sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O Gozo de Saber que Deus é Deus









por John piper 
O esforço humano nunca pode impressionar um Deus onipotente, e a grandeza dos homens jamais pode impressionar um Deus de grandeza infinita. Isto é má notícia para aqueles que competem com Deus, mas boa notícia para aqueles que querem viver pela fé.

O Salmo 147 é uma emocionante declaração de esperança para um povo que desfruta do gozo e certeza de que Deus é Deus. O salmista afirma: “Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome” (v. 4). Ora, isto é mais do que podemos apreender! “Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim: é sobremodo elevado, não o posso atingir” (Sl 139.6).

A Terra, onde vivemos, é um pequeno planeta que gira em torno de uma estrela chamada Sol, que tem o volume um milhão e trezentas vezes maior do que o da Terra. Existem estrelas milhões de vezes mais luminosas do que o Sol. Existem aproximadamente cem bilhões de estrelas em nossa galáxia, a Via Láctea, que tem cem mil anos-luz de extensão. (Um ano-luz equivale a 299.792.458 km/s.) O Sol viaja a 249 km/s, e, por isso, seriam necessários, duzentos milhões de anos para que o sol cumprisse apenas uma órbita em volta da Via Láctea. Existem milhões de outras galáxias além da nossa.

Agora, ouça novamente: o Salmo 147 afirma que Deus conta o número de todas as estrelas. Não somente isso, afirma também que Ele as chama pelo nome que lhes deu, tal como se faz a animais de estimação. Você os olha, observa suas características e chama-os por algum nome que se enquadre nas diferenças. Quando cantamos o hino “Let All Things Now Living”, de Katherine Davis, eu sorrio com grande satisfação quando chego às palavras:

Ele estabelece a sua lei:
As estrelas, em seus cursos,
O Sol, em sua órbita,
Resplandecem obedientemente.

Sim, eu penso, “obedientemente” é a palavra correta! O sol tem um nome na mente de Deus. Ele chama o sol por seu nome, diz a ele o que fazer e ele obedece. E assim o fazem trilhões de estrelas. (Assim como todos os elétrons, em todas as moléculas dos elementos das estrelas e dos planetas, incluindo os elementos que se encontram nas guelras de um tubarão que vive embaixo das rochas, na costa da ilha de Rhode.)

Ora, o que impressionaria um Deus como este? Salmo 147.10-11 nos mostra com clareza:

Não faz caso da força do cavalo, nem se compraz nos músculos do guerreiro. Agrada-se o Senhor dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia.

Imagine um levantador de peso, nas Olimpíadas, que se orgulha de haver levantado duzentos e vinte e cinco quilos. Ou imagine algum cientista se orgulhando de que descobriu como uma molécula é afetada por outra. Não precisamos ser gênios para saber que Deus não se deixa impressionar por essas coisas.

As boas-novas para aqueles que desfrutam do gozo de saber que Deus é Deus é que Ele tem prazer nessas pessoas. Deus se agrada daqueles que esperam no imensurável poder dEle. Não é uma coincidência literária o fato de que os versículos referentes a outro aspecto da grandeza de Deus (nos versículos 4 e 5), mostram-No cuidando do fraco (vv. 3 e 6):

3 sara os de coração quebrantado
e lhes pensa as feridas.
4 Conta o número das estrelas,
chamando-as todas pelo seu nome.
5 Grande é o Senhor nosso e mui poderoso;
o seu entendimento não se pode medir.
6 O Senhor ampara os humildes
e dá com os ímpios em terra.

Oh! que prenda a nossa atenção a verdade de que Deus é Deus e trabalha onipotentemente em favor daqueles que esperam nEle (Is 64.4), bem como na sua misericórdia (Sl 147.11) e O amam (Rm 8.28). Ele ama ser Deus para os fracos e desamparados, que O buscam para tudo o que necessitam.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O que é uma Fé Justificadora - Tomas Watson (1620-1686)









Eu a demonstrarei da seguinte maneira, primeiro o que ela não é e, depois, o que ela é:

i. O que a fé justificadora não é. Não é um mero reconhecimento que Cristo é Salvador. Deve haver um reconhecimento, mas isso não é suficiente para justificar. Os demônios reconhecem a divindade de Cristo: "Que temos nós contigo, ó Filho de Deus!" (Mt 8.29). Pode haver a aceitação da verdade divina, porém, mesmo assim, pode não haver obra da graça no coração. Muitos concordam em seus julgamentos que o pecado é uma coisa maligna, mas continuam pecando, pois suas corrupções são mais fortes que suas convicções. Reconhecem que Cristo é excelente, pechincham a pérola, mas não a compram.

ii. O que é uma fé justificadora. A verdadeira fé justificadora consiste de três coisas:

Primeiramente, há a auto-renúncia. Fé significa "sair para fora" do eu, de nossos méritos e enxergar que não temos direitos próprios: "Não tendo justiça própria" (Fp 3.9). É um fio partido, no qual a alma não pode se apoiar. Arrependimento e fé são graças humildes. Pelo arrependimento, uma pessoa abomina a si mesma, pela fé, a mesma pessoa se desloca do seu eu. O povo de Israel saindo do Egito pode nos dar uma comparação. O povo, ao ver faraó e suas carruagens o perseguindo e se aproximando de sua retaguarda, ao mesmo tempo em que diante deles estava o Mar Vermelho pronto para devorá-los, entristeceu-se. Da mesma maneira, o pecador olha para trás e vê a justiça de Deus o perseguindo por causa do pecado e diante dele está o inferno pronto para devorá-lo. E, nessa condição desesperadora, não vendo nada em si mesmo para ajudá-lo, o homem perecerá a menos que possa encontrar ajuda em algum lugar.

Em segundo lugar há a confiança. A alma se lança sobre Jesus Cristo. A fé é depositada na pessoa de Cristo. A fé crê na promessa, pois tal promessa é a própria pessoa de Cristo. Figuradamente podemos dizer: assim como a esposa "... vem encostada ao seu marido..." (Ct 8.5). Descreve-se a fé como crer em o nome de seu Filho, Jesus Cristo" (1 Jo 3.23), isto é, em sua pessoa. A promessa é como um porta-jóias, Cristo é a jóia dentro dele, o qual a fé envolve. A promessa é somente o prato, Cristo é a comida no prato, que alimenta a fé. A fé se apoia na pessoa de Cristo "crucificado". A fé se gloria na cruz de Cristo (Gl 6.14). Olhar para Cristo coroado com todas as excelências provoca admiração e assombro, mas olhar para Cristo como o ensangüentado e a ponto de morrer é o verdadeiro objeto de nossa fé. A fé é, portanto, chamada fé "no seu sangue" (Rm 3.25).

Em terceiro há a apropriação, ou aplicação de Cristo em nós mesmos. Um remédio, embora seja muito eficaz, se não for administrado não fará nenhum bem. Um curativo pode ser feito com o próprio sangue de Cristo, mas não curará, a menos que seja aplicado pela fé, O sangue de Cristo, sem a fé em Deus, não salva. Quando aplicamos esse conceito a Cristo, o chamamos de receber a Cristo (Jo 1.12). A mão que recebe ouro enriquece. Assim também a mão da fé recebendo os méritos dourados de Cristo com a salvação nos enriquece. 

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Deus promete fazer o que Ele manda cumprir - Agostinho ( 354 - 431 )





A fé e a salvação são dons de Deus como o são a mortificação da carne e a vida eterna.

Se o Apóstolo diz: A herança vem da fé, para que seja gratuita e para que a promessa fique garantida, muito me admiro que os homens prefiram confiar na sua fraqueza a confiar na firmeza da promessa de Deus. Mas alguém dirá: “Não estou certo sobre a vontade de Deus a meu respeito”. O que dizer? Não estás certo nem sequer de tua vontade sobre ti mesmo e não temes o que está escrito: Aquele que julga estar em pé, tome cuidado para não cair (lCor 10,12). Se ambas as vontades são incertas, por que o homem não apóia sua fé, esperança e caridade no mais firme e não no mais fraco?

Replicarão: “Mas quando se diz: Se creres, serás salvo (Rm 10,9), uma das duas coisas é exigência, a outra é oferecida. O que se exige, depende do homem, o que é oferecido, está no poder de Deus”. Por que não dizer que ambas estão no poder de Deus, o que se exige e o que se oferece? Pois pede-se que conceda o que manda. Os que têm fé rogam para que lhes aumente a fé, rogam pelos que não crêem, para que lhes seja concedida a fé. Portanto, tanto em seu crescimento como em seu princípio, a fé é dom de Deus. Está escrito: Se creres, serás salvo, do mesmo modo que se diz: Se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis. Nesta passagem, também uma das duas coisas é exigida e a outra é oferecida. Diz o texto: “Se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis”. Portanto, exige-se a mortificação das obras da carne e nos é oferecida a vida.

Acaso parece bem dizer que mortificar as obras da carne não seja dom de Deus e que não confessemos ser dom de Deus porque sabemos ser uma exigência em troca da recompensa oferecida da vida eterna, se as fizermos? Não permita Deus que esta opinião agrade aos que participam da verdadeira doutrina da graça e a defendem. E este um erro condenável dos pelagianos, os quais o Apóstolo faz calar, quando diz: “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus (Rm 8,13-14),” o que evita acreditar que a mortificação de nossa carne não seja um dom de Deus, mas capacidade de nosso espírito. Ao mesmo Espírito de Deus se referia ao dizer: “Mas isso tudo é o único e mesmo Espírito que o realiza, distribuindo a cada um os seus dons, conforme lhe apraz (lCor 12,11).” No conteúdo desse “isso tudo”, mencionou também a fé, como sabeis. Portanto, assim como, embora seja de Deus, o mortificar as obras da carne é exigência para a consecução do prêmio da vida eterna prometida, assim também a fé, embora seja condição indispensável para alcançar a recompensa da salvação prometida, quando se diz: Se creres, serás salvo.

Por conseguinte, ambas as coisas são preceitos e dons de Deus, para entendermos que as fazemos e Deus faz com que as façamos, como diz claramente pelo profeta Ezequiel. Pois nada mais claro do que a sentença: E farei com que as (minhas leis) pratiqueis (Ez 36,27). Prestai atenção a esta passagem da Escritura e percebereis que Deus promete fazer o que ele manda cumprir. E faz certamente aí menção dos méritos e não dos deméritos daqueles a quem revela retribuir bens por males, pois ele faz com que pratiquem depois boas obras, fazendo com que cumpram os seus mandamentos. 

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Amnésia


Nossa memória tem uma grande importância na nossa vida, pois ela forma nossa personalidade, nosso modo de ser, os sentimentos, os conceitos e a maneira como agimos diante do mundo. Nas Escrituras temos as informações que recebemos do Senhor e devemos ter em nossa mente a Aliança que Ele fez conosco e Sua promessa de Salvação no Calvário. A forma de lembrar ou esquecer os Seus ensinamentos determinará o rumo de nossa vida.

Em toda a Bíblia não encontramos nem seis citações do substantivo memória, enquanto que para memorial, temos mais de vinte citações. Entretanto, para o verbo lembrar, que tem como sinônimo recordar, existem mais de duzentos e cinquenta referências. Sabemos muito bem a importância do aspecto que a memória tem nas Escrituras Sagradas, tanto com referência à nossa mente, quanto à mente de Deus, pois na nossa recebemos o Seu conhecimento.

Se não temos uma compreensão perfeita de tudo que diz respeito à nossa própria mente, como poderíamos ter então um entendimento da mente de Deus? Temos uma tendência em guardar os piores acontecimentos que sucedem conosco. As pessoas que mais se relacionam conosco são as que mais marcam as nossas memórias. Recordamos geralmente as coisas mais tristes que nos acontecem e há pessoas que sempre se aprisionam ao ressentimento e as lembranças assolam a sua vida. Assim, se desejamos melhorar nossas atitudes e nossa maneira de viver, devemos aprender a agir em nossos relacionamentos entendendo a forma como Deus age conosco.

Em Hebreus 8:12 lemos: "Pois, para com as suas iniquidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jamais me lembrarei."  Analisando esse texto, encontramos nos originais do grego o termo mnêsthô para o verbo lembrareiTemos ainda, que mnaomai é a raiz desse termo que tem como definição lembrar, estar atento e recordar ou (ativamente trazer à mente). Vemos aqui neste texto o propósito de Deus e quando Ele nos diz: ...dos seus pecados jamais me lembrarei, revela-nos a Sua Misericórdia.  Analisamos em um outro post o texto de Miquéias 7:18 e vimos que Deus não retém sua ira para sempre pela sua Misericórdia. Este texto de Hebreus nos afirma também da mesma forma que Deus não retém em sua lembrança os nossos pecados.

A palavra lembrança no original grego é mneia, que tem como raiz o mesmo termo mnaomai (do verbo lembrar). Não seria um grande erro nosso, dizer que Deus não tem memória ou que ele a perca? A falta de lembrança não seria amnésia? Pois bem, o que nós desejamos aqui é realmente tentar entender a grandeza da Misericórdia de Deus para conosco. 

Jesus disse a um dos que queria segui-lo e está no Evangelho de Lucas 9:62  "Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus."  Quem lança mão do arado sabe que há uma linha a seguir e se olhar para trás não terá como realizar o trabalho de aragem. Jesus disse também em Lucas 17:32  "Lembrai-vos da mulher de Ló". Quem conhece a história da mulher de Ló (Gênesis 19:26) sabe que ela se perdeu, porque olhou para trás e não se salvou. A advertência de Jesus era para que os seus discípulos se lembrassem daquele fato e tirassem uma lição para o futuro quando da sua vinda. Portanto, lembrar-se do que já passou deve ser feito com a intenção de um aprendizado.

A maneira correta de construir o berço da sementeira se realizava sempre com o arado, pois no terreno se abre os sulcos da passagem para a chuva, ao sol e os adubos que lhe sejam aproveitados. Quando Jesus falava do trabalhador com o arado Ele queria demonstrar que não somente erra quem prepara um terreno e olha para trás, bem como aquele que deseja segui-lo e se prende ao passado. O povo de Israel no deserto sentiu saudades do Egito e isto foi desastroso para eles. Quando vivemos em torno dos acontecimentos do nosso passado, perdemos a oportunidade de viver o hoje de Deus em nossa vida.

Só há um aspecto positivo quando devemos olhar para o que já se passou, no sentido em que o passado seja sempre uma advertência para que não erremos em deixar de conhecer a Vontade de Deus para nós e poder servi-lo dia a dia...