sábado, 5 de dezembro de 2015

Visão, Lugar e a Presença de Deus


Por R. C. Sproul


Há grande debate e controvérsia em nossos dias sobre qual é a adoração correta diante de Deus. Como eu tenho lutado com essa questão, continuo voltando ao Antigo Testamento. Eu sei que essa é uma prática perigosa, porque agora vivemos na era do Novo Testamento, mas o Antigo Testamento nos dá instruções detalhadas e específicas sobre a adoração, enquanto o Novo Testamento é quase que silencioso a respeito desta conduta. No Antigo Testamento, eu encontro um refúgio da especulação, da opinião do homem e dos caprichos do gosto e da preferência humana, porque lá eu encontro o próprio Deus exigindo explicitamente que certas coisas aconteçam na adoração. Eu acredito que é possível e correto extrair princípios para a adoração do Antigo Testamento, pois os livros do Antigo Testamento continuam fazendo parte do cânon das Escrituras e, mesmo que haja certa descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento, há também uma continuidade que não devemos desconsiderar.

Um dos princípios que aprendi do Antigo Testamento é esse: a pessoa deve ser envolvida por inteiro na experiência da adoração. Certamente, as mentes, os corações e as almas dos adoradores devem estar envolvidos, mas quando vamos ao culto no domingo pela manhã, não chegamos com as mentes, os corações ou as almas desencarnados. Nenhuma das nossas experiências é puramente intelectual, emocional ou espiritual. A experiência da vida humana também envolve aspectos físicos. Isso significa que todos os cinco sentidos estão envolvidos na experiência da vida. Somos criaturas que vivem a vida não apenas com as nossas mentes, corações e almas, mas com os nossos sentidos de visão, audição, olfato, paladar e tato.

Eu não tenho espaço suficiente neste breve artigo para abordar como os cinco sentidos estão envolvidos na adoração, ou mesmo para explorar todas as dimensões de apenas um desses sentidos. Então, quero considerar apenas uma forma pela qual o sentido visual pode ser impactado, para que os nossos corações sejam movidos a adorar.

Pesquisas rotineiramente nos dizem que as duas razões principais pelas quais as pessoas ficam longe da igreja são porque elas acham o culto chato e a igreja irrelevante. Essas razões, especialmente a primeira, me deixam surpreso. Eu sempre disse que, se o próprio Deus anunciasse que ele apareceria na minha igreja num domingo de manhã, às 11 horas, pessoas compareceriam a ponto de algumas ficarem em pé somente nessa hora marcada do culto. Tenho certeza de que ninguém que viesse a esse culto e testemunhasse a chegada de Deus iria embora depois, dizendo: “Eu fiquei entediado”. Quando lemos os relatos bíblicos de encontros de pessoas com Deus, podemos ver todas as gamas de emoções humanas. Algumas pessoas choram, algumas clamam de medo, algumas tremem, algumas desmaiam. No entanto, nunca lemos sobre alguém que tenha ficado entediado na presença de Deus.

Então, visto que a adoração é, em seu sentido mais básico, um encontro com Deus, como podemos explicar as pesquisas que nos dizem que as pessoas saem entediadas da igreja? Devo concluir que elas não estão experimentando a presença de Deus em nenhum sentido. Isso é trágico, porque se as pessoas não sentem a presença de Deus, elas não podem ser movidas a adorar e a glorificar a Deus.

Um dos elementos que ajudam as pessoas a sentir a presença real de Deus é a forma do ambiente de culto. Eu gostava de perguntar aos meus alunos do seminário, que eram protestantes, se eles já haviam estado em uma das grandes catedrais góticas católicas romanas. Muitos haviam estado, por isso eu lhes pedia para compartilhar suas profundas reações ao andarem por uma catedral. A maioria dizia: “Tive uma sensação de temor” ou “Eu senti a transcendência de Deus”. Isso me dava a oportunidade de mostrar como a arquitetura das catedrais, o formato do ambiente de culto nessas construções, colocava meus alunos no “clima” para a adoração, por assim dizer. É claro, as catedrais foram projetadas para despertar essa exata reação. Grande cuidado e reflexão foram empenhados no projeto das catedrais. Os projetistas queriam um formato que estimulasse nas pessoas uma sensação da sublimidade de Deus, da alteridade de Deus. Eu me entristeço ao ver que os protestantes não costumam ter o mesmo cuidado no projeto das igrejas. Nossos ambientes de culto são muitas vezes práticos. Os templos são projetados de acordo com o design de cinemas ou estúdios de televisão. Tais ambientes não têm nada de errado, mas muitas pessoas testemunhariam que esses ambientes não as inspiram à adorarem da mesma forma que o interior das igrejas tradicionais fazem.

Cabe a nós, penso eu, observar o grande cuidado com o qual Deus deu ao seu povo os planos para o tabernáculo, o primeiro ambiente de adoração. Como o templo que veio em seguida, o tabernáculo era um lugar de beleza, glória e transcendência. Era como nenhum outro lugar  na vida do povo de Deus. Precisamos entender que a arquitetura da nossa igreja comunica algo aos nossos sentidos visuais e, portanto, essa arquitetura pode favorecer ou dificultar a nossa percepção da presença de Deus.


R. C. Sproul: nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. É ministro presbiteriano, pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida. É fundador e presidente do ministério Ligonier, professor e palestrante em seminários e conferências, autor de mais de sessenta livros, vários deles publicados em português, e editor geral da Reformation Study Bible.


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