quarta-feira, 30 de novembro de 2016
Entre o medo e a fé
Por Ricardo Wesley Morais Borges
“Devo minha vida a Cristo e ao evangelho. Minha maneira de expressar minha gratidão é testemunhar a minha fé por meio da representação de cenas bíblicas”.
Essas são as palavras de quem possivelmente foi o artista cristão mais importante do Japão, Sadao Watanabe (1913-1996) convertido do budismo ao cristianismo aos 17 anos de idade. Através de seu interesse em preservar a tradicional arte popular japonesa, suas obras são um belo testemunho de sua fé, agora expostas em museus importantes ao redor do mundo. Antes da fama, porém, que só veio após a sua morte, sua paixão era fazer de tudo para que alguns, em especial a gente de sua própria terra e cultura, pudessem chegar de alguma maneira à fé e à salvação.
Uma cena que ele pintou várias vezes é a representação de Cristo no barco com seus discípulos, em meio à tempestade1. Nessa narrativa, depois de muito ensinar em parábolas e cansados ao final do dia, Jesus e os discípulos decidem subir a um barco em direção ao outro lado do lago, no mar da Galileia.
Quatro deles eram pescadores, sendo que Tiago e João eram experientes em manejar barcos nesse lago. Jesus, cansado, dorme no que parece ser o assento do capitão. Então uma terrível tempestade lhes alcança. Ventos fortes, ondas altas, água no barco. Tudo indica que primeiro eles tentam resolver a situação com suas próprias forças e recursos.
Junto a esse esforço, também a aflição: Por que Jesus está ‘ausente’? Por que ele não controla a situação? Por que está em silêncio? Por que dorme? Ele não se importa que morramos? Medo da morte, mas talvez um medo ainda mais profundo de que Jesus não se importasse ou não se interessasse por eles.
Em seguida Jesus demonstra poder sobre as forças da natureza. Ele não tira a água do barco nem busca acalmá-los. Ele atua – na visão dos discípulos – aparentemente tarde, para mudar a situação. Logo vem sua dura pergunta: ‘Por que têm medo? Ainda não têm fé?’.
Uma observação: o oposto da fé aqui não é a dúvida, mas o medo. Claro que a dúvida e o medo muitas vezes estão conectados. Mas a dúvida usualmente é mais racional, demanda uma evidência, uma prova. O medo por vezes é irracional, nem se explica. O medo também costuma nos paralisar, nos impede de conseguir ver com clareza, engessa e dificulta que nos movamos em direção à saída de qualquer situação.
Aqui Jesus os confrontou por causa de seu medo. Curiosamente, eles continuaram com o mesmo sentimento, mas agora com medo (ou, na melhor das hipóteses, um temor reverente) de Jesus. A passagem termina com um fascinante ‘que homem é este?’. Para responder a essa pergunta, talvez seja importante examinar os relatos que aparecem na seção imediatamente anterior: em como ouvimos ou percebemos a Jesus.
Vemos que Jesus diz muitas coisas antes do episódio do barco na tormenta. Ele usava parábolas para ensinar, enfatizando o “escutem!”2 e também repetia que “se vocês têm ouvidos para ouvir, então ouçam”3. Quando a multidão foi embora, as pessoas que ficaram ali começaram, junto com os doze discípulos, a lhe fazer perguntas sobre as parábolas. Foi quando Jesus revelou que a atitude curiosa e instigadora de seguir perguntando estava relacionada com o entendimento das verdades do Reino4. Concluiu que somos responsáveis com tudo o que ouvimos e recebemos de Deus5.
Ouvir e entendimento só vem com interesse, com compromisso, através do relacionar-se e do confiar naquele que nos fala. Lesslie Newbigin já nos recordava como isso é essencial à nossa fé: receber com confiança aquilo que nos é dado com autoridade. Somente os interessados, os que buscam, apenas esses que entram em uma relação pessoal com o Senhor, de busca, de interesse em suas palavras, no que ele tem para nos dizer, e dispostos a colocar isso em prática (a lamparina que cumpre o seu uso, o seu propósito), são esses os que entenderão, que melhor captarão as verdades do Reino.
Parece que faltou aos discípulos no barco entender e relacionar-se com o que fala mas parece estar em silêncio, como nas muitas ilustrações do Cristo Pantocrator, talvez a mais antiga representação de Cristo na história da igreja cristã, o soberano e severo, com uma mão estendida para abençoar e com a Palavra na outra. Algo tão especial e profundo que merece outra reflexão em momento oportuno.
Por agora, no meio das tormentas de nosso próprio tempo, quando às vezes parece que Jesus está dormindo, em silêncio, ou quando inclusive parece não se importar, me impacta esse desafio que é a pergunta sobre como crescemos e amadurecemos em nossa fé.
Volto então a Sadao Watanabe, com seu desejo de testemunhar de sua fé através da arte, e me pergunto como daremos testemunho de nossa fé em Cristo hoje, em meio a qualquer tempestade. Algumas pistas que encontro são as de:
- Valorizar e trazer para a nossa vida diária o que ele já nos falou em sua Palavra.
- Reconhecer que ele não está calado, pois já se revelou.
- Estar dispostos a escutar, o que também significa obedecer.
- Confiar naquele que é todo-poderoso, que a tudo rege na história.
- Descobrir e relacionar-me com Jesus na Sua Palavra revelada e já entregue à nós.
Só assim sairemos do medo para a fé, da fé para a vida.
1. Marcos 4:35-41
2. Marcos 4:2-3a
3. Marcos 4:9
4. Marcos 4:10-12, 33-34.
5. Marcos 4:21-25
Ricardo Wesley Morais Borges: É casado com Ruth e pai de Ana Júlia e Carolina. Integra o corpo pastoral da Igreja Metodista Livre da Saúde, em São Paulo (SP), e serve como secretário regional associado para a América Latina da Comunidade Internacional de Estudantes Evangélicos (CIEE-IFES)
Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/entre-o-medo-e-a-fe
sábado, 26 de novembro de 2016
De nada terei falta
Por Renan Vinicius Aranha
"O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta" (Salmos 23:1 NVI)
O primeiro versículo do Salmo 23 muito provavelmente é a passagem bíblica mais conhecida pelas pessoas, tenham elas a bíblia como guia de fé e prática ou não. Muitas pessoas, inclusive eu, têm este versículo guardado na memória e na ponta da língua, mas talvez nunca tenham refletido sobre a sua profundidade.
Quando Davi diz: "de nada terei falta", ele não se refere necessariamente às riquezas ou aos prazeres que esse mundo nós dá. Ninguém deve seguir Jesus com o intuito exclusivo de alcançar bênçãos terrenas, até mesmo porque Ele nunca disse "siga-me e lhe darei um carro importado para você esfregar na cara do seu vizinho", mas sim "se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me" (Lucas 9:23 NVI).
Certa vez, um amigo seminarista fez a seguinte pergunta durante seu sermão: "se a vontade de Deus para a sua vida é de que você fique pobre, doente e não tenha família ou amigos por perto, ainda assim você o seguiria?".
Tenho entendido que, quando Davi diz "de nada terei falta", ele se refere ao fato de que quando confiamos plenamente em Deus e entregamos a Ele nosso caminho e nosso coração, não sentiremos falta de nada pois o próprio Senhor já nos basta. O seu amor, a sua graça e a sua misericórdia serão suficientes, mesmo que todo o resto nos falte. O próprio salmista escreveu: "Ainda que me abandonem pai e mãe, o Senhor me acolherá" (Salmo 27:10 NVI). Tempos depois o Senhor disse a Paulo: "A minha graça te basta" (2 Coríntios 2:12 NVI).
Você pode pensando neste momento: "falar é fácil, quero ver colocar em prática". Se é isto que você estava pensando, preciso dizer que concordo contigo. Colocar isso em prática não é só difícil, mas talvez impossível. Impossível para nós, humanos, mas não para o santo espírito de Deus que habita em nossos corações.
Talvez um dos maiores desafios dos seguidores de Cristo está justamente aí, no "negue-se a si mesmo". Como é difícil renunciar aos nossos planos e sonhos! Como é difícil abrir mãos dos nossos desejos e vontades! Como é difícil entender que, por mais que tentemos, não estamos no controle da situação! Por outro lado, como é maravilhoso quando conseguimos entregar a nossa vida e os nossos sonhos a Deus. Como é maravilhoso quando aprendemos a ter prazer em cumprir sua vontade, que é boa, perfeita e agradável (Romanos 12:2 NVI)!
Fato é que, moremos numa mansão luxuosa ou num barraco, estejamos na beira da praia ou num quarto de hospital, se temos o Senhor em nossos corações e estamos debaixo da vontade dEle, nada mais importa. Como aquele mesmo amigo seminarista diz, nossos problemas terrenos, por maiores que pareçam, deixam de ter qualquer importância quando pensamos na eternidade.
Por isso, "ponha a sua vida nas mãos do Senhor, confie nele, e ele o ajudará" (Salmos 37:5 NTLH). Confie no Senhor que "me faz descansar em pastos verdes e me leva a águas tranquilas" (Salmos 23:2 NTLH). Peça a Deus que "seja feita a Tua vontade, assim na terra como no céu, porque Teu é o Reino, o poder e a glória para sempre" (Mateus 6:10,13 NVI).
"Que a sua felicidade esteja no Senhor!" (Salmos 37:4 NTLH).
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Instruam uns aos outros
Por Brian Cosby
Quando você ouve a palavra “instrução” mencionada no contexto da igreja, provavelmente pensa no(s) pastor(es) ou presbítero(s) em sua congregação, e você está certo em fazê-lo. Um presbítero deve ser “apto para ensinar” (1Timóteo 3.2). As Escrituras nos ensinam que o presbítero deve ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder [...] para exortar pelo reto ensino” (Tito 1.9).
Mas a Bíblia também ensina que todos os crentes devem instruir uns aos outros. Em Romanos 15.14, Paulo escreve: “E certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos admoestardes uns aos outros”. Semelhantemente, ele exorta os colossenses: “Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria” (3.16).
Temos o registro de numerosos crentes no Novo Testamento que instruíram outros, mesmo não sendo pastores ou presbíteros. Por exemplo, Estêvão, o diácono, deu instruções que lhe custaram caro aos líderes judeus incrédulos sobre Jesus (Atos 7). Filipe (também um diácono) instruiu o eunuco etíope sobre o significado de Isaías 53 e, em seguida, “evangelizava em todas as cidades até chegar a Cesareia” (Atos 8.26-40). Priscila e Áquila, marido e mulher, tomaram a Apolo e “com mais exatidão, lhe expuseram o caminho de Deus” (18.26). O Apóstolo Paulo encarregou homens e mulheres mais velhos de instruir os homens e mulheres mais jovens, respectivamente (Tito 2.1-6). Além disso, ele ordenou aos pais que instruam seus filhos (Efésios 6.4).
Todo crente é chamado para que “fale cada um a verdade com o seu próximo” (Efésios 4.25), e ainda: “exortai-vos mutuamente cada dia” (Hebreus 3.13). Isso não significa que todos são chamados a exercer o cargo de presbítero ou diácono. Deus reservou esses ofícios para os homens que atendam às qualificações bíblicas (ver Atos 6.3; 1Timóteo 2.12; 3.1-13; Tito 1.5-9). Mas isso significa que, em qualquer situação que nos encontremos, devemos instruir uns aos outros de acordo com as verdades da Escritura.
As várias palavras gregas que os estudiosos têm traduzido como “instruir” ou palavras similares em nossas versões do Novo Testamento podem significar “ensinar”, “admoestar”, “aconselhar”, “provar” ou mesmo “avisar”. O princípio da “instrução” é bastante amplo. Embora o contexto de cada passagem específica determine seu significado, a ideia de “instrução” inclui uma variedade de palavras e ações que envolvem honrar a Deus, buscar a verdade e viver humildemente.
Considere as três maneiras seguintes nas quais todos os crentes são chamados a instruir uns aos outros: em primeiro lugar, somos chamados a mostrar ao nosso irmão ou irmã o “argueiro” em seu olho, depois, é claro, de reconhecermos primeiro a trave no nosso próprio olho. Isso toma forma quando nós dizemos a “verdade em amor” (Efésios 4.15) ou admoestamos a outros humildemente ao apontar áreas de inconsistência em sua caminhada com Cristo e os alertando sobre potenciais perigos.
Em segundo lugar, podemos ensinar os outros a conhecer e amar a sã doutrina. Em nossos dias, muitos na igreja estão fugindo de um estudo robusto de doutrina para abraçar métodos mais pragmáticos de crescimento cristão. Esse não é o padrão bíblico. Paulo exortou Timóteo a ter cuidado de si mesmo e da doutrina (1Timóteo 4.6). Se você é um líder de pequeno grupo, você deve ir além de ser apenas um facilitador para ser capaz de explicar e defender doutrinas importantes como justificação e santificação. Isto significa que precisamos reservar um tempo para aprender e meditar sobre as verdades da Escritura para que possamos estar adequadamente preparados para ensinar aos outros. Buscar recursos de pastores experientes pode mostrar ser uma grande ajuda para este fim.
Em terceiro lugar, o Senhor ordena seu povo a instruir outros em como cumprir suas vocações para a vida em uma variedade de formas. Os santos mais experientes são chamados a conduzir os crentes mais jovens. As mulheres mais velhas na fé podem ter um ministério eficaz de instruir as esposas e mães mais jovens acerca de como elas podem amar seus maridos e filhos (Tito 2.3-5). Os pais têm o grande privilégio e responsabilidade de educar seus filhos “na disciplina e na admoestação do Senhor” (Efésios 6.4). Em várias épocas e fases da vida, todos nós precisamos da orientação amorosa daqueles que trilharam o caminho antes de nós para nos ensinar a tomar decisões sábias e cumprir fielmente a direção de Deus para nossas vidas.
Como um membro do corpo de Cristo, você recebeu diversos dons para a edificação desse organismo até a maturidade. Em sua amorosa providência, Deus considerou apropriado estabelecer a instrução mútua como um componente integral para este objetivo. Que Deus lhe mostre maneiras em que você pode humilde e diligentemente instruir a outros, para a glória dele, para sua alegria e o benefício de outros crentes.
Brian Cosby: é pastor titular da Wayside Presbyterian Church em Signal Mountain, Tennessee, e autor de Uncensored: Daring to Embrace the Entire Bible.
Tradução: João Paulo Aragão da Guia Oliveira. Revisão: Yago Martins. © 2016 Ministério Fiel. Todos os direitos reservados. Website: MinisterioFiel.com.br. Original: Instruam uns aos outros
sábado, 12 de novembro de 2016
DISCÍPULO RADICAL - DEPENDÊNCIA
Por João Marcos Bezerra
O estudo do livro “O Discípulo Radical” de John Stot até o momento tem trazido uma reflexão sobre a necessidade de sermos transformados pelo Espírito Santo por meio de uma metamorfose completa para gerar uma mudança no mundo; de ser semelhante a Cristo para mostrar quem é Ele por meio de nós; da importância de um relacionamento com Cristo para nos levar a maturidade; e, de sabermos quem nós somos como filhos de Deus para realmente ser um Discípulo Radical.
Hoje vamos conversar sobre o quinto e último tópico desta série que é a Dependência. Você já foi dependente totalmente de alguém? Não podia se levantar, andar, comer, ir ao banheiro, tomar banho etc. sem a ajuda de alguém? Já passou por isso? Como todos nós já fomos bebês, então já passamos por isso pelo menos neste período.
Ainda não passei por uma situação de completa dependência, mas quando fiz uma cirurgia na garganta precisei do auxílio da minha esposa por vários dias em diversas situações. Isto não é agradável porque nos sentimos vulneráveis e fracos. Imagine numa situação de total dependência, o sentimento deve ser de humilhação. Queremos ser independentes. Mas também já estive do outro lado, ajudando a minha esposa em variados momentos quando ela fez uma cirurgia. E isto é gratificante porque é uma forma de demonstrar o amor que temos pela outra pessoa.
Este sentimento de impotência nos leva a não querer ser dependentes de ninguém, inclusive de Deus. Isto é uma triste realidade! Pensamos que o fato de depender de alguém é algo ruim. Só que não!!! Você já percebeu que a oração do Pai-nosso é uma oração de dependência? Vejamos.
Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. (Mt 6.9-13)
Segundo John Stot, depois de glorificar a Deus reconhecendo o Seu nome, Seu Reino e Sua soberania, colocamo-nos em total dependência da Sua graça pedindo pelo pão, por perdão e pelo livramento. Ele ainda declara que “é o resumo do nosso discipulado – nossa consciência da glória de Deus e nossa dependência de sua misericórdia”.
Jesus mostrou que dependia da vontade do Pai não só nesta oração modelo, mas em todo o Seu ministério. Lembra-se de Mateus 26.39: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”? É necessário em nossa vida como discípulo reconhecer que dependemos do Senhor para tudo o que vamos fazer, pois a vontade Dele é soberana.
Para ter esta atitude precisamos de humildade, que é definida como “virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade” (Aurélio). Isto nos leva a outro fator da dependência: se reconheço minhas limitações necessito da ajuda de outra pessoa nestas situações. Então, podemos também entender que além de depender de Deus, precisamos depender dos outros.
Você pode estar pensando agora: “Eu vou me humilhar para outra pessoa precisando da ajuda dela. Isso é vergonhoso demais!”. Como dito anteriormente, um dos sentimentos que vem com a total dependência é a humilhação. Você sabe por que desta sensação de não aceitar a dependência de outro? Porque somos orgulhosos! Temos um conceito elevado demais sobre nós mesmos. Isto não é bom!
O orgulho sempre vai nos levar a tentar caminhar sozinho, longe das pessoas e, consequentemente, longe de Deus. Sabe por quê? Por achar que somos mais capazes do que realmente somos. Por achar que podemos fazer mais coisas do que realmente podemos fazer. Por acreditar que só devemos procurar aos outros e a Deus quando não podemos resolver um negócio sozinho. Isto não deve ser a atitude de um Discípulo, muito menos um Discípulo Radical.
A nossa atitude como alguém transformado completamente num ser semelhante a Cristo, através do Espírito Santo e por meio de um relacionamento com o Mestre, reconhecendo que somos filhos de Deus, deve ser sempre de total dependência a Deus e ao próximo porque isto agrada a Deus e colabora com a comunhão porque o discípulo quando ajuda se sente grato em colaborar. Além disso, o fato de pedir ajuda mesmo quando é capaz de fazer algo alivia o fardo que carregamos.
Na minha caminhada ministerial tive que fazer várias coisas sozinho. No fim da tarefa estava completamente cansado, desgastado e, às vezes, frustrado. Atualmente, eu tenho plena consciência que posso fazer muita coisa sozinho, mas, o fato de dividir as tarefas e pedir ajuda, possibilita a mim conhecer a capacidade de outros e, principalmente, fazer mais coisas que faria se estivesse sozinho. Isto é motivador, mas é necessário humildade para entregar algo seu a outro.
Para conseguir ser humilde, aceitar com tranqüilidade a dependência, Stot compartilha as palavras de E. J. H. Nash nos seguintes tópicos:
1. Agradeça a Deus, com freqüência e sempre;
2. Interesse-se por confessar seus pecados;
3. Esteja pronto para aceitar humilhações;
4. Não se preocupe com status; e,
5. Use seu senso de humor.
“A recusa em ser dependente dos outros não é um sinal de maturidade, mas de imaturidade” conclui Stot.
Com isso, é importante reconhecer que ser independente é necessário em algumas circunstâncias, mas, assim como Cristo também foi dependente ao nascer como criança e se submeteu completamente a vontade de Deus, a dependência não nos torna uma pessoa sem dignidade, mas é uma característica marcante de um Discípulo Radical.
Que eu tenha humildade para ser dependente não só de Deus, mas de vocês também. Esta é minha oração e espero que seja a sua também. Deus abençoe!
Baseado no livro ‘O Discípulo Radical’ de John Stott
5º Estudo da Série - Texto base: Mt 6.9-13
Fonte: http://jmarcosbezerra.blogspot.com.br/2016/10/discipulo-radical-dependencia.html
O estudo do livro “O Discípulo Radical” de John Stot até o momento tem trazido uma reflexão sobre a necessidade de sermos transformados pelo Espírito Santo por meio de uma metamorfose completa para gerar uma mudança no mundo; de ser semelhante a Cristo para mostrar quem é Ele por meio de nós; da importância de um relacionamento com Cristo para nos levar a maturidade; e, de sabermos quem nós somos como filhos de Deus para realmente ser um Discípulo Radical.
Hoje vamos conversar sobre o quinto e último tópico desta série que é a Dependência. Você já foi dependente totalmente de alguém? Não podia se levantar, andar, comer, ir ao banheiro, tomar banho etc. sem a ajuda de alguém? Já passou por isso? Como todos nós já fomos bebês, então já passamos por isso pelo menos neste período.
Ainda não passei por uma situação de completa dependência, mas quando fiz uma cirurgia na garganta precisei do auxílio da minha esposa por vários dias em diversas situações. Isto não é agradável porque nos sentimos vulneráveis e fracos. Imagine numa situação de total dependência, o sentimento deve ser de humilhação. Queremos ser independentes. Mas também já estive do outro lado, ajudando a minha esposa em variados momentos quando ela fez uma cirurgia. E isto é gratificante porque é uma forma de demonstrar o amor que temos pela outra pessoa.
Este sentimento de impotência nos leva a não querer ser dependentes de ninguém, inclusive de Deus. Isto é uma triste realidade! Pensamos que o fato de depender de alguém é algo ruim. Só que não!!! Você já percebeu que a oração do Pai-nosso é uma oração de dependência? Vejamos.
Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. (Mt 6.9-13)
Segundo John Stot, depois de glorificar a Deus reconhecendo o Seu nome, Seu Reino e Sua soberania, colocamo-nos em total dependência da Sua graça pedindo pelo pão, por perdão e pelo livramento. Ele ainda declara que “é o resumo do nosso discipulado – nossa consciência da glória de Deus e nossa dependência de sua misericórdia”.
Jesus mostrou que dependia da vontade do Pai não só nesta oração modelo, mas em todo o Seu ministério. Lembra-se de Mateus 26.39: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”? É necessário em nossa vida como discípulo reconhecer que dependemos do Senhor para tudo o que vamos fazer, pois a vontade Dele é soberana.
Para ter esta atitude precisamos de humildade, que é definida como “virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade” (Aurélio). Isto nos leva a outro fator da dependência: se reconheço minhas limitações necessito da ajuda de outra pessoa nestas situações. Então, podemos também entender que além de depender de Deus, precisamos depender dos outros.
Você pode estar pensando agora: “Eu vou me humilhar para outra pessoa precisando da ajuda dela. Isso é vergonhoso demais!”. Como dito anteriormente, um dos sentimentos que vem com a total dependência é a humilhação. Você sabe por que desta sensação de não aceitar a dependência de outro? Porque somos orgulhosos! Temos um conceito elevado demais sobre nós mesmos. Isto não é bom!
O orgulho sempre vai nos levar a tentar caminhar sozinho, longe das pessoas e, consequentemente, longe de Deus. Sabe por quê? Por achar que somos mais capazes do que realmente somos. Por achar que podemos fazer mais coisas do que realmente podemos fazer. Por acreditar que só devemos procurar aos outros e a Deus quando não podemos resolver um negócio sozinho. Isto não deve ser a atitude de um Discípulo, muito menos um Discípulo Radical.
A nossa atitude como alguém transformado completamente num ser semelhante a Cristo, através do Espírito Santo e por meio de um relacionamento com o Mestre, reconhecendo que somos filhos de Deus, deve ser sempre de total dependência a Deus e ao próximo porque isto agrada a Deus e colabora com a comunhão porque o discípulo quando ajuda se sente grato em colaborar. Além disso, o fato de pedir ajuda mesmo quando é capaz de fazer algo alivia o fardo que carregamos.
Na minha caminhada ministerial tive que fazer várias coisas sozinho. No fim da tarefa estava completamente cansado, desgastado e, às vezes, frustrado. Atualmente, eu tenho plena consciência que posso fazer muita coisa sozinho, mas, o fato de dividir as tarefas e pedir ajuda, possibilita a mim conhecer a capacidade de outros e, principalmente, fazer mais coisas que faria se estivesse sozinho. Isto é motivador, mas é necessário humildade para entregar algo seu a outro.
Para conseguir ser humilde, aceitar com tranqüilidade a dependência, Stot compartilha as palavras de E. J. H. Nash nos seguintes tópicos:
1. Agradeça a Deus, com freqüência e sempre;
2. Interesse-se por confessar seus pecados;
3. Esteja pronto para aceitar humilhações;
4. Não se preocupe com status; e,
5. Use seu senso de humor.
“A recusa em ser dependente dos outros não é um sinal de maturidade, mas de imaturidade” conclui Stot.
Com isso, é importante reconhecer que ser independente é necessário em algumas circunstâncias, mas, assim como Cristo também foi dependente ao nascer como criança e se submeteu completamente a vontade de Deus, a dependência não nos torna uma pessoa sem dignidade, mas é uma característica marcante de um Discípulo Radical.
Que eu tenha humildade para ser dependente não só de Deus, mas de vocês também. Esta é minha oração e espero que seja a sua também. Deus abençoe!
Baseado no livro ‘O Discípulo Radical’ de John Stott
5º Estudo da Série - Texto base: Mt 6.9-13
Fonte: http://jmarcosbezerra.blogspot.com.br/2016/10/discipulo-radical-dependencia.html
sábado, 5 de novembro de 2016
Nuances do Reino
Por Leonel Elizeu Valer Dos Santos
“Porque o trono se firmará em benignidade, sobre ele no tabernáculo de Davi se assentará em verdade um que julgue, busque o juízo, e se apresse a fazer justiça.” Is 16;5
Certamente o profeta messiânico fala do Reino de Deus. Após defini-lo como firmado nas bases do bem, três palavras; julgue, juízo e justiça, dão mostras do bem maior, ante, O Rei Vindouro.
No encerramento da Revelação, O Senhor insta para que cada um deixe patentes suas escolhas: “Quem é injusto, faça injustiça ainda; quem está sujo, suje-se ainda; quem é justo, faça justiça ainda; e quem é santo, seja santificado ainda.” Apoc 22;11 Paralelismo sinonímico que equaciona injustiça à sujeira, justiça, à santidade.
Quer dizer que é na base do dente por dente e olho por olho? Apenas justiça, e a misericórdia? É uma boa pergunta, pois, o salmista associara essa àquela no séquito dos valores Eternos. “A misericórdia e a verdade se encontraram; justiça e paz se beijaram.” Sal 85;10 Vemos, porém, que ambas aparecem com “acessórios”; A misericórdia, com a verdade, a justiça, com a paz.
Acontece que temos pouca afinidade, tanto com a verdade, quanto, com a justiça, quando, essas nos são desfavoráveis. Digo, tendemos a clamar por justiça quando nos sentimos no prejuízo. Igualmente, a verdade nos parece boa se, realça-nos em algum mérito, vantagem, senão, incomoda.
A Misericórdia em pessoa, Jesus Cristo veio. Porém, por trazer junto a verdade, foi rejeitado. “A condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, os homens amaram mais as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.” Jo 3;19 Assim, nada vale estarmos convencidos da Misericórdia, se, não estivermos, igualmente, convictos de nossos pecados. Por isso, labora O Bendito Espírito Santo; “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.” Jo 16;8
A misericórdia Divina é misericordiosa, não, amoral; Deus perdoa sempre quem reconhece falhas, se arrepende, confessa. Assim, até a Justiça Divina se satisfaz, imputando aos arrependidos, a Justiça de Cristo. Aos demais, resta o olho por olho, a punição proporcional à falha. Não se trata de uma grandeza superior, mas, de uma preferência do Amor Divino, dar primazia à misericórdia no trato com nossas faltas. “Porque o juízo será sem misericórdia sobre aquele que não fez misericórdia; e, misericórdia triunfa do juízo.” Tg 2;13
Quando associa justiça à paz, não se refere aos relacionamentos interpessoais, sujeitos a diversidade de caracteres e motivações, antes, à paz com Deus, que usufruem, mesmo em tempos angustiosos, aqueles que, mediante a misericórdia, se fazem herdeiros de Cristo.
A paz é, em caso de conflito de interesses, um bem bilateral. Desde a queda, o homem se fez inimigo do Criador, uma guerra suicida, inda assim, guerra. Quando O Mediador veio para ser nosso Resgate os anjos cantaram: “...paz na Terra...” Quando subiu a Jerusalém para consumar Sua Obra, O Espírito Santo pôs nos lábios de alguém: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor; paz no céu...” Luc 19;38
Desde então, os que pertencem a Cristo estão em paz com Deus, malgrado toda sorte de aflições eventuais. O Salvador ensinou que Sua Paz não era como a do mundo; Paulo disse que excede a todo entendimento.
Por ora, O Reino de Deus é mero enclave nesse mundo ímpio; mas, os súditos que renasceram pelo Sangue de Cristo e foram vivificados pelo Espírito Santo, usufruem em si, e entre si, os benignos efeitos da Misericórdia e da Justiça Divinas. “Até que se derrame sobre nós o espírito lá do alto; então o deserto se tornará em campo fértil, o campo fértil será reputado um bosque. O juízo habitará no deserto, a justiça morará no campo fértil. O efeito da justiça será paz, e a operação da justiça, repouso e segurança para sempre.” Is 32;15 a 17
Contudo, há um “Reino” paralelo, cuja ênfase recai sobre prosperidade, direitos, ignorando que, não há bênção maior, que estar reconciliado com Deus, Fonte de todo o bem. Se, até quando vai pelo caminho o tolo diz a todos quem é, como versou Salomão, até quando ora, o ímpio patenteia a sua sujeira. “O que desvia os seus ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável.” Prov 28;9
Vivemos tempos difíceis, onde, as pessoas, senhoras de si, invés de se afastarem do que O Santo veta, vetam o veto, digo, distorcem e pervertem A Palavra.
Enquanto a ampulheta do tempo não se esvazia, os ímpios estão em “vantagem”, podem fazer que quiserem. Entretanto, quando isso acontecer, a misericórdia deixará de ser, um bem, disponível; Restará ao Eterno apenas a justiça. Não era bem o que Ele queria, contudo, é um bem, que quer.
Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/nuances-do-reino
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