sábado, 1 de junho de 2013

Ser temido ou ser amado?


Por Daniel Gonçalves Lima Junior

“Há três coisas que permanecem: a fé,
a esperança e o amor – e a maior destas é o amor”
(1 Coríntios 13:13 – NBV)

Há alguns dias atrás vi o filme “Alice no país das maravilhas” com meus filhos. É uma fábula sensacional com várias criaturas fantásticas e esquisitas que povoam o sonho de uma menina. Já perto da última batalha do filme, quando Alice finalmente derrota o Jaguardarte usando a espada Vorpal, a Rainha de Copas (Cortem-lhe a cabeça!), sentindo-se ameaçada, perde um de seus maiores aliados, e percebendo o perigo de outras deserções e sua iminente derrota decreta: “É muito melhor ser temido do que ser amado!”. Será?

Essas palavras da rainha, que refletem sua personalidade autoritária e impulsiva, me chamaram à atenção. Ela é bem mais atual do que imaginamos, e também reflete a filosofia e o estilo de vida de muitas pessoas, especialmente no que diz respeito aos relacionamentos pessoais de gente que está em alguma posição de liderança.

Vejo com pesar que pastores estão usando esse princípio no exercício de seus ministérios. A opção tem sido pelo temor, temor de “ter medo”. Os pastores estão gerando medo em suas ovelhas (?) recorrendo às ameaças do tipo “dê o seu dízimo, senão...”, “cumpram as minhas ordens, senão”, “não ousem questionar o homem de Deus, senão...”, “não toquem no ungido do Senhor...”, e outras baboseiras nocivas à saúde dos relacionamentos na igreja. Na verdade, morrendo de medo de perderem o controle sobre as pessoas, eles recorrem ao método de gerar medo. Preferem ser temidos, e se esquecem de amar e de serem amados.
Não é melhor ser temido como a Rainha de Copas diz, mas é mais fácil, sem dúvida. Para ser temido basta a roupa certa, o tom de voz certo, a ameaça certa, a distância certa, o tom de superioridade certo, e, para pastores, aquela imagem de que são eles que falam (apenas eles) com o Deus altíssimo. O resultado nós conhecemos: tenha medo daquele cara de terno lá no púlpito, ele é o “homem de Deus”.

Alguns pais também estão preferindo o caminho do medo. É mais fácil gerar medo no coração dos filhos, dá menos trabalho. Ao invés de cultivar relacionamentos profundos, os pais fazem a opção pelo terror, e por isso é muito comum ver pais e mães dando ordens aos filhos fazendo ameaças. A ameaça do castigo, da privação do Telebol, desculpe, do Playstation, é até didática, mas precisa ser usada com controle e com amor.

Famílias precisam de relacionamentos profundos, precisam de respeito mútuo, e precisam de amor. Sem amor não há relacionamento familiar, há apenas um monte de gente morando em uma mesma casa, cheia de regras a serem cumpridas. O resultado disso é o cansaço. Ninguém aguenta, adultos e crianças, viver o tempo todo com medo.

Na mesma direção estão os casais. Maridos que ameaçam, que exigem, que lideram suas esposas pelo medo. Esposas que ameaçam, que controlam, e que fazem todo tipo de chantagem baseadas no medo. As novelas estão cheias desse tipo de relacionamento conjugal, que fere, amedronta, e gera separações.

E as amizades? Nossos amigos? Como nos relacionamos com eles. Amamos nossos amigos? Eles nos amam? Estamos juntos pelo medo ou pelo amor, pela amizade?
E os namorados? Se amam? Tem medo? O que você está cultivando no coração do seu namorado ou de sua namorada, amor ou medo? Amor incondicional ou medo de perder?

E com Deus? Nos relacionamos com ele porque temos medo ou porque o amamos? Certamente Deus quer que o amemos de todo o nosso coração.

Quem é você nessa história? É a Rainha de Copas moderna ou alguém disposto a amar? Ser temido é mais fácil, mas ser amado é muito melhor! Ser amado dá mais trabalho. Para ser amado é preciso tempo, é preciso aprender a perdoar, precisamos expor nossas fraquezas, precisamos abrir nosso coração, precisamos de tolerância, precisamos rir e chorar juntos, precisamos de misericórdia e compaixão, precisamos da graça de Deus, precisamos dizer a verdade, precisamos de Jesus, precisamos de respeito mútuo, precisamos de humildade e de muitas outras coisas boas.

Penso que a igreja e a família são assim. São lugares para se gerar e experimentar amor e não medo. São lugares de relacionamentos marcados pelo amor. Jamais seremos perfeitos nisso, mas é preciso viver buscando esse tipo de relacionamento, que se constrói sobre o fundamento mais sólido que existe: o amor.

Nunca diga que é melhor ser temido do que ser amado, diga sempre que é melhor ser amado do que ser temido. Seja um pai assim, uma mãe assim, um marido assim, uma esposa assim, um filho ou uma filha assim, um crente assim, um pastor assim, um líder assim. Seja o que você for, seja uma pessoa marcada pelo amor. É muito melhor.

Que Deus te abençoe.

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