sábado, 4 de julho de 2015

A armadura que visto


Por Alessandra Dantas

A armadura que visto já não me serve mais. Talvez esteja na hora de me despir daquilo que me protege de tudo, inclusive do que eu deveria sentir. Mas preciso de coragem por que sei que quando me despir, irão me machucar, pois já não estarei protegido como antes. Irão me ferir, vou sentir a dor, gritar, chorar, implorar para que ela vá embora. Vou olhar para minha armadura e querer vesti-la novamente.
A palavra armadura que protege o tórax, veio do latim, coriácea vestis de corium, roupa, veste de couro, armatura, o mesmo que arma, material bélico ou conjunto das defesas metálicas (couraça, capacete etc.) que protegiam o corpo do guerreiro do séc. XIV ao séc. XVII.
Nos textos bíblicos, armadura tem uma simbologia muito interessante, pois representa uma estrutura humana que não serve para a batalha espiritual. É pesada, representa fardo, técnica e estratégias do homem, porque toda pessoa que se utiliza de uma armadura, se baseia nas habilidades humanas, deixando de confiar em Deus, nas estratégias de Deus e passando a confiar no próprio homem. Foi assim com Saul em 1 Samuel 17.38: “E Saul vestiu a Davi das suas vestes, pôs lhe sobre a cabeça um capacete de bronze, e o vestiu de uma couraça.”
A armadura de Saul não servia em Davi, pois a armadura de Saul foi desenvolvida para batalha física e não para espiritual, ela não representava a presença de Deus, apenas força bruta. As armaduras eram feitas sob medida e aquela, definitivamente, não foi feita para Davi. A realidade de Davi era outra e ele nunca havia usado uma armadura, nem uma espada. Ele teve grandes dificuldades em se locomover. Era uma armadura emprestada.
Em sua cegueira espiritual, o Rei Saul não percebeu que Davi corria o risco de enfrentar o “Golias” com uma armadura que não lhe pertencia. A armadura de Saul era de Saul, a armadura que Davi usou era espiritual, era invisível, era sob medida, tecida na intimidade com Deus, na comunhão, no tempo que passou diante dEle.
Não podemos usar a armadura de outra pessoa. Cada um deve desenvolver sua própria experiência. Quanto a minha armadura humana, é com cuidado que me livro dela, com bastante cautela. Não quero que alguém me veja desprotegida e tente me atingir, pois confesso: ainda sou fraca. Sou fraca por não possuir domínio do que tentava me abater, sou fraca por precisar de algo que não me pertence para me proteger. Fraca por não deixar que me firam para que eu possa sentir a dor e aprender a me restituir dela. Mas mudarei de ideia assim que a dor passar, por que vou aos poucos me tornar uma pessoa mais forte e quanto mais feridas surgirem, mais rápido elas cicatrizarão, menos dor irei sentir e mais atenta vou estar.
Prepararei-me melhor para novas experiências, e como tudo tem dois lados, saberei com o tempo aproveitar melhor os momentos que elas proporcionam, momentos de entusiasmo, de alegria, de ansiedade, momentos que irão fazer meu coração bater mais rápido e que me lembrarão que estou mais forte e mais experiente. Momentos que vão me fazer olhar para trás e saber que aquela velha armadura, que antes usava, já não me pertence mais.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-armadura-que-visto

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