Por JOSEMAR BESSA
Qual é a maior loucura humana? Fyodor Dostoevsky diz:
“Entre as recordações que cada um de nós guarda, algumas há que só contamos aos amigos. Há ainda outras que nem sequer aos amigos confessamos, que só a nós próprios dizemos e, mesmo assim, no máximo segredo. Finalmente, há coisas que o homem nem sequer se permite confessar a si mesmo. Ao longo da existência, toda a pessoa honesta acumulou não poucas destas recordações. Diria mesmo que a quantidade é tanto maior quanto mais honesto o homem. Eu, em todo o caso, não foi há muito que me decidi a recordar algumas das minhas antigas aventuras; até agora evitava fazê-lo, aliás com um certo desassossego. Porém agora, quando as evoco e desejo mesmo anotá-las, agora vou tirar a prova: será possível sermos francos e sinceros, pelo menos com nós próprios, e dizermo-nos toda a verdade?
Observo, a propósito, que Heine afirma não poderem existir autobiografias exatas e que o homem mente sempre quando fala de si próprio. Em sua opinião, Rousseau enganou-nos à certa nas suas “Confessions”, e até deliberadamente, por vaidade. Tenho a certeza de que Heine tem razão: compreendo muitíssimo bem que nos possamos acusar de crimes abomináveis apenas por vaidade e também compreendo o que pode ser esse sentimento. Mas Heine tinha em vista as confissões públicas; ora, eu escrevo só para mim e declaro duma vez por todas que, se pareço dirigir-me ao leitor, é apenas um processo de que me sirvo para maior facilidade.”
Fyodor Dostoevsky, em 'Cadernos do Subterrâneo
Sem a ação do Espírito Santo, assim como Davi mentiu para si mesmo até que Natã o confrontou contando-lhe uma história que parecia ser de outro, nós mentiremos para nós mesmos.
Isto é evidente diante dos muitos avisos contra o auto-engano contidos nos escritos apostólicos. "Não erreis", é uma advertência muito repetida por Paulo, em sua primeira epístola aos Coríntios. Capítulos 3:16, 6:9; 15:33. Como é impressionante sua linguagem em Gálatas: “Porque, se alguém cuida ser alguma coisa, não sendo nada, engana-se a si mesmo” - Gálatas 6:3
O apóstolo Tiago segue e mesmo caminho: "Não vos enganeis, meus amados irmãos-Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos." - Tiago 1:16. Que advertências solenes estão em muitos outros lugares nos chamando a verdadeira auto-análise e no cuidado com a possibilidade do auto-engano: “Examinai-vos a vós mesmos, se se de fatoestais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.” -2 Coríntios 13:5
Mas o que pode igualar a força e imponência da linguagem do apóstolo e precaução em referência a si mesmo? “E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado.” - 1 Coríntios 9:25-27
Se um homem, o maior, o mais santo, o membro mais ilustre, ministro e apóstolo da igreja cristã, achou necessário ter cautela tal, qual deve ser a necessidade de nossa parte?
O perigo do auto-engano é também mostrado nas declarações alarmantes de Cristo. Na parábola do semeador, ele dividiu os ouvintes da palavra em quatro classes, das quais apenas uma é composta de crentes sinceros, embora pelo menos duas das três outras, são representados como recebendo a palavra, e professando-a por um tempo como se tivessem sido regenerados quando de fato não foram. Como é solene e nos desperta as suas palavras no sermão do Monte. "Nem todo o que diz a mim, Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus... E então lhes direi: Nunca vos conheci...'' Mat. 7:21-23
Sem a ação do Espírito Santo nós mentiremos para nós mesmos. E até a loucura das loucuras, mentiremos para Deus.
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