domingo, 31 de julho de 2011

A mais profunda divisão entre os homens – J. I. Packer


A mais profunda divisão entre os homens, neste mundo, pode ser expressa assim: alguns têm conhecimento do pecado, e outros não. Essa divisão não se verifica apenas entre a igreja e o mundo; ela manifesta-se até mesmo na igreja. Ao falar de "conhecimento do pecado" não me refiro ao discernimento dos pecados dos outros, acompanhado de virtuosa indignação contra os mesmos. Vez por outra, todos nós sentimos tal indignação, como se deu com aquele fariseu, na narrativa de Jesus, o qual agradeceu a Deus por não ser como os outros homens, tal como o publicano (Lc 18.11, 12). Com essa expressão refiro-me antes à consciência de sua própria culpa, perversão, impureza e falta de capacidade moral e espiritual, conforme Deus as vê. Se temos ou não tal conhecimento não depende nem de vivermos moral ou imoralmente à luz de padrões convencionais, nem depende de nosso estilo de vida preferido ser ordeiro e controlado, em oposição ao estilo descontrolado e casualista. Tudo quanto pode ser dito sobre o estilo de vida é que se alguém não é um daqueles que encaixam o seu viver nos moldes da respeitabilidade convencional, de tal modo que os homens pensem bem a seu respeito, então talvez essa pessoa esteja mais em contato consigo mesma e melhor capacitada para perceber que o diagnóstico bíblico do pecado é uma carapuça que se ajusta à sua cabeça. Nos dias de Jesus, isso aconteceu com os publicanos e outros (pecadores) sem reputação, em contraste com os fariseus. Isso vem se repetindo desde então. O falecido Peter Sellers, aquele maravilhoso ator que representou vários personagens e deu ao mundo Grytpype-Thynne, Henry Crun, Major Bloodnok, Blue-bottle, Fred Kite, Inspetor Clouseau, Dr. Strangelove, o temível Fu Manchu e muitos outros, disse francamente que não sabia quem ou o que ele era, à parte dos papéis que desempenhava. Os escritores que falaram sobre ele, referiram-se à máscara por detrás da máscara. Por semelhante modo, a religião pode ser apenas um papel teatral, produzindo o estado mental que o trecho do Salmo 36.2 atribui aos ímpios: "A transgressão o lisonjeia a seus olhos e lhe diz que a sua iniquidade não há de ser descoberta nem detestada". 

Que significa conhecer o pecado em nós mesmos? Significa mais do que saber que, algumas vezes, não somos exatamente perfeitos — embora alguns achem difícil chegar a esse ponto. Significa notar os motivos do interesse próprio: a auto-imposição, o avanço pessoal, a autojustificação, a auto-satisfação — motivos esses que estimulam as nossas ações. Significa compreender que esses motivos revelam o nosso verdadeiro "eu", porque procedem do nosso próprio "coração"— não, naturalmente, daquele músculo que bombeia o sangue, e, sim, do âmago real oculto de nossa personalidade, de onde, segundo Jesus ensinou, procedem "os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura" (Mc 7.21, 22). "Enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?", declarou Deus por meio do profeta, em Jeremias 17.9, 10. E Ele mesmo deu a resposta: "Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos". Conhecer o pecado, pois, é enfrentar o fato que, em nosso estado caído, não podemos fazer nossos corações assu¬mirem a atitude requerida por Deus, de autonegação, de auto-humilhação, de tomar a cruz e dar a vida em favor do próximo. Alguns, na verdade, podem sentir prazer em ter aparência de religiosos — o Oriente e o Ocidente estão repletos de pessoas para os quais isso representa uma satisfatória viagem pelo "ego". Mas, nenhum ser humano caído apre¬cia naturalmente as privações e asperezas da auto-entrega ao Deus vivo. Tereza de Ávila foi ousada ao dizer: "Senhor, se é assim que tratas os teus amigos, não me admira que tenhas tão poucos". Finalmente, o conhecimento do pecado é reconhecer que precisamos de perdão, e que, sem perdão, não haverá a mínima esperança de comunhão com Deus.


Como adquirimos o conhecimento do pecado? Por meio da lei de Deus, assevera Paulo — a lei que reflete o caráter de Deus e expressa a sua vontade para o nosso viver, e da qual há elementos gravados na consciência de cada ser humano (cf. Rm 2.14, 15); a lei que foi outorgada no Sinai e explicada pelos profetas, pelos apóstolos e pelo próprio Senhor Jesus. "Ora, sabemos que tudo o que a lei diz aos que vivem na lei o diz, para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus, visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado" (Rm 3.19, 20). É claro que, quando Paulo fala sobre a "lei", ele indica padrões de viver para Deus, em adoração, bem como de viver para o próximo, por meio do serviço; ele indica também indispensáveis padrões de bondade, assim como especificações quanto a males proibidos; e, a demanda por constante perfeição (cf. Tg 2.10), que ultrapassa em muito a esforços ocasionais; e, ainda, a declaração do juízo retributivo contra os transgressores da lei. Ora, segundo Paulo ensina, ao nos fazer conscientes do pecado, a lei funciona assim:

1.      A lei identifica o pecado, definindo e retratando-o.

2.      A lei desperta a desobediência. O pecado é uma espécie de alergia no sistema moral e espiritual do homem caído, uma reação anómala à lei de Deus. O pecado irrompe irracionalmente, sob a forma de um impetuoso desejo, contrário aos mandamentos do Senhor. "Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás. Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda sorte de concupiscência..." (Rm 7.7,8). Todo aquele que procura observar qualquer dos mandamentos de Deus, no nível da motivação, disciplinando-se para querer somente aquilo que Deus quer, passa por uma experiência similar a de Paulo. Desta forma, cada um de nós pode detectar a sua própria depravação total, se até este ponto temos duvidado dela.

3.      A lei condena a desobediência por ela mesma fomentada, capacitando-nos assim a nos vermos como realmente somos, isto é, culpados diante de Deus, condenados à morte. "Outrora, sem a lei, eu vivia; mas, sobrevindo o preceito, reviveu o pecado, e eu morri... Porque o pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento me enganou [transpondo minhas defesas num ponto, enquanto eu estava ocupado em repeli-la em outro] e me matou [isto é, trouxe-me à miséria de a cada momento saber que estava perdido]" (Rm 7.9, 11).

Assim, por induzir-nos ao desespero, a lei nos ensina a olhar para fora de nós e de nossas fantasiosas realizações morais e nos ensina a virmos a Cristo como pecadores, para sermos perdoados. Que isso aconteça, faz parte do plano misericordioso de Deus. É conforme Lutero explicou em certa ocasião: "Enquanto os pecados são desconhecidos, não há lugar para a cura, nem esperança de que ela aconteça; pois, os pecadores que pensam estarem saudáveis, e que não precisam de médico, não suportarão o toque da mão do curador. Portanto, a lei é necessária para nos dar conhecimento do pecado, a fim de que o homem orgulhoso, que pensa estar são, possa ser humilhado pela descoberta de sua imensa iniquidade pessoal e suspire e anele pela graça que é oferecida em Cristo'' (The Bondage ofthe Will — A Escravidão da Vontade — tradução de J. I. Packer e O. R. Johnston, p. 288). Nas próprias palavras de Paulo: "De maneira que a lei nos serviu de aio [paidagõgos, o escravo encarregado da educação de uma criança] para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé" (Gl 3.24).

A isto pode ser acrescentado que Jesus Cristo, o Filho de Deus em carne, pode verdadeiramente ser descrito não somente como a graça encarnada, mas também como a lei encarnada. A sua vida e os seus ensinos revelam a santidade diante de nós, de um modo que tanto nos instrui quanto nos condena. Para muitos crentes, o ato de meditar nas palavras de Jesus tem servido para despertar e aprofundar o senso de pecado, mais do que qualquer outra coisa. Não podemos pensar sobre o pecado com mais profundidade do que isto: tudo o que somos, moral e espiritualmente, é aquilo que Cristo não é. Já tivemos ocasião de dizer que o conhecimento do pecado vem através do conhecimento de Deus. Agora, devemos acrescentar que esse conhecimento vem principalmente através do conhecimento do Deus encarnado.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Novo Mandamento de Cristo - Charles Haddon Spurgeon



C.H. Spurgeon (1834-1892) era pregador, autor e editor britânico. Foi pastor do Tabernáculo Batista Metropolitano, em Londres, desde 1861 até a data de sua morte. Fundou um seminário, um orfanato e editou uma revista mensal chamada “Sword na Trowel”. Conhecido como “Príncipe dos Pregadores”, Spurgeon escreveu muitos livros e artigos, particularmente na área devocional. Deixou um legado de vida piedosa, marcada por um profundo amor ao Senhor Jesus Cristo e por dedicados esforços ara alcançar almas perdidas.

“Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.” (João 13.34-35)

Sem dúvida, muitos de vocês já ouviram a história do encontro do arcebispo Usher com o Sr. Rutherford. Mas ela é tão apropriada a este assunto, que não deixarei de contá-la novamente. 


O arcebispo tinha ouvido sobre o maravilhoso poder da devoção de Rutherford e da beleza singular da ordem de sua casa e quis testemunhar por si mesmo. Contudo, ele não sabia como fazer isso, até que lhe ocorreu que poderia disfarçar-se como um viajante pobre. Seguindo essa idéia, ao cair da noite, ele bateu à porta do Sr. Rutherford, sendo recebido pela Sra. Rutherford. Perguntou se poderia ter abrigo para passar a noite. Ele respondeu: “Sim”, visto que costumavam receber estranhos. Ele o levou á cozinha e lhe deu algo para comer. Como parte de sua disciplina regular, a família catequizava os filhos e os empregados no sábado à noite. E, como é evidente, o homem pobre ficou entre eles na cozinha.


A Sra. Rutherford fez a todos eles algumas perguntas sobre os mandamentos. Ao homem pobre perguntou: “Quantos são os mandamentos?” Ele respondeu: “Onze”. “Ah! que coisa feia para um homem de sua idade, cujos cabelos estão grisalhos: não saber quantos são os mandamentos. Em nossa paróquia não há nenhuma criança maior de seis anos que não saiba isso”. O homem pobre nada disse em resposta, mas teve a sua refeição e foi para cama. Mais tarde ele se levantou e ouviu a oração de meia-noite de Rutherford. E ficou encantado com ela, se deu a conhecer, emprestou dele um casaco melhor e pregou por ele no domingo pela manhã, surpreendendo a Sra. Rutherford por usar estas palavras como seu texto: “Novo mandamento vos dou”. Ele começou com a observação de que isso poderia ser apropriadamente chamado de Décimo Primeiro Mandamento. Depois, o arcebispo foi embora, mas ele e Rutherford se revigoraram juntos. Esse é o Décimo Primeiro Mandamento. Na próxima vez que nos perguntarem quanto mandamentos existem, responderemos corretamente: onze.


Por que esse mandamento é novo? Não está incluído nos dez? Vocês sabem que nosso Senhor aprovou o resumo dos Dez Mandamentos apresentado pelo escriba: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10.27). Então, como este mandamento – “que vos ameis uns aos outros” – é novo?


Ele é novo, primeiramente, na extensão do amor. Devemos amar nosso próximo como a nós mesmos, mas devemos amor nossos irmãos em Cristo como ele nos amou. Isso é muito mais do que amamos a nós mesmos. Cristo nos amou melhor do que amamos a ele. Cristo nos amou tanto que se entregou a si mesmo por nós, para que nenhum de nós diga: “Tenho de amar meu amigo, meu irmão, meu próximo como amo a mim mesmo”,  mas para que interpretemos assim o mandamento de Cristo: “Devo amar meu irmão em Cristo como Jesus Cristo, que morreu por mim, me amou”. É um tipo de amor mais nobre em relação ao amor que temos de manifestar ao nosso próximo. Este é o amor de benevolência; aquele é um amor de afinidade e relacionamento íntimo. Envolve um grau mais elevado de sacrifício do que o recomendado pela lei de Moisés...


Ele é um novo mandamento porque está apoiado por uma nova razão. O velho mandamento estava amparado nesta declaração: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Êx 20.2). Os israelitas deviam obedecer à lei por causa da redenção que Deus havia realizado em favor de seu povo. Nós, porém, somos ordenados a amar uns aos outros porque Cristo nos redimiu de uma escravidão pior do que a do Egito, por meio de um sacrifício de valor mais elevado do que o oferecimento de miríades de cordeiros na Páscoa. “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado” por nós (1 Co 5.7).

Ele nos tirou do jugo de ferro do pecado e de Satanás, quebrando totalmente nossas cadeias. Nossos inimigos nos perseguiram, mas ele os destruiu no mar, no mar Vermelho. Cristo nos redimiu com o sangue de seu coração; por isso, seu novo mandamento nos alcança com o maior significado possível: “Assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros”. É um novo mandamento por causa da sua extensão e da razão na qual está apoiado.

É um novo mandamento também porque é um novo amor, procedente de uma nova natureza e envolvendo um nova nação. Devo, como homem, amar meu compatriota porque ele é homem. No entanto, como pessoa regenerada, tenho o dever de amar meus irmãos em Cristo ainda mais, porque eles também são regenerados. Os laços de sangue têm de ser reconhecidos por nós muito mais do que o são pelos não-regenerados. Esquecemos facilmente que Deus “de um só fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra” (At 17.26). Por laço comum de sangue, somos todos irmãos. Todavia, amados, os laços da graça são muito mais fortes do que os de sangue. Se vocês já nasceram de Deus, são irmãos por meio de uma irmandade muito mais forte do que a irmandade natural que os capacitou a dormir no mesmo berço, mamar no mesmo peito; pois os irmãos segundo a carne podem separar-se eternamente. A mão direita do Rei talvez seja a posição atribuída a um deles, e a esquerda, a posição designada ao outro; mas os irmãos nascidos verdadeiramente de Deus compartilham de uma irmandade que durará para sempre. Aqueles que agora são irmãos em Cristo serão sempre irmãos.

Expressamos uma atitude deveras bendita quando somos capazes de amar uns aos outros porque a graça que está em nós vê a graça que está no outro e discerne nele, não a carne e o sangue do Salvador, mas uma semelhança com Cristo e ama o outro por causa de Cristo. Assim como é verdade que, se somos do mundo, o mundo ama os seus, assim também é verdade que, se somos do Espírito, o Espírito ama os seus. Toda a família dos redimidos de Cristo está unida por laços firmes. Sendo nós mesmos nascidos de Deus, estamos sempre procurando outros que foram “regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1 Pe 1.23). Quando os achamos, não podemos deixar de amá-los. Entre nós há, imediatamente, um vinculo de união.. Vocês estão ligados a Deus. Portanto, devem ter comunhão com todos os que estão ligados a ele, quer gostem, quer não...

Amados irmãos, este é um novo mandamento porque é compelido por novas necessidades. Os cristãos devem amar uns aos outros porque são súditos de um Rei, que é também seu Salvador. Somos um pequeno grupo de irmãos em meio a uma vasta multidão de inimigos. “Eis que eu vos envio”, disse Jesus aos seus discípulos, “como ovelhas para o meio de lobos” (Mt 10.16). Se vocês são verdadeiros cristãos, não terão o amor dos mundanos. Não podem tê-lo. Eles os ridicularizarão e os chamarão de tolos, hipócritas ou algo igualmente desagradável. Então, apeguem-se mais uns aos outros. Em qualquer oposição que vocês enfrentarem de fora, permitam que ela os consolide em uma união mais firme [um com os outros]. Somos como uma pequena companhia de soldados, na terra do inimigo, cercados fortemente pelos vastos batalhões de inimigos; por isso, temos de permanecer juntos. Temos de ser como um único homem, unidos em comunhão íntima, como nosso grande Capitão nos ordena. Deus permita que o próprio fato de que estamos num país do inimigo resulte em tornar-nos mais completamente um do que temos sido!

Quando ouço um cristão achando erros em seu pastor, sempre admito que o Diabo encontrou alguém para fazer a sua obra suja. Espero que nenhum de vocês jamais seja encontrado a reclamar dos servos de Deus que estão fazendo o seu melhor para promover a causa do Senhor. Já existem muitos que estão prontos a achar erros neles...

Além disso, queridos irmãos, este mandamento é novo porque é sugerido por novas características. Em nosso próximo, pode haver algo amável; mas, em nossos irmãos em Cristo, tem de haver algo amável. Suponha que sejam pessoas recém-nascidas de Deus – de minha parte, não tenho uma visão mais bela do que a de uma pessoa recém-nascida em Cristo. Gosto de ouvir as orações daquele é recém-convertido. Talvez haja... enganos e erros na oração, mas isso não a destrói. Um cordeiro não bali exatamente no mesmo tom em que bali um carneiro. Contudo, um cordeiro é um objeto muito lindo, e qualquer um gosta de ouvir seus frágeis balidos. Há uma beleza nos cordeiros do rebanho de Cristo, assim como há nos carneiros adultos. Não há nada mais agradável a ser visto no mundo do que um crente envelhecido que viveu perto de Deus. Quão calmo é o espírito desse crente! Quando ele começa a falar sobre as coisas de Deus e a testemunhar sobre o amor de seu Senhor, quão encantador é o seu falar! Há muitas coisas lindas nos verdadeiros cristãos. Então, procurem encontrar as excelências deles, e não os seus defeitos. Se nós mesmos estivermos num estado de coração correto, é muito provável que admiraremos o que é bom nos outros... Há uma beleza em seus amigos que não há em vocês mesmos. Não fiquem sempre contemplando o espelho. Há vistas mais linda a serem contempladas. Olhe para a face de seu irmão em Cristo; e, quando vê nele algo da obra do Espírito, ame-o por causa disso.

Mais uma coisa: este mandamento é novo porque é uma preparação para perspectivas melhores do que as que desfrutamos antes. Nós, que cremos em Jesus, viveremos juntos no céu, para sempre; por isso, podemos ser bons amigos enquanto estamos neste mundo. Veremos uns aos outros com a mesma glória e nos ocuparemos, para sempre, em uma realização comum: a adoração de nosso Senhor e Mestre. A lembrança desta verdade deve remover muitas barreiras que agora existem em nossa sociedade... Pode também dar testemunho de que freqüentemente eu aprendo mais em uma hora de conversa com um homem piedoso do que aprendo de um homem instruído que conhece muito pouco as coisas de Deus. Nunca julgue os homens pelas roupas que eles vestem, mas pelo que eles são em si mesmos. É o coração do homem e, acima de tudo, a graça de Deus residente no coração desse homem que você e eu devemos valorizar e amar. Que Deus nos ajude a fazer isso!

Extraído de um sermão pregado no Metropolitan Tabernacle, em Newington, no domingo 4 de abril de 1875, reimpresso por Publications Pilgrim.

Traduzido por: Wellington Ferreira Copyright©Editora Fiel 2011

Traduzido do original em inglês: Christ’s New Commandment, sermão de C. H. Spurgeon republicado na revista Free Grace Broadcaster de Chapel Library, edição 206.

Fonte:
http://www.editorafiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=354

domingo, 17 de julho de 2011

Heresias Recicladas desde os dias da Reforma.


Heresias de vários tipos não são novas. Durante a Reforma havia um profeta chamado Thomas Munster, que acreditava ser a Bíblia muito difícil de interpretar. Era preciso um intérprete sacro, o qual não era a Igreja, mas o testemunho interno do Espírito.

A Bíblia, declarava ele, era apenas papel e tinta. "Bíblia, Babel, bolha!",proclamava. Usando a mesma Escritura como os atuais supostos profetas, ele justificava sua posição doutrinária com a declaração: "... a letra mata, e o Espírito vivifica" (2 Co 3.6). Lutero respondeu que a letra sem o Espírito estava morta, mas ambos não devem estar mais separados que a alma do corpo. Lutero disse que ele precisava de uma palavra firme de Deus, não as experiências fantásticas de um profeta dos dias de hoje.

Quanto aos sonhos, visões e revelações de Munster, Lutero, lembrando que o Espírito Santo é representado na Bíblia como pomba, disse que não daria ouvidos a Munster, mesmo que "ele tivesse engolido o Espírito Santo, com penas e tudo".  Munster se tornou o pai de todos os que crêem na infusão do Espírito que deixa de lado as Escrituras.

A Bíblia corretamente interpretada não nos permite torcer seus ensinos para se ajustar aos nossos desejos. Se a interpretarmos imparcialmente, ela não nos permitirá crer em toda e qualquer coisa. Como diz Jay Adams, a Bíblia se engaja no que se chama ensino antitético:

Na Bíblia, onde a antítese é tão importante, o discernimento — a habilidade de distinguir os pensamentos e caminhos de Deus de todos os outros — é essencial. O Senhor afirma que "o sábio de coração será chamado prudente" (Pv 16.21).

Do jardim do Éden, com suas duas árvores (uma permitida, outra proibida), ao destino eterno do ser humano no céu ou no inferno, a Bíblia apresenta dois, e somente dois caminhos: o de Deus e o de todos os outros.

Adequadamente, está dito que as pessoas devem ser salvas ou perdidas. Pertencem ao povo de Deus ou ao mundo. Havia Gerizim, o monte da bênção, e Ebal, o monte da maldição. Há o caminho estreito e o largo, levando ou à vida eterna ou à perdição eterna. Há os que são contra nós e os que são a nosso favor, os de dentro e os de fora. Há vida e morte, verdade e mentira, bom e ruim, luz e escuridão, o Reino de Deus e o reino de Satanás, amor e ódio, sabedoria espiritual e sabedoria do mundo. Está escrito que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai senão por Ele. Seu é o único nome debaixo do céu, pelo qual importa que sejamos salvos.

Para "fazer teologia", como se costuma dizer, temos de empregar opensamento antitético. Isso significa que se afirmamos uma doutrina, também temos de negar seu oposto. Tal raciocínio é a base de toda racionalidade; é uma função necessária da mente humana. Não só isso, também é consistente com os ensinos da Bíblia.

Por exemplo, consideremos a declaração: "Só a Biblia é a Palavra de Deus para o homem". Se esta afirmação for verdadeira, exclui todas as outras fontes de revelação e autoridade. Exclui as tradições do catolicismo romano como meio de revelação; exclui o livro dos Mórmons, o Alcorão e o Vedas. Também exclui os escritos de Ellen G. White e os de Mary Baker Eddy...

Nós, que acreditamos ser a Biblia a fonte única da revelação de Deus, não esperamos que revelação adicional passe pelos lábios de gurus, profetas, evangelistas e pregadores da fé. Ninguém jamais pode afirmar que Deus lhe revelou algo novo sobre o Espírito Santo, ou Jesus Cristo, ou profecia. Cremos que pode haver aprofundamento na compreensão, mas somos limitados pelas palavras de Deus nas páginas das Sagradas Escrituras.

Assim que aceitamos a Bíblia como a base única de toda doutrina, descobrimos que ela própria nos ajuda a definir que doutrinas são inegociáveis. Não ficamos sozinhos para decidir onde deve ser traçada a linha limítrofe entre a verdade e o erro. O Novo Testamento, ao longo de suas páginas, nos assevera constantemente que a doutrina da salvação — e o agrupamento de doutrinas que a apóiam — é de importância extrema. Isto faz sentido quando percebemos que a pergunta mais importante a ser respondida é como podemos estar certos de que passaremos a eternidade com Deus.

Paulo advertiu aos crentes na Galácia que alguns entre eles estavam tentando perverter o evangelho de Cristo. E acrescentou: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo: se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema" (Gl 1.8,9).

Imagine! Um anjo nos aparece e diz que o caminho para o céu é ser uma pessoa amorosa e decente. Você ficaria surpreso com quantos que creriam em tal revelação. Paulo diria: "Malditas sejam tais revelações!"

Paulo confrontou Pedro apenas porque ele deu a impressão errada sobre o evangelho. Veja o que aconteceu: Pedro deixou de comer com os gentios quando os judaizantes apareceram em cena, dando a impressão de que ele tomava o partido dos mestres que defendiam que temos de ser salvos por Cristo mais o cumprimento da lei. Até onde sabemos, Pedro nunca disse uma palavra sobre o conteúdo do evangelho; apenas se recusou a comer com os que criam que o evangelho era um dom gracioso de Deus pela fé.

Paulo ficou furioso! A simples impressão de Pedro de que os judaizantes poderiam estar certos foi razão suficiente para Paulo confrontá-lo publicamente.

                                                                   Erwin W. Lutzer

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Kardia


Nunca somos tão indefesos
contra o sofrimento
como quando nós amamos.


* O amor maduro diz:
preciso de você,
porque amo você.  


* O fato da consciência humana
permanecer infantil por toda vida
é o âmago da tragédia humana.


* A ânsia do poder
e o desejo do poder
é originado pela fraqueza. 


Autor: Pedro Costa (via torpedo

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Examine-se – Jonathan Edwards (1703 – 1758 )



Você poderia pensar que já temos mais informação sobre nós mesmos do que sobre qualquer outra coisa. Afinal de contas, estamos sempre junto de nós. Somos totalmente conscientes dos nossos atos. Instantaneamente sabemos tudo o que acontece conosco, e tudo o que fazemos.

Mas, em alguns aspectos, é mais difícil obter um conhecimento verdadeiro sobre nós mesmos do que sobre quase qualquer outra coisa. Portanto, devemos investigar diligentemente no segredo do nosso coração e examinar cuidadosamente todos os nossos caminhos e condutas. Aqui estão algumas diretrizes para ajudar neste processo:

Sempre una a auto-reflexão com a leitura e o ouvir da Palavra de Deus. Quando você ler a Bíblia ou ouvir sermões, reflita e compare os seus caminhos com o que você leu ou ouviu. Pondere que harmonia ou desarmonia existe entre a Palavra e os seus caminhos. A Bíblia testifica contra todo tipo de pecado e tem direções para qualquer responsabilidade espiritual, como escreveu Paulo: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra" (2Tm 3.16,17; ênfase acrescentada). Portanto, quando ler os mandamentos dados por Cristo e seus apóstolos, pergunte-se: Vivo de acordo com essas regras? Ou vivo de maneira contrária a elas?

Quando ler histórias da Bíblia sobre os pecados e sobre os culpados, faça uma auto-reflexão enquanto avança na leitura. Pergunte a si mesmo se é culpado de pecados semelhantes. Quando ler como Deus reprovou o pecado de outros e executou julgamentos por seus pecados, questione se você merece punição semelhante. Quando ler os exemplos de Cristo e dos santos, questione se você vive de maneira contrária aos seus exemplos. Quando ler sobre como Deus louvou e recompensou seu povo pelas suas virtudes e boas obras, pergunte se você merece a mesma bênção. Faça uso da Palavra como um espelho pelo qual você examina cuidadosamente a si mesmo — e seja um praticante da palavra (Tg 1.23-25).

Poucos são aqueles que fazem como deveriam! Enquanto o ministro testifica contra o pecado, a maioria está ocupada pensando em como os outros falham em estar à altura. Podem ouvir centenas de coisas em sermões que se aplicam adequadamente a eles; mas nunca pensam que o que pregador está falando lhes diz respeito. A mente deles está fixa em outras pessoas para quem a mensagem parece se encaixar, mas eles nunca julgam necessitar dessa pregação.

Se você faz coisa que geralmente são evitadas por pessoas perspicazes e maduras, tenha um cuidado especial em questionar-se se tais atos poderiam ser pecaminosos. Talvez você tenha argumentado consigo mesmo que tal ou tal prática é lícita; você não vê mal algum nela. Porém, se a coisa é geralmente condenada por pessoas piedosas, com certeza isso parece suspeito. Será prudente de sua parte considerar conscientemente se isso desagrada a Deus. Se uma prática não é aprovada por aqueles que em tais casos, em geral, provavelmente são mais corretos, você deveria considerar, com o maior cuidado, se a coisa em questão é lícita ou ilícita.

Pergunte a si mesmo se no seu leito de morte terá lembranças agra¬dáveis em relação à maneira que viveu. Pessoas saudáveis freqüentemente aceitam o que não se aventurariam a fazer se pensassem que logo estariam perante o Senhor. Pensam na morte como algo distante, e assim acham muito mais fácil tranqüilizar a consciência sobre o que estão fazendo no presente. Porém, se pensassem que poderiam morrer logo, não achariam tão confortável contemplar o Senhor com tais atos. A consciência não é facilmente cegada e silenciada quando o fim da vida parece iminente.

Solenemente pergunte a si mesmo e veja se está fazendo algo agora que pode trazer problemas quando você estiver no leito de morte. Pense nos seus caminhos e examine-se a si mesmo com a expectativa sensata de logo partir deste mundo para a eternidade. Empenhe-se com sinceridade para julgar imparcialmente as coisas com as quais você terá prazer no seu leito de morte — bem como as que você vai desaprovar e desejar deixar.

Considere o que outros podem dizer sobre você. Embora as pessoas estejam cegas quando às suas próprias faltas, facilmente descobrem os erros dos outros — e consideram-se aptas o suficientes para falar deles. Algumas vezes, as pessoas vivem de maneiras que absolutamente não são adequadas, porém estão cegas para si mesmas. Não vêem seus próprios fracassos, embora os erros dos outros lhes sejam perfeitamente claros e evidentes. Elas mesmos não vêem suas falhas; quanto às dos outros, não podem fechar os olhos ou evitar ver em que falharam.

Alguns, por exemplo, são inconscientemente muito orgulhosos. Mas o problema aparece notório aos outros. Alguns são muito mundanos ainda que não sejam conscientes disso. Alguns são maliciosos e invejosos. Os outros vêem isso, e para eles lhes parecem verdadeiramente dignos de ódio. Porém, aqueles que têm esses problemas não refletem sobre eles. Não há verdade no seu coração e nem nos seus olhos em tais casos. Assim devemos ouvir o que os outros dizem de nós, observar sobre o que eles nos acusam, atentar para que erro encontram em nós, e com diligência verificar se há algum fundamento nisso.

Se outros nos acusam de orgulhosos, mundanos, maus ou maliciosos — ou nos acusam de qualquer outra condição ou prática maldosa — deveríamos honestamente nos questionar se isso é verdade. A acusação pode nos parecer completamente infundada, e podemos pensar que os motivos ou o espírito do acusador está errado. Porém, a pessoa perspicaz verá isso como uma ocasião para um auto-exame.

Deveríamos especialmente ouvir o que os nossos amigos dizem para nós e sobre nós. É imprudente, bem como não-cristão, tomar isso como ofensae se ressentir quando os outros apontam nossas falhas. "Leais são as feridas feitas pelo que ama, porém os beijos de quem odeia são enganosos" (Pv 27.6). Deveríamos nos alegrar que nossas máculas foram identificadas.

Mas, também deveríamos atentar para as coisas sobre as quais os nossos inimigos nos acusam. Se eles nos difamam e nos insultam descaradamente — até mesmo com uma atitude incorreta — deveríamos considerar isso como um motivo para uma reflexão no íntimo, e nos perguntar se há alguma verdade no que está sendo dito. Mesmo se o que for dito é revelado de modo reprovável e injurioso, ainda pode ser que haja alguma verdade nisso. Quando as pessoas criticam outras, mesmo se seus motivos forem errados, provavelmente têm como alvo verdadeiros erros. Na verdade, nossos inimigos provavelmente nos atacam onde somos mais fracos e mais defeituosos; e onde demos mais abertura para a crítica. Tendem a nos atacar onde menos podemos nos defender. Aqueles que nos insultam — embora o façam com um espírito e modos não-cristãos — geralmente identificarão as genuínas áreas onde mais podemos ser achados culpados.

Assim, quando ouvirmos outros falando de nós nas nossas costas, não importa o espírito de crítica, a resposta certa é a auto-reflexão e uma avaliação quanto à verdade da culpa em relação aos erros de que nos acusam. Com certeza essa resposta é mais piedosa do que ficar furioso, revidar ou desprezá-los por terem falado maldosamente. Desse modo talvez tiremos o bem do mal, e esta é a maneira mais certa de derrotar o plano dos nossos inimigos, que nos injuriam e caluniam. Eles fazem isso com motivação errada, querendo nos injuriar. Mas, dessa maneira converteremos isso em nosso próprio favor. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

Não permita que seu coração o engane! – John Owen (1616-1683)


- Guarde-se contra o engano do seu coração -

A Palavra de Deus nos diz claramente: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas" (Jer. 17:9) e muitas experiências amargas confirmam isso. Com esta nona regra estamos pensando numa forma particular de auto-decepção. Estamos pensando em como uma falsa paz pode nos enganar. A regra para impedir essa falsa paz pode ser expressa da seguinte maneira:

Cuide-se para que não diga paz para você mesmo antes que Deus o faça Sua consciência é a voz de Deus: ouça o que ela diz. Quando você peca, ou quando se conscientiza do poder de algum desejo pecaminoso, sua consciência o perturba. E desse modo que Deus o adverte do perigo. É Deus perturbando sua paz. E Deus perturbando sua alma, para que você se volte para Ele e Lhe peça que dê Sua paz à sua alma. Quando Deus o perturba dessa maneira, seu maior perigo é dar uma falsa paz à sua alma. Nos dias de Jeremias, os falsos profetas eram culpados de proclamar essa falsa paz. É da seguinte maneira que Deus fala a respeito deles: "Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: paz, paz; quando não há paz" (Jer. 6:14). Seja cuidadoso para que não fale como um falso profeta à sua própria alma, e lhe diga: "Paz, paz" quando Deus não lhe deu essa paz.

Cinco maneiras de se saber a diferença entre a paz que Deus dá, e a falsa paz que você pode dar a você mesmo.

1. Qualquer paz que não traga com ela ódio ao pecado que tem perturbado sua paz é falsa

A paz que Deus fala à alma sempre traz com ela um sentimento de vergonha, e um santo desejo de mortificar seus desejos pecaminosos. Se olhar para Cristo, a Quem seu pecado traspassou (se não fizer isso não haverá nem cura e nem paz) você deve prantear (veja Zac. 12:10). Quando você vai a Cristo buscando cura, sua fé repousa em um Salvador ferido e traspassado. Ora, se fizer isso na força do Espírito Santo, ser-lhe-á dado ódio pelo pecado que tem perturbado sua paz. Quando Deus nos dá a paz a alma se envergonha dos diversos modos como o pecado tem estra¬gado nossa paz com Deus (Ez. 16:59-63).

E possível estarmos perturbados pelas conseqüências do pecado, mesmo sem odiarmos o próprio pecado. Na sua perturbação você pode estar buscando a misericórdia de Deus e ao mesmo tempo se apegando ao pecado que ama. Por exemplo:   sua consciência o convence de estar amando o mundo. Esse modo de buscar misericórdia nunca lhe trará paz verdadeiramente sólida. As palavras de Deus: "Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele" (1 João 2:15) perturbam sua paz. Na sua perturbação, você se volta para Deus para que Ele cure sua alma, porém está mais preocu¬pado com as conseqüências do seu amor pelo mundo do que com o mal desse amor. Esse é um mau sinal! Talvez seja salvo; no entanto a não ser que Deus por Suas ações especiais o faça realmente odiar o pecado, você terá pouca paz nesta vida.

2. Qualquer paz que não seja acompanhada pela ação do Espírito convencendo do "pecado e da justiça e do juízo" é uma falsa paz

A Palavra de Deus nunca fala de paz "somente em palavras", ela vem no poder do Espírito Santo. A paz de Deus de fato cura a ferida. Quando nos damos a nós mesmos uma falsa paz, não passará muito tempo até que o pecado que havia perturbado nossa paz apareça outra vez.

Como regra geral, Deus espera que Seus filhos aguardem até que estejam certos que Ele lhes deu a paz. Como disse o profeta Isaías: "Esperarei no Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei" (Is. 8:17). Deus pode curar a ferida do pecado num instante. Contudo, às vezes, como um médico, Ele gasta tempo limpando a ferida completamente para que ela se cure adequadamente. Aqueles que dão uma falsa paz para si mesmos nunca têm tempo para esperar que Deus faça Sua obra completa. Tais pessoas correm para Deus buscando paz e presumem que ela foi concedida no momento em que a pediram. Não há aquele esperar para que o Espírito de Deus cure a ferida do pecado completamente.

A paz de Deus dulcifica o coração e dá gozo à alma. Quando Deus fala paz, Suas palavras não são apenas verdadeiras, mas elas fazem bem à alma. "Sim, as minhas palavras fazem o bem" (Miq. 2:7). Quando Deus fala paz, ela guia e guarda a alma de modo que não retorne à insensatez (Sal. 85:8). Quando as pessoas falam paz para si mesmas, o coração não é curado do mal e, elas continuam num estado de transvio. Quando Deus fala paz, vem junto uma percepção tal do Seu amor, que a alma se sente obrigada a mortificar os desejos pecaminosos.

3. Toda e qualquer paz que trate do pecado de um modo superficial é uma falsa paz

Como já vimos antes, esta é a queixa que Jeremias fez dos falsos profetas do seu tempo. "Paz, paz" eles dizem, "quando não há paz" (Jer. 6:14). Da mesma maneira, algumas pessoas fazem da cura de suas feridas pecaminosas uma obra fácil. Olham para algumas promessas das Escrituras e pensam que estão curadas. Uma promessa das Escrituras só pode efetuar o bem quando misturada com a fé. (Heb. 4:2). Não se trata de um mero olhar para a palavra de miseri¬córdia e, pronto, isso traz a paz. O olhar precisa estar misturado com a fé até que você a tenha apropriado para si. De outra maneira, qualquer paz que tenha obtido é uma falsa paz. Neste caso não vai demorar muito até que sua ferida se abra novamente e você fique sabendo que ainda não está curado.

4.      Qualquer paz que trate do pecado de uma maneira parcial é falsa

O cristão sincero não buscará apenas estar em paz com seus desejos pecaminosos que mais o perturbam. Tentar lidar com o pecado que mais o atormenta, sem lidar também com aqueles pecados que o perturbam menos, realmente seria tratar do pecado com parcialidade. Qualquer paz que pareça vir de se lidar com o pecado dessa maneira é falsa. Só podemos esperar a paz de Deus quando tivermos respeito igual por todos os Seus mandamentos. Deus nos justifica de todos os nossos pecados. Deus nos manda abandonarmos todos os nossos pecados. Ele é um Deus de olhos puros e não pode olhar para a iniqüidade.

5.      A paz de Deus é uma paz que nos humilha, como aconteceu no caso de Davi (veja Sal. 51:1)

Pense na profunda humilhação sentida por Davi quando Nata lhe trouxe a palavra perdoadora de Deus (2 Sam. 12:13).

Resumindo

Se quiser ter certeza da paz de Deus sendo dada a você, aprenda a andar intimamente com Seu Salvador. Jesus nos diz: "as minhas ovelhas ouvem a minha voz". Quando apren-dermos a ter comunhão com nosso Salvador, aprenderemos a distinguir entre Sua voz e a voz de um estranho. Quando Ele fala, fala como nenhum outro homem o faz; Ele fala com poder. Quando Jesus fala, de um modo ou de outro, Ele faz seu coração arder dentro de você como fez com os discípulos no caminho de Emaús (Lucas, capítulo 24).

A outra grande evidência de Jesus estar falando paz à alma é o bem que ela faz. Sabemos que o Senhor falou paz quando o resultado é sermos pessoas mais humildes. Sabemos que o Senhor falou paz quando nossos desejos pecaminosos são enfraquecidos. Quando as promessas de paz levam você a amar o Senhor e purificar sua alma, quando humilham seu coração com uma verdadeira tristeza pelo pecado, quando o impulsionam a uma obediência amorosa e libertam sua alma do amor por si mesma, então o Senhor falou paz.