Por: Dr. Richard L. Pratt Jr.
Um amigo certa vez me disse: “Meu temor do fracasso tem causado um grande problema entre meus familiares e eu. Eu não passo muito tempo com eles durante a semana. Eu receio tanto fracassar profissionalmente que isso me faz trabalhar dia e noite. Mas também acabo não passando muito tempo com eles nos finais de semana. O temor de fracassar em algo que não estou habituado a fazer absolutamente me paralisa”.
Mesmo se não formos a extremos como o do meu amigo, a possibilidade do fracasso não é algo de que gostamos. Todos nós deixamos de fazer aquilo que devemos fazer. Falhamos em nosso casamento, em criar nossos filhos, em nossas amizades, na escola, em nossas carreiras, na nossa vida de igreja – e, muitas vezes, com consequências devastadoras. Não surpreende, pois, que uma vez ou outra todos nós tenhamos um temor de fracassar.
As Escrituras apresentam uma série de perspectivas cruciais que nos ajudam a lidar com esse desafio. Abordaremos duas facetas do que elas ensinam: por que tememos o fracasso e como o fracasso pode ser uma oportunidade positiva para a esperança.
Por que tememos o fracasso?
Todos nós temos nossas razões pessoais para termos medo do fracasso, mas a Bíblia nos conduz à raiz do problema. Nós temos medo do fracasso porque não fomos criados para ele. Deus sempre está no controle soberano de todos os nossos defeitos, contudo, desde o princípio, Deus não nos criou para fracassar, mas para sermos bem-sucedidos em nosso serviço a ele.
Os capítulos iniciais de Gênesis claramente ensinam essa perspectiva. Em Gênesis 1.26, Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. E o que isso significa? Nos versículos 28-31, descobrimos que fomos criados para ser bem-sucedidos em uma missão muito importante: “E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai […]”. O restante da Escritura elabora o objetivo dessa missão. Estamos nos preparando para o dia em que Deus encherá a terra da sua glória e receberá louvores sem fim de toda criatura. Fomos feitos para sermos bem-sucedidos nessa missão, não para fracassar.
Por que, então, falhamos tantas vezes? Gênesis 3.17-19 indica que a frequente futilidade dos nossos esforços na vida é a consequência do pecado. A nossa prisão ao fracasso não ocorreu na criação, mas resultou do julgamento de Deus contra nós. Assim, é de todo correto anelarmos por sermos redimidos de todo fracasso e de todo temor que ele traz.
Como o fracasso pode se tornar esperança?
As Escrituras não nos deixam anelando por redenção do fracasso e do temor. Elas nos dizem que Cristo veio em carne e cumpriu cada mandamento de Deus para reverter os efeitos do pecado de Adão. Cristo até mesmo se entregou na cruz como um pagamento pelos pecados do seu povo e ressuscitou em novidade de vida por nossa causa. Era isso que Paulo tinha em mente ao escrever: “Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos” (1 Coríntios 15.21). Como a sua justa recompensa, o Pai ressuscitou Cristo e o fez assentar à sua mão direita. De lá, ele continua a cumprir a tarefa que Deus deu à humanidade no princípio. E, quando ele retornar em glória, ele fará novas todas as coisas. Naquele tempo, Deus encherá a criação da sua glória de tal maneira que “ao nome de Jesus se dobr[ará] todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confess[ará] que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai” (Filipenses 2.10-11).
De que maneira tudo o que Cristo fez pode nos ajudar a tornar os nossos fracassos em esperança? Por um lado, a sua vitória nos livra de toda falsa esperança que tínhamos. Pode parecer estranho, mas o sucesso na verdade cria grandes problemas para as pessoas ao longo da Bíblia. Ele dá à luz as mentiras de que alcançamos a vitória por nós mesmos e de que o sucesso nas coisas desta vida é o que mais importa. Contudo, essas mentiras nunca nos satisfazem por muito tempo. À medida que o tempo passa, elas nos levam a mais terríveis fracassos.
Por outro lado, quando reconhecemos que apenas Cristo foi bem-sucedido em cumprir plenamente o serviço humano a Deus, recebemos a firme esperança de que, um dia, triunfaremos sobre todos os nossos fracassos. A vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo provam que ele derrotou a tirania do pecado e a consequência do fracasso, bem como – e aqui está a grande maravilha – que ele compartilha o seu sucesso com todos aqueles que nele confiam e o seguem. Com essa firme confiança em Cristo, sabemos que todo sucesso nesta vida resulta da sua obra em nós, e não dos nossos próprios esforços. Mais do que isso, mesmo os nossos fracassos nesta vida mantêm os nossos olhos fixos naquilo que mais importa para nós. Em vez de colocar as nossas esperanças nesta vida, depositamos as nossas esperanças no mundo por vir. Lá partilharemos plenamente da vitória de Cristo e nunca mais teremos qualquer temor de fracassar novamente.
Dr. Richard Pratt Jr. : é fundador e presidente do Third Millennium Ministries e professor adjunto no Reformed Theological Seminary em Orlando, Flórida, EUA.
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