quinta-feira, 15 de junho de 2017
A Inquisição Espanhola e a Reforma Protestante
Por Stephen Nichols
Em 1492, Fernando e Isabel da Espanha patrocinaram Cristóvão Colombo e sua viagem ao Novo Mundo. Mas em 1477, eles estiveram por trás de algo muito mais infame. Naquele ano, os monarcas espanhóis pediram ao Papa Sisto IV que reestabelecesse a Inquisição, visando muçulmanos e judeus. Assim começou o reinado de terror conhecido como a Inquisição Espanhola.
A Inquisição Espanhola ocorreu na maior empreitada das cortes eclesiais e seculares que impunham conformidade com a Igreja Católica Romana e eliminação de toda a dissidência. Roma patrocinou inquisições já no século onze. Mas a Inquisição Espanhola foi única. Primeiro, ela era controlada pela monarquia, e não pelo papado, e seria ainda mais motivada politicamente do que outras inquisições.
A Inquisição Espanhola também foi única em relação ao seu cenário na Espanha. Durante séculos, os muçulmanos governaram a Península Ibérica; não foi até 1250 que os católicos reconquistaram a área. E mesmo depois, muitos muçulmanos permaneceram, e grandes populações judaicas também se espalharam pela Espanha. A perseguição popular irrompeu contra esses judeus e muçulmanos espanhóis, forçando-os a se converterem ao catolicismo e serem batizados ou mortos. Milhares foram convertidos sob coação e eram conhecidos como conversos. Posteriormente, a Inquisição procurou os conversos, buscando determinar se suas conversões eram genuínas ou se continuavam a praticar a sua antiga fé, um crime punível com a morte. Os judeus e muçulmanos com princípios fugiam ou enfrentavam a selvageria da Inquisição.
Isso leva à terceira característica que marca a singularidade da Inquisição Espanhola: ela se elevou a níveis terríveis de perseguição. É bem conhecida por seu uso da tortura para extrair confissões e para o auto-da-fé (ato de fé), um ato ritualizado de penitência pública que acabava com a execução do acusado. A violência continuaria até o próximo século e depois, mas chegaria ao seu apogeu durante a Reforma.
Depois de 1516, a Inquisição Espanhola tinha um novo alvo: aqueles que protestavam contra a Igreja Católica Romana. À medida que as ideias de Lutero ganhavam apoio em terras católicas, a Inquisição ganhou poder. A Inquisição espanhola seguiu um princípio singular e direcionado: o erro deve ser eliminado. É claro, definiu o erro como qualquer oposição à Igreja Católica Romana. Para derrotar qualquer erro, a Inquisição não parou em nenhuma delimitação. Além disso, nenhuma pessoa estava fora dos limites. Sacerdotes, freiras, bispos e até mesmo autoridades seculares tiveram que se submeter às suas decisões.
Então, durante a década de 1540, Roma tentou voltar-se contra a Reforma. A primeira medida foi a formação dos jesuítas por Inácio de Loyola, em 1540. A segunda medida foi o Concílio de Trento, convocado pela primeira vez em 1545 e reunido de forma intermitente até 1563. Seus decretos consagraram a postura anti-Reforma de Roma. A terceira e, de longe, a mais cruel dessas medidas foi que a Inquisição aumentou em sua intensidade, em 1542. Naquele ano, o papa Paulo III emitiu a bula papal Licet ab initio (Permitida desde o início), que concedeu autoridade absoluta a seis cardeais para estenderem a Inquisição.
Um desses cardeais tornou-se o papa Paulo IV; ele publicou o temido primeiro Índice de Livros Proibidos, em 1559. A lista de livros banidos incluía as obras dos Reformadores, bem como Bíblias em línguas vernáculas. Aqueles pegos com uma cópia da Bíblia em alemão, inglês ou francês seriam levados perante a Inquisição, presos e julgados. Ao serem considerados culpados, seriam torturados, martirizados, ou ambos.
Os inquisidores perseguiram os protestantes na Itália e em partes da Alemanha. Conforme os huguenotes cresciam na França, eles também ficaram sob a autoridade da Inquisição. Nicholas Burton, um comerciante, foi uma das vítimas da Inquisição. Os carcereiros de Burton o levaram para o confinamento solitário porque ele falou com muita ousadia e persuasão sobre o evangelho. Antes de queimá-lo na fogueira, oficiais da Inquisição removeram a sua língua para silenciar o seu testemunho diante da multidão reunida em seu martírio. Os registros da Inquisição transbordam de relatos daqueles que “disseram e fizeram coisas típicas do herege Lutero”. Em 1635, um homem foi levado à Inquisição porque comeu bacon e cebola no dia de São Bartolomeu. Como uma ironia da história, em 1527 a Inquisição encarcerou até mesmo Inácio de Loyola, o fundador dos jesuítas. Os inquisidores entenderam completamente mal algumas declarações que ele tinha feito. A Inquisição ocorria por suspeita e até mesmo por pura ignorância. Muitas vezes, a Inquisição exagerou a sua mão, e acabou por se tornar seu próprio pior inimigo. À medida que as autoridades seculares cresceram em poder no século XVI, lentamente desmantelaram o poder da Inquisição, até que foi finalmente abolida em 1834.
A Inquisição não desistiu das suas tentativas de apagar a chama inflamada pela Reforma, mas, por fim, falhou em sua missão de eliminar o “erro”. Embora a Reforma tenha deixado um legado notável, a Inquisição Espanhola também se tornou marcante. Sobre o papa Paulo III, Lutero disse: “Deixe os Papistas fazerem discussões e considerarem as suas traições. Cristo vive”.
Por: Stephen Nichols. © Ligonier Ministries. Website: ligonier.org . Traduzido com permissão. Fonte: The Spanish Inquisition
Original: A Inquisição Espanhola e a Reforma Protestante. © Ministério Fiel. Website: MinisterioFiel.com.br. Todos os direitos reservados. Tradução: Camila Rebeca Teixeira. Revisão: André Aloísio Oliveira da Silva.
Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2017/06/inquisicao-espanhola-e-reforma-protestante/
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