Por: Edward Welch
Todos os medos são profecias sobre o futuro. Eles começam pequenos – um ladrão pode roubar sua bicicleta, o bicho-papão vai comê-lo antes que a noite acabe – e crescem a partir daí. Esses medos, no entanto, precisam de ajuda para se tornarem globais e apocalípticos.
Eu cresci em uma época que forneceu essa ajuda. Eu estava na escola primária durante o auge da “Ameaça Vermelha” [1]. “The Late Great Planet Earth” [2] era um best-seller e os meios de comunicação informavam o pior dos assuntos globais. Com tal solo fértil, nenhum cristão precisava de imaginação para vislumbrar o Exército Vermelho usando dispositivos demoníacos para detectar que você era um cristão, ansioso por submetê-lo à pior tortura até que renunciasse a Jesus ou morresse. Aquela era, pensava eu, a pior das épocas.
Então eu cresci e percebi que cada época é, de fato, o pior dos tempos. A verdade é que sempre temos ajuda para tornar nossos medos globais. Há sempre uma nova ameaça.
Aqui estão alguns medos comuns, de uma lista que pode ser interminável:
• O medo do colapso moral completo da cultura ao redor;
• O medo do colapso econômico e do caos;
• Medo de extremistas islâmicos;
• Medo de vírus resistentes, pragas, produtos químicos perigosos, e assim por diante.
Duas linhas de defesa populares
Como podemos repelir esses medos? Uma linha de defesa é ser racional, fazer com que dados e fatos amenizem os temores. Considere, por exemplo, os extremistas islâmicos. Como a maioria das religiões crescem por meio de pais que passam a fé a seus filhos, as estatísticas sugerem que não haverá uma maioria islâmica num futuro próximo, porque há simplesmente mais cristãos que muçulmanos agora, e até mesmo um súbito aumento no tamanho médio das famílias islâmicas não fará muita diferença nesse período. Medo aliviado.
Uma segunda defesa contra esses medos é imaginar o pior e se preparar. Alerte os outros, construa um abrigo, ou simplesmente continue imaginando o pior, como se isso fosse um talismã para quando o pior acontecer.
Essas defesas, é claro, são apenas confortos temporários. Não podemos confiar em dados, nas chances estarem a nosso favor ou na nossa preparação pessoal. Nós confiamos em uma Pessoa. Qualquer resposta a temores distantes que enfatize a informação e preparação acima da confiança é ímpia em seu âmago. Informação e educação não estão erradas, mas não são a nossa primeira resposta. O povo de Deus se volta para ele em primeiro lugar: “não sabemos nós o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em ti” (2Cr 20.12).
Receberemos graça
Quando nos voltamos para o Senhor, consideramos em primeiro lugar a maior promessa de todas: “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hb 13.5). Nossos pecados são o que nos separam de nosso Deus, mas agora o perfeito Sumo Sacerdote fez o sacrifício perfeito e, tendo feito expiação de pecados, assentou-se. O sacrifício pelo pecado está feito. A nós é garantida a sua presença. Não enfrentaremos nossos medos sozinhos.
Nesta promessa está incluído que ele nos dará a graça diária de que precisamos. A imagem do Antigo Testamento por trás disso é o dom do maná. Era o suficiente para um dia, mas não devia ser estocado para o dia seguinte, para que não confiássemos em nossos estoques. Amanhã encontraremos novas misericórdias, maná fresco e abundante graça.
Essa graça nos capacitará a descansar em Deus e permanecer firme diante de qualquer sofrimento ou tentação que o mundo pode reunir, diante de qualquer medo que se concretize (1Co 10.13). Sua presença nos assegura de “recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). Tudo o que temos a fazer é pedir.
A graça prometida torna nossas previsões terríveis obsoletas. Mesmo se estivermos certos em nossas previsões, e geralmente não estamos, não podemos prever a graça que será derramada sobre nós naquele dia futuro. Em vez disso, nós vislumbramos o futuro com a graça que temos para as dificuldades de hoje, e essa graça é suficiente apenas para hoje, não para amanhã. O amanhã surgirá com um novo estoque de graça.
Recontar a história
Com essa graça futura em vista, nós recontamos a história de nossas vidas e a história da história. Considere o Salmo 23, por exemplo, como um modelo. Tornamo-nos, pela fé, as ovelhas do Senhor. Alegria e descanso são a ordem do dia. Mas ovelhas têm que se movimentar, e essa jornada irá incluir problemas, como testemunhamos quando o Cordeiro de Deus se submeteu ao seu Pastor no mesmo caminho. O problema pode ser intenso. Pode incluir Assíria, Roma e outras ameaças que podem nos matar. Mas a história não termina aí. Nossos inimigos vão assistir à distância enquanto nos assentamos à mesa do banquete de Deus. Eles serão envergonhados; nós seremos uma família com o Honrado. À medida que caminhamos para a casa do Senhor, sem temer mal algum, oramos para que sua vontade seja feita na terra como no céu (Mt 6.10). E a peregrinação leva-nos para a casa de Deus, onde a sua vontade é feita continuamente. A história da Escritura sempre termina bem.
De fato, a vida e a história terminam gloriosamente para o povo de Deus, e enquanto nós olhamos para esse fim, podemos prever isto: a graça de Deus nos seguirá de tal forma que temeremos o mal cada vez menos.
[1] N.T.: Nos Estados Unidos, após a II Guerra Mundial, o temor espalhado pela população de uma atuação comunista infliltrada na sociedade ou no governo.
[2] N.T.: Livro de Hal Lindsey de grande sucesso, que associava acontecimentos contemporâneos a profecias apocalípticas.
Dr. Edward T. Welch é conselheiro e membro do corpo docente da Christian Counseling & Educational Foundation (Fundação de Educação & Aconselhamento Cristão – CCEF).
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