quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Algo mais seguro: inspiração e autoridade da Palavra


Por Kevin De Young

Texto base: 2 Pedro 1.16-21

Pedro escreveu esta carta combatendo falsos mestres que ensinavam que a graça de Deus dá permissão para pecar. Uma das motivações para buscar a piedade é a volta de Cristo e a certeza da volta de Cristo está fundamentada em (1) testemunhas oculares (e não em mitos v.16; 2 Tm 4.3-4) e em (2) fontes autoritárias.

Essa fonte autoritária é a “palavra profética”, a Escritura, e Pedro destaca três características dela:

1) A Escritura é a Palavra de Deus.
Teólogos neo-ortodoxos normalmente tentam separar a Palavra de Deus da Escritura. Outros tentam colocar uma divisão onde não existe: ou você é um cristão do Espírito ou da “letra”, “da Bíblia”. Contudo, Pedro usa o termo “graphe”, que implica dizer que a autoridade reside no texto objetivo e não em nosso sentido subjetivo.

E se a própria Palavra de Deus contém a própria autoridade de Deus (v.20), então a própria Escritura carrega a autoridade de Deus. Pastor, quando você vai pregar, você sente que tem uma Palavra poderosa que você está pregando ou que prega uma palavra fraca? Há poder e autoridade na Palavra de Deus!

2) Esta Palavra foi registrada sob inspiração dinâmica.
Ao registrar a Escritura, Deus usou a personalidade dos seres humano, não foi algo mecânico

3) A Bíblia é inerrante.
Pedro afirma que nada na Escritura foi escrito por iniciativa humana (v. 20-21). A Bíblia é um livro divino, totalmente confiável. Quando rejeitamos a Inerrância, colocamo-nos como juízes da Palavra de Deus, dizendo o que é ou não é confiável.

Tendo isso em vista, Pedro, que viu a transfiguração de nosso Senhor, coloca a “palavra profética” acima de sua experiência. Assim, mesmo uma experiência espetacular com Deus não é mais certa que a Escritura (v. 19). Você não precisa de uma revelação especial além das Escrituras.

As boas novas são que cada um de nós pode ouvir a Deus hoje, agora! Deus ainda fala. E ele tem uma Palavra para nos que é certa, segura e inerrante. Você não precisa de uma revelação de Deus fora da Bíblia. Você pode ouvir a voz de Deus todos os dias. Cristo ainda fala porque o Espírito já falou. Se você quer ouvir a Deus vá para o livro que registrou somente aquilo que ele disse. Mergulhe na Palavra de Deus. Você não encontrará nada mais seguro.

Muitas vezes ficamos esperando ansiosamente ouvir a voz de Deus, mas temos a certa Palavra de Deus registrada na Bíblia. Quer ouvir o Espírito Santo? Abra a Bíblia!


Kevin DeYoung é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério ­ The Gospel Coalition.

domingo, 26 de outubro de 2014

O EFEITO CINDERELLA (na Igreja)


Por Carlos Moreira

Não há consenso sobre a origem do Conto de Fadas mais arrebatador da humanidade: “Ciderella”. A versão mais popular dá conta de que ele é produto do famoso escritor francês Charles Perrault e teria sido escrito em 1697.

Decerto, Cinderella é uma história maravilhosa. De suas muitas nuances, uma me chamou particularmente a atenção nestes dias: a magia que transforma, momentaneamente, a garota rejeitada e descuidada em uma princesa estonteante.

Mas tudo na vida tem um custo... Aquele encantamento, que abria possibilidades e entretecia sonhos, tragicamente, tinha prazo de validade – dia, hora e lugar para acabar. E foi assim que, no bom da festa, Cinderella teve de correr para não se transfigurar na frente de todos e do príncipe, numa “gata borralheira”.

Como pregador e pensador deste tempo, percebo um fenômeno que vem acontecendo entre aqueles que dizem seguir a Jesus e ao Evangelho: o “Efeito Cinderella”. Trata-se de um tipo de prática religiosa que acaba por tornar o sujeito um refém da agenda do sagrado.

O Efeito Cinderella é a crença confinada ao ambiente, a espiritualidade de ocasião que consagra o personagem, a religião com hora marcada. Neste tipo de profissão de fé, o indivíduo pensa e age como crente apenas quando está conectado ao calendário da igreja, num culto, num movimento ou numa vigília de oração. Nestas circunstâncias, muda o olhar, a fala, os gestos, os atos, as convicções. Passa a seguir ritos, acredita em mitos, fala sério, torna-se ético no proceder e ascético quanto ao pecado.

Contudo, findo o “efeito mágico”, alterado o ambiente e as ambiências, a pessoa fica livre para viver conforme sua própria conveniência, entregue a tórridas concupiscências, dessensibilizado de consciência,
amargurado de alma e petrificado de coração. No fundo, é como se a fé estivesse condicionada ao acionamento de um botão on/off , que liga e desliga conforme a ocasião e as circunstâncias.

Com tristeza, encontro maridos exemplares no Templo, mas que são adúlteros contumazes no escritório. Vejo gente sincera trabalhando em movimentos, mas mentindo descaradamente na sala de aula, pudica na EBD e depravada na mesa do bar. Para nossa vergonha, é a consagração do estelionato espiritual, a bipolaridade existencial, a dialética religiosa sem síntese, nem tem propósitos, nem se desdobra de forma consequente.

Bem dizia a canção consagrada na voz imortal da Elis Regina: “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Sim, “nossos pais” adoravam no Templo, por isso tornamo-nos devotos de espaços pseudo-sacralizados, de geografias espirituais, batemos no peito diante do altar, mas ignoramos o necessitado agonizante em nosso caminho, somos sacerdotes que ofertam o ideal no altar da conveniência.

Mas não esqueçamos que no grande banquete que nos aguarda, onde estaremos diante do Rei, não adiantará encantamentos. Naquele dia, não haverá como esconder a fratura exposta de nossa consciência, atrofiada por práticas refratárias ao amor. Ali, ou você se revestirá de vestes de louvor ou trajará trapos de imundice.

Ainda é tempo de lembrar que Jesus nos desafiou a encarnar um tipo de espiritualidade que se projeta de ambientes para as dinâmicas do cotidiano. “Nem neste Templo e nem no Monte”, disse a Samaritana, mas andando em Espírito e em Verdade! Deus continua buscando gente que não se satisfaça com rotinas religiosas e que não se torne prisioneiro de catedrais. Sim, para estes, Ele ainda continua a dizer: “Vem e Segue-me!”.


Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2014/10/o-efeito-cinderella-na-igreja.html

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Por que Deus não impediu a Queda?

Hermes Fernandes

Eis uma das mais delicadas questões com que se depara a Teologia cristã. Como crentes na soberania divina irrestrita, não podemos supor que a Queda tenha pego Deus de surpresa.

A prova de que Deus não apenas previa a desobediência humana, como a permitiu, e a incluiu em Seu glorioso plano, é que, antes mesmo da fundação do mundo, Ele havia provido um meio de equacionar o problema do pecado. De forma que a Bíblia nos apresenta Cristo como o “Cordeiro que foi morto desde antes da fundação do mundo” (Ap.13:8b).

Não há improvisos no plano arquitetado por Deus. E a prova disso é que Ele já havia feito ampla provisão.

Antes do início da História, um plano foi arquitetado, em que cada evento foi previamente decretado pelo Criador. Em Sua Onisciência, Deus sempre soube com antecedência de todas as coisas. O Deus das Escrituras não deve ser confundido com o “deus” da chamada teologia de processo, que nada sabe quanto o futuro, pois é refém do tempo que ele mesmo criou.

Definitivamente, Deus não é refém do tempo. Ele vive na Eternidade, onde não há passado ou futuro, mas um eterno agora. Todas as coisas estão diante d’Ele concomitantemente. Ele não precisa lançar mão de dados estatísticos, para saber a probabilidade de algo acontecer ou não. Ele simplesmente sabe.

Em Sua sabedoria, Ele decidiu que o homem só conheceria Seu amor e Sua graça, se tropeçasse e caísse de seu estado original.

Agostinho foi feliz ao declarar: “Oh bendita queda, que nos proporcionou tão grande redentor!”. Se não houvesse Queda, não haveria necessidade de Redenção. Se não ocorresse a Ruptura, também não haveria a Convergência em Cristo na Plenitude dos Tempos. Portanto, não haveria cruz; jamais entenderíamos a profundidade do amor de Deus. A graça nos seria um conceito desprovido de qualquer sentido.

Sem a Queda, fatalmente seríamos corrompidos por nossa própria perfeição, como aconteceu com um tal querubim ungido.

Foi melhor sermos humilhados, para ser depois exaltados pela Graça divina, do que nos exaltarmos, e sermos definitivamente derrubados de nossa arrogância.

Tudo estava no plano de Deus. A maneira como cairíamos, e como seríamos reconduzidos à glória.

A serpente não entrou no paraíso por um descuido de Deus.

A provisão de Deus para a reversão da Queda é Cristo. Ele reverteu, através de Sua obediência, o processo desencadeado pelo pecado.

Ele não só zerou nosso débito, mas colocou-nos numa situação de crédito com Deus.

Adão foi tentado no paraíso e caiu. Jesus foi tentado no deserto, e não caiu. Enquanto Adão podia comer de todas as árvores, Jesus, no deserto, não tinha alternativa pra saciar Sua fome, senão transformar pedras em pão. Mas Ele resistiu até o último instante.

Agora, Sua vida justa e santa é creditada em nossa conta, enquanto nossos pecados foram debitados na Sua. “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2 Co.5:21).


Fonte: http://www.genizahvirtual.com/2014/10/por-que-deus-nao-impediu-queda.html

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O corpo e a fome na Ceia do Senhor


Por Derval Dasilio

A mensagem é profética, de Jesus Cristo, observada a linguagem diferenciada própria do evangelho de Mateus sobre o sentido do corpo dado em sacrifício, enquanto se identificam os céus como símbolos de plenitude. A vida com Deus, o lugar onde se constata sua presença, suas ações libertadoras (Mt 22.1-14). A esperança de Jesus de que o reinado de Deus fosse irromper logo, abrindo uma nova era, antes mesmo que seus contemporâneos viessem a falecer, é confirmada nos vaticínios e nas parábolas de Jesus relatadas por Mateus (cmp. Mc 13.13; Mt 10.23, par.). “Vamos comemorar, juntos, em comunhão (‘koinonia’) com o Senhor, a chegada do reinado de Deus, consumindo o que é do bom e bom e do melhor...”, poderia ser uma paráfrase adequada para o grande banquete, que a Ceia do Senhor prenuncia.

Em 1958, o mais importante cineasta europeu, Roberto Rosselini, desembarcava no Brasil para filmar “Geografia da Fome”. Tratava-se de uma adaptação cinematográfica do livro de Josué de Castro, médico e sociólogo que cuidou de uma radiografia da grande mazela nacional, mais tarde identificada como o maior de todos os problemas mundiais: a fome. Visitou o Canal do Mangue, folclórica zona da pobreza e do meretrício, mas também famosa pelo afogamento de mendigos, no intento de “limpeza social”, promovido durante o governo de Carlos Lacerda. Foi à procura dos populares caranguejeiros da época, personagens de Josué de Castro. A imprensa queria que ele filmasse outros assuntos, lembrando a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, e do romance açucarado de José de Alencar -- que ignorava a escravidão africana no Brasil --, como tema ideal. Negaram-lhe financiamento porque insistiu no tema que o interessava: a fome.

As oferendas da mesa que serão consumidas no banquete comemorativo da chegada do Reino, porém, comportam todos os sabores da vida desejável, e de todas as formas de bem-estar. Fim da fome, das desigualdades e das injustiças. Encontraremos um fio condutor, no evangelho de hoje, onde a imagem do banquete eucarístico nos permitirá saborear todos os temperos, cheiros e gostos, de uma culinária libertária e maravilhosa, ao mesmo tempo.

Ariano Suassuna, autor de sucessos como “O Auto da Compadecida”, contou uma história sobre “as comidas que nos faltam”, usando um exemplo simples – uma história de cachorros. “Entre o osso e o filé, o que um cachorro prefere? Lógico que é o filé. Osso é para roer, insinuava sobre o ‘fast food’ tupiniquim contemporâneo, repleto de hambúrgueres criticados pelo mestre nordestino. Então “está faltando oportunidade aos jovens brasileiros de conhecer o filé da nossa cultura”.

Roberto da Mata informa: as manifestações mais humildes de uma sociedade são as mais reveladoras de sua índole… e dos seus valores. A comida, a música, a televisão, os sotaques, como os dos nordestinos, sulistas, sudestinos goianos e mineiros, por exemplo, tão gostosos e variados, identificam as origens brasileiras. Modos insuspeitos, quase sempre identificados com clareza singular, revelam tendências, preocupações, aspirações. No Brasil, quando podemos, misturamos farinha com feijão, fazemos tutu juntando temperos como cebolinha e alho. E acrescentamos o torresmo. Dentro da lógica, não do alimento, mas de uma mistura mestiça e mulata, nos expressamos culturalmente.

Como gente do povo, preferimos a feijoada amiga, que mistura paio, carne seca, pé-de-porco, toucinho magro, servindo-a com couve refogada. Não há uma lógica nessa mistura que iguala os alimentos sem discriminá-los. Todos esses hábitos falam de sociedades, de valores, e modos de construir e sustentar o próprio corpo social. Assim é este Brasil original.

Quem aceita o convite para o banquete da vida? Quais são os convidados que vestem roupas brancas de núpcias (símbolo bíblico dos que praticam a justiça), demonstrados no Apocalipse: “Esta é a mensagem daquele que tem os sete espíritos de Deus e as sete estrelas. Eu sei o que vocês estão fazendo. Vocês dizem que estão vivos, mas, de fato, estão mortos. Acordem e fortaleçam aquilo que ainda está vivo, antes que morra completamente. (...) Aqueles que conseguirem a vitória (da justiça) serão vestidos de branco, e eu não tirarei o nome dessas pessoas do Livro da Vida. Eu declararei abertamente, na presença do meu Pai e dos seus anjos, que elas pertencem a mim. Portanto, se vocês têm ouvidos para ouvir, então, ouçam o que o Espírito de Deus diz às igrejas” – Ap 3.1-6]? São convidados os perseguidos, pobres, prostitutas, deficientes, portadores de necessidades especiais, coxos, cegos, surdos, doentes, que estão na agenda de Deus, em primeiro lugar.


Derval Dasilio: É pastor da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e autor de livros como “Pedagogia da Ganância" (2013) e "O Dragão que Habita em Nós” (2010).

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/o-corpo-e-a-fome-na-ceia-do-senhor

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A Obra do Espírito Santo e a Consciência


Por Kevin De Young

Lutero, com sua consciência cativa à palavra de Deus, diante da Dieta de Worms, disse: “A menos que me convençam, pela Escritura ou por razões claras, de que estou errado, eu permaneço constrangido pelas Escrituras. Não posso nem quero me retratar, de vez que não é seguro nem correto agir contra a consciência. Deus me ajude. Amém”.

Podemos dizer que a história da Reforma mudou porque Lutero não fez aquilo que sabia que era errado. Ele levou a sério sua consciência. Como você trata sua consciência?

2 Coríntios 1.12, 15-17, 23 – Algumas pessoas de Corinto estavam colocando Paulo em dúvida, acusando-o por inúmeros motivos. Porém Paulo diz que tem uma consciência limpa – para ele isso era crucial (Rm 9.1, 2 Tm 1.3). A consciência pode não ser o juiz final de nossas acusações, mas é um bom indicador. Consciência é a faculdade que Deus colocou em nós para que nos conheçamos e para que possamos discernir o certo do errado. E o Espírito age através e influencia a nossa consciência. Os puritanos diziam que a consciência é o espião de Deus e o superintendente do homem.

Rm 2.14-15 – A consciência pode ser como um promotor, acusando-nos de nossos pecados. Mas a consciência também tem um papel positivo de nos defender que estamos corretos mesmo diante de acusações. A Escritura coloca a falta de uma consciência desenvolvida como um atributo infantil. Entender o papel da consciência é indispensável à maturidade cristã.

Hb 10.22 – Mas podemos ter uma consciência má, a qual nos acusa de fazer o mal, mas não nos leva a fazer nada a respeito disso.

1 Tm 4.2 – Se você ignora sua consciência por muito tempo, sua consciência má se tornará cauterizada.

Tt 1.15 – Há também uma consciência corrompida, que não consegue discernir entre o certo e errado e você começa a celebrar o que é mal e condenar o que é bom.

1Co 8.7-13 – Há também o que Escritura chama de consciência fraca, que é quando nos sentimos culpados de algo que não é inerentemente indigna. Tornamo-nos muito meticulosos com coisas que não são necessariamente errada (p.e.: bebida alcóolica, cinema).

At 17.26; Tt 3.9; 1 Pe 3.16 – Nosso objetivo é ter uma consciência boa e tranquila.

Duas coisas que devemos fazer para ter uma boa consciência:

1) Abandone o pecado quando sua consciência diz que o que você vai fazer é errado. Se você está vendo um filme e está se sentindo mal e ficaria envergonhado se alguém visse você, então simplesmente deixe de ver. Quando ignoramos a consciência nos colocamos em grande perigo. Nós nos tornamos uma pedra de tropeço diante de outros crentes quando o incentivamos a ignorar sua consciência, mesmo que não seja algo absolutamente errado.

2) Volte-se a Cristo, quando sua consciência lhe acusar de algo que você fez (1Jo 1.9; Hb 9.14). A consciência é para ser nossa amiga, pois Deus a deu para nos levar a cruz. A própria pregação deve se dirigir a consciência.

Dependendo de como você foi criado, você pode ter uma consciência muito sensível, se sentindo constantemente uma falha. Saiba que a cada vez que você olhar para si mesmo, olhe dez vezes para Cristo. Não é para isso que Deus lhe deu sua consciência. Outros já tem uma consciência cauterizada que não percebem os perigos do pecado. Você é chamado para ter uma consciência limpa e não inexistente.

Paulo vivia com uma consciência limpa (1Co 4.4). Com isso Paulo não está dizendo que não peca, mas que vive uma vida de constante arrependimento e de fé em Cristo. Ele confessava e olhava para cruz assim que pecado. É assim que a vida cristã deve ser.


Kevin De Young é o pastor principal da University Reformed Church, em East Lansing (Michigan). Obteve sua graduação pelo Hope College e seu mestrado em teologia pelo Gordon-Conwell Teological Seminary. É preletor em conferências teológicas e mantém um blog na página do ministério ­ The Gospel Coalition.

sábado, 18 de outubro de 2014

Sola Gratia

 Por Willian Lane
                                                   
Rodrigo Mendoza, o mercador de escravos espanhol, do filme A Missão, de Roland Joffé, protagonizado por Robert De Niro, depois de matar seu próprio irmão por amar a mesma mulher que ele, se torna um noviço jesuíta e se une aos companheiros da ordem na missão entre os índios. O cenário é encantador: as cataratas de Foz do Iguaçu. A trilha sonora de Ennio Morricone embeleza o cenário com drama e suspense. Para chegar à missão, precisavam subir o rio e escalar as íngremes encostas. Movido pela culpa da morte de seu irmão, Rodrigo arrastava toda sua armadura embrulhada em uma bagagem de cordas amarrada ao seu corpo como forma de penitência. Após diversas tentativas e quedas para chegar ao topo, chegando ao final e diante do olhar atônito de seus companheiros, seus superiores, e dos índios aos quais, em outros tempos, tentou escravizar, está a ponto de exaustão. Nessa cena dramática e agonizante, um dos índios o reconhece e ameaça vingá-lo pela morte de seus parentes, porém, orientado pelo chefe da tribo, corta a corda que envolvia o seu corpo e lança rio abaixo a sua bagagem. Com isso, Rodrigo cai aos prantos totalmente surpreso por aquele gesto de perdão.

Sempre vi essa cena como uma magnífica representação moderna de uma verdade bíblica tão cara à tradição reformada, porém, tão difícil de ser vivida e praticada de forma plena: a graça, somente a graça. 

Em sua luta contra as práticas abusivas das indulgências e o conceito de que a salvação depende das boas obras, os reformadores do século 16 defenderam a doutrina bíblica de que a salvação é somente pela graça. Não que a igreja cristã medieval não cresse e aceitasse que a salvação era pela graça. Pelo contrário, no final do século 4º, Agostinho e Jerônimo já combatiam veementemente a doutrina de Pelágio, que afirmava que a salvação do ser humano dependia estritamente das decisões do próprio indivíduo que nascera moralmente neutro e capaz de decidir por sua salvação. Agostinho, por outro lado, argumentava que o ser humano foi gerado em pecado e somente pela graça de Deus podia ser salvo. Em 418 d.C., no Concílio de Cartago, o “pelagianismo”, como ficou conhecida a doutrina, foi formalmente condenado como heresia pela igreja.

Mais do que defender a doutrina da salvação pela graça, os reformadores enfatizavam o sola, somente, pela graça. A grande diferença entre o ensino dos reformadores e as doutrinas e práticas da época foi o fato de afirmarem que a graça não requer boas obras para atender a exigência do perdão dos pecados. Os reformadores se firmaram em textos bíblicos que ensinam explicitamente a suficiência da graça para a salvação. Efésios 2.8-9, em particular, afirma a suficiência da graça: “Pois pela graça de Deus vocês são salvos por meio da fé. Isso não vem de vocês, mas é um presente dado por Deus. A salvação não é o resultado dos esforços de vocês; portanto, ninguém pode se orgulhar de tê-la” (NTLH).

No entanto, muito mais do que ver isso como um debate histórico e um legado dos reformadores, penso que a igreja cristã precisa a cada geração reafirmar sua convicção na graça, não só como meio de salvação, mas como meio de contínua convivência e comunhão na fé. 

Vejo que o ensino da graça de Deus é fácil de entender e aceitar, mas difícil de vivenciá-lo. Apesar de nossa convicção da graça de Deus, boa parte de nossa pregação, ensino e prática religiosa é pautada na culpa. O sentimento de culpa e de ter de se acertar com Deus é a força propulsora de muitos ministérios. Pastores e líderes têm dificuldade de engajar pessoas na missão da igreja com a pregação da graça, por isso, introduzem à mensagem a culpa ou a recompensa como forma de obter apoio dos fiéis.

A igreja evangélica hoje se distancia do ensino da graça sempre que exige contrapartida das pessoas para a obtenção de um favor divino. Às vezes parece que estamos voltando à Era Medieval. O perdão é alcançado mediante obras e ofertas. Cada vez mais, vemos como a igreja evangélica cede às formas de religiosidade popular. Poucas igrejas cristãs evangélicas e protestantes admitiriam que as boas obras são essenciais ao alcance da graça, contudo, muitas sucumbem à prática da lógica das obras. Para alguns, a influência vem da lógica de mercado de uma sociedade consumista e materialista. Porém, penso que as tendências religiosas ou materiais adquirem força por causa do enfraquecimento da compreensão da graça. 

Creio que começamos a compreender a graça quando somos capazes de servir a Deus - até mesmo sacrificialmente - em gratidão ao sacrifício de Cristo, e quando somos igualmente capazes de estender o perdão e a graça aos “nossos devedores”.


• William (Billy) Lane é pastor presbiteriano, doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo, RS. É diretor acadêmico da Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina, PR.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/sola-gratia

domingo, 12 de outubro de 2014

O perigo da teologia liberal


O liberalismo é, de muitas maneiras, um fruto do Iluminismo, movimento surgido no início do século 18 que tinha em seu âmago uma revolta contra o poder da religião institucionalizada e contra a religião em geral. As pressuposições filosóficas do movimento eram, em primeiro lugar, o Racionalismo de Descartes, Spinoza e Leibniz, e o Empirismo de Locke, Berkeley e Hume. Os efeitos combinados dessas duas filosofias — que, mesmo sendo teoricamente contrárias entre si, concordavam que Deus tem de ficar de fora do conhecimento humano — produziu profundo impacto na teologia cristã. Como resultado da invasão do Racionalismo na teologia, chegou-se à conclusão de que o “sobrenatural não invade a história”. A história passou a ser vista como simplesmente uma relação natural de causas e efeitos. O conceito de que Deus se revela ao homem e de que intervém e atua na história humana foram logo excluídos. A fé cristã histórica sempre acreditou que os milagres bíblicos realmente ocorreram como narrados. Milagres como o nascimento virginal de Cristo, os milagres que o próprio Cristo realizou, sua ressurreição física dentre os mortos, os milagres do Antigo e Novo Testamentos, de maneira geral, são todos considerados fatos. O teólogo liberal, por sua vez, e os neo-ortodoxos fazem distinção entre historie (história, fatos brutos) e heilsgeschichte (história santa, ou história salvífica), criando dois mundos distintos e não conectados: o mundo da história bruta, real, factível e o mundo da fé, da história da salvação. Temas como criação, Adão, queda, milagres, ressurreição, entre outros, pertencem à história salvífica e não à história real e bruta. Para os liberais e os neo-ortodoxos, não interessa o que realmente aconteceu no túmulo de Jesus no primeiro dia da semana, mas, sim, a declaração dos discípulos de Jesus que diz que Jesus ressuscitou. Assim, o que eles querem afirmar com isso é bastante diferente daquilo que a fé cristã histórica acredita. Na verdade, eles consideram que os relatos bíblicos dos milagres são invenções piedosas do povo judeu e dos primeiros cristãos, mitos e lendas oriundos de uma época pré-científica, quando ainda não havia explicação racional e lógica para o sobrenatural.


Um livro essencial para quem quer entender o assunto é o clássico Cristianismo e Liberalismo de Gresham Machen. Para expor as falácias do Liberalismo e fortalcer a posição ortodoxa, Machen estabelece a importância da doutrina bíblica, contrastando os ensinos do Liberalismo e da ortodoxia cristã sobre Deus, humanidade, Bíblia, Cristo, salvação e igreja. Essas questões permanecem em conflito ainda hoje, testemunhando a contínua relevância desta importante obra.

Tiago Santos escreveu a seguinte resenha do livro:

Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2014/10/o-perigo-da-teologia-liberal/

terça-feira, 7 de outubro de 2014

PARAKLETOS

                         Imagem: http://www.inthebeginning.org

Por Pedro Paulo

Sou um curioso que gosta de estudar os vocábulos gregos. Faz uns três anos que em minhas pesquisas encontrei esse texto de 2 Coríntios 1:4. Nele, percebi uma coisa muito interessante que eu desejo compartilhar, pois fiquei encantado com essa descoberta. Já adverto que, sou leigo, iniciante e sem conhecimento algum da gramática.

O termo parakletos é o termo comum nos tempos do Novo Testamento para um advogado, ou seja, alguém que dá indícios de que está em tribunal. E este termo significa: 'Chamados a sua ajuda'. Tem a sua definição sucinta de: um defensor, consolador, ajudador, Paráclito.

Em João 15:26, temos: "Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim". Portanto, 'Parakletos' no original do grego é o 'Consolador', que é o Espírito Santo de Deus.

Em Salmos 143:10, temos: "Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano". Ainda no Velho Testamento, vemos isto claramente, o bom 'Espírito' aqui é referência ao 'Consolador'.

No texto em estudo de 2 Coríntios 1:4, percebi que existem quatro citações neste único versículo em que o Consolador atua como Espírito de Deus em favor do homem. Mas, somente consultando o texto original é que se pode observar esse fato. Vamos numerá-los em vermelho.

"É ele que nos (1)conforta em toda a nossa tribulação, para podermos (2)consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a (3)consolação com que nós mesmos somos (4)contemplados por Deus".

(1) Conforta: (παρακαλῶν) no transliterado parkalôn. A tradução aqui significa: rogando-lhe (ou implorando-lhe) e suplicando-lhe. Vemos a ocorrência desse termo sendo usado em Mateus 8.5  "Tendo Jesus entrado em Cafarnaum, apresentou-se-lhe um centurião, implorando:".

(2) Consolar: (παρακαλεῖν) no transliterado parakalein. A tradução aqui significa: implorar ou rogar. Vemos a ocorrência desse termo sendo usado em Marcos 5.17 "E entraram a rogar-lhe que se retirasse da terra deles".

(3) Consolação: (παράκλησιν) no transliterado paraklêseôs. Aqui significa: conforto, encorajamento, incentivo. Vemos a ocorrência desse termo sendo usado em Atos 4.36 "Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança".

(4) Contemplados: (παρακαλούμεθα) no transliterado parakaloumetha. Aqui significa: encorajados, consolados, confortados. Vemos a ocorrência desse termo sendo usado em 2 Coríntios 1.6 "Mas, se somos atribulados, é para o vosso conforto e salvação; se somos confortados, é também para o vosso conforto, o qual se torna eficaz, suportando vós com paciência os mesmos sofrimentos que nós também padecemos".

Jesus disse aos seus discípulos em João 16.7 "Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o 'Consolador' não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei". Esta é a função do Espírito Santo, o Consolador. 'paraklētos,' formada pela preposição 'para', “ao lado”, e pelo adjetivo 'klētos(chamar para estar ao lado).

Essa, portanto, é a função do Espírito Santo: Consolar, confortar, suplicar, rogar, implorar, nos encorajar, etc. Enfim, Ele é quem faz a consolação de Deus em nosso favor, quando temos qualquer necessidade.

Como não havia encontrado uma matéria sobre o texto e com esses detalhes, resolvi postar para que possa servir de estudo e proveito a todos aqueles que amam a palavra de Deus.

Que os estudantes de teologia possam me desculpar se cometi algum erro. Estou disposto a receber críticas e também os esclarecimentos que possam servir de instrução para mim e a outros iniciantes como eu.

A palavra final fica aos teólogos que por acaso descobrirem esta publicação, caso queiram fazer alguma correção, gentileza fazê-lo por e-mail.
ppsoarescosta@gmail.com/

Fonte de pesquisa: http://biblehub.com/

Imagem: http://www.inthebeginning.org/ntgreek/lesson14/flashvocabulary/paradoxos.gif

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Seja Marina ou Dilma ou Aécio: tem jeito?

                           
Por Robson Santos Sarmento


‘’O homem pós – moderno trilha pelo paradoxo de uma vida sem verdade e de uma verdade sem vida. ’’

Lembro – me da frase de um reclame, ao qual dizia:

‘’Tostines vende mais, porque é fresquinho ou é fresquinho, porque vende mais?’’

Aproveito essa frase a fim de ponderar sobre os rumos da nossa nação, com as eleições de cinco de outubro. Muito embora, a sociedade, em todos seus níveis demonstra um descrédito assombroso, de certo, devido aos sucessivos casos de escândalos envolvendo parlamentares.

Sem titubear, os escândalos de apropriação dos recursos públicos, de fazer dos espaços destinados a promover a dignidade humana, como o mais recente episódio da Petrobrás, traça o retrato de uma realidade, pelo qual falar a verdade nem sempre vem acompanhado de vida, de vitalidade, de viço. Para uns, Marina ou Aécio proporcionarão um novo abrir de possibilidades e o aceno para uma gestão pública mais transparente. Noutro lado, encontramos os defensores da mantença e de que, em time que está ganhando, não se mexe.

Agora, tenho algo como certo, diante de toda uma pletora de verdade (s), há vida? Vou adiante, o bojo dessa vida representa alguma verdade? Ultimamente, tenho observado, inclusive no espaço do leitor, uma ênfase declarada, com relação a muitos, em prol da candidata Marina Silva; entretanto, caso logre o espaço de alcançar a Presidência da República, como cristãos, qual será a nossa postura e proceder, durante os próximos quatro anos?

Grosso modo, limitar – nos – emos a alardear por uma virada, somente, em 2018 ou arregaçaremos as mangas, dobraremos os joelhos e assumiremos o nosso papel de ser sal da terra e luz, ou seja, sermos cidadãos participativos e ocupados com o contexto do qual somos partes?

Eis ai uma questão a ser mais bem revista, principalmente, quando aceitamos o jeitinho brasileiro de furar a fila, de jogar lixo na rua, de bater palmas para todo um besteirol midiático, de fazer vistas grossas para as profundas disparidades sociais, de nem se importar, ou como se não dissesse respeito, com os deserdados de saúde, de educação, de cidadania.

Deveras, o texto de Jeremias 22.3 ecoa, altissonantemente, para executar o direito e a justiça, e livrar o órfão, a viúva e o estrangeiro da opressão. Ora, como negar esse mandamento imperativo categórico para ser igreja do servir, do serviço e, em suma, servo da verdade e vida de Deus que, em Cristo, resolveu o estado de ruptura, de separação em enfim, do abismo com o homem!

Então, caberá a Marina ou a Dilma ou Aécio colocarem os vagões nos trilhos ou a igreja?

Acredito, piamente, nenhum nem outro! Simplesmente, encontramos com a escolha, a decisão e a fé que envolve uma relação de ir a direção dessa verdade e vida, ao qual começa em nossa personalidade para provocar atos e práticas de mudanças.

Fonte: http://ultimato.com.br/comunidade-conteudo/seja-marina-ou-dilma-ou-aecio-tem-jeito