Tullian Tchividjian
Há um tempo, em outro texto que publiquei, eu destaquei que a confiança na minha transformação não é a fonte de minha segurança. Antes, a fonte de minha segurança vem da fé na substituição de Cristo. A segurança nunca parte de nós mesmos. Apenas surge como conseqüência de olhar para Cristo.
Como resultado, algumas pessoas me fizeram esta pergunta: "Mas espere um pouco... considerando que Deus nos salva e o Espírito começa sua obra de renovação em nossas vidas, essa obra de renovação interior não deveria constituir uma fonte de segurança? Não seria pelo menos um caminho para saber que estamos justificados diante de Deus?"
Quero ser bem explícito sobre o que estou falando quando trato do fundamento da nossa segurança. Na verdade, a obra santificadora do Espírito na vida do cristão dá fruto (Gálatas 5.22-23). Deus nos faz crescer na "graça e conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo". Em Cristo, morremos para o pecado e ressuscitamos para uma novidade de vida (Romanos 6.4). E esta vida nova destaca-se em novos afetos, novos apetites, novos hábitos. Começamos a amar as coisas que Deus ama e odiar as coisas que Deus odeia. Começamos a crescer dentro de nossa vida nova, ressuscitada.
Mas quando a Bíblia fala especificamente do fundamento da segurança, está fazendo a pergunta: "Como o homem pode então estar justificado diante de Deus?" (Jó 25.4). Segurança tem a ver, em outras palavras, com a confiança da consciência na absolvição final diante de Deus. Quando falamos de segurança estamos falando do julgamento final – qual será o veredicto divino final sobre nós. Nossa segurança depende de nossa certeza de que Deus no juízo final dirá "Inocente!"
A Bíblia é explícita de que Deus exige perfeição moral. Ela nos diz inequivocamente que Deus é santo e, portanto, não tolera qualquer vestígio de falta de santidade. Defeitos, manchas, ou sujeiras – por pequenos que sejam – são inaceitáveis e merecem a ira de Deus. E no caso de eu estar enganado pensando que a minha melhoria moral operada pelo Espírito desde que eu me tornei um cristão está me garantindo nota, Jesus (no Sermão do Monte) destaca o que a perfeição de Deus inclui: "Não apenas atos externos mas sentimentos e motivações internos devem ser absolutamente puros. Jesus não condena apenas o adultério mas a concupiscência, não apenas o homicídio mas a ira – prometendo o mesmo julgamento para ambos" (Gene Veith).
Em Mateus 5-7, Jesus quer que percebamos que por mais que imaginemos que estamos melhorando, a exigência "vocês devem ser perfeitos como o vosso Pai do céu é perfeito" vem a ser o alvo e não "como eu melhorei nos últimos anos", e perceber que falta-nos uma perna para ficar em pé quando temos de responder a pergunta: "Como posso estar justificado diante de Deus"?
Nossa transformação, nossa pureza, nosso crescimento em santidade, nossos avanços morais e sucessos espirituais – despertados pelo Espírito como deveriam ser – simplesmente carecem da santidade que Deus exige. E considerando que "o veredicto inocente" depende da ausência de pecado, a segurança é em ultima instância derivada da perfeição, não do progresso.
Portanto, se Deus exige perfeição e não há segurança definitiva sem ela (Deus não está avaliando em curva, afinal), que esperança posso ter então, imperfeito como sou?
A resposta do Novo Testamento a esta pergunta é singular:
No evangelho encontra-se revelada uma justiça de Deus, uma justiça que é pela fé do começo ao fim, exatamente como está escrito: "O justo viverá por fé" (Romanos 1.17). "Pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus" (Romanos 3.23-25).
"Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça" (Romanos 4.5). A consciência recebe segurança apenas quando é criada a fé viva pelo Espírito através da proclamação do Evangelho de que Deus justifica o ímpio. A justificação de que precisamos vem de Deus "mediante a fé em Cristo Jesus, para todos [e sobre todos] os que crêem" (Romanos 3.22). A vida que vivemos, vivemos pela fé "no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gálatas 2.20). Portanto a fé é a única pedra de toque – o milagre dado por Deus de crer na impossível realidade de que Deus me perdoa e me ama por causa do que Cristo realizou em meu benefício. A segurança acontece quando o dom da fé dado por Deus, operado pelo Espírito, capacita-me a crer que estou perdoado para sempre, que a justiça de Cristo é considerada minha, de que em Cristo Deus não considera os meus pecados como sendo meus (2 Coríntios 5.19). Somos justificados (reconhecidos como justos) somente pela graça, somente através da fé, em Cristo somente. A exigência de Deus da perfeição moral foi satisfeita por Cristo em nosso lugar (Mateus 5.17). Portanto, a segurança não pode nunca ser encontrada na minha busca. Só pode acontecer pela fé – crendo naquele que "foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa danossa justificação" (Romanos 4.25).
Martyn Lloyd-Jones nos ajuda aqui:
"Podemos expô-lo assim: o homem que tem fé é o homem que não está mais olhando para si mesmo nem vendo a si mesmo. Ele não olha para nada que ele foi antes. Ele não olha para o que é agora. Ele nem mesmo olha para o que espera ser em resultado de seus próprios esforços. Ele olha totalmente para o Senhor Jesus Cristo e Sua obra consumada, e descansa apenas nisso. Ele deixa de dizer: "Ah, sim, eu cometia pecados terríveis, mas agora faço isto e aquilo." Ele para de dizer isso. Se ele continua dizendo isso, não tem fé. A fé se expressa de uma maneira totalmente diferente e faz um homem dizer: "Sim eu pecava seriamente, vivi uma vida de pecado, mas agora sou um filho de Deus porque não estou me apoiando na minha própria justiça; minha justiça está em Jesus Cristo e Deus colocou isso na minha conta."
A verdadeira segurança, em outras palavras, fundamenta-se não em alguma palavra ou obra que vem de mim, mas na palavra do evangelho que vem de fora e nos convence do que Jesus fez. Nossa segurança está ancorada no amor e na graça de Deus expressos na troca gloriosa: nosso pecado pela justiça. João Calvino escreveu: "A fé em resumo é um reconhecimento firme e certo da benevolência de Deus para conosco, fundamentado na verdade da promessa gratuitamente concedida em Cristo, revelada a nossas mentes e selada em nossos corações pelo Espírito Santo" (Institutes, 1.51[3.2.7]) E, considerando que nossa fé sempre é fraca e oscilante, precisamos ser lembrados destas boas novas o tempo todo comunicadas através da pregação e confirmadas nos sacramentos.
No exemplar de Fevereiro de 2003 de New Horizons, Peter Jensen escreve:
"O evangelho do Senhor Jesus Cristo diz que o fundamento de nossa segurança é nossa justificação. Em Romanos 5.1, Paulo escreve que "justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". A fé em Jesus Cristo (que é por si mesma um dom de Deus) nos deu acesso "a esta graça na qual estamos firmes" (v.2). Não permanecemos em alguma experiência que tivemos, não estamos em qualquer progresso que tenhamos feito, não estamos em nosso sucesso na batalha contra o pecado. Permanecemos na graça de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual ele nos justificou."
Do que precisamos nos lembrar é que "diante do trono de Deus nos céus" somos (e em nós mesmos sempre seremos) imperfeitos – portanto, nenhuma segurança existe em olharmos para nós mesmos. Mas, "diante do trono de Deus nos céus, tenho uma justificativa perfeita" – e essa forte justificativa não é minha transformação imperfeita pela graça, não é o meu amor a Deus e ao próximo, não é quanto eu cresci através dos anos. Essa justificativa forte e perfeita é Jesus Cristo – sola!
Tendo morrido o Salvador imaculado,
Minha alma pecadora é considerada livre,
Pois o justo Deus está satisfeito
Quando olha para Ele e me perdoa.
Portanto, "quando Satanás me tenta com o desespero e me fala da culpa que há em mim", se olhar para dentro estou em grandes apuros. Mas, se "olhar para cima para aquele que acabou com todo o meu pecado", então, através do milagre da fé, eu posso dizer ao acusador que ruge por causa dos pecados que cometi, "eu sei que todos eles e milhares mais, Jeová não considera mais". É por causa disto (e neste contexto) que eu conto a história do velho pastor que, no seu leito de morte, disse à sua esposa que tinha certeza de ir para o céu porque não se lembrava mais de nenhuma boa obra que tivesse praticado. Sua segurança fundamentava-se pela fé onde a verdadeira segurança pode fundamentar-se: a obra perfeita de Cristo por nós, não nossas obras imperfeitas. Semelhantemente, o grande teólogo holandês Herman Bavinck foi interrogado em seu leito de morte se estava com medo de morrer, e respondeu: Eu tenho minha fé, e nela tenho tudo.
Tenha segurança: Diante de Deus a justiça de Cristo é tudo o que precisamos; diante de Deus, a justiça de Cristo é tudo o que temos.
William Graham Tullian Tchividjian é o pastor da Igreja Presbiteriana Coral Ridge em Ft. Lauderdale, Florida. É professor visitante de Teologia no Reformed Theological Seminary e neto do conhecido pregador e evangelista Billy Graham. É formado em filosofia pela Universidade de Columbia e obteve seu M.Div pelo Reformed Theological Seminary. Tullian é autor de vários livros e contribui como um dos editors do jornal Leadership Journal. Ele é preletor em diversas conferência teológicas nos EUA e faz um programa de rádio, com meditações e pregações. É casado com Kim, com quem tem três filhos Gabe, Nate, e Genna.
Traduzido por: Yolanda M.Krievin
Editor: Tiago J. Santos Filho
Editor: Tiago J. Santos Filho
Copyright©2012 Tullian Tchividjian
Copyright©2012 Editora Fiel
Copyright©2012 Editora Fiel
Traduzido do original em inglês: Where Can I Find Assurance? – Extraído do Site:The Gospel Coalition.
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