"Caro senhor,
A união do crente com Cristo é tão íntima, tão imutável, tão rica em privilégios, tão poderosa em termos de influência, que não pode ser totalmente representada por qualquer descrição ou similitude tirada das coisas terrenas. A mente, como a visão, é incapaz de apreender um grande objeto sem vê-lo por todos os ângulos diferentes.
Para ajudar a nossa fraqueza, a natureza desta união é ilustrada, na Escritura, por quatro comparações, cada uma jogando luz sobre o assunto, mas todas aquém da coisa significada.
Por natureza somos impelidos e agitados pelos ventos de mudança de opinião e por ondas de problemas, que de hora em hora perturbam e nos ameaçam sobre o mar incerto da vida humana. Mas a fé, unindo-nos a Cristo, nos põe sobre um firme fundamento, a Rocha Eterna, onde estamos imóveis, fixos e inabaláveis, embora tempestades e inundações unam suas forças contra nós.
Por natureza estamos separados da vida divina, como galhos quebrados, murchos e infrutíferos. Mas a graça, mediante a fé, nos une a Cristo, a videira viva, de quem, como a raiz de toda a plenitude, traz um fornecimento constante de seiva e influência contínua em cada um de seus ramos espirituais, permitindo-lhes darem fruto para Deus e perseverarem, não miseravelmente, mas abundantemente neles. O que os leva inexoravelmente a um viver santo.
Por natureza somos odiosos e abomináveis aos olhos de um Deus santo e cheios de inimizade e ódio. Pela fé, unindo-nos a Cristo, temos comunhão com o Pai e o Filho, e comunhão conjunta entre nós, assim como os membros de um mesmo corpo tem união entre si... comunhão e solidariedade, com a cabeça, e com seus companheiros, sendo todos membros do mesmo corpo.
Em nosso estado natural, fomos expulsos nus e desamparados, sem piedade e sem ajuda (Ez 16), mas a fé, unindo-nos a Cristo, nos fixa em sua justiça perfeita, suas riquezas, suas honras... Nosso Redentor é nosso marido, nossas dívidas são pagas, nossa herança garantida, e os nossos nomes alterados.
Assim, o Senhor Jesus sendo declarado a base, a raiz, a cabeça e o marido de seu povo, tem de todas essas formas nos enquadrado em uma união íntima, vital e inseparável. No entanto, todas estas figuras ficam aquém da verdade completa, e Ele nos deu mais uma similitude, de que não podemos de maneira nenhuma formar uma concepção correta de tudo que somos e temos nEle até o momento em que seremos levados a vê-Lo como Ele é em Seu reino :
"Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos." - 1 João 3:2
João 17:21: "Para que todos sejam um, como Tu, Pai, estás em Mim e Eu em Ti, para que também eles sejam um em nós".
Bem podemos dizer: Que coisas Deus tem feito! Quão inviolável é a segurança, quão grande o privilégio, quão inestimável é, quão indescritível é a felicidade de um homem de fato regenerado! Como ele não teria e demonstraria no mundo uma gratidão tão grande por tão infinita graça diante do mundo? Ele já esteve longe, foi filho do inferno... mas ele foi soberanamente trazido para perto de Deus pelo sangue de Cristo. Ele era um filho da ira, mas agora é um herdeiro da vida eterna. Quão fortes são, então, as suas obrigações para andar de maneira digna de Deus, que o chamou soberanamente para o seu reino e glória! Para ser santo! Para ser conformado a imagem de Cristo!"
–John Newton, “Letters” in The Works of the John Newton, Volume 1 (London: Hamilton, Adams & Co).
- John Newton (1725-1807) -