sábado, 30 de maio de 2015

O lugar das coisas


Por Leonel Elizeu Valer Dos Santos


“Como joia de ouro no focinho de uma porca, assim é a mulher formosa que não tem discrição.” Pv 11; 22
É lugar comum no meio cristão dizer: “tudo tem seu tempo determinado”. Mesmo os que desconhecem as Sagradas Letras costumam também preceituar paciência, submissão ao tempo para obter o que se espera.
Entretanto, se todas as coisas estão fadadas a ocuparem certo “nicho” no tempo, não podemos ignorar que, a cada uma existe também uma adequação espacial. A reflexão supra aloca algo precioso, uma joia, em ambiente imundo, o focinho de uma porca, o que se mistura à lama, para ensinar que, além de tempo, cada coisa deve adequar-se ao espaço que lhe é coerente para fazer sentido sua existência. É precisamente sobre isso que quero refletir; o lugar das coisas.
Incidentalmente cito uma frase de Spurgeon: “Uma coisa boa não é boa fora do seu lugar.” Bastam dois ou três exemplos para, mesmo a mente mais simples concluir que se trata de uma verdade incontestável. Cabelos, por exemplo são uma coisa boa? A resposta parece óbvia, uma vez que muitos buscam tonificá-los evitando sua queda, e, os mais abastados fazem até implantes quando começam a cair. Contudo, achemos um fiozinho apenas em nossa comida, e veremos quão má se torna essa coisa boa. Aqueles que possuem uma ortografia mais esmerada, certamente identificam o “mal” que faz uma boa letra usada sem a devida destreza; o mundo virtual é cheio de gente que, ou não sabe, ou, pouco se importa em escrever incorrendo em erros crassos. Os pneus dos automóveis igualmente são coisas boas, indispensáveis até; mas, coloquemos um no lugar do volante, por exemplo, presto se tornará um mal; etc.
Cheias estão as páginas bíblicas de exemplos de pessoas que almejaram lugares que lhes não pertencia. Adonias quis o reino que era de Salomão; Saul a função que era de Samuel, quando, temerariamente ofertou sacrifícios invés de esperar pelo profeta; Davi colheu muitas desgraças ao usurpar o lugar de Urias cobiçando a esposa daquele; Geazi ficou leproso por falar em lugar de Eliseu coisas que contrariavam ao caráter santo do profeta; Uzias colheu o mesmo mal ao confundir atribuições de rei com as de sacerdote; etc. Uma expressão moderna que a esse vício define é: Sem noção.
Desgraçadamente, quando alguém erra seu lugar, na maioria das vezes se coloca mais alto que deveria. O Mestre ensinou: “Quando por alguém fores convidado às bodas, não te assentes no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e, vindo o que convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; então, com vergonha, tenhas de tomar o derradeiro lugar. Mas, quando fores convidado, vai, assenta-te no derradeiro lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante dos que estiverem contigo à mesa.” Luc 14; 8 a 10 Assim, se errarmos nosso assento, que seja para baixo.
Embora para o filósofo Ortega Y Gasset, o “homem é o homem e suas circunstâncias”, para a Bíblia, é o homem e seu caráter, evidenciado pelo exemplo, pelo agir, metaforizado como, fruto. “Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, toda a árvore má produz frutos maus.” Mat 7; 16 e 17
Afinal, o lugar original do homem no propósito Divino era em comunhão com o Criador; e, antes de se tornar um “sem noção” como hoje, soube após pecar, que era indigno da Face de Deus; com medo, se escondeu. Sabia que santo e profano são excludentes.
Hoje, infelizmente, muitas e muitas porcarias são ditas e feitas “em nome de Jesus”, como se, o Salvador Bendito tivesse pago tão alto preço para acariciar nossas paixões malsãs. Paulo tinha uma ideia mais saudável do lugar das coisas, pois, disse: “Todavia o fundamento de Deus fica firme tendo este selo: O Senhor conhece os que são seus; qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniquidade.” II Tim 2; 19
Embora, grosso modo, se equacione por aí, “Santo” com intercessor pós morte, quiçá, milagreiro, para a bíblia é um que se consagra, separa, ainda em vida, das coisas profanas. “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?... Por isso saí do meio deles, apartai-vos, diz o Senhor; não toqueis nada imundo, e eu vos receberei;” II Cor 6; 14 e 17
Ninguém é obrigado a optar pelo precioso; mas, se o fizer, que se afaste da lama.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-lugar-das-coisas

sábado, 23 de maio de 2015

A Religião e suas Gaiolas


Eu acho curioso quando pessoas ligadas à religião tentam patentear Deus. Sim, eles querem um deus domesticado, alguém que siga conceitos teológicos pasteurizados, costumes dietéticos, um deus que se submeta a convenções, que siga liturgias, que cumpra agendas, que consiga ser explicado, ainda que não possa ser compreendido.

Olhando esta geração, e conhecendo a história do cristianismo, penso que chegamos à última fronteira, não posso conceber algo pior. A igreja contemporânea tornou a idade das trevas medievais um parque de diversões. O que se faz hoje, em nome de Deus, reduziu a inquisição e as cruzadas a histórias de jardim da infância.

No Brasil, o fenômeno religioso-cristão é passível de estudo. Ainda que templos e catedrais estejam lotados, as manifestações de fé são cada vez mais patológicas. A quantidade de gente adoecida por causa de crenças perversas e infundadas é alarmante. A religião tem esse poder: quando não sara a consciência, adoece todo o resto. Se Marx fosse vivo, diria que esse tipo de prática é o “Rivotril do povo”.

O cristianismo brasileiro é, na verdade, uma hidra com muitas cabeças. A igreja de Roma tenta sobreviver à secularização, busca de todas as formas preservar heranças moribundas das práticas ibéricas que submergiram no Velho Continente. A igreja Protestante, por outro lado, é a expressão da perversão, resultado da alquimia que simbiotizou doutrinas judaizantes, positivismo filosófico, costumes das religiões Afro e o pentecostalismo americano do início do século XX. Exceções? Sim, existem, mas pouquíssimas!

Diante deste cenário, resta-nos perguntar: o que nós podemos fazer? Bem, penso eu, nada. Não creio que ação de homem algum, ou de instituição, doutrina, ideologia, métodos ou qualquer outra coisa seja capaz de alterar a situação. A solução não está no que se pode fazer, a partir da Terra, mas do que já está sendo feito, a partir dos Céus! Sim, Deus está se movendo há tempos, nós é que, talvez, ainda não tenhamos discernido.

Um bom observador, contudo, vai perceber que estamos diante de algo muito próximo ao que aconteceu nos dias de Jesus. Naquele tempo, a religião de Israel adoecera de morte. As práticas eram lesivas, o sacerdócio havia se transformado em exercício político, a interpretação da Lei era tendenciosa, o Sinédrio estava corrompido, a fé havia se dessignifcado. A corrupção era tal que o lugar da adoração transformou-se em centro de comércio, impulsionava a Nação. Nada do que se fazia ali tinha significados para Deus, até o perdão tornara-se negócio, era vendido e comprado por preço. Tudo tão semelhantes aos nossos dias...

Mas Deus tinha seus próprios planos. Ele irrompeu as tradições, desprezou geografias pseudo-sagradas, ignorou hierarquias, sublevou interesses e enviou João, o batista, para o deserto. Lá, ele pregava o arrependimento e conclamava o povo a mudança de vida, afirmava que o Reino de Deus estava próximo, Reino de consciência e fé, não de aparência e opulência.

Na verdade, o Senhor sabia que Anás e Caifás não se converteriam, que Herodes não se renderia a Graça, nem tão pouco o Sinédrio se sensibilizaria ao Evangelho. Por isso João foi enviado ao deserto, sem Templo, sem utensílios sagrados, sem os rolos da Torá, sem lugar para sacrifícios, sem liturgias, sem levitas, sem nada que não fosse o Espírito Santo, a Voz do que clamava no deserto! Nós sempre imaginamos que a solução para tudo está do “lado de dentro” da igreja, mas Deus, não raro, começa agindo no deserto, do “lado de fora”!

Dali por diante, quebrados os paradigmas, o Galileu foi “destruindo” o que encontrou pela frente, mitos foram caindo, um por um. Ele afirmava as multidões: “Ouvistes o que foi dito aos antigos...” e expunha os preceitos caducos da Lei. Em seguida, todavia, afirmava com autoridade: “Eu, porém, vos digo...”, e dava novo significado a tudo. Com leveza, o Evangelho foi sendo fecundado no coração das pessoas e os simples de coração puderam entendê-lo.

A igreja cristã brasileira pensa ser proprietária da fé em Jesus. Católicos e Protestantes se arvoram como legitimadores do Evangelho. Trancafiados em suas “gaiolas”, imaginam que o Senhor juntou-se a eles. Engano. Deus é claustrofóbico! Saiu da “arapuca” faz tempo. Aqueles que ainda enxergam e são honestos sabem que o “sistema” está condenado! Sim, há muita gente boa na Instituição-Igreja, gente de Deus, mas a luta deles é inglória, não há como salvar aquilo que já nasceu condenado. A igreja de Jesus triunfará! A dos homens, não...

É tempo de perceber o que o está acontecendo! Milhares começam a surgir, de todos os lugares, filhos da Esperança e da Graça, e esses não estão vinculados a nada, são apenas pessoinhas do bem, gente de coração singelo e boa consciência, sem tradições, sem liturgias, credos ou dogmas. Eles vão por aí, estão em pequenos grupos, em ajuntamentos informais, comunidades livres, partem o pão, falam com Salmos, sensibilizam-se com as dores das pessoas, comprometem-se com ações que promovam a dignidade humana e a preservação do Planeta.

O que posso lhe dizer, depois destes mais de 30 anos caminhando com Jesus, é que “O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai”. Há, novamente, muitas vozes que clamam no “deserto” e elas estão anunciando o arrependimento e a Salvação. Algo está se movendo, cada vez mais veloz, o Vento está soprando, livre e leve, portanto, discirna para onde está indo e siga junto com ele.


sábado, 16 de maio de 2015

O amor, uma figura e nada mais?

Por Robson Santos Sarmento


O amor, uma figura e nada mais?


Se folhearmos as páginas da história da humanidade, com toda uma abundancia de episódios de violência em face de raças, povos, comunidades, nações e, enfim, seres humanos, há ainda condição de creditar e acreditar no amor?

Aliás, essa palavra acaba por trazer toda uma conotação ambígua, ambivalente e até conflituosa. As vezes, traz uma sensação de ser uma figura e nada mais, sem nenhuma aplicabilidade na realidade concreta, com suas vicissitudes, com suas oposições, com suas tensões, com suas perdas, com suas indagações. Mesmo assim, vira e mexe, debruçamo – nos a ponderar sobre o mesmo.

De certo, os denominados cristãos carregam em si o amor como uma máxima, uma norma capital a ser seguida e praticada. Agora, mesmo diante de todo um arsenal de discursos referente ao amor, verdadeiramente, o vivenciamos, a partir dos ensinamentos efetivos de Jesus?

Afinal de contas, o amor apregoado pelo Carpinteiro da vida traz a tona as feridas, sem submeter o atingido a uma espécie de martírio, como os legalistas faziam e fazem, ao qual mais servem para enredar a pessoa num emaranhado de culpa e condenação.

Quem pecou, a lei deve ser cumprida, não é merecedor e outras sentenças de uma espiritualidade mesquinha e hipócrita. Em meio a todas as interpretações impiedosas das alas dos fariseus, dos intitulados arautos da tora, Jesus entra em cena, quebra os protocolos da vida restrita a uns, derruba os cercados do sábado e abre passagem para as boas novas (curar também passava a ser possível, aos sábados), estende as mãos para as mulheres, as ouve, as levanta, as trata com os ventos suaves e as lágrimas dóceis da esperança, da fé de recomeços.

Não para por ai, ouve, ouve e ouve, antes de falar, os samaritanos, o centurião romano, a mulher síria – fenícia e joga as redes da intensidade, da proximidade e profundidade, pelo qual todos e tudo encontram sua restauração e reconciliação, ou seja, o sentido de ser e existir. Eis o aspecto de inquestionável peculiaridade do amor encarnado na revelação do Cristo Ressurrecto; em outras palavras, o amor voltado a apontar para a vida em parceria, compartilhada e em participação. Sem sombra de dúvida, o amor personificado na Graça não nos torna compromissados com uma visão egoísta, individualista, manipuladora, mas sim abre oportunidades para os acertos, para os ajustes, para as pontes de diálogo e serviço. Cada vez mais, chego a conclusão de que os feitos extraordinários tão propagados por lideranças carismáticas, somente, mantém as pessoas e não as direciona ao discipulado, a confissão, a uma espiritualidade criativa, revolucionária, que assume os riscos do não e das perdas, em prol de mudanças fundamentais nas inter – relações humanas. Deveras, todos os domingos (e aqui abro um parêntese para os evangélicos e me incluo) escutamos temas sobre o amor, como o amor permanece, ouve e conhece e deveríamos abrir os olhos para perguntar:

- Eu acredito nisso?

Vou adiante, o amor ecoado por Jesus não instituiu nenhuma bandeira, não fez muros de divisão entre povos, não desumanizou o próximo (por ser negro, por ser não ser cristão, por ser ateu, por isso, aquilo e acolá), não removeu do ser humano a arte, a poesia, o romance, a pintura, a escultura, não incitou nenhuma inquisição aos pensadores da ética, da ciência, aos homens e mulheres que nem sequer tiveram contato com Cruz do Ressurrecto, não fez vistas grossas para o tatuado, a garota de programa, a mãe solteira, o homossexual, o favelado, não elevou a pobreza como passaporte para a eternidade e muito menos a riqueza como prova da divindade, não se vestiu com as roupagens da teologia e suas elucubrações, não deixou de estar com os boêmios, com os tido como anarquistas e desafiadores do sistema pré – estabelecido, não usou as catástrofes para acusar ou condenar, não se colocou como um fornecedor de respostas para todas as questões da vida. Então, que amor é esse?

E esse amor despido de rótulos, de ufanias, de triunfalismos tolos!
Eita amor arredio, diante das tentativas de o engessar, de o amordaçar, de o tiranizar com idealismos e, em direção oposta, abraça, ouve, estende, recomeça, transforma, liberta e aceita ser chamado de inocente, de desperdício, de incompreensível. Por ora, talvez precisamos, com urgência, desse amor chamado Cristo Jesus para desmoronar com todos os labirintos que tem afligido e assolado as pessoas.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-amor-uma-figura-e-nada-mais

domingo, 10 de maio de 2015

A vida cristã é tudo sobre relacionamentos.

Por Josemar Bessa


Só podemos viver de maneira digna do evangelho e como homens regenerados na comunidade dos santos, não sozinhos.  A Bíblia nos dá ordens múltiplas e claras sobre isso. Argumentos sobre argumentos:

Seja dedicado um ao outro (Rm 12:10).

Dê preferência um ao outro (Rm 12:10).

Ser da mesma mente com o outro (Rm 12:16).

Aceitando um ao outro até que ele se torne maduro no conhecimento (Rom. 14:1).

Aceitar um ao outro, mostrando deferência (Rm 14:1-5; 15:07).

Considerando o outro superior a si em amor (Rm 14:05;. Fil 2:03).

Edificando um ao outro (Rm 14:19;. 1 Ts 5:11).

Admoestando uns aos outros (Rm 15:14).

Servir uns aos outros, mostrando deferência em questões de liberdade (Gl 5:13).
Levar a carga uns dos outros (Gl 6:02).

Seja gentil com os outros (Ef 4:2).

Ser gentil com o outro, de modo a preservar a unidade (Ef 4:32).

Falar a verdade um ao outro (Efésios 4:25; Col 3:9).

Se sujeitar um ao outro (Efésios 5:21).

Mostrar compaixão uns aos outros (Colossenses 3:12).

Suportando uns aos outros e perdoando (Col. 3:13).

Perdoar uns aos outros (Colossenses 3:13).

Ser cheio do Espírito Santo, adorando com hinos saturados pela Palavra admoestando uns aos outros (Cl 3:16;. Ef 5:19).

Confortar uns aos outros com a esperança da volta de Cristo (1 Ts. 4:18).
Encorajar uns aos outros (1 Ts. 5:11).

Viver em paz uns com os outros (1 Ts. 5:13).

Buscai o bem uns aos outros (1 Ts. 5:15).

Encorajar um ao outro a abandonar a incredulidade e dureza de coração (Hb 3:13).

Estimular um ao outro para o crescimento espiritual (Hebreus 10:24).

Encorajar um ao outro pela participação fiel em sua igreja local (Hb 10:25).
Confessar os pecados uns aos outros (Tiago 5:16).

Orar uns pelos outros em suas aflições físicas (Tiago 5:16).

Seja sofredor e paciente para o outro (1 Pedro 4:8;. Ef 4:2).

Seja hospitaleiro uns com os outros sem queixas (1 Pedro 4:9).

Servir uns aos outros (1 Pedro 4:10;. Gal 5:13).

Agir com humildade para com o outro (1 Pedro 5:5).

Demonstrar afeto santo uns aos outros (1 Pedro 5:14).

Participar da santa caminhada com o outro (1 João 1:7).

Recuse-se a tornar-se ressentido com o outro (1 João 3:11-12).

Estar atento às necessidades uns dos outros (1 João 3:16-17).

Lutar contra o medo juntos pelo crescimento no amor (1 João 4:18).

Andam na verdade juntos (1 João 3:18, 2 João 1:5).

A vida cristã é tudo sobre relacionamentos. Amar uns aos outros é uma poderosa ferramenta evangelística, como Jesus diz: "Nisto todos saberão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros" (João 13:35).

Há uma crença em alta de que “somos especiais, de importância fundamental no plano de Deus, que há um plano especial para mim...” – grande parte dos cristãos hoje se sentem na beira de um destino messiânico para a terra.

A confiança de que o Senhor tem um plano e propósito especial só para eles molda a forma como eles agem, se movem, criticam a igreja...

Mas quando lemos a Bíblia, fica evidente que é a igreja que tem um significado ímpar na história humana. Mas é a igreja “pessoa Jurídica” – a comunidade dos salvos, o conjunto deles, e não os indivíduos distintos que a compõe... Meu destino especial como um crente, regenerado, é ser parte da igreja, e é a igreja que é o grande foco no plano mais amplo de Deus, e não eu.

“Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, Para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” - Efésios 5:25-27

“Porque somos membros do seu corpo, da sua carne, e dos seus ossos.” - Efésios 5:30

“Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja” - Efésios 5:32


Fonte: http://www.josemarbessa.com/2015/05/a-vida-crista-e-tudo-sobre.html

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Auschwitz e a violência dos normais

Por Derval Dasilio

“Eu sou a videira verdadeira, permanecei em mim.” João 15.1-8

Temos medo da violência inimputável? Se não temos, por que estaria ela diluída no alerta permanente sobre os perigos que teremos de enfrentar na próxima esquina, ou no próximo sinal, indivíduos armados assaltando e matando por insignificâncias? Perigos são derramados desde massacres de crianças em escolas; massacres em templos religiosos, atentados terroristas nas ruas das cidades onde ocorrem maratonas internacionais, ao lado do medo de mendigos agressivos, de torcedores de futebol executando rivais, de delinquentes sexuais à solta e de gangues em arrastões nas praias mais famosas do país?

Na famigerada operação Lava-Jato, as principais empreiteiras do país podem requerer falência, acobertadas pela Constituição, se a justiça assim determinar como penalidade à corrupção de alguns dos seus funcionários – distribuindo propinas milionárias a dirigentes da Petrobrás –, e 500 mil postos de trabalho estarão comprometidos com o desemprego. E com esses, cerca de 100 mil famílias, que temem por seu futuro.

O que é a justiça, do ponto de vista humanístico? No julgamento de Eichmann, carrasco nazista sequestrado e levado para Israel, fazendo a cobertura por um grande jornal, o “New Yorker”, Hannah Arendt, uma das mais importantes filósofas do século 20, observava: “o verdadeiro desafio do processo é: como julgar um indivíduo normal, uma pessoa média, que cometeu todos esses crimes, contribuindo no assassinato de milhões de judeus, ciganos, homossexuais, mas que não tem consciência da natureza criminosa de seus atos”?

Eichmann era um homem normal, na medida em que foi apenas um entre milhares de outros a participar da “limpeza racial” que ocorreu sob domínios ideológicos nazistas. Auschwitz: tão simbólica na violência contra pessoas, raças e povos, mas tão real para a humanidade humilhada! Auschwitz: cheia de dor, infâmia e vergonha pelo silêncio, consentimento e conivência de sociedades, de homens e mulheres, para com regimes totalitários.

Com esses exemplos, já nos aproximamos da resposta do cristão, quando perguntado sobre essas coisas. Cuidaremos, assim, da justiça e da verdade como pilares sobre os quais construiremos a vida de fé. Segundo González Ruiz, devemos lembrar-nos de que o Deus dos Cristãos é justo, não destruindo, mas transformando o homem e as estruturas, nas lutas pela justiça. Seria possível buscar proteção ao medo e violência existentes sem ânimo de vingança, mas com o espírito do perdão, em favor da misericórdia e da compaixão, enquanto enfrentamos os problemas de nossos dias?

Hannah Arendt dizia: Eichmann era “simplesmente incapaz de pensar”. Ela o avaliou como “no momento em que a consciência cessara de funcionar”. Insistia na enormidade dos crimes contra a humanidade, cometidos no cotidiano, evocando sociedades modernas sem consciência da responsabilidade com doentes, famintos, pobres e miseráveis, hoje entre 2 bilhões de habitantes do planeta.

Tudo isso sem falar dos milhões de refugiados, como os que pereceram nos naufrágios recentes no Mediterrâneo. E não apenas contra indivíduos que cristalizam em si, circunstancialmente, o mal de todos. Do naufrágio entre a Líbia e a Itália, contrastando com o noticiário exaustivo referente ao piloto suicida que leva consigo 150 passageiros inocentes, o jornal inglês “The Sun” aponta como resolver a questão de migrantes africanos árabes que perecem no mar: “barcos de resgate? Eu usaria canhoneiras para estancar os imigrantes...”.

Lidamos com o mal, mas também somos alvos da compaixão de Deus, quando nos mostra a desarmonia da vida e da impiedade ao redor. Como afirmar a transcendência do Deus cristão, cheio de ternura pelos temerosos, ou pelas vítimas soterradas sob escombros da humanidade humilhada, perdida em suas incongruências, mas apontada para a reconstituição e recuperação no evangelho de Jesus Cristo? Outro alemão extraordinário, Lutero, poderia dizer, citando as Escrituras: “O justo viverá pela fé”. Certamente, fé na justiça de Deus: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.4).


Derval Dasilio:  É pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).