terça-feira, 22 de maio de 2012

A ética da Igreja enquanto Corpo de Cristo



Eduardo Ribeiro Mundim

A Igreja é o Corpo de Cristo. Esta metáfora é empregada mais de uma vez nas Escrituras, de forma suficientemente claro para que não ser tomada como um acidente, uma ideia passageira.     

Ele é constituído livre e soberanamente por Deus Pai, que destina antes da criação do mundo o nosso destino, e o faz única e exclusivamente por amor.      

A quem pede Ele conselho? Chama, predestina, escolhe a quem deseja, no momento histórico que deseja, do modo como deseja. Se não é assim, como explicar a lista daqueles a quem Ele chamou para si? Mentirosos, ardilosos, assassinos, invejosos e fofoqueiros, adultos infantis, adúlteros, rebeldes, covardes, sádicos...

Dietrich Bonhoeffer escreveu que quando o pecado do meu irmão parece maior que o meu, é porque, na verdade, eu não conheço o tamanho do meu pecado.

Não há, na presença do Amor Santo, pecado maior ou menor. Na Sua presença, quem somos nós para julgarmos o pecado do irmão? para avaliarmos nosso pecado como menos ofensivo que o dele?

No nosso pecado somos todos iguais.

E somos escolhidos porque Deus deseja que todos sejam salvos pela graça, mediante a fé, como presente de Sua parte.

O Corpo é constituído por pessoas que nós não escolhemos. 

E temos a função de levar a mensagem de arrependimento e conversão a quem nós não gostamos, a quem nos incomoda:vestes, adereços, comportamento escandaloso, exercício da sexualidade, dificuldades sociais, odor, pelo que faz para garantir seu sustento. E a mensagem deve ser levada não para que este outro que me incomoda se transforme em alguém que me agrade, mas porque Deus Amor Santo espera que nós o façamos, de forma espontânea, como consequência natural da descoberta de sermos perdoados e aceito por Ele.

As duas grandes alianças via Israel e via Cristo têm diferenças importantes. Na primeira, entrava-se via nascimento natural, sem direito de escolha. Crescia-se e era-se educado dentro da Aliança, não podendo dela se afastar. Na segunda, entra-se através do novo nascimento, sobrenatural, individual, solitário, não testemunhado, parcialmente subjetivo. É uma decisão a ser conscientemente tomada, porque ouvir o chamado de Deus, responder positivamente à eleição realizada em Cristo antes da criação do mundo, implica em dois desdobramentos óbvios:

Não é possível desejar a aproximação com o Amor Santo sem que se deseje tomá-Lo como exemplo e desafio, com vistas à santificação pessoal.

A Aliança feita pelo sangue de Cristo não visa nosso próprio umbigo, mas o cumprimento da vontade de Deus; ela não se constitui por palavras, mas por ações que necessariamente são boas.

Fazer parte do corpo tem duas grandes dimensões éticas.

A primeira, da relação dos membros do Corpo com o Cabeça, Cristo, e com aquele que o constituiu, Deus Pai: “crescer e edificar-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza sua função”. E isto somente pode ocorrer se “estando arraigados e alicerçados em amor, vocês possam, juntamente com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que vocês sejam cheios de toda a plenitude de Deus”.

A segunda, da relação dos membros do Corpo uns para com os outros. A metáfora do corpo, ilustração da sua realidade, obriga que os membros trabalhem em sintonia e concordância, cada um em sua função, a seu tempo. Obriga também que cada seja saudável, para que o corpo inteiro o seja. E para isto, atitudes pró-ativas são necessárias: “despir-se do velho homem”, “revestir-se do novo homem”.

Ativamente deve-se evitar, mesmo que se deseje, a imoralidade sexual, a impureza, a cobiça, as obscenidades, as conversas tolas, os gracejos imorais e inconvenientes. Porque aqueles que não evitam, mas que buscam de forma continuada atitudes semelhantes a estas, “não têm herança no Reino de Cristo e de Deus”. Porque aqueles a quem o Espírito de Deus testifica que são Seus filhos buscam a bondade, a justiça, a verdade, o que é agradável a Deus, inclusive no trato com as mui humanas e inevitáveis vivências da raiva, das tentações do enriquecimento desonesto (seja roubando o irmão, seja fraudando o imposto de renda) e do palavreado agressivo e ofensivo, da atração pela amargura, gritaria, calúnia.

Para que o Corpo cresça em harmonia não pode haver quem passe fome ou necessidade, tendo todos os membros de se relacionarem com bondade, identificando-se com o outro em suas dificuldades estejam elas onde estiverem (incluindo aquelas áreas tabus), exercitando o perdão mútuo – condição inegociável para se participar da Ceia do Senhor.

Estamos todos no mesmo barco: somos pecadores permanentes em busca de santidade, pessoal e social. Somos braço efetivo de Deus neste mundo caído e entre nós, para nos curarmos mutuamente e permanentemente, até que o Cabeça do Corpo venha, ou nós nos reunamos a Ele em nossa morte.   


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-etica-da-igreja-enquanto-corpo-de-cristo

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