Por Robson Santos Sarmento
‘’A maior e mais verídica manifestação da fé se chama gratidão e o quão singular, além de inegável, ter sido esse o ato e a decisão de Deus, em favor da humanidade, através de Jesus de Nazaré; em outras palavras, há, houve, haverá e não se removerá essa gratidão pelo ser humano, por pessoas, por gente, e não pergunte tanto sobre o por qual motivo; então, eis o chamado a ser seguido pelos discípulos das boas novas, ou seja, a gratidão pela vida que se encontra no próximo, ao qual também nos incluímos. ’’
A crucificação tinha se consumado e, num passe de mágica, num piscar de olhos, sem ninguém acalentar qualquer expectativa ou arriscar um palpite certeiro, Jesus aparece e os discípulos se enredam num estado de assombro, incertezas e perplexidades.
Em meio a esse cenário, quantas questões e respostas pulsavam nos recônditos daqueles homens. Mesmo assim Jesus insiste e se apresenta como homem, com marcas e a nossa caminhada, por aqui, traz isso, em cada um de nós. Sem sombra de dúvida, marcas geradas pelas tradições, pelas relações humanas, diretas ou indiretas, pelas conquistas, pelas perdas, pelos não (s) e pelos sim (s).
Deve ser dito, Jesus não fez nenhum avassalador discurso, nenhuma revelação apoteótica veio a tona, nenhuma profecia bombástica também, simplesmente, pediu algo para comer. Nada mais desprovido de efeitos de uma visão evangélica estonteante e de deixar muitos de boca aberta. O sol não parou, o mar não se abriu, pragas não foram lançado em face dos carrascos do Messias, o Império Romano não foi fulminado e, numa frontal postura, comeu um pedaço de peixe.
De certo, essa maneira de agir vai a direção oposta as exigências dos homens pelas provas fenomenais, pelas intervenções supremas e isto nos leva a repensarmos sobre a nossa maneira de conceber o evangelho, dentro dessa tresloucada cultura dos excessos e das exigências.
Grosso modo, Jesus parou, teve fome, não escondeu sua face de homem, mostrou e demonstrou os sentidos, os sentimentos, a paixão pela vida e enquanto fazia algo meramente de seres transitórios, transmitia aos discípulos o coração – útero de sua mensagem, ou seja, a ideia fundamental do arrependimento e do perdão de todo o processo de alienação, de marginalização, de exclusão, de sectarismo, de bons e maus, de justos e anátemas, de abominados e predestinados. Verdadeiramente, Jesus expressa a face da fé, ao qual não se encontra nos sinais, nos prodígios, nas maravilhas, porque são relâmpagos de seu maior e mais verídico efeito, ao qual arrisco denominar de gratidão.
Aliás, digo isso, porque sem gratidão se torna impossível agradar a Deus e aqui vejo um chamado simples, objetivo, específico e intrigante da Igreja. Ultimamente, perdemos a capacidade para sentar e sentir os sabores de uma boa conversa, de uma prosa descompromissada para estabelecer quem está certo ou errado, de permitir ao Carpinteiro dos Recomeços remover as arestas, tirar os entulhos, apontar o caminho a ser feito. Sinceramente, o episódio narrado em Lucas 24. 36- 49, desmascara um Cristo mitológico, gnóstico, idealista e apresenta - O na mesa e ali desnuda os segredos de lutar, de insistir, de não arredar o pé da vida e do próximo.
Tristemente, multidões correm, pra lá e cá, atrás de uma benção, de um socorro, de um paliativo, de um afago e acabam levedadas por engodos, por mandamentos estúpidos e por fundamentalismos megalomaníacos. Noutro lado da moeda, em Cristo Jesus, Deus decidiu em favor da humanidade, do próximo, de eu e você, do rico e pobre, do judeu e gentio, de todas as tribos, os povos, as raças e as nações e essa configura uma vida de fé, de gratidão (ao qual não significa conformismo, fazer vistas grossas para as calamidades e atrocidades) pela vida.
É bem verdade, observamos a fé, como um processo de crença e recompensa, mas, opostamente, sublinho pelo inclinar de Jesus para abrir nossas mentes ou, melhor dito, tornar – nos livres, abertos para construirmos pontes de diálogo de esperança, de justiça, de misericórdia, de inspiração, de criatividade e de esperar o toque da trombeta com essa gratidão que não vem de nós. Então, a face da fé se chama a gratidão de Deus, a qual veio em favor da humanidade, a cada um de nós e, por isso, tenho a escolha por estendê-la, como testemunhas confessionais.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/a-face-da-fe-qual-e
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