terça-feira, 5 de julho de 2011

Não permita que seu coração o engane! – John Owen (1616-1683)


- Guarde-se contra o engano do seu coração -

A Palavra de Deus nos diz claramente: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas" (Jer. 17:9) e muitas experiências amargas confirmam isso. Com esta nona regra estamos pensando numa forma particular de auto-decepção. Estamos pensando em como uma falsa paz pode nos enganar. A regra para impedir essa falsa paz pode ser expressa da seguinte maneira:

Cuide-se para que não diga paz para você mesmo antes que Deus o faça Sua consciência é a voz de Deus: ouça o que ela diz. Quando você peca, ou quando se conscientiza do poder de algum desejo pecaminoso, sua consciência o perturba. E desse modo que Deus o adverte do perigo. É Deus perturbando sua paz. E Deus perturbando sua alma, para que você se volte para Ele e Lhe peça que dê Sua paz à sua alma. Quando Deus o perturba dessa maneira, seu maior perigo é dar uma falsa paz à sua alma. Nos dias de Jeremias, os falsos profetas eram culpados de proclamar essa falsa paz. É da seguinte maneira que Deus fala a respeito deles: "Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: paz, paz; quando não há paz" (Jer. 6:14). Seja cuidadoso para que não fale como um falso profeta à sua própria alma, e lhe diga: "Paz, paz" quando Deus não lhe deu essa paz.

Cinco maneiras de se saber a diferença entre a paz que Deus dá, e a falsa paz que você pode dar a você mesmo.

1. Qualquer paz que não traga com ela ódio ao pecado que tem perturbado sua paz é falsa

A paz que Deus fala à alma sempre traz com ela um sentimento de vergonha, e um santo desejo de mortificar seus desejos pecaminosos. Se olhar para Cristo, a Quem seu pecado traspassou (se não fizer isso não haverá nem cura e nem paz) você deve prantear (veja Zac. 12:10). Quando você vai a Cristo buscando cura, sua fé repousa em um Salvador ferido e traspassado. Ora, se fizer isso na força do Espírito Santo, ser-lhe-á dado ódio pelo pecado que tem perturbado sua paz. Quando Deus nos dá a paz a alma se envergonha dos diversos modos como o pecado tem estra¬gado nossa paz com Deus (Ez. 16:59-63).

E possível estarmos perturbados pelas conseqüências do pecado, mesmo sem odiarmos o próprio pecado. Na sua perturbação você pode estar buscando a misericórdia de Deus e ao mesmo tempo se apegando ao pecado que ama. Por exemplo:   sua consciência o convence de estar amando o mundo. Esse modo de buscar misericórdia nunca lhe trará paz verdadeiramente sólida. As palavras de Deus: "Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele" (1 João 2:15) perturbam sua paz. Na sua perturbação, você se volta para Deus para que Ele cure sua alma, porém está mais preocu¬pado com as conseqüências do seu amor pelo mundo do que com o mal desse amor. Esse é um mau sinal! Talvez seja salvo; no entanto a não ser que Deus por Suas ações especiais o faça realmente odiar o pecado, você terá pouca paz nesta vida.

2. Qualquer paz que não seja acompanhada pela ação do Espírito convencendo do "pecado e da justiça e do juízo" é uma falsa paz

A Palavra de Deus nunca fala de paz "somente em palavras", ela vem no poder do Espírito Santo. A paz de Deus de fato cura a ferida. Quando nos damos a nós mesmos uma falsa paz, não passará muito tempo até que o pecado que havia perturbado nossa paz apareça outra vez.

Como regra geral, Deus espera que Seus filhos aguardem até que estejam certos que Ele lhes deu a paz. Como disse o profeta Isaías: "Esperarei no Senhor, que esconde o seu rosto da casa de Jacó, e a ele aguardarei" (Is. 8:17). Deus pode curar a ferida do pecado num instante. Contudo, às vezes, como um médico, Ele gasta tempo limpando a ferida completamente para que ela se cure adequadamente. Aqueles que dão uma falsa paz para si mesmos nunca têm tempo para esperar que Deus faça Sua obra completa. Tais pessoas correm para Deus buscando paz e presumem que ela foi concedida no momento em que a pediram. Não há aquele esperar para que o Espírito de Deus cure a ferida do pecado completamente.

A paz de Deus dulcifica o coração e dá gozo à alma. Quando Deus fala paz, Suas palavras não são apenas verdadeiras, mas elas fazem bem à alma. "Sim, as minhas palavras fazem o bem" (Miq. 2:7). Quando Deus fala paz, ela guia e guarda a alma de modo que não retorne à insensatez (Sal. 85:8). Quando as pessoas falam paz para si mesmas, o coração não é curado do mal e, elas continuam num estado de transvio. Quando Deus fala paz, vem junto uma percepção tal do Seu amor, que a alma se sente obrigada a mortificar os desejos pecaminosos.

3. Toda e qualquer paz que trate do pecado de um modo superficial é uma falsa paz

Como já vimos antes, esta é a queixa que Jeremias fez dos falsos profetas do seu tempo. "Paz, paz" eles dizem, "quando não há paz" (Jer. 6:14). Da mesma maneira, algumas pessoas fazem da cura de suas feridas pecaminosas uma obra fácil. Olham para algumas promessas das Escrituras e pensam que estão curadas. Uma promessa das Escrituras só pode efetuar o bem quando misturada com a fé. (Heb. 4:2). Não se trata de um mero olhar para a palavra de miseri¬córdia e, pronto, isso traz a paz. O olhar precisa estar misturado com a fé até que você a tenha apropriado para si. De outra maneira, qualquer paz que tenha obtido é uma falsa paz. Neste caso não vai demorar muito até que sua ferida se abra novamente e você fique sabendo que ainda não está curado.

4.      Qualquer paz que trate do pecado de uma maneira parcial é falsa

O cristão sincero não buscará apenas estar em paz com seus desejos pecaminosos que mais o perturbam. Tentar lidar com o pecado que mais o atormenta, sem lidar também com aqueles pecados que o perturbam menos, realmente seria tratar do pecado com parcialidade. Qualquer paz que pareça vir de se lidar com o pecado dessa maneira é falsa. Só podemos esperar a paz de Deus quando tivermos respeito igual por todos os Seus mandamentos. Deus nos justifica de todos os nossos pecados. Deus nos manda abandonarmos todos os nossos pecados. Ele é um Deus de olhos puros e não pode olhar para a iniqüidade.

5.      A paz de Deus é uma paz que nos humilha, como aconteceu no caso de Davi (veja Sal. 51:1)

Pense na profunda humilhação sentida por Davi quando Nata lhe trouxe a palavra perdoadora de Deus (2 Sam. 12:13).

Resumindo

Se quiser ter certeza da paz de Deus sendo dada a você, aprenda a andar intimamente com Seu Salvador. Jesus nos diz: "as minhas ovelhas ouvem a minha voz". Quando apren-dermos a ter comunhão com nosso Salvador, aprenderemos a distinguir entre Sua voz e a voz de um estranho. Quando Ele fala, fala como nenhum outro homem o faz; Ele fala com poder. Quando Jesus fala, de um modo ou de outro, Ele faz seu coração arder dentro de você como fez com os discípulos no caminho de Emaús (Lucas, capítulo 24).

A outra grande evidência de Jesus estar falando paz à alma é o bem que ela faz. Sabemos que o Senhor falou paz quando o resultado é sermos pessoas mais humildes. Sabemos que o Senhor falou paz quando nossos desejos pecaminosos são enfraquecidos. Quando as promessas de paz levam você a amar o Senhor e purificar sua alma, quando humilham seu coração com uma verdadeira tristeza pelo pecado, quando o impulsionam a uma obediência amorosa e libertam sua alma do amor por si mesma, então o Senhor falou paz. 

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