quarta-feira, 30 de março de 2011

Quando Palavras são Vento





por John Piper


Quando estão em tristeza, dor e desespero, as pessoas dizem coisas que não diriam em outras circunstâncias. Elas pintam a realidade com tons mais escuros do que a pintarão amanhã, quando o sol despontar. Tais pessoas cantam em notas menores e falam como se aquela fosse a única melodia. Elas vêem apenas nuvens e falam como se não houvesse céu.

Tais pessoas dizem: “Onde está Deus?” Ou: “Não há proveito em continuar vivendo”. Ou: “Nada faz sentido”. Ou: “Não há esperança para mim”. Ou: “Se Deus fosse bom, isto não teria acontecido”.

O que faremos com estas palavras?

Jó disse que não precisamos reprovar tais palavras. Elas são vento ou, literalmente, para o vento. Tais palavras desaparecerão rapidamente. Haverá uma mudança nas circunstâncias, e a pessoa desesperada acordará das trevas noturnas e se arrependerá das palavras precipitadas.

Portanto, não desperdicemos nosso tempo e energia reprovando tais palavras. Elas desaparecerão por si mesmas, ao vento. Uma pessoa não precisa podar folhas no outono; é um esforço inútil. Elas logo se espalharão aos quatros ventos.

Quão rapidamente nos dispomos a defender a Deus — ou, às vezes, a verdade — contra palavras que são ditas apenas ao vento. Existem muitas palavras, premeditadas e ponderadas, que precisam de nossa reprovação, mas nem toda heresia desesperadora, dita irrefletidamente em horas de agonia, precisa ser respondida. Se tivéssemos discernimento, poderíamos ver a diferença entre palavras profundas e palavras ditas ao vento.

Existem palavras que têm raízes em erros e males profundos. Mas nem todas as palavras cinzentas obtêm sua cor de corações pretos. Algumas são coloridas principalmente pela dor, pelo desespero. O que você ouve não são as coisas mais profundas do coração. Existe algo real em nosso íntimo, de onde procedem as palavras, mas é temporário — como uma infecção passageira — real, doloroso; mas não é a verdadeira pessoa.

Aprendamos a discernir se as palavras faladas contra nós, contra Deus e contra a verdade são apenas ditas ao vento — proferidas não da alma, mas do sofrimento. Se são palavras ditas ao vento, esperemos em silêncio e não reprovemos. Restaurar a alma, e não reprovar o sofrimento, é o alvo de nosso amor.


Extraído do livro: Uma Vida Voltada para Deus, de John Piper.


Copyright: © Editora FIEL

quarta-feira, 23 de março de 2011

Examinando Nosso Arrependimento


Thomas Watson





Nascido em 1620, Thomas Watson estudou em Cambridge (Inglaterra). Em 1646, iniciou um pastorado de dezesseis anos em Londres. Entre suas principais obras, estão o seu famoso Body of Pratical Divinity (Compêndio de Teologia Prática), publicado postumamente em 1692.


Se alguém diz que se arrependeu, desejo que examine-se a si mesmo, seriamente, por meio dos sete... efeitos do arrependimento delineados pelo apóstolo em 2 Coríntios 7.11.

1. Cuidado. A palavra grega significa uma diligência intensa ou um esquivar-se atento de todas as tentações ao pecado. O homem verdadeiramente arrependido foge do pecado como Moisés fugiu da serpente.

2. Defesa. A palavra grega é apologia. O sentido é este: embora tenhamos muito cuidado, podemos cair no pecado devido à força da tentação. Ora, nesse caso, o crente arrependido não deixa o pecado supurar em sua alma; antes, julga a si mesmo por causa de seu pecado. Derrama lágrimas perante o Senhor. Clama por misericórdia em nome de Cristo e não O deixa, enquanto não obtém o seu perdão. Assim, em sua consciência, ele é defendido da culpa e se torna capaz de criar uma apologia para si mesmo contra Satanás.

3. Indignação. Aquele que se arrepende levanta o seu espírito contra o pecado, assim como o sangue de alguém sobe quando ele vê um indivíduo a quem odeia mortalmente. A indignação significa ficar importunado no coração por causa do pecado. O penitente sente-se inquieto consigo mesmo. Davi chamou a si mesmo de “ignorante” e “irracional” (Sl 73.22). Agradamos mais a Deus quando arrazoamos com nossa alma por conta do pecado.

4. Temor. Um coração sensível é sempre um coração que teme. O penitente sentiu a amargura do pecado. Este vespa o ferrou, e agora, tendo esperança de que Deus está reconciliado, ele teme se aproximar novamente do pecado. A alma penitente está cheia de temor. Tem medo de perder o favor de Deus, que é melhor do que a vida, e receia que, por falta de diligência, fique aquém da salvação. A alma penitente teme que, depois de amolecido o seu coração, as águas do arrependimento sejam congeladas, e ela seja endurecida no pecado novamente. “Feliz o homem constante no temor de Deus” (Pv 28.14)... Uma pessoa que se arrependeu teme e não peca; uma pessoa que não tem a graça de Deus peca e não teme.

5. Desejo intenso. Assim como o bom tempero estimula o apetite, assim também as ervas amargas do arrependimento estimulam o desejo. O que o penitente deseja? Ele deseja mais poder contra o pecado, bem como ser livre deste. É verdade que ele está livre de Satanás; mas anda como um prisioneiro que escapou da prisão com algemas nas pernas. Ele não pode andar com liberdade e destreza nos caminhos de Deus. Deseja, portanto, que as algemas do pecado sejam removidas. Ele quer ser livre da corrupção. Clama nas mesmas palavras de Paulo: “Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Em resumo, ele deseja estar com Cristo, assim como tudo deseja estar em seu devido lugar.

6. Zelo. Desejo e zelo são colocados lado a lado a fim de mostrar que o verdadeiro desejo se manifesta em esforço zeloso. Oh! como o crente arrependido se estimula nas coisas pertinentes à salvação! Como se empenha para tomar por esforço o reino de Deus (Mt 11.12)! O zelo incita a busca pela glória. Ao se deparar com dificuldades, o zelo é encorajado pela oposição e sobrepuja o perigo. O zelo faz o crente arrependido persistir na tristeza santa mesmo diante de todos os desencorajamentos e oposições. O zelo desprende o crente de si mesmo e leva-o a buscar a glória de Deus. Paulo, antes de sua conversão, era enfurecido contra os santos (At 26.11). Depois da conversão, ele foi considerado louco por amor a Cristo: “As muitas letras te fazem delirar!” (At 26.24). Paulo tinha zelo e não delírio. O zelo causa fervor na vida espiritual, que é como fogo para o sacrifício (Rm 12.11). O zelo é um estímulo para o dever, assim como o temor é um freio para o pecado.

7. Vindita. Um crente verdadeiramente arrependido persegue os seus pecados com uma malignidade santa. Busca a morte dos pecados como Sansão queria vingar-se dos filisteus pelos seus dois olhos. O crente arrependido age com seus pecados da mesma maneira como os judeus agiram com Cristo. Ele lhes dá fel e vinagre para beberem. Crucifica as suas concupiscências (Gl 5.24). Um verdadeiro filho de Deus busca a ruína daqueles pecados que mais desonram a  Deus... Com o pecado, Davi contaminou o seu leito; depois, pelo arrependimento, ele inundou seu leito com lágrimas. Os israelitas pecaram pela idolatria e, posteriormente, viram como desgraça os seus ídolos: “E terás por contaminados a prata que recobre as imagens esculpidas e o ouro que reveste as tuas imagens de fundição” (Is 30.22)... As mulheres israelitas que haviam se vestido à moda da época e, por orgulho, tinham abusado do uso de seus espelhos ofereceram-nos depois, tanto por zelo como por vingança, para o serviço do tabernáculo de Deus (Êx 38.8). Com o mesmo sentimento, os mágicos... quando se arrependeram, trouxeram seus livros e, por vindita, queimaram-nos (At 19.19).

Estes são os benditos frutos e resultados do arrependimento. Se os acharmos em nossa alma, chegamos àquele arrependimento do qual nos arrependeremos (2 Co 7.10).



Extraído de The Doctrine of Repetance, reimpresso por The Banner of Truth Trust.
Traduzido por: Wellington Ferreira
Copyright© Editora FIEL 2009.

Fonte:  
http://editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=301 

terça-feira, 15 de março de 2011

Regeneração e Verdadeiro Livre Arbítrio



C.H. Spurgeon
O homem tornou-se tão decaído que ele não é capaz de cumprir a lei. É mais fácil o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas, do que aquele que está acostumado a fazer o mal aprender a fazer o bem (Jeremias 13:23); mas o que o homem não é capaz de fazer, por causa da perversidade da carne, Deus executa dentro dele, efetuando nele o querer e o realizar segundo a Sua boa vontade. Oh, que graça sublime é esta, que, enquanto perdoa nossa falta de vontade, também remove nossa carência de poder!

E, queridos amigos, não é uma maravilhosa prova da graça que Deus faz isto sem destruir o homem em absolutamente qualquer grau? O homem é uma criatura com uma vontade (um arbítrio), um "livre arbítrio" como eles às vezes é chamado, uma criatura que é responsável pelas suas ações; assim Deus não vem e muda nossos corações por um processo físico, como alguns parecem imaginar, mas por um processo espiritual no qual ele nunca arruína nossa natureza, mas torna a nossa natureza correta.

Se um homem se torna um filho de Deus, ele ainda tem uma vontade (um arbítrio). Deus não destrói o delicado mecanismo da nossa natureza, mas ele o coloca na marcha adequada. Nós nos tornamos cristãos com a nossa própria total aprovação e consentimento; e nós não guardamos a lei de Deus por qualquer compulsão a não ser a doce compulsão do amor. Nós não a obedecemos porque nós não poderíamos fazer o contrário, mas nós obedecemos porque nós não queremos fazer diferente, porque nós passamos a nos deleitar nela, e isto me parece a maior maravilha da graça divina.

Ele que pôs o homem no Jardim de Éden e nunca pôs qualquer paliçada ao redor da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas permitiu que o homem fosse um agente livre, faz exatamente o mesmo nas operações da Sua graça. Ele deixa o seu povo entregue às influências que estão dentro de cada um, e ainda assim eles andam corretamente, porque eles são tão transformados e renovados pela Sua graça que eles se deleitam em fazer aquilo que antes eles detestavam fazer. Vejam, queridos amigos, como são diferentes o modo de agir de Deus e o nosso. Se você derruba um homem que está vivendo uma vida má, e o põe em cadeias, você pode torná-lo honesto pela força; ou se você o deixa livre, e restringe-o por meio de leis do parlamento, você pode mantê-lo sóbrio se ele não puder adquirir nada para beber, você pode fazer com que ele fique maravilhosamente quieto se você puser uma mordaça na boca dele; mas esse não é o modo de Deus agir.

Eu admiro a graça de Deus agindo assim. Nós teríamos feito o relógio em pedaços, quebrado metade das rodas e feito novas ou algo assim. Mas Deus sabe como deixar o homem tão homem quanto ele era antes da sua conversão, e ainda assim fazê-lo tão completamente um novo homem que as coisas antigas já passaram e tudo se fez novo.

E isto é muito bonito também: que quando Deus escreve a Sua lei nos corações do Seu povo, Ele faz com que este seja o modo de preservação deles. Quando a lei de Deus é escrita no coração de um homem, aquele coração divinamente torna-se propriedade real, porque o nome do Rei está lá, e o coração no qual Deus escreveu o Seu nome jamais pode perecer.

FONTEBom Caminho
Publicado por Phil Johnson no site Pyromaniacs.
Fonte original: Trecho de um sermão chamado "A Lei de Deus no Coração do Homem" pregado no dia 28 de junho de 1885 no Tabernáculo Metropolitano, em Londres.
Tradução: Juliano Heyse

quarta-feira, 9 de março de 2011

Há Algo Pior do que a Morte


















Kevin DeYoung



Nunca entenderemos a Bíblia, a missão da igreja ou a glória do evangelho, se não entendermos este aparente paradoxo: a morte é o último inimigo, mas não é o pior.
É claro que a morte é um inimigo, o último inimigo a ser destruído, Paulo nos diz (1 Co 15.26). A morte é o resultado trágico do pecado (Rm 5.12). Deve ser odiada e repudiada. Ela deve suscitar nossa ira e indignação lamentável (Jo 11.35, 38). A morte tem de ser vencida.

No entanto, por outro lado, ela não deve ser temida. Repetidas vezes, as Escrituras nos instruem a não temermos a morte. Afinal de contas, o que a carne pode fazer conosco (Sl 56.3-4)? O nome do Senhor é uma torre forte; os justos correm para ela e são salvos (Pv 18.10). Portanto, ainda que sejamos entregues aos nossos inimigos, nem um fio de cabelo cairá de nossa cabeça sem que Deus tenha ordenado (Lc 21.18). Como cristãos, vencemos pela palavra de nosso testemunho, e não por nos apegarmos à vida (Ap 12.11). De fato, não há nada mais fundamental no cristianismo do que a firme convicção de que a morte será lucro para nós (Fp 1.21).


Por isso, não tememos a morte. Antes, “estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (2 Co 5.8).


O testemunho consistente das Escrituras é que a morte é grave, mas não é o último desastre que pode sobrevir a uma pessoa. Na verdade, há algo pior do que a morte. Muito pior.

TEMEI ISSO


Em geral, Jesus não queira que seus discípulos ficassem temerosos. Ele lhes disse que não temessem seus perseguidores (Mt 10.26), nem temessem aqueles que matam o corpo (v. 28), nem temessem por seus preciosos cabelos em sua preciosa cabeça (v. 31). Jesus não queria que eles temessem muitas outras coisas, mas queria realmente que temessem o inferno. Jesus lhes advertiu: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo” (v. 28).

Muitos falam freqüentemente como se Jesus estivesse no céu intimidando as pessoas com cenas de juízo. Mas esse sentimento expõe preconceito insensato, em vez de exegese cuidadosa. Jesus proferiu várias advertências quanto ao dia do juízo (Mt 11.24; 25.31-46), falou sobre condenação (Mt 12.37; Jo 3.18) e descreveu o inferno com termos vívidos e chocantes (Mt 13.49-50; 18.9; Lc 16.24). Precisamos apenas ler as suas parábolas sobre os lavradores maus, ou sobre as bodas, ou sobre as virgens, ou sobre os talentos, para compreendermos que Jesus motivava freqüentemente os seus ouvintes a atentarem à sua mensagem por adverti-los quanto ao juízo vindouro. Não era apropriado Jesus amedrontar as pessoas.

 Obviamente, seria inexato caracterizar Jesus e os apóstolos como nada mais do que fanáticos propagandistas ambulantes, de olhares inexpressivos, os quais gritavam que as pessoas deviam arrependerem-se ou perecer. Deformamos o Novo Testamento se o transformamos em um grande panfleto a respeito de como salvar almas do inferno. Retratar Jesus e os apóstolos (sem mencionar João Batista) como que rogando fervorosamente às pessoas que fugissem da ira por vir e não imaginá-los como que delineando planos para uma renovação cósmica e ajudando as pessoas em sua jornada espiritual – isso seria mais próximo da verdade. Qualquer de nós que lê os evangelhos, as epístolas e o Apocalipse, com mente aberta, tem de concluir que a vida eterna após a morte é a grande recompensa pela qual esperamos e que a destruição eterna após a morte é o terrível julgamento que devemos querer evitar a todo custo. De João 3, Romanos 1, 1 Tessalonicenses 4 e Apocalipse..., bem, de todas esses passagens, não há nenhum capítulo que não mostre a Deus como grande Salvador dos justos e reto juiz dos ímpios. Há uma morte para os filhos de Deus que não deve ser temida (Hb 2.14-15) e uma segunda morte para os ímpios que deve ser temida (Ap 20.11-15).

FIRME ENQUANTO AVANÇA

Embora seja bastante impopular e desejemos abrandar suas implicações desagradáveis, a doutrina sobre o inferno é essencial ao testemunho cristão fiel. A crença de que há algo pior do que a morte é, evocando a figura empregada por John Piper, lastro para nossos navios ministeriais.

O inferno não é a Estrela Polar. Ou seja, a ira de Deus não é a luz que nos guia. Não estabelece a direção para tudo que diz respeito à fé cristã, como, por exemplo, a glória de Deus na face de Cristo. O inferno também não é o leme de fé que guia o navio, nem o vento que nos impele ao longo da viagem, nem as velas que captam as brisas do Espírito. Contudo, o inferno não é incidental ao navio que chamamos igreja. É o nosso lastro, e o lançamos fora ao custo de grande perigo para nós mesmos e para todos os que se afogam no mar.

Para aqueles que não são familiarizados com termos de navegação (e para mim, que os acho misteriosos), lastro se refere aos pesos, colocados geralmente na parte de baixo, no meio do navio, que são usados para mantê-lo estável na água. Sem lastro, o navio não se assentará apropriadamente na água. Ele sairá do curso mais facilmente ou será lançado de um lado para outro. O lastro mantém o navio em equilíbrio.

A doutrina sobre o inferno é como lastro para a igreja. A ira divina não pode ser um mastaréu decorativo ou a bandeira que erguemos no mastro. Essa doutrina pode estar por baixo das outras doutrinas. Pode até não ser vista. Mas sua ausência sempre será sentida.

Visto que o inferno é real, temos de preparar as pessoas para morrerem bem, muito mais do que nos esforçamos para ajudá-las a viver confortavelmente. Visto que o inferno é real, nunca devemos pensar que aliviar os sofrimentos na terra é a coisa mais amável que podemos fazer. Visto que o inferno é real, a evangelização e o discipulado não devem ser marginalizados como tarefas importantes que são equivalentes a pintar uma escola ou produzir um filme.

Se perdermos a doutrina sobre o inferno, sentindo-nos tão embaraçados que não a mencionamos ou tão sensíveis à cultura que não a afirmamos, podemos ter certeza disto: o navio vagueará. A cruz será destituída da propiciação, nossa pregação perderá a urgência e o poder, e nossa obra no mundo não mais se centralizará em chamar as pessoas à fé e ao arrependimento e em edificá-las para a maturidade em Cristo. Perder o lastro do juízo divino causará, por fim, mudança em nossa mensagem, nosso ministério e nossa missão.

PERMANECENDO NO CURSO

Toda a vida deve ser vivida para a glória de Deus (1 Co 10.31). E temos de fazer o bem a todas as pessoas (Gl 6.10). Não precisamos justificar o preocupar-nos com nossas cidades, o amar o nosso próximo e o trabalhar duro em nossa vocação. Essas coisas são, também, “obrigações”. Contudo, tendo a doutrina sobre o inferno como lastro em nossos navios, nunca zombaremos dos velhos hinos que nos exortam a resgatar os que perecem, nem escarneceremos da obra de salvar almas, como se isso fosse nada mais do que um glorioso seguro contra incêndio.

Há algo pior do que a morte. E somente o evangelho de Jesus Cristo, proclamado pelos cristãos e protegido pela igreja, pode livrar-nos daquilo que devemos temer verdadeiramente. A doutrina sobre o inferno nos lembra que a maior necessidade de cada pessoa não será satisfeita por instituições como Nações Unidas, Habitat para a Humanidade ou United Way. É somente por meio do testemunho cristão, da proclamação do Cristo crucificado, que a pior coisa do mundo não recairá sobre todos os que estão no mundo.

Portanto, a todos os pastores admiráveis que se sacrificam, assumem riscos, amam a justiça, preocupam-se com os que sofrem e anelam renovar suas cidades, Jesus diz: “Muito bem, mas não esqueçam o lastro, rapazes”.

Traduzido por: Wellington Ferreira.
Copyright:
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© Editora FIEL 2010.
Traduzido do original em inglês: There’s something worse than death.
Kevin DeYoung é o pastor da University Reformed Church em East Lasing, MI, EUA. Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado pelo Gordon-Conwell Theological Seminary. É autor de diversos livros, preletor em conferências teológicas e pastorais, é cooperador do ministério “The Gospel Coalition” e mantém um Blog na internet “DeYoung, restless and reformed”. Kevin é casado com Trisha com quem tem 4 filhos.
Via: http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=341

quarta-feira, 2 de março de 2011

Uma Bem Aventurança
















Consultar o travesseiro é sinônimo de meditar profundamente ou recolher-se para pensar. Mas, enganamos a nós mesmos quando pensamos que com o nosso esforço iremos reformar o nosso interior. Pensamos saber de todas as coisas, por isto erramos e por diversas vezes repetimos o mesmo erro. Certa vez ouvi alguém dizer assim: "Nós não sabemos o que realmente queremos". Creio com toda sinceridade que isto seja uma verdade.

Quem deseja realmente ouvir o que Deus está dizendo? No curso da nossa vida paramos para ouvir o nosso coração e assim é que nos enganamos muito. Isto ocorre sempre quando damos ouvidos à nossa razão e escutamos o nosso coração. Escutamos o vento e muitas vezes escutamos o nada. Algumas vezes, escutamos o vazio e então nos sentimos ainda mais vazios. Quando o coração do homem passa a ser centro onde ele costuma repousar as suas intenções é inevitável que se desvie dos propósitos de Deus.

Jeremias vivia em tempos de muita aflição, quando não somente o pecado assolava o povo do Senhor. A corrupção que havia se generalizado, não era apenas política, mas também religiosa. Haviam os maus pastores (Jer 23:1) e como podemos ver, os sacerdotes e profetas (Jer 23:11) faziam o povo errar.

No cap. 17:1 o Senhor havia advertido através do profeta: "O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro e com diamante pontiagudo, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos seus altares." Ainda no verso nove, essa outra advertência: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?."

Como vimos no texto acima, (o pecado estava escrito com um ponteiro de ferro e com um diamante pontiagudo, gravado na tábua do coração e na ponta de seus altares). Sabemos que o diamante é o mais duro material de ocorrência natural que se conhece e ele não pode ser riscado por nenhum outro mineral ou substância. Os diamantes são usados para cortar, tornear e furar materiais muitos consistentes como os produtos cerâmicos, vidros, quartzo, etc. Portanto, os corações estavam tão duros e petrificados pelo pecado, que o registro só podia ser feito com um diamante pontiagudo. Deus esquadrinha e conhece o nosso coração (Jer.17:10), Jesus advertiu em Marcos 7:21 que o coração é a fonte de todos os pecados que desagradam a Deus.

Depois desta advertência que o pecado estava (gravado no coração do povo e na ponta de seus altares), o Senhor disse mais a Jeremias, cap.18:2 "dispõe-te, e desce a casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras." 

Vivemos hoje, tempo semelhante ao de Jeremias em que a corrupção vem se alastrando em todos os níveis e a apostasia é uma realidade que assistimos no nosso dia a dia. Como era dura aquela realidade e como pode ser dura a nossa também. Assumimos muitos compromissos e facilmente nos envolvemos em muitas tentações. Muitas vezes não nos dispomos para ouvir a voz do Senhor, como deveríamos. Precisamos abrir o nosso interior para que o Senhor mude o que precisa ser mudado, porque somente Ele transforma a nossa realidade. Há uma grande lavoura e ela necessita de muitos semeadores.

Nisto se consiste uma Bem Aventurança: Estar atento para ouvir, porque mais importante antes de tudo, é preciso saber escutar, pois só se pode dar algo a compreender a alguém que tenha capacidade de escutar. Queira o Senhor que nos encontremos numa posição que agrade a Ele. No texto do evangelho de Mateus na parábola do semeador, Jesus falando aos seus discípulos, disse: Cap.13:16 "Bem-Aventurados, porém, os vossos olhos, porque vêem; e os vossos ouvidos, porque ouvem."