sábado, 12 de novembro de 2016

DISCÍPULO RADICAL - DEPENDÊNCIA

Por João Marcos Bezerra


O estudo do livro “O Discípulo Radical” de John Stot até o momento tem trazido uma reflexão sobre a necessidade de sermos transformados pelo Espírito Santo por meio de uma metamorfose completa para gerar uma mudança no mundo; de ser semelhante a Cristo para mostrar quem é Ele por meio de nós; da importância de um relacionamento com Cristo para nos levar a maturidade; e, de sabermos quem nós somos como filhos de Deus para realmente ser um Discípulo Radical.

Hoje vamos conversar sobre o quinto e último tópico desta série que é a Dependência. Você já foi dependente totalmente de alguém? Não podia se levantar, andar, comer, ir ao banheiro, tomar banho etc. sem a ajuda de alguém? Já passou por isso? Como todos nós já fomos bebês, então já passamos por isso pelo menos neste período.

Ainda não passei por uma situação de completa dependência, mas quando fiz uma cirurgia na garganta precisei do auxílio da minha esposa por vários dias em diversas situações. Isto não é agradável porque nos sentimos vulneráveis e fracos. Imagine numa situação de total dependência, o sentimento deve ser de humilhação. Queremos ser independentes. Mas também já estive do outro lado, ajudando a minha esposa em variados momentos quando ela fez uma cirurgia. E isto é gratificante porque é uma forma de demonstrar o amor que temos pela outra pessoa.

Este sentimento de impotência nos leva a não querer ser dependentes de ninguém, inclusive de Deus. Isto é uma triste realidade! Pensamos que o fato de depender de alguém é algo ruim. Só que não!!! Você já percebeu que a oração do Pai-nosso é uma oração de dependência? Vejamos.

Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia. Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, porque teu é o Reino, o poder e a glória para sempre. Amém. (Mt 6.9-13)

Segundo John Stot, depois de glorificar a Deus reconhecendo o Seu nome, Seu Reino e Sua soberania, colocamo-nos em total dependência da Sua graça pedindo pelo pão, por perdão e pelo livramento. Ele ainda declara que “é o resumo do nosso discipulado – nossa consciência da glória de Deus e nossa dependência de sua misericórdia”.

Jesus mostrou que dependia da vontade do Pai não só nesta oração modelo, mas em todo o Seu ministério. Lembra-se de Mateus 26.39: “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres”? É necessário em nossa vida como discípulo reconhecer que dependemos do Senhor para tudo o que vamos fazer, pois a vontade Dele é soberana.

Para ter esta atitude precisamos de humildade, que é definida como “virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações; modéstia, simplicidade” (Aurélio). Isto nos leva a outro fator da dependência: se reconheço minhas limitações necessito da ajuda de outra pessoa nestas situações. Então, podemos também entender que além de depender de Deus, precisamos depender dos outros.

Você pode estar pensando agora: “Eu vou me humilhar para outra pessoa precisando da ajuda dela. Isso é vergonhoso demais!”. Como dito anteriormente, um dos sentimentos que vem com a total dependência é a humilhação. Você sabe por que desta sensação de não aceitar a dependência de outro? Porque somos orgulhosos! Temos um conceito elevado demais sobre nós mesmos. Isto não é bom!

O orgulho sempre vai nos levar a tentar caminhar sozinho, longe das pessoas e, consequentemente, longe de Deus. Sabe por quê? Por achar que somos mais capazes do que realmente somos. Por achar que podemos fazer mais coisas do que realmente podemos fazer. Por acreditar que só devemos procurar aos outros e a Deus quando não podemos resolver um negócio sozinho. Isto não deve ser a atitude de um Discípulo, muito menos um Discípulo Radical.

A nossa atitude como alguém transformado completamente num ser semelhante a Cristo, através do Espírito Santo e por meio de um relacionamento com o Mestre, reconhecendo que somos filhos de Deus, deve ser sempre de total dependência a Deus e ao próximo porque isto agrada a Deus e colabora com a comunhão porque o discípulo quando ajuda se sente grato em colaborar. Além disso, o fato de pedir ajuda mesmo quando é capaz de fazer algo alivia o fardo que carregamos.
Na minha caminhada ministerial tive que fazer várias coisas sozinho. No fim da tarefa estava completamente cansado, desgastado e, às vezes, frustrado. Atualmente, eu tenho plena consciência que posso fazer muita coisa sozinho, mas, o fato de dividir as tarefas e pedir ajuda, possibilita a mim conhecer a capacidade de outros e, principalmente, fazer mais coisas que faria se estivesse sozinho. Isto é motivador, mas é necessário humildade para entregar algo seu a outro.

Para conseguir ser humilde, aceitar com tranqüilidade a dependência, Stot compartilha as palavras de E. J. H. Nash nos seguintes tópicos:
1. Agradeça a Deus, com freqüência e sempre;
2. Interesse-se por confessar seus pecados;
3. Esteja pronto para aceitar humilhações;
4. Não se preocupe com status; e,
5. Use seu senso de humor.

“A recusa em ser dependente dos outros não é um sinal de maturidade, mas de imaturidade” conclui Stot.
Com isso, é importante reconhecer que ser independente é necessário em algumas circunstâncias, mas, assim como Cristo também foi dependente ao nascer como criança e se submeteu completamente a vontade de Deus, a dependência não nos torna uma pessoa sem dignidade, mas é uma característica marcante de um Discípulo Radical.

Que eu tenha humildade para ser dependente não só de Deus, mas de vocês também. Esta é minha oração e espero que seja a sua também. Deus abençoe!

Baseado no livro ‘O Discípulo Radical’ de John Stott
5º Estudo da Série - Texto base: Mt 6.9-13


Fonte: http://jmarcosbezerra.blogspot.com.br/2016/10/discipulo-radical-dependencia.html

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