natural de ter um bom status, aceitação e respeito. Implica em estar preparado para ser rejeitado como alguém sem valor e dispensável e destituído dos seus próprios direitos.

Schmidt, corretamente, enfatiza este ponto:

Em sua primeira epístola, Pedro escreve: "Se quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus" (IPe 2.20). Ele começa o versículo seguinte, dizendo: "Porquanto, para isto mesmo fostes chamados" (IPe 2.21), e segue descrevendo o exemplo de Cristo. O sofrimento construtivo, ou a dor educacional, é essencial em uma vida de fé. O apóstolo Paulo também expressa esta mesma idéia. Em Romanos 8.17, ele faz do sofrimento uma condição da herança eterna, chamando os cristãos de "co-herdeiros com Cristo". Se, de fato, "com ele sofrermos, também com ele seremos glorificados". Em Filipenses 1.29, Paulo escreve que "vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele".

O sofrimento é, então, visto como uma vocação que nos prepara para a glória com Cristo ao nos aproximar da santidade de ser como Cristo, em nossa reação à nossa experiência de querer o que não temos, enquanto tendo o que não queremos.

A palavra grega traduzida por "experiência", em nossa tradução Revista e Atualizada, é dokime, que, muitas outras versões, traduzem por "caráter". Estritamente falando, este termo expressa o pensamento complexo de uma qualidade provada, reconhecida e aprovada como tal, por uma pessoa ou grupo interessado - neste caso, o próprio Deus. A razão pela qual dokime traz esperança (confiança de que a alegria e a glória com Cristo serão a nossa herança final) não é a de

que as pessoas que permaneceram firmes, ao longo dos momentos de abundância e de penúria, podem, agora, expressar votos de confiança nelas mesmas, mas que o Deus, a quem elas servem, gera dentro delas uma convicção de que, pela força dele, elas foram aprovadas nos testes que ele mesmo impôs. Sua paciência, ao mostrarem lealdade a ele, mesmo diante da pressão que passaram, foi, na verdade um dom de Deus para elas, e isto as deixou mais fortes do que nunca. Os cristãos que têm passado por tempos difíceis por causa do Senhor são produtos testados, de qualidade comprovada. Dokime indica este estado de experiência triunfante, com o selo da aprovação divina estampado sobre eles.

Paulo diz que dokime produz esperança. Nosso entendimento da glória da vida por vir é aprimorado e nosso desejo por ela é intensificado, em ambos os casos, como uma derivação espontânea do conhecimento da aprovação divina e como um fruto direto do entendimento de que a agonia tem, de fato, aumentado a nossa capacidade de nos alegrar na glória final, quando ela acontecer. Paulo é bastante claro a respeito disto, em 2 Coríntios 4.17,18, quando, falando a partir de suas experiências de ter a vida posta em risco (1.8-10), ele diz, não com ironia, mas expressando sua honesta avaliação retrospectiva: "Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas cousas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas". Naturalmente, não é o pensamento de Paulo, que o sofrimento conduz à glória, no sentido de que o trabalho gera o salário; nem que cria a glória, no sentido de que o escultor cria a estátua. A sua intenção é deixar claro que, da mesma maneira que uma pessoa, após ter passado por enfermidades e dor, aprecia muito mais a saúde do corpo, o sofrimento nos deixa mais preparados do que estávamos antes para apreciar a glória que há de vir. O texto de Romanos 8 contém uma avaliação e testemunho semelhantes: "Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós (...) E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo (...) Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos". Como parte integral na formação do caráter cristão, que o fogo do sofrimento aprimora, está a profunda paixão pela alegre esperança e esperançosa alegria.

Esta paixão, que podemos ver fortemente presente, tanto em Cristo quanto em Paulo, também achava-se presente em Moisés. "Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão (Hb 11.24-26, grifo meu). Deixemos Moisés ser um exemplo de vida para nós em termos da nossa esperança de descobrir, como Paulo disse, que, como a ausência faz aumentar a paixão do coração, assim também a pressão faz a esperança mais luminosa. Quando os cristãos perseveram, mesmo diante dos sofrimentos, no poder do Espírito Santo, o resultado normal é a esperança ainda mais radiante.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Que é graça? - Abraham Booth (1734-1806)


Paulo emprega a palavra "graça" para significar o oposto de "obras e méritos". "Pela graça sois salvos. .. não por obras" (Ef. 2:8-9). Graça significa favor imerecido ou favor dado sem que seja ganho por esforço algum.

Pela palavra "misericórdia" entendemos que alguém em dificuldade ou derrotado, está recebendo um benefício. Misericórdia faz supor uma pessoa sofredora a quem ela é concedida. Semelhantemente, "graça" sempre pressupõe indignidade na pessoa que a recebe. Se alguém nos dá qualquer coisa por graça, é porque nós não a merecemos. Qualquer coisa que mereçamos por direito, não pode ser nossa por graça. Graça e mérito não podem estar ligados no mesmo ato. São realidades tão opostas como luz e trevas. "Se é por graça, então não é por obras; de outra maneira, a graça já não é graça" (Rom. 11:6).

Assim, dizemos que nós recebemos a graça de Deus. Estamos dizendo, ao mesmo tempo, que somos indignos dela e que não podemos trabalhar por ela. Desta maneira, definimos graça como ela é usada no Novo Testamento, ou seja, "O eterno e absolutamente livre favor de Deus concedido a pessoas indignas e culpadas na doação de bênçãos espirituais e eternas".

A graça de Deus é eterna.

À graça, de modo algum, depende do mérito humano; depende só da vontade de Deus. Não é ganha por mérito nem perdida por culpa. A graça é absolutamente livre de qualquer influência humana. Portanto nada há que possa derrotá-la, uma vez que ela foi dada. Por isso, Deus pode dizer: "... pois que com amor eterno te amei" (Jer. 31:3). Tal é a gloriosa base da nossa salvação!

Graça não é como uma franja de ouro na fímbia do vestuário; não é como um enfeite que decora um vestido; porém, é como o propiciatório do Tabernáculo, que era de ouro — de ouro puro — inteiramente de ouro! Portanto, aprendemos como estão seriamente enganados os que sugerem que a graça de Deus pode ser alcançada pelas boas obras. A graça de Deus recusa-se a ser ajudada naquilo que ela tem de fazer. Não seria um insulto à soberania de Deus sugerir que Ele precisa de ajuda do pobre de¬sempenho do homem? A graça, ou é absolutamente livre de toda a nossa influência, ou então não é graça de modo algum.

Salvação, totalmente gratuita!

A graça "reina", diz Paulo em nosso texto (Rom. 5:21). Assim, a graça é comparada a um rei. Nos versículos anteriores, também o pecado é comparado a um rei. Como o pecado aparece armado de poder destrutivo, infligindo a morte, assim a graça aparece armada de invencível poder, amorosamente determinada a salvar. E onde o pecado abundou, a graça o superou em tudo (v. 20). Assim, o controle é da graça.

Em outras palavras: aqueles a quem Deus salva por Sua vontade misericordiosa, certamente estão totalmente salvos. Se Deus graciosamente resgata homens do poder do pecado, e lhes dá novas habilidades espirituais, então, não serão deixados para se fazerem suficientemente santos para entrarem no céu. Se a obra graciosa de Deus ficasse restrita a isso, a conseqüência final ainda seria duvidosa; a graça não estaria reinando. Além disso — admitindo-se que tal coisa fosse possível — os que conseguissem santificar-se por seus próprios esforços, ficariam muito, orgulhosos pelo que fizeram — o que seria diametralmente o oposto da graça!


Portanto, se a graça há de reinar, ela tem que ser o único meio de salvação. Por Sua vontade misericordiosa, Deus não apenas tem que começar, mas também continuar e completar a salvação do pecador. Então, se pode dizer com certeza que a graça "reina". Certamente uma certeza maravilhosa como esta glorifica a Deus.

A graça se adapta melhor à nossa necessidade do que qualquer outra coisa. Visto que o pecado é um tirano que reina sobre nós, e pretende levar-nos à morte eterna, que esperança podemos ter de salvação firmados em nossos próprios esforços? Quando nossas consciências ficam alarmadas por causa de nossas muitas falhas vergonhosas, não entramos em desespero? Lembre-se, porém, de que a salvação é pela graça de Deus! A graça de Deus está fundamentada na obediência perfeita e meritória de Cristo. O pecado não pode destruir o valor disso. A graça pode reinar sobre a maior indignidade. Na verdade, é só com o indigno que a graça se preocupa.  Isso é assombroso!  Isso é maravilhoso!  Há esperança de salvação para o pior indivíduo, se é que ela é assegurada pela riqueza da graça que reina.

Teremos que ver nas próximas vezes  como a graça reina na nossa eleição — chamamento, perdão justificação, adoção, santificação e perseverança.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Se o Diabo pregar a verdade ( Spurgeon )


Por Charles Spurgeon

Irmãos, é de suma importância na obra do ministério que o pregador seja um homem iluminado por Deus. Não se trata de que a educação deva ser desprezada; pelo contrário, não podemos esperar que o Espírito Santo, nesses dias, conceda aos homens o conhecimento das línguas, se eles podem adquiri-lo mediante um perseverante estudo. A regra divina é: Nunca produzir um milagre supérfluo. Com as faculdades e os poderes que possuímos, temos que apresentar à Deus nossos membros como instrumentos de justiça. 


Então, no que concerne à educação do homem, nós cremos que Deus nos delega isso, pois se podemos fazer, não há necessidade de que realize-se nenhum milagre. Porem, ainda que o homem esteja educado de uma maneira excelente, segue sendo, nessa condição, uma massa de barro; Deus tem que soprar em suas narinas o alento de vida espiritual como pregador, pois do contrario não poderia prestar nenhum servico e sería mais certamente um peso morto para a Igreja de Deus. 

O que diremos, então, desses homens que passam ao púlpito porque o sustento familiar é débil, ou porque, talvez, sendo grandíssimos inaptos, seja para o exército, seja para a advocacia, necessariamente precisam ser colocados ali onde sua manutenção pode ser obtida com mais facilidade, na igreja? 

Qual deplorável é este pecado em nossos tempos: que as mãos episcopais pousem sobre os homens, declarando que são guiados ao ministério pelo Espírito Santo, quando ainda nem sequer sabem se há um Espírito Santo, no tocante a qualquer conhecimento prático de Seu poder em seus próprios corações! O dia finda, assim espero, em que os homens são mais destros para a caça à raposa do que para pescar uma alma e, em geral, Deus está levantando nesta terra um espírito de decisão enquanto a este ponto: o cristão tem que ser um homem que conhece na prática, em sua própria alma, as verdades que pretende pregar. 

É verdade que Deus poderia converter almas por meio de um mal pregador. Vamos, se o diabo pregasse, não me surpreenderia que algumas almas se convertessem, se ele pregasse a verdade. É a verdade, e não o pregador. Os corvos, mesmo sendo pássaros imundos, levaram a Elias seu pão e sua carne: e os ministros imundos podem, algumas vezes, levar aos servos de Deus seu alimento espiritual; porem, apesar disso, Deus diz aos ímpios: “O que você tem a falar sobre a minhas leis?” O ministro tem que ser um homem ensinado por Deus, cujos olhos devem ter sido abertos pelo Espírito Santo. Isto, ao menos, é a regra em vigor, sem importar quantas exceções possam ser argumentadas.

trecho do sermão Sermão No.570 The First Five Disciples 
Fonte:  http://www.projetospurgeon.com.br/2009/11/se-o-diabo-pregar-verdade-spurgeon.html

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Quando Pregar se torna Inútil

I Coríntios 1:21  "Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação."






Autor: Josemar Bessa
Fonte: http://www.josemarbessa.com/

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um Sopro de Abominação


Por: Joseph Alleine (1634 – 1668 )


Sem verdadeira conversão todas as suas práticas religiosas são nada mais que perdas, pois elas não cumprem os verdadeiros propósitos do evangelho, isto é, não podem agradar a Deus nem salvar sua alma (Romanos 8:8; I Coríntios 13:2-3). Mesmo que seus cultos sejam muito especiais, Deus não tem prazer neles (Isaías 1:14; Malaquias 1:10). Não é terrível a situação daquele homem, cujos sacrifícios são como homicídios e cujas orações como um sopro de abominação? (Isaías 66:3; Provérbios 28:9). Muitos, sob convicção, pensam que estão determinados a se corrigirem e que algumas orações e esmolas poderão consertar tudo; mas que tristeza, senhores, enquanto seus corações permanecerem sem santificação, nenhuma de suas obrigações será aceita.

Quão meticuloso era Jeú! No entanto, tudo foi rejeitado porque o seu coração não era justo (II Reis 10 com Oséias 1:4). Quão irrepreensível era Paulo! Contudo, não sendo convertido, tudo não passava de perda (Filipenses 3:6-7). Os homens acham que fazem muito em dar atenção ao serviço de Deus, e até O consideram em débito com eles, entretanto, não estando santificados, suas práticas religiosas não podem ser aceitas.

Ó alma, não pense que quando seus pecados a perseguem, uma simples oraçãozinha e uma reformazinha de sua conduta poderão apaziguar a Deus. É necessário começar com o seu coração. Se ele não for renovado, você não pode agradar a Deus mais do que alguém que, tendo-o ofendido indizivelmente, viesse trazer-lhe a coisa mais asquerosa para acalmá-lo; ou, havendo caído no lodo, pensasse em reconciliar-se com você com seus abraços imundos.

Ê uma grande desgraça labutar no fogo. Os poetas não poderiam inventar um inferno pior para Sísifo, do que ficar labutando eternamente, a fim de levar para cima da montanha a pesada pedra que sempre rolava para baixo novamente, obrigando-o a recomeçar o seu trabalho. Para Deus o maior dos julgamentos temporais é que os que desobedecem edifiquem uma casa sem habitar nela, plantem e não colham, e o seu trabalho seja devorado pelos estrangeiros (Deuteronômio 28:20, 38-41). Não é uma grande desgraça perder todo nosso trabalho, semear e construir em vão? Mas é muito pior perder nossos esforços religiosos — orar, ouvir a Palavra de Deus e jejuar em vão! Trata-se de uma perda eterna e irreparável. Não se deixe enganar: se você continuar no seu estado pecaminoso, ainda que estenda as suas mãos, Deus vai esconder os olhos; mesmo que você faça muitas orações. Ele não ouvirá (Isaías 1:15). Se um homem incapaz começa a fazer o nosso trabalho e o estraga, mesmo que ele capriche, não o agradecemos por isso. Deus tem que ser adorado conforme Sua determinação. Se um servo faz o nosso trabalho totalmente contrário à nossa ordem, ele deverá receber açoites ao invés de louvores. A obra de Deus precisa ser feita de acordo com a vontade dEle, ou Ele não Se agradará; e isto não pode ser, a menos que seja feito com um coração santo.