terça-feira, 27 de setembro de 2011

O Cálice amargo vem de Deus.


A vida do filho de Deus é cheia de dádivas e de perdas. Quando a visão de um Deus Soberano é perdida, é perdida toda condição de adoração contínua. Só podemos adorar ao contemplarmos as mãos de Deus agindo – necessário é então não ver muitas mãos mas apenas UMA Mão em todas as coisas.


Essa é a postura nobre de Jó ao se ajoelhar para adorar. Ele poderia ver muitas mãos agindo – Os Sabeus levando os bois e as cabras. O fogo que matou ovelhas e servos. Os Caldeus que roubaram os camelos. O vento que matou todos os filhos... Mas ao se ajoelhar a espada e todas as outras coisas foram ignoradas. O Patriarca reconheceu de forma que nossa época imatura não pode, uma única MÃO. Ele reconhece sozinho o “Senhor” – “O Senhor que deu e o Senhor que tirou”. Porque há tanta tristeza desnecessária, desespero, depressão, murmuração e condição nada cristã nos momentos de nossas tribulações e provações? Porque fixamos nosso olhar nas confusas rodas das causas secundárias dos eventos de nossas vidas.


E porque no momento que oramos – “Seja feita a tua vontade na terra como no céu” – não estamos de fato orando. Sofremos na tentativa de nos levantarmos nas ‘alturas para sustentar um argumento contra os procedimentos de Deus’.


Tapamos os ouvidos para não escutar “Sou Eu” – “Sucederá algum mal na cidade, sem que o SENHOR o tenha feito?” Amós 3:6.  Haverá alguma gota amarga em nosso cálice que o Senhor não tenha acrescentado? O Senhor ama muito o seu povo para deixar ou confiar a qualquer outro seus interesses. Somos de fato barro nas mãos do Oleiro. Somos prata nas mãos do Refinador.


É Ele,e somente Ele que aponta os limites de nossa habitação. Deus é o autor tanto das misericordiosas dádivas quando das tristezas; do conforto e de nossas cruzes. Ele soprou sobre nossas narinas o fôlego de vida, e será a Sua convocação que chamará de volta o nosso espírito ( “A Deus que o deu” ).


Considere definitivamente sua própria vida e a vida de todas as pessoas queridas que te cercam como um empréstimo somente. Deus sendo o grande proprietário de toda a Sua Criação, quando entender ser o melhor momento, revoga a concessão, e toma o que sempre foi Seu.


Tudo que recebemos é misericórdia! Misericórdia concedida, misericórdia continuada dia a dia, e misericórdia no tempo certo, retida. Muitas vezes Ele tira para que Ele mesmo – e só Ele devia ter esse lugar – possa preencher o vácuo do coração com Sua presença toda-suficiente e inefável amor. Suas dádivas não compensam Sua falta; mas Sua presença compensa a perda de todas as dádivas. Compensa infinitamente mais todas as nossas perdas.


Vamos confiar e nos deleitar no amor e fidelidade do “Deus que dá” – Vamos deixar o mundo ver nossas vidas brilharem em beleza como um arco-íris em meio as nuvens de tempestade do “Deus que tira”. Só assim o mundo poderá ver quem é infinitamente precioso para nós. “O Senhor deu e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21).


Oremos como Cristo: “Sim, ó Pai, pois assim pareceu bem aos teus olhos!”.

                                                    Soli Deo Gloria
Josemar Bessa.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Duas maneiras de viver - John Owen ( 1616 - 1683 )


Em Romanos 8:13 o apóstolo Paulo confronta seus leitores com duas maneiras diferentes de se viver. A primeira é esta: "se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte". A segunda - a alternativa - é: "se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente vivereis". O propósito deste livro é estudar a segunda destas maneiras de viver.

Começaremos o nosso estudo examinando as cinco palavras ou frases que formam o nosso texto:

Em primeiro lugar, o texto começa com a palavra "se". Paulo usa este "se" para indicar a conexão entre mortificar os feitos do corpo e o viver. E como se disséssemos a um homem doente: "se tomar o remédio, logo se sentirá melhor". Ao homem doente se está fazendo uma promessa de melhoria na sua saúde, desde que siga o conselho que lhe é dado. Da mesma maneira, o "se" do nosso texto nos diz que Deus determinou "mortificar os feitos do corpo" como o meio infalível de conseguirmos "vida". Há uma conexão inquebrável entre verdadeiramente mortificarmos o pecado e a vida eterna. "Se...mortificardes o pecado vivereis!" Aqui está a razão para cumprirmos o dever que Paulo nos prescreve.

Em segundo lugar, a palavra "vós" nos diz a quem o dever e a promessa se aplicam. "Vós" se refere aos cristãos descritos no versículo 1 como "os que estão em Cristo Jesus". Refere-se àqueles nos quais o Espírito vive (vs. 10,11). É estupidez e ignorância se esperar que qualquer um, exceto um verdadeiro cristão, desempenhe este dever. Se pensarmos cuidadosamente sobre para quem Paulo está escrevendo e o que ele lhes está dizendo, podemos fazer a seguinte afirmação:
Os verdadeiros cristãos, que estão definitivamente livres do poder condenatório do pecado, ainda devem se ocupar durante toda a vida com a mortificação do remanescente poder do pecado.

Em terceiro lugar, a frase "pelo Espírito" se refere à causa principal ou aos meios para cumprirmos esse dever. O Espírito aqui é o mesmo do vs. 11. Ele vive em nós (v. 9) e nos dá vida (v. 11). Ele é o Espírito de adoção (v. 15) e nos ajuda nas nossas fraquezas (v. 26). Todos os outros meios de tentarmos mortificar o pecado são inúteis. As pessoas podem tentar isso de outras maneiras (Rom. 9:30-32). Eles sempre o fizeram e sempre o farão. "Mas esta é a obra do Espírito", diz Paulo. Só Ele pode realizá-la. Mortificar o pecado na sua própria força, segundo as suas idéias, leva à justiça-própria. Isso é a essência de toda religião falsa.

Em quarto lugar, a frase, "mortificardes os feitos do corpo" nos apresenta o dever a ser cumprido. Consideremos esta frase perguntando e respondendo três perguntas:

a)      O que se entende por "o corpo"? E uma outra expressão semelhante, no seu significado, à "natureza pecaminosa" a qual Paulo tem feito referências freqüentes neste capítulo (vs. 3,4,5,8,12 e 13). Paulo está enfatizando a diferença entre o Espírito e a natureza pecaminosa. O corpo é o instrumento que o pecado inerente em nós usa para se expressar. Desse modo Paulo usa a expressão "o corpo" para representar a corrupção e a depravação do homem.

b)      O que significa "os feitos"? Isto se refere às ações pecaminosas que uma natureza pecaminosa produz. Em Gálatas 5:19 no qual estes atos são descritos, Paulo nos dá alguns exemplos destes "feitos". A maior preocupação de Paulo não é com os "feitos" externos mas com suas causas internas. E com desinibido desejo mal, o qual produz os feitos que precisamos lidar radicalamente.

c)      O que significa "mortificardes"? Esta é uma linguagem figurada. Imagine que se mate um animal. Matar um animal é tirar-lhe sua força, seu poder e sua vida de tal maneira que ele não possa mais agir ou fazer o que quiser. Esta é a figura aqui. A natureza pecaminosa (ou, o pecado remanescente) é comparado a uma pessoa, o "velho eu", com seus recursos, habilidades, sabedoria, sutileza, força, etc. Isto, diz-nos Paulo, precisa morrer. Precisa ser morto (mortificado), ou seja, sua força, poder e vida precisam ser tirados pelo Espírito.

Em certo sentido este é um fato que já ocorreu. Diz-se que o velho eu já está "crucificado com Cristo" (Rom. 6:6). "Morremos com Cristo" (Rom. 6:8). Isto aconteceu quando nascemos de novo (Rom. 6:3-8). Entretanto, cada cristão ainda tem os remanescentes de uma natureza pecaminosa que irão constantemente procurar se expressar. É dever de cada cristão mortificar os remanescentes desta natureza pecaminosa. Isto precisa ser feito continuadamente de modo que aos desejos da natureza pecaminosa não seja dada oportunidade para se expressarem (Gál. 5:16).

Finalmente, a frase "vivereis" prove a promessa que é dada para encorajar os cristãos no seu dever. A vida prometida é o oposto da morte enunciada no caso anterior, "se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte" (veja também Gal. 6:8). É provável que Paulo tenha em mente tanto a vida espiritual em Cristo como a vida eterna. Todos os cristãos verdadeiros têm esta vida mas podem perder o seu gozo, seu conforto e sua força. Num contexto diferente, o apóstolo Paulo escreve: "porque agora vivemos, se é que estais firmados no Senhor" (1 Tess. 3:8), isto é, agora a minha vida me fará bem; terei gozo e conforto na minha vida. De modo semelhante, o apóstolo está dizendo aqui: "vocês terão uma vida boa, vigorosa, confortável, e espiritual, enquanto estiverem aqui, e receberão a vida eterna ao final".

Se tomarmos essa promessa desta maneira teremos mais motivos para realizarmos este dever.

A força, o poder, e o gozo em nossa vida espiritual dependem de mortificarmos os atos da natureza pecaminosa. 

Fonte:http://www.josemarbessa.com/2011/06/duas-maneiras-de-viver-john-owen-1616.html

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Lei do Amor e o Amor à Lei


Kevin DeYoung


Alguns cristãos cometem o erro de colocar o amor contra a lei, como se ambos fossem excludentes. Ou você tem uma religião de amor ou uma religião da lei. Mas essa equação é profundamente antibíblica. Para quem não sabe, o "amor" é um mandamento da lei (Dt 6.5; Lv 19.18; Mt 22.36-40). Se você prescreve o amor, está falando da lei. Ao contrário, se você está dizendo que a lei não vale mais, então está dizendo que o amor, o resumo da lei, também não vale.

Além disso, considere a íntima relação que Jesus faz entre o amor e a lei. Para Jesus não existe amor sem obediência à lei (Jó 14.15). Mas ele diz mais do que isto. Jesus coloca a comunhão com Deus junto com a guarda dos mandamentos. Quando guardamos os mandamentos de Cristo, nós o amamos. E quando amamos Cristo, o Pai nos ama. E todo aquele que o Pai ama, Cristo ama e se lhe revela (Jó 14.21). Então, não se pode permanecer no amor de Cristo à parte dos mandamentos de Cristo (Jó 15.10). O que significa que não há plenitude de alegria à parte da busca da santidade (Jó 15.11). A lei de Deus é uma expressão de sua graça. A lei é o plano de Deus para o seu povo santificado desfrutar da comunhão com ele. Por isso os Salmos estão cheios de declarações de deleite relacionadas com os mandamentos de Deus. Mesmo com o fim da aliança mosaica, certamente o Salmista nos estabelece um exemplo. O homem feliz se deleita na lei do Senhor e medita nela de dia e de noite (Sl 1.2). Os preceitos e as regras do Senhor são mais doces do que o mel e devem ser mais desejados que o ouro (Sl 19.10). Sim, a lei pode levar o homem natural a pecar (Gl 3.19,22). Mas o povo de Deus se regozija nos seus estatutos e percebe coisas maravilhosas na sua lei (Sl 119.18). Anseia estar constantemente guardando seus estatutos (v.5). Aos olhos do crente a lei ainda é boa e verdadeira; é a nossa esperança, nosso consolo e nosso cântico.

Não precisamos ter medo de aterrissar na lei – nunca como meio de merecimento de justificação, mas como a expressão exata de tê-la recebido. Podemos concluir um sermão com alguma coisa que devemos fazer. Não está errado aconselhar os outros à obediência. O legalismo é um problema na igreja, como também o antinomianismo. É claro que não ouço ninguém dizer: "vamos continuar pecando para que a graça abunde" (Rm 6.1). É a pior forma de antinomianismo. Mas de maneira estrita o antinomianismo simplesmente significa "sem lei", e alguns cristãos dão pouquíssimo lugar à lei na busca da santidade. Um mestre comenta sobre um pastor antinomiano do século XVII na Inglaterra: "Ele cria que a lei serviu para um propósito útil de convencer os homens da necessidade de um Salvador; não obstante, não lhe deu quase nenhum lugar na vida, uma vez que declarou que 'a graça livre é a mestra das boas obras'." Enfatizar a graça pura não é o problema. O problema é presumir que as boas obras vão fluir invariavelmente do nada a não ser de uma ênfase diligente do evangelho.

A ironia consiste em colocarmos cada imperativo em ordem para crer no evangelho mais fortemente, transformar o evangelho em outra coisa e a fé naquela coisa que precisamos para ser melhores. Se realmente cremos, a obediência vem junto. Não há necessidade de mandamentos ou esforço. Mas a Bíblia não raciocina deste modo. Não há problema com a palavra "portanto". Graça, graça, graça, portanto, pare com isto, comece a fazer aquilo, e obedeça aos mandamentos de Deus. As boas obras sempre estarão enraizadas nas boas novas da morte e ressurreição de Cristo, mas eu creio que estamos esperando demais do "fluxo" e não fazemos o suficiente ensinando que a obediência à lei — com um espírito disposto, possível quando operado pelo Espírito Santo — é a devida resposta à graça pura.

Por mais que Lutero ridicularizasse o mau uso da Lei, ele não rejeitou o papel positivo da lei na vida do crente. A Fórmula Luterana da Concordância está absolutamente certa quando diz: "Cremos, ensinamos e confessamos que a pregação da Lei deve ser recomendada com diligência, não apenas ao incrédulo e impenitente, mas também aos verdadeiros crentes, que foram verdadeiramente convertidos, regenerados e justificados pela fé" (Epítome 6.2). Os pregadores devem pregar a lei sem acanhamento. Os pais devem insistir na obediência sem timidez. A lei pode e deve ser recomendada aos verdadeiros crentes — não para condenação, mas para correção e promoção do Cristianismo. As Escrituras indicam e Deus manda, para o nosso bem, e na graça.


Traduzido por: Yolanda Mirdsa Krievin

Copyright © Kevin DeYoung 2011
Copyright © Editora Fiel 2011

Traduzido do original em inglês: The Law of Love and the Love of Law. Publicado no Blog de Kevin DeYoung no site The Gospel Coalition.




Kevin DeYoung é o pastor da University Reformed Church em East Lasing, MI, EUA. Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado pelo Gordon-Conwell Theological Seminary. É autor de diversos livros, preletor em conferências teológicas e pastorais, é cooperador do ministério "The Gospel Coalition" e mantém um Blog na internet "DeYoung, restless and reformed". Kevin é casado com Trisha com quem tem 4 filhos.


Fonte:http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=372

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Evangelho - Nossa única esperança – Martyn Lloyd-Jones


Afirmamos (que a única esperança dos homens é crer no Evangelho de Cristo) sabendo muito bem tudo que se diz da ciência, da instrução e da cultura. Dizemo-lo sabendo que no fim desta guerra* o mundo, exatamente como o fez no final da última guerra, anunciará confiantemente seus planos e esquemas para um novo mundo, sem tomar em conta o que o Evangelho tem para dizer.

Por que falamos assim? Precisamente pelas mesmas razões aduzidas por Paulo (Romanos 1.16). . . ele não se envergonha do Evangelho porque é o meio divino de salvação. . . De golpe vemos que ele possui autoridade inteiramente única. Pois todas as outras idéias com respeito à vida e aos seus problemas são de fabricação humana. 

Em suas melhores e mais elevadas expressões, jamais vão além dos domínios da especulação e da suposição. . . As grandes  inteligências  e  os  mais  profundos  pensadores... acabam admitindo que os problemas últimos da vida estão ocultos em mistério.  .  . O próprio fato de que há tantas escolas de pensamento diferentes e divergentes dá eloquente testemunho dessa incerteza e incapacidade.

Mas houve outro fato que provou quão inadequadas foram finalmente todas as escolas. Refiro-me ao interminável número de religiões que se podiam encontrar.  . . Vemos um perfeito quadro disto em Atos 17 com relação a Atenas. A mesma verdade vale para Roma e para todas as outras grandes cidades . . . Paulo tinha algo essencialmente diverso para oferecer e pregar. Ele sabia dos outros sistemas. Mas conhecia também os seus limites e a sua incapacidade para resolver os problemas.

Ele não podia jactar-se dos homens e seus sistemas. Antes que pudesse gloriar-se de um sistema, era preciso que este mostrasse possuir autoridade; precisava demonstrar certeza. O Evangelho que Paulo pregava não era especulação; era a revelação do próprio Deus (Gálatas 1.11,12). Não havia motivo para ficar envergonhado de tal mensagem. E é precisamente o mesmo hoje. 

The  Plight of  Man and the Power of God, p. 79-81. ''Escrito em 1942.

sábado, 3 de setembro de 2011

A importância da Metamorfose

“Eu prefiro ser…
Esta metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo…”
Raul Seixas


Por Bráulia Inês Ribeiro




Parece que tem sabedoria nas palavras do Raul, apesar de tudo. Provavelmente quando cantava  ele pensava estar criticando o status quo,  a  estrutura vigente. E nada mais representativo desta estrutura do que o cristianismo. Ele com certeza achava que estava batendo de frente com o pensamento cristão…
Mas será que estava? Somos criticados, nós os cristãos, por mantermos padrões, seguirmos doutrinas e dogmas. Mas o cristianismo vivo e dinâmico nos leva para muito além dos dogmas, aliás chega a chamar os dogmas de idolatria.  Este cristianismo nos incentiva a “conhecer e prosseguir conhecendo”(Oséias 6:3), numa busca incessante e sincera: “buscar-me-eis e me achareis quando me buscares de todo coração” (Jeremias 29:13) Este conhecimento também além de dinâmico deve gerar em nós algum tipo de transformação pessoal. Não é meramente intelectual, mas é vital, humano, entra fundo em nós gerando mudanças constantes.
Só é capaz de buscar aquele que não tem. Para que possamos ser a motivados a continuar conhecendo, temos que reconhecer que não sabemos. Este é o estado de alma da metamorfose ambulante. Estou sempre disposto a mudar através do conhecimento que adquiro. Me metamorfoseio constantemente numa nova pessoa,  através de mais revelação da pessoa de Deus. Quanto mais me aproximo d’Ele mais preciso conhecê-lo e ser transformado. A isto se referiu Carlos Finney, grande avivalista do século XIX, quando dizia que devemos nos converter todos os dias. O que conheço de Deus hoje não é o suficiente, preciso mais, ainda que este conhecimento novo venha questionar idéias anteriores, desafiar meus conceitos, ou gerar novos paradigmas de comportamento na minha vida.
O cristão não dogmático (soa como uma contradição de termos para você? Pois não é…) não é um cristão sem convicções profundas. Mas ao invés de valorizar em primeiro lugar a doutrina à respeito de seu Deus ele valoriza seu relacionamento com o próprio Deus. O Deus vivo, dinâmico, que muda, não em caráter e valores morais, mas que muda na sua estratégia de confronto com o ser humano, na dispensação da sua presença, na quantidade de revelação que derrama, Deus que encobre coisas (Deuteronômio 29:29) mas que as  revela aos justos (Daniel 2:47). O Deus que vai “brilhando mais e mais.” na nossa vida, “até ser dia perfeito” (Provérbios 4:18).
O preço desta vida de metamorfose é muitas vezes uma certa insegurança. Para onde estou indo? Será que isto é certo? É tão fácil se segurar  em convenções, que todos o fazem, principalmente os não cristãos… O próprio Raul tinha dogmas. Eram com certeza, os não-não. – Não há Deus, não há caráter humano que preste – não há nada bom no velho, no “establishment”, e com certeza não há nada de bom que se possa esperar no novo também… 
A diferença de um cristão e de um pseudo livre-pensador é que o cristão sabe que é limitado, que conhece apenas em parte á e de que necessita de uma âncora além de si mesmo para se segurar. Esta âncora não é um dogma doutrinário, mas o relacionamento com uma Pessoa, amorosa, sensível e divina. O cristão deve a esta Pessoa submissão e humildade. Ele tem que trazer sua mente escravizada a esta pessoa: “trazendo cativo todo pensamento à pessoa de Cristo.”(II Coríntios 10:5). Mas o intelectual-liberal no entanto não “deve” nada a ninguém. Ele é seu próprio Deus. Sua âncora é sua razão e nela está seu orgulho. “firmado com os pés no estribo de sua própria razão” (Provérbios 3:6-7) ele nunca vai além de si mesmo, anda em círculos ao redor de seus dogmas pessoais, e vive cego pela idolatria da razão. Este não é capaz de se metamorfosear nunca, porque não há mudança possível para alguém cuja única referência são suas próprias idéias…
Ah Raul, quão  enganado você estava… 

*Autora de Chamado Radical, (Editora Ultimato) Bráulia Inês Ribeiro, casada, três filhos, é mestre em etnolingüística. Missionária na região Amazônica há mais de 20 anos, é presidente da JOCUM — Jovens com Uma Missão.
Fonte: http://ultimato.com.br/sites/brauliaribeiro/2011/08/30/a-importancia-da-metamorfose/