sábado, 27 de fevereiro de 2016

A vida sem respeito não é vida, é rejeito!

                Onda de lama, procedente do rompimento de barragens em Mariana (MG), invade o Rio Doce Fred Loureiro/Secom-ES


Por Iracema Claro


O Brasil de cores e seu povo cheio de dores.
A cor da bandeira do choro mineiro é marrom.
A dor da morte é vivida, cheirada e sentida.
A vida foi mergulhada na morte marrom.

A água ficou sem ar,
Sem razão de ser bebida, molhada,
fresca, tocada, sentida.

O ar ficou tristonho
O rosto ficou sem cor
E a cor da dor: Marrom.

Sentiu o mar
Sentiu o rio
Sentiu o ribeirinho
O pescador sem pão, sem rio, sem ninho.

Marrom ficou o brilho do olhar do pescador
Marrom ficou a vida do ribeirinho ...que dor!
Marrom ficou a vida mineira
Extasiada pela tragédia, ficou a pátria inteira.

O rio sem água pra viver
Há água, pra não beber
O peixe sem água sem vida,
Ninguém mais nada, nada!

O mundo viu isso, tragédia anunciada.
Comum desrespeito por aqui, óh minha pátria amada!

Em silêncio de morte responde a natureza:
Poder sem responsabilidade gera morte, secura, desolação, vergonha e tristeza.


A vida sem respeito não é vida é rejeito!


sábado, 20 de fevereiro de 2016

É sexta-feira!!



É sexta-feira
Jesus está orando
Pedro está dormindo
Judas está traindo
Mas o domingo está chegando!


É sexta-feira
Pilatos julgando
O conselho está conspirando
A multidão está difamando
Mas eles não sabem
Que o domingo está chegando!


É sexta-feira,
os discípulos estão fugindo
como ovelhas sem pastor
Maria está chorando
Pedro está negando
Mas eles não sabem
Que o domingo está chegando!


É sexta-feira
Os romanos batem em meu Jesus
Eles o vestem de escarlate
Eles o coroam com espinhos
Mas eles não sabem
Que o domingo está chegando!


É sexta-feira
Veja Jesus caminhando para o Calvário
Seu sangue pingando
Seus pés tropeçando
Sobrecarregado está em seu espírito
Mas você vê, é só sexta-feira
Mas o domingo está chegando!


É sexta-feira
O mundo está vencendo
As pessoas estão pecando
e o mal está sorrindo
É sexta-feira
Os soldados pregam as mãos do meu Salvador
Na cruz
Pregam os pés do meu Salvador
na cruz
E então eles o crucificam
Ao lado de criminosos


É sexta-feira
Mas deixe-me dizer-lhe uma coisa
O domingo está chegando!


É sexta-feira,
os discípulos estão questionando
O que aconteceu com o seu Rei
e os fariseus estão celebrando
Que seu plano astuto
foi alcançado com sucesso
Mas eles não sabem
É apenas sexta-feira,
Mas o domingo está chegando!


É sexta-feira
Ele está pendurado na cruz
Sentindo-se abandonado por seu pai
deixado sozinho e morrendo...
pode alguém salvá-lo?
Ooooh
É sexta-feira
Mas o domingo está chegando!


É sexta-feira
A terra treme
O céu escurece
meu rei entrega seu espírito


É sexta-feira
a esperança está perdida
a Morte ganhou
o pecado conquistou
e Satanás apenas ri.


É sexta-feira
Jesus é enterrado
Soldados montam guarda
E uma pedra é rolada no sepulcro
Mas é sexta-feira
Só é sexta-feira
Mas o domingo está chegando.


Josemar Bessa - Tradução livre e adaptação de um poema de M. Lockbridge


Fonte: http://www.josemarbessa.com/2016/02/e-sexta-feira.html

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Não quero flores

                                       Fotografia e edição: Claudine Bernardes
                                 
Claudine Bernardes


Quando eu fechar meus olhos,
será o mais natural possível,
Sem mágoas, remorsos
ou arrependimentos.

Quando apagar-se a luz
da minha vida neste corpo,
Não quero que lágrimas
sejam derramadas sobre
a matéria que se fará presente.
Não espero lamentações nem dor.

Quando meu espírito deixar meu corpo, e
meus olhos não brilharem mais,
ou sorriso não existir mais em minha face,
não se entristeçam por isso.
Eu fui para o meu Criador.

Não quero coroas caras,
não deixem que as flores
sejam sepultadas comigo,
Não as matem por mim.
Deixem-nas viverem
até que o sol as queimem
e elas sequem e murchem naturalmente.

Porque então, neste dia eu serei
como uma flor seca pelo sol da vida.
Uma flor que um dia nasceu,
deixando que sua raiz se aprofundasse na terra-vida.
Que fez o máximo para deixar o dia
dos que a viam mais alegre e perfumado.

Não chorem pela flor que murchou,
se alegrem pelas lembranças que ela deixou.
(Claudine Bernardes)

Esta poesia foi publicada no blog www.acaixadeimaginacao.com 
http://acaixadeimaginacao.com/2015/11/19/nao-quero-flores/


domingo, 7 de fevereiro de 2016

Freud, Jung e a carta aos Colossenses

Por Derval Dasilio


Gênio que fez e ainda faz a felicidade de muitos, desvendando nosso egocentrismo, Freud descreveu também outro gigante interior que vigia nosso comportamento dia e noite: o superego! Essa força nos obriga a respeitar valores éticos, criar novas metas para a mente humana, novos rumos, outras estrelas-guias que orientem a caminhada da humanidade. Claro, com ética e moralidade. A ética nos ensina a alcançar ideais -- enquanto educa para bem-viver -- e a respeitar as diferenças de cada um, sejam culturais, raciais, ideológicas, religiosas, por exemplo.
                                                                 
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Carl Jung, que estudou profundamente o inconsciente coletivo nas sociedades orientais e ocidentais, culturas africanas, indianas, diz que os elementos que compõem o homem, tidos como fonte de todo o mal existente, não confirmam as teorias freudinas centradas somente no indivíduo. Caso contrário, pensava, com a capacidade de agir racionalmente somente em benefício próprio, não restaria mais esta espécie animal sobre a face da terra. O ser humano não é composto somente de tendências repreensíveis, e abrange outros comportamentos nobres como a compaixão, a misericórdia e o cuidado. Do mesmo modo, detém um certo número de qualidades, visto da normalidade comportamental. Fazem parte dessa normalidade reações moralmente apropriadas, percepções sobre realidades injustas, consciência sobre o coletivo, entre as demais, sobre solidariedade e a sobrevivência, impulsos criadores... O homem almeja fazer parte de uma nova humanidade.

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Construindo altares à beira do abismo (diz Rubem Alves), o homem sonha, constrói utopias, imagina mundos melhores possíveis, buscando dentro de si o que é mais profundo e íntimo, enquanto mergulha nas profundidades mais tenebrosas para entender o porquê das escuridões nos processos civilizatórios, no tempo e no espaço em que vive. Embora a consciência de si mesmo o deixe atônito quanto ao que vê em distropias que negam os melhores sonhos da humanidade, porque não há uma unidade na consciência do coletivo e suas necessidades, exigindo a denúncia, a indignação, quando se nega cuidado com o outro ou a outra; quando a compaixão é sufocada pelo egoísmo; quando a ganância faz perder o sentido da partilha e da solidariedade.

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Mediante o sonho, ou utopia, teríamos palavras como essas: “a utopia penetra no ser humano mais profundo, mais coletivo, mais solidário, mais verdadeiramente humano, mais justo, mais ético, mais durável”, senão mergulharíamos na penumbra da noite original de onde viemos. Como disse Carl Jung, quando o homem estava no “Todo”, e o “Todo” estava nele, sonhava, vivia na busca da partilha e igualdade nos bens que deveria partilhar.

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Concordava com São Paulo, o Apóstolo: “mas, agora, abandonem estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar. Não mintam uns aos outros, visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas ‘Cristo é tudo e está em todos’”.

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“Portanto, como povo escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistam-se do amor, que é o elo perfeito”.

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“Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E sejam agradecidos. Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração”.

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“Tudo o que fizerem, seja em palavra seja em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai. Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo. Quem cometer injustiça receberá de volta injustiça, e não haverá exceção para ninguém”.

(Extratos da Carta aos Colossenses, no Novo Testamento)

Foto: Collwyn Cleveland / Freeimages.com


Derval Dasilio é pastor emérito da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).


Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/freud-jung-e-a-carta-aos-colossenses