terça-feira, 31 de maio de 2011

A Coluna para nossa Fé – Thomas Watson (1620-1686)


A verdade de Deus é uma grande coluna para a nossa fé. Se ele não fosse um Deus da verdade, como poderíamos crer nele? Nossa fé foi concebida, mas ele é a própria verdade e nenhuma palavra que falou pode cair por terra. "A verdade é o objeto da confiança." A verdade de Deus é uma pedra irremovível na qual podemos arriscar nossa salvação (Is 59.15).

"A verdade falha." A verdade na terra falha, mas não a verdade no céu. Assim como Deus pode cessar de ser Deus, sua verdade pode cessar de ser verdade. Deus disse coisas como: "Bom é o SENHOR para os que esperam por ele" (Lm 3.25), e "eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Aqui está uma âncora segura em que se pode confiar, ele não mudará qualquer coisa que saiu de seus lábios. A fé celestial publicada é enfocada para os crentes. Podemos ter melhor segurança? Toda a terra se sustenta na Palavra do poder de Deus, nossa fé não deveria se sustentar na Palavra da verdade de Deus? Onde mais poderíamos depositar nossa fé, a não ser sobre a fidelidade de Deus? Não há mais nada para se crer a não ser na verdade de Deus. Confiar em nós mesmos é construir sobre areia movediça, mas a verdade de Deus é uma coluna de ouro na qual a fé pode se apoiar. Deus não pode negar a si mesmo: "se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo" (2Tm 2.13). Não crer na veracidade de Deus é afrontá-lo. "Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso" (1 Jo 5.10). Uma pessoa honrada não pode ser mais afrontada ou provocada do que quando não crêem nela. Quem nega a verdade de Deus faz da sua promessa uma falsidade. Pode haver maior afronta para com Deus?

Segunda aplicação: se Deus é um Deus da verdade, é verdadeiro para com suas ameaças. Suas ameaças são um rolo compressor contra os pecadores. Deus ameaçou partir "a cabeça dos seus inimigos e o cabeludo crânio do que anda nos seus próprios delitos" (SI 68.21). Ele ameaçou julgar os adúlteros (Hb 13.4). Ameaçou vingança sobre o malicioso (SI 10.14). "Fará chover sobre os perversos brasas de fogo e enxofre, e vento abrasador será parte do seu cálice" (SI 11.6). Deus é tão verdadeiro em relação às suas ameaças quanto às suas promessas. Para mostrar sua verdade, executou suas ameaças e permitiu que seus raios de julgamento caíssem sobre os pecadores nesta vida. Ele golpeou Herodes no ato de seu orgulho. Ele puniu blasfemadores. Olímpio, um bispo ariano, reprovou e blasfemou contra a Trindade santa e imediatamente um raio caiu do céu sobre ele e o consumiu. Temamos as ameaças, que não as soframos.

Deus é um Deus da verdade? Sejamos como Deus.

1. Devemos ser verdadeiros em nossas palavras. Quando Pitágoras54
foi questionado sobre o que poderia tornar os homens semelhantes a Deus, ele respondeu: "quando falam a verdade, se assemelham a Deus". Um homem que irá para o céu tem a seguinte característica: "De coração, fala a verdade" (SI 15.2).

i. A verdade em palavras é oposta a mentir. "Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo" (Ef 4.25). Mentir é falar algo em lugar da verdade quando se sabe que é uma falsidade. O mentiroso se opõe muito a Deus.

Há, como diz Agostinho, dois tipos de mentira. Uma mentira oficiosa, quando um homem diz uma mentira para seu lucro; como, quando um negociante diz que seu produto custou tanto, quando talvez não lhe custasse nem a metade. Aquele que mente em seu negócio, mentirá no inferno. Uma mentira de chacota, quando alguém diz uma mentira por prazer, para alegrar os outros. Esse irá sorrindo para o inferno.

"[O diabo] é mentiroso e pai da mentira" (Jo 8.44). Ele enganou nossos primeiros pais com uma mentira. Alguns são tão ímpios que não somente falam uma mentira, mas juram por ela. Esses lançarão uma maldição sobre si mesmos se esta inverdade não for verdade. Li a história de uma mulher, Arme Avarie, que em 1575, quando estava numa loja, jurou que havia pagado as mercadorias que pegou sob pena de, caso contrário, sofrer a morte. Ela caiu no chão sem fala imediatamente e morreu.

Não é apropriado que um mentiroso viva em comunidade. A mentira faz perder toda a sociedade e opõe os homens. Como se pode conversar com alguém quando não se pode acreditar no que diz? A mentira deixa o homem fora do céu. "Fora ficam os cães... e todo aquele que ama e pratica a mentira" (Ap 22.15). Mentir é um grande pecado, pior ainda é ensinar uma mentira. "O profeta que ensina a mentira é a cauda" (Is 9.15). Quem amplia o erro ensina mentiras, espalha a praga, não somente prejudica a si mesmo, mas ajuda a prejudicar os outros.

ii. A verdade em palavras é oposta ao fingimento. O coração e a língua devem caminhar juntos, assim como a sombra no relógio solar. Falar bem para alguém sem sinceridade não é melhor que uma mentira. "Suas palavras eram mais brandas que o azeite; contudo, eram espadas desembainhadas" (SI 55.21). Alguns têm a arte de bajular e de odiar. Jerônimo, falando sobre os arianos, diz: "Eles fingiram amizade, beijaram minhas mãos, mas planejaram ciladas contra mim". "O homem que lisonjeia a seu próximo, arma-lhe uma rede aos passos" (Pv 29.5). Veneno cruel pode ser escondido sob doce mel. Falsidade na amizade é uma mentira. Falsificar uma amizade é pior que falsificar dinheiro.

2. Devemos ser verdadeiros em nossa profissão de fé. Que as ações combinem com as palavras. "E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade" (Ef 4.24). Hipocrisia na religião é uma mentira. O hipócrita é como uma face num espelho, vê-se a face, mas não a verdadeira. Mostra santidade, mas não há verdade nela. Efraim fingiu ser quem não era e o que Deus diz dele? "Efraim me cercou por meio de mentiras" (Os 11.12). Por meio de uma mentira em nossas palavras negamos a verdade; por meio de uma mentira em nossa profissão de fé nós a desgraçamos. Não ser para com Deus o que professamos é dizer uma mentira, o que as Escrituras dizem ser blasfêmia. "Conheço... a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são" (Ap 2.9). Eu vos rogo que vos empenheis para ser como Deus. Ele é um Deus da verdade. Ele pode tanto desistir de sua deidade quanto de sua verdade. Seja como Deus, seja verdadeiro em suas palavras, seja verdadeiro em sua profissão de fé. Filhos de Deus são filhos que não mentem (Is 63.8). Quando Deus vê "verdade nas partes internas" e "lábios em que não há duplicidade", ele vê a própria imagem, o que atrai seu coração em nossa direção. Semelhança produz amor.

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