sábado, 26 de março de 2016

Vou-me embora para Emaús. A esperança acabou?

Por Valdir Steuernagel


O vai-e-vem entre Emaús e Jerusalém

Quantas não são as vezes em que a gente se põe a caminho de Emaús? Corpo cansado a produzir um passo pesado. Afinal, as "ocorrências destes últimos dias" não estão para uma fácil digestão e os verbos da esperança parecem fluir mais soltos quando conjugados no passado.

Pois um dia desses, Cléopas e seu amigo disseram um ao outro: "Vamos voltar para casa. Vamos a Emaús, pois por aqui parece que tudo se acabou para nós."

Os acontecimentos dos últimos dias, em Jerusalém, haviam sido, além de intensos, desesperadores.

Eles mesmos se sentiam como que virados pelo avesso. O mestre deles havia sido morto já fazia três dias, e a instituição religiosa e política parecia cantar vitória uma vez mais. E sobre Jerusalém se levantava novamente o lamento que o próprio mestre havia entoado:

“Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas ao que te foram enviados!...” (Mt 23.37a)

O lamento, porém, como que caía no vazio, na contramão da história. Pois Jerusalém cantava a vitória do status quo, da lei e da ordem, do controle e da força, da autoridade instituída e da interpretação teológica oficial, nessa verdadeira tentativa da domesticação de Deus.

Quanto a Cléopas e seu amigo, o mundo simplesmente havia ruído. As suas esperanças, primaveris como a vida, haviam achado o caminho do esgoto. Como eles mesmos dizem, num inconfundível tom depressivo:

"Nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel, mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais cousas sucederam."

Eu, com as mãos posto sobre o teclado, pensativo, paro por um momento. Em verdade, ao ler o texto (Lucas 24:13-34) que descreve a caminhada de Cléopas e seu amigo, de Jerusalém a Emaús, após Jesus ser morto, eu penso em nós e em nossa realidade. Eles falavam, deprimidos e cansados, sobre os acontecimentos de Jerusalém e eu penso em nosso pais e nesse estado de susto, insegurança e até de raiva no qual vivemos. Estamos cansados de ser enganados e submetidos a um sistema político insustentável e desligado da realidade, a uma crise econômica gerada por nós mesmos e nosso vilipendiado e corrupto sistema econômico. Os preços sobem, a inflação volta, a infraestrutura está carente, o sistema de amparo social está ameaçado, os políticos aumentam a verba partidária de forma assustadora e as prisões e delações, relacionadas a “Lava jato”, parecem não ter fim. A verdade é que está difícil esperar e acreditar que dias melhores estão a nossa porta.

A ponte

Fazer a ponte entre a Emaús de ontem e este Brasil de hoje é complicado e até complexo. Mas que a gente está profundamente revoltado e decepcionado com a “nossa Jerusalém”, isso está claro. Que as ocorrências destes últimos dias, como diz Cléopas, estão nos deixando com vontade de ir embora, isso também é realidade. E que, por vezes, os verbos da esperança parecem negar-se a ser conjugados no presente e no futuro, isso também é verdade.

É por isso que a gente até nem parece estar tão distante destes dois andarilhos a caminho de Emaús. Afinal, parece que eles decidiram cuidar da sua vida, pois com Jerusalém não adiantava brigar. E a própria esperança de um novo tempo --tempo messiânico -- havia murchado. O melhor caminho a seguir parecia ser aceitar este convite tão forte de ir para casa e cuidar da própria vida. Quantos de nós não temos passado exatamente por esta experiência. O Brasil, afinal, parece não ter jeito. O poço da crise econômica parece não ter fundo. Os políticos evangélicos não parecem ser diferentes dos outros e juntos eles montam os seus conluios. E, não por último, a nossa vida religiosa parece não querer mais brigar com Jerusalém e a gente parece querer se recolher para a intimidade da sobrevivência.

A gente até continua lendo a Bíblia, indo aos cultos e saudando os irmãos. Tudo isso, porém, constitui-se numa espécie de culto da saudade. Doces memórias da alma. Mas já não se briga mais com Jerusalém e já não se espera por mudanças que venham a alterar o status quo. A gente vai viver em Emaús, resignado com Jerusalém e com saudades do tempo da esperança.

Mas há, nesta história contada por Lucas um elemento diferenciador. Diz o texto que "o próprio Jesus se aproximou, e ia com eles".

Jesus, com pinta de peregrino religioso voltando de Jerusalém, chega como quem não quer nada. Pergunta acerca das preocupações deles, dos acontecimentos em Jerusalém, e vai, desse jeito manso, chegando perto do coração deles. Num segundo momento, porém, Jesus assume a interpretação do texto e da realidade, da Bíblia e de Jerusalém. Será, pergunta Jesus, que não há outro jeito de ler o texto e interpretar as ocorrências destes últimos dias? Será que Deus não poderia estar atuando exatamente através destes acontecimentos que parecem ser tão estranhos e absurdos? Será que Deus não está escrevendo a sua história da salvação em meio a essa confusa história humana? Será que não é exatamente isso, que deveria acontecer, seus "néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!"?

É preciso voltar para Jerusalém

Mais tarde, já sentados na cozinha da casa em Emaús, Cleópas e o seu amigo começam a relembrar essa conversa teológica/histórica de Jesus e ambos se lembram de como o coração lhes ardia naquele momento de ouvir profundo. O tempo havia passado tão rápido, justamente porque estava marcado por uma caminhada tão profunda: Essa silenciosa chegada de Jesus, com perguntas tão pastorais... Esta sua reinterpretação da Escritura que fazia arder o coração... Esta sua liberdade de aceitar o convite para chegar na cozinha da casa deles para tomar um café... Este seu gesto tão sacramental de repartir o pão... Este seu desaparecimento instantâneo como que a selar uma reviravolta completa na cabeça, no coração e nos pés daqueles dois discípulos do caminho da cruz... Mas agora é preciso voltar a Jerusalém justamente e também porque agora se sabe que Jerusalém não tem a última palavra!

Sacerdotes e autoridades, calai! Discípulos, acreditai! Passos cansados, revigorai! Coração deprimido, desperta! Que se processe uma nova leitura da Bíblia e se reconjugue o verbo da esperança, pois, o Senhor ressuscitou:

"Então os dois contaram o que lhes acontecera no caminho e como fora por eles reconhecido no partir do pão."

Até se pode entender que há na vida e na história momentos em que se quer voltar a Emaús. E Jesus até caminha conosco este pedaço da nossa jornada de vida. Mas, definitivamente, é preciso voltar a Jerusalém, pois é lá que se precisa contar a história que faz a diferença: Jesus vive! E esta diferença é tanto pessoal como política.

É a diferença que nos coloca de pé no caminho da vida. É a diferença que anuncia e denuncia que Jerusalém, com seus religiosos e seus políticos não tem a última palavra. Que Jerusalém precisa saber que, quando Deus fala, há esperança para os cansados a caminho de Emaús --e Jerusalém precisa calar, por mais que murmure.

Voltemos pois, a Jerusalém, para contar esta história que nos alimenta com o pão de cada dia e nos faz reconjugar os verbos da esperança. Você me permite caminhar com você?

• Valdir Steuernagel é pastor na Comunidade do Redentor, em Curitiba. Faz parte da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Mundial e da Visão Mundial.


Foto: São Paulo - Com bandeiras do Brasil amarradas ao corpo, um grupo de manifestantes permanece hoje (17) bloqueando os dois sentidos da Avenida Paulista contra a nomeação de Lula para a Casa Civil e pelo impeachment da presidenta (Elaine Patrícia Cruz/Agência Brasil)


Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/vou-me-embora-para-emaus-a-esperanca-acabou

sábado, 19 de março de 2016

A (minha) misericórdia dura para sempre?

Por Klênia Fassoni


“A sua misericórdia dura para sempre” é o refrão do Salmo 136. Cada declaração a respeito de Deus, do que ele é, faz ou fez é sucedida por esta expressão. Todos nós a conhecemos e vezes sem conta a recitamos em nossas celebrações. As palavras amor, bondade e benignidade são usadas em outras versões da Bíblia.

Surpreendi-me ao encontrar esta expressão como referência a nós, simples mortais. Está no Salmo 112, verso 9: “ele dá generosamente aos pobres, e a sua bondade dura para sempre” [NTLH]. Neste Salmo de apenas 10 versos é possível listar muitas qualidades dos que são fiéis a Deus, dos que o temem. É impressionante que várias delas estejam relacionadas ao trato de outros, principalmente dos necessitados. O homem e a mulher fiéis são: bondosos, misericordiosos, honestos, têm pena dos outros, emprestam e dão generosamente, distribuem liberalmente, são justos. E fazem isto continuada e insistentemente. Por quê? Porque a sua bondade (ou, a sua justiça - palavra usada em 3 versões) dura para sempre.

E isto não lhes é uma obrigação, mas algo que flui deles, naturalmente, fruto de sua fidelidade a Deus. E este tipo de comportamento é fonte de alegria. Em algumas versões o título atribuído ao Salmo é “A Felicidade daquele que teme a Deus” [ou: de quem é fiel a Deus].

Por que não seria assim? O seguidor caminha com o líder, o aluno aprende com o mestre, o filho compartilha dos atributos e das prioridades do Pai. O Salmo 137 - um chamado para louvar a Deus - coloca em evidência o fato de que “Não há ninguém como o Senhor, nosso Deus”, que livra os pobres da humilhação, tira os necessitados da miséria, faz destes companheiros de governantes, dá filhos, lar e honra à estéril.

Nosso Pai é o Deus que intervém em favor dos fracos, dos mal sucedidos, dos esquecidos, com bondade e com justiça. Nós – como filhos – compartilhamos da natureza do Pai! Se isto não acontece, há algo muito estranho na fé que professamos.

João é enfático: “Queridos amigos, amemos uns aos outros porque o amor vem de Deus. Quem ama é filho de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não o conhece, pois Deus é amor”. [1 Jo 4.7 e 8]

Nota: Versões da Bíblia consultadas: Revista Atualizada, Nova Tradução na Linguagem de Hoje e Tradução Brasileira.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/a-minha-misericordia-dura-para-sempre

sábado, 12 de março de 2016

A Queda – Qual é o destino do pecado do homem?



Por Michael Lawrence.

Um dos principais enganos que nós fazemos a respeito da história bíblica da Queda é pensar nela somente como um trágico evento histórico que aconteceu no passado, analogicamente ao tsunami no natal de 2004, porém com proporções bíblicas. O problema desse modo de pensar é que nós estamos acostumados a retomar as nossas vidas e nos recuperar de tais obstáculos. Bastante tempo e muito esforço foram necessários, mas Chicago se reergueu após o incêndio de 1871; e o mesmo foi verdade em relação a Banda Achém, Indonésia, após o tsunami de 2004. Porém a Queda não é simplesmente uma tragédia que aconteceu. Embora seja certamente um evento histórico, a Queda é uma realidade contínua que prossegue desenvolvendo-se e afetando as nossas vidas. Assim como uma doença que começa em determinado ponto no tempo, mas progride e segue o seu curso, a Queda tem a uma trajetória, um alvo que ainda não foi alcançado. E para acordarmos da ilusão de que o pior já passou, nós precisamos entender o percurso da Queda.

Para começar, a Queda é progressiva, não estática. Essa é uma das razões porque a história da Queda é tão importante. Ao seguirmos do primeiro e invejoso homicídio de Caim até o assassinato banalizado de Lameque até a cultura de violência dentre os homens dos dias Noé, nós vemos que as coisas ficam ainda piores. Elas não estacionam, e não melhoram. Todavia, apesar da progressão do pecado e da Queda estarem amplamente registradas na história humana; ela é menosprezada pelo coração humano. Como Paulo diz em Romanos 6, a nossa escravidão nos leva a dedicar os nossos corpos a uma contínua e crescente perversidade. Paulo assim afirma em Romanos 1.21: “porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato.” E depois Paulo diz três vezes em devastadora sucessão: “Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração”; ” Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames”; “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável” (Rm 1.24, 26, 28).

No estágio em que estamos, nenhum de nós é tão ruim quanto poderia ser. Porém abandonados à nossa mercê, sem a mão refreadora de Deus ou a graça de Jesus Cristo no evangelho, o pecado continuaria a progredir em nossas vidas. Ele nunca retrocede. Ele sempre avança, porque a Queda tem um alvo. Esse alvo é a nossa morte e condenação eterna. O pecado irá nos conduzir a uma perversidade maior e excedente. Essa é uma das razões porque o vício é uma força tão poderosa e uma imagem tão poderosa do pecado. Por definição, um vício nunca se satisfaz. Ele sempre quer mais. Idolatria é como um vício. Idolatria nunca concede o que promete, porém, assim como o vício, simplesmente diz: “Tenta outra vez… e um pouco mais; talvez desta vez você se satisfaça”. Assim como o viciado abandonado ao seu vício, é uma coisa terrível ser abandonado por Deus em nosso pecado, pois o nosso pecado, aparentemente domado no momento, planeja nos devorar.

Essa é uma das razões porque Deus nos deu a lei: com o objetivo de restringir o pecado em seu avanço desenfreado. Como crentes, nós não devemos temer a lei. Ainda que erroneamente possamos utilizar a lei para tentarmos parecer melhores diante de Deus, nós também podemos receber a lei como uma boa dádiva de Deus. Tendo sido libertos do poder do pecado pelo evangelho, a lei não mais nos condena, mas nos mostra como viver uma vida que reflete o santo caráter de Deus. Como pregadores, nós precisamos fazer mais do que utilizar a lei como caminho para trazer as pessoas para Cristo. Também precisamos ensinar a lei de modo que os cristãos saibam como viver num mundo desregrado e impiedoso.

Enquanto cidadãos, nós não devemos temer ou nos opor à ação e ao exercício da lei; e enquanto cidadãos cristãos, nós devemos ativamente promover boas leis. Românticos como Rousseau e seus herdeiros modernos, seja os da esquerda ou direita liberal, estão redondamente enganados. O estado da natureza não é próximo do estado da inocência. Pelo contrário, o estado da natureza é próximo do estado de vício e brutalidade. Deus nos concedeu a lei para restringir tal avanço. Assim, como Paulo nos lembra em Romanos 13, o governo e as suas leis são boas dádivas de Deus, para recompensar aquilo que é correto e restringir aquilo que é mal.

Porém, ainda que a Queda seja progressiva, ela não será progressiva eternamente. Chegará o dia em que a Queda será punida. Porque o pecado nunca se satisfaz, mas sempre pede por mais, ele é, em última instância, uma provocação contra um Deus santo. Deus descreve a si mesmo para Moisés como paciente e misericordioso. Contudo, como Pedro nos adverte em 2 Pedro 3, nós não devemos confundir a paciência de Deus com indiferença. Deus também diz que “não inocenta o culpado” (Êxodo 34.7). Independente do que gostaríamos de pensar, o desenvolvimento da Queda não termina em reabilitação ou transformação gradual, à medida que as coisas ficam melhores e melhores. De acordo com Apocalipse 18, a Queda termina da maneira que merece.

Jesus diz que o Dia do Julgamento já foi determinado na mente de Deus, e a visão daquele dia revelada em Apocalipse 18 é terrível. Caracterizada como como uma grande cidade, a criação pecadora é submetida ao julgamento de Deus para nunca mais se levantar. Repetidamente, o capítulo ecoa a frase “nunca mais… em ti”. Música “nunca mais será ouvida em ti”. Trabalhadores “nunca mais serão encontrados em ti”. Luz “nunca mais brilhará em ti”. Noivas e noivos “nunca mais serão ouvidos em ti”. Essa visão do julgamento é tão final e definitiva que o anjo declara que a cidade “nunca mais será encontrada”.

Não somente final, mas esse julgamento será justo. O mesmo capítulo nos diz que Deus se lembrará dos crimes desse mundo idólatra e o retribuirá por seus crimes. Ele dará a cada um de nós exatamente o que merecemos. Na tentativa de descrever esse terrível dia da vingança de Deus, do seu julgamento punitivo, a Bíblia utiliza diversas imagens: escuridão externa, pranto sem fim e ranger de dentes, um lago de fogo, morte eterna. O que é evidente em todas essas imagens é que a justiça do julgamento de Deus é expressa na punição eterna que ele impõe. A ofensa do pecado contra um Deus infinito e eterno é uma ofensa infinita. Por isso, a punição merecida, corretamente, nunca acaba.

Aqui está o engano em pensar na Queda como simplesmente algo que aconteceu no passado. A história da Queda é uma história de desespero, como uma doença incurável que inevitavelmente conduz a uma morte dolorosa ou como uma loucura que conduz a sua vítima mais longe ainda da sanidade e razão. Por nós mesmos, essa é a nossa história; a história do nosso passado, mas também a história do nosso futuro ininterrupto. Em nossa pregação e ensino, pode parecer mais confortável aliviar esse aspecto da Queda. Ninguém gosta de pensar em seus entes e amigos queridos em tormento eterno. No entanto, ignorar a verdade não faz com que ela vá embora. Isso simplesmente deixa almas eternas desmotivadas e desequipadas para lidar com questões de consequências eternas.


Michael Lawrence é o pastor principal da Hinson Baptist Church em Portland, Oregon, EUA, e o autor de Biblical Theology in the Life of the Church (publicado em inglês pela editora Crossway, sem tradução em português).


sábado, 5 de março de 2016

Perdão; o passado, passado a limpo



Por Leonel Elizeu Valer Dos Santos

“... eu lançava na prisão, açoitava nas sinagogas os que criam em ti. Quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também estava presente, consentia na sua morte, guardava as capas dos que o matavam. Disse-me: Vai, porque hei de enviar-te aos gentios de longe.” Atos 22;19 a 21

Temos Paulo, em face a sua chamada, desqualificando-se por causa dos crimes pretéritos; Jesus, apressando-o por causa dos anseios futuros. Desse modo, o ser humano tende a olhar para as dificuldades; Deus, para os objetivos.

Por nefasto que tenha sido nosso pretérito, se, O Senhor nos perdoa, recebe, o passado está resolvido. Ficarmos nos atormentando com remorsos não deriva de eventual bondade nossa; antes, é traço de incredulidade, de quem duvida do perdão Divino.

Deus afirma que lança os pecados perdoados no “Mar do esquecimento”; nós, adquirimos roupas de mergulho e submergimos nas águas sujas atrás do que deveríamos esquecer.

Não que seja possível a uma pessoa saudável esquecer, estritamente, no sentido de não mais lembrar. Mas, como dizemos sobre esquecer um amor, ainda lembramos o vivido, agora, lembrança sem dor. É bom que lembremos desse modo, os descaminhos idos, pois, quanto piores forem, maior será nossa gratidão ao Salvador que deles nos tirou, como disse Davi: “... Tirou-me de um charco de lodo, firmou meus pés sobre uma rocha.” Sal 40

Quando o Senhor nos comissiona, não o faz por causa de coisas que fizemos; geralmente, apesar, do que fizemos. Noutras palavras, não nos chama por nossos méritos, antes, por Sua Bondade. Certo que, limpa o vaso que pretende usar, como fez quando chamou Isaías; o profeta que reconhecera a impureza dos seus lábios, O Santo o purificou, e comissionou.

Observemos os carros à noite; as luzes que apontam para frente são poderosas, reguláveis para perto e longe; as de trás, são tênues, avermelhadas, não servem para iluminar, antes, para mostrar a presença a outros, basicamente. Assim deveria ser com o “carro” das nossas vidas. Não obstante andarmos num mundo noturno, escurecido pela impiedade, devemos contar com a vívida Luz de Cristo para mostrar o caminho. Tanto para perto, implicações de nosso andar agora, quanto, longe, nossa esperança nas promessas. “Lâmpada para meus pés é a tua Palavra; luz para meu caminho”. Sal 119;105

As luzes de trás, servem mais a outros que a nós; os que viram o que fomos, e verem no que Jesus nos transformou, hão de identificar a presença da salvação. “Muitos, verão, temerão, e aprenderão a confiar no Senhor” Ainda, salmo 40.

Assim, quando O Senhor chama-nos, será perda de tempo investigarmos procurando motivos em nós; os motivos estão Nele. Nós temos passados ruins, limitações de talentos, credenciais pífias, mas, se tivermos ouvidos espirituais, coração voluntário, índole servil, estaremos “qualificados”, aos Divinos Olhos.

O mesmo Paulo, que considerava-se o principal dos pecadores por ter perseguido à Igreja, indigno de ser chamado apóstolo, nascido fora de tempo, - disse – ( e, pensar que temos “apóstolos” hoje! ) esse Paulo, digo, viveu na pele, aprendeu e ensinou sobre as “credenciais” que, Deus busca nos Seus comissionados: “Porque, vede, irmãos, vossa vocação, não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos nobres que são chamados. Mas, Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias; Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir às fortes; Deus escolheu as coisas vis deste mundo, as desprezíveis, as que não são, para aniquilar as que são; para que nenhuma carne se glorie perante ele.” I Cor 1; 26 a 29

Nosso “material de construção” é péssimo para Obra de Deus; Ele não usa isso. Regenera os Seus, da Água ( Palavra ) de do Espírito, ( Santo ). “Assim, se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas passaram, eis, que tudo se fez novo.” II Cor 5;17

Com o Novo Material edifica-nos; nos faz partícipes na edificação da Sua Obra. Porém, testa-nos pelo fogo das aflições, para ver se estamos usando o devido cuidado. Feitos que não resistem à prova serão consumidos. “Se alguém, sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha; a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; o fogo provará qual a obra de cada um.” I Cor 3; 12 e 13

Nosso passado sujo foi purificado por sangue; nosso andar renascido é, pelo fogo. Pregadores que ensinam triunfalismo invés de santidade, devaneiam fugir de um fogo necessário agora; conduzem a outro inevitável depois.

Pois, se no nosso sujo pretérito aceitamos de bom grado a solução de Deus, em nosso incógnito devir, devemos confiar na Sua direção também.


Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/perdao-o-passado-passado-a-limpo