quarta-feira, 30 de abril de 2014

O trabalho para a glória de Deus

John Stott
Deus organizou deliberadamente a vida de tal maneira que ele precisa da cooperação dos seres humanos para o cumprimento dos seus propósitos. Ele não criou o planeta terra para ser produtivo por si mesmo; os seres humanos tinham que subjugá-lo e desenvolvê-lo. Ele não fez um jardim cujas flores se abririam e os frutos amadureceriam por conta própria; ele designou um jardineiro para cultivar a terra. Chamamos isso de “mandato cultural” que Deus deu à raça humana. “Natureza” é o que Deus nos dá; “cultura” é o que nós fazemos com ela. Sem um agricultor humano, todo jardim ou campo se degeneraria rapidamente, transformando-se num deserto.
Na verdade, Deus fornece o solo, a semente, o sol e a chuva, mas nós temos que arar, plantar e colher. Deus fornece as árvores frutíferas, mas nós temos que podá-las e apanhar os frutos. Como Lutero disse certa vez num sermão sobre Gênesis, “Pois por seu intermédio Deus trabalhará todas as coisas; ele vai ordenhar as vacas e desempenhar as tarefas mais humildes por meio de você, e todas as tarefas, da maior até a menor, serão agradáveis a ele”. De que valeria a provisão que Deus faz para nós de uma vaca cheia de leite se nós não estivéssemos lá para ordenhá-la?
Assim, há cooperação, na qual nós realmente dependemos de Deus, mas na qual (acrescentamos reverentemente) ele também depende de nós. Deus é o Criador; o homem é o agricultor. Cada um necessita do outro. No bom propósito de Deus, criação e cultivo, natureza e criação, matéria-prima e perícia profissional humana são indissociáveis.
Esse conceito de colaboração divino-humana é aplicável a todas as tarefas honrosas. Deus se humilhou e nos honrou ao fazer-se dependente da nossa cooperação. Observe o bebê humano, talvez a mais desamparada de todas as criaturas de Deus. As crianças são, sem dúvida, “presentes do Senhor”, embora a procriação seja, em si mesma, uma forma de cooperação. Depois do nascimento, é como se Deus lançasse o recém-nascido nos braços da mãe e dissesse: “Agora você cuida”. Ele confia aos seres humanos a criação de cada criança. Nos primeiros dias o bebê parece até ser parte da mãe, de tão próximos que os dois estão. E por muitos anos as crianças são dependentes de seus pais e professores.
Até mesmo na idade adulta, apesar de dependermos de Deus para a própria vida, dependemos uns dos outros para as necessidades da vida. Isso inclui não apenas as necessidades básicas da vida física (alimento, vestuário, habitação, afeto, segurança e cuidados médicos), mas também tudo que engloba a riqueza da vida humana (educação, recreação, esportes, viagens, cultura, música, literatura e as artes), para não mencionar a nutrição espiritual. Assim, qualquer que seja nosso trabalho – em uma das profissões (ensino, medicina, leis, serviços sociais, arquitetura ou construção), nas políticas nacional ou local ou no serviço civil, na indústria, no comércio, no cultivo do solo ou na mídia, em pesquisa, na administração, no serviço público ou nas artes, ou em casa – devemos vê-lo como sendo cooperação com Deus. As palavras de Ambroise Paré, o cirurgião francês do século 16 que algumas vezes foi descrito como “fundador da cirurgia moderna”, estão inscritas no muro da École de Médicine em Paris: “Eu fiz o curativo no ferido; Deus o curou”.

• Trecho retirado de Os cristãos e os desafios contemporâneos, de John Stott.

domingo, 27 de abril de 2014

Princípio ativo do placebo

Por Leonel Elizeu Valer Dos Santos

“Visto que entristecestes o coração do justo com falsidade, não o havendo eu entristecido;” Ez 13; 22

Em Sua diatribe contra os falsos profetas de Israel, Deus admite que entristece, eventualmente, mesmo os justos; nunca, porém, com falsidade. Todavia, os mercenários da época encorajavam aos maus e entristeciam aos bons ante o Eterno, o que Ele denunciou veemente: “E vós me profanastes entre o meu povo, por punhados de cevada, e por pedaços de pão, para matardes as almas que não haviam de morrer, e para guardardes em vida as almas que não haviam de viver, mentindo assim ao meu povo que escuta a mentira?” v 19

A corrupção religiosa, essa vetusta prostituta era atuante, então. Não que a palavra dos profetas tivesse, estritamente, poder de matar alguém. Mas, ao encorajar o erro por interesse, abonavam aos desprezíveis ante O Criador, a desviavam aos justos que, uma vez rejeitados, não viam razão mais para seguir agindo assim. O Salmista, aliás, dissera que o prolongado império da injustiça acaba desencorajando a perseverança dos justos; “Porque o cetro da impiedade não permanecerá sobre a sorte dos justos, para que o justo não estenda as suas mãos para a iniquidade.” Sal 125; 3

São raras as têmperas que, mesmo cercadas de toda sorte de injustiça conservam-se como ilhotas de honra e caráter, como fora Ló: “... o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis... afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo sobre as suas obras injustas;” II Ped 2; 7 e 8

Lato sensu, sofremos mais reflexos horizontais, dos exemplos humanos, que verticais, da Palavra de Deus, infelizmente. E falsidade em nosso meio já não é um lapso, antes, um jeito de ser, salvas, raríssimas exceções. Essa “qualidade” assoma mais robusta em datas religiosas como agora, na “semana santa”, ou no Natal, por exemplo.

Nossos vícios seguem intactos, entretanto, os fazemos brilhar com verniz religioso. Teatros gigantescos são montados mundo afora para encenar a “Paixão de Cristo”, por gente cujo modo de vida denuncia que não está nem aí para Ele e Seu Reino.

Mas, diria alguém, que mal tem por em relevo o que Ele fez, afinal, um feito de tal monta não deve cair no esquecimento? Não sei se tem algum mal, mas, podemos investigar melhor isso.

A independência do Brasil é um feito histórico que rememoramos todos os anos. Entretanto, não nos reunimos num pelotão de cavalarianos e vamos às margens do Ipiranga repetir o gesto de Dom Pedro I. Trazemos à memória de outro modo igualmente válido e mais abrangente.

Acontece que os que usam a Saga de Cristo como roteiro pronto para mero entretenimento não honram à Sua memória, antes, profanam. Aos que, de fato, se importam com a Vontade do Rei, a forma de memorar Seu Feito é distinta: “E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha.” I Cor 11; 24 a 26

Os coevos do Salvador também tinham lá seus memoriais hipócritas que Ele denunciou como um tiro no pé: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que edificais os sepulcros dos profetas e adornais os monumentos dos justos, e dizeis: Se existíssemos no tempo de nossos pais, nunca nos associaríamos com eles para derramar o sangue dos profetas. Assim, vós mesmos testificais que sois filhos dos que mataram os profetas.” Mat 23; 29 a 31

Acontece que esses teatrinhos com mensagens ocas que padecem de fidelidade bíblica ensejam uma emoção falsa; uma tristeza com pena de Cristo, não com vergonha de si mesmo, como convém a quem ouve a genuína Palavra de Deus, geratriz da fé.

Sim, mesmo a tristeza pode ser falsa, mera droga emocional com a “eficácia” de um placebo, coisa que, aliás, Paulo ensinou expressamente: “Agora folgo, não porque fostes contristados, mas porque fostes contristados para arrependimento; pois fostes contristados segundo Deus; de maneira que por nós não padecestes dano em coisa alguma. Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte.” II Cor 7; 9 e 10

A tristeza segundo Deus, pois, é medicina da alma, correção necessária por causa do amor. “Pois, ainda que entristeça a alguém, usará de compaixão, segundo a grandeza das suas misericórdias.” Lam 3; 32

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/principio-ativo-do-placebo

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Mentir é não ser

Por Noeme Rodrigues De Souza Campos

A mentira é como uma tinta cinza que alguém espalha numa paisagem colorida. Ela ofusca as cores. Espanta a alegria. Embaça a visão.

O tempo em que a mentira prevalece é como um período não vivido – tanto pra quem mentiu, quanto pra quem acreditou. É vida mutilada.

Mentir é não ser. É isolamento, é não se deixar ser, não compartilhar, não relacionar, não se deixar existir, é não viver. 

O mentiroso é um morto disfarçado de vivo. Não é real, é só um fantoche de uma fantasia qualquer, que esconde a verdade de quem ele poderia ser, se fosse real.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/mentir-e-nao-ser

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Há vida em nossa verdade e verdade em nossa vida?


Por Robson Santos Sarmento

Há vida em nossa verdade e verdade em nossa vida?

‘’Os cristãos se tornam, cada vez mais, discípulos de uma cruz formada com as madeiras de um conformismo individualista e utilitarista; por isso, toda e qualquer enfoque sobre serviço perpassa como palavras, até adequadas para o discurso, mas sem qualquer condição de fecundar a vida. ’’

O encontro dessas duas palavras, verdade e vida, apresentam toda uma multiplicidade de interpretações, posições e definições. Sejamos, então, sinceros para reconhecer o quão intricado representa a questão voltada a abordar a verdade e a vida. Para uns, em busca da verdade, a vida, em certos momentos, deve ser sacrificada. 

Agora, uma verdade a qual permaneça sem nos levar a vida, por sua vez, também deve ser vista como uma fantasia, uma lorota, uma perda de tempo. 

Ora, se partirmos de uma perspectiva de avaliação, segundo as descrições efetuadas pela biologia, dentro dos princípios do evolucionismo (transposto para campo das inter – relações humanas), a vida nos confirma que estamos em dissolução. Negar seria uma temeridade, afinal de contas, pujança, vigor, vitalidade e mortalidade, dissolução, declínio são partes de um mesmo processo. 

Mesmo diante dessa abordagem e, devo admitir, superficialíssima, o homem, de maneira alguma, perfaz o caminho em direção a vida, aspira por ela, sonha com ela, muito embora traga a finitude, a destruição e a morte. Faz – se anotar, apenas o homem, eu e você, o humanus, pode perguntar sobre como viver e conviver na realidade? 

Arrisco dizer ser essa a mais basilar das indagações do ser humano, muito embora a vida como se apresenta e tem se apresentado, com suas guerras, disparidades, violências, indiferenças, iniquidades, injustiças, impurezas. 

Nessa linha de raciocínio, o homem tem traçado respostas ou justificativas, através de inúmeros ideais e idealismos. 

Mais recentemente, a crença no progresso e no desenvolvimento cultural foi vistos como os pontos cardeais e basilares compromissados a alterar quadros de discrepâncias e vergonhosas desigualdades. 

Mesmo assim, com o advento da tecnologia de ponta, da informação em tempo real, da interligação de fatos (proporcionado pela internet), da disseminação de um mundo conectado, não conseguimos sobrepujar a intolerância de uns para com os outros. 

Atrevo – me a cravar as estacas no texto de João 10.10 e enfatizar uma questão escasseadamente trabalhada, com seriedade e honestidade, nos enredos cristãos, ou seja, falo da contradição, do antagonismo, da cisão denominada de mal e de pecado. Sem sombra de dúvida, evito estabelecer uma delimitação dessas duas palavras aos delírios de uma conotação sexual. Vou além, exponho a discussão como uma outrora justa, boa, pacifica e amorosa conciliação com a vida, o próximo e o Senhor solapada. 

Eis aqui a diferença concreta do evangelho de Cristo, uma vez que o homem até possa intervir nas inter – relações humanas, no entanto, permanece no lado de fora no tocante a dimensão íntima do ser, ou do coração e isto tem sua extensão na relação entre o homem e Deus. 

Parto dessas colocações e vejo o sentido da trajetória de Cristo, ao qual propôs e propõe um retornar ao estado de confiança que apenas pode ser alcançado, por meio da aceitação da boa ajuda de Deus, ao qual mostra em sim mesmo ser imagem e semelhança de Deus. 

Evidentemente, para uma realidade pós – moderna misturada de posições evolucionistas e idealistas, relativistas e utilitaristas, cosificadas e individualistas, reconhecer o elo de reconciliação, essa ponte, essa ancora, essa mão estendida de Deus e proporcionar um caminho em favor do homem, eu, você e cada um que medita no presente texto, soa como uma tagarelice pueril, aberrante e infantil. 

A situação piora ainda mais, a partir do momento que nos deparamos com um evangelho de araque, de ajuntamentos, de lideranças personalistas. Deveras, o evolucionismo não conseguiu trazer uma resposta convincente aos anseios mais profundos do homem e muito menos os apologistas do progresso. 

No escoar da questão levantada, ha verdade em nossa vida e vida em nossa verdade, remeto – me ao que professamos ou interpretamos como cristãos ou, lá no fundo não externamos uma salvação que se encaixa aos muitos idealismos de nossos dias?

Fonte: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/ha-vida-em-nossa-verdade-e-verdade-em-nossa-vida

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Onisciência

Por Pedro João Costa

Ao proclamar o Reino dO Pai,
Jesus percebia
Que muitos não acolhiam
A revelação celestial.

E, ao ser afrontado por homens
Cruéis e violentos,
Ele, não se entristecia,
Pois sabia que eram cegos
E em seus corações
Não havia luz.

Jesus amou o rico
Jovem de qualidades,
Mas ao final,
Foi o mancebo
Que se afastou de jesus,
Triste e perdido.

Jesus conhece o coração humano,
Ele não se entristece,
E mansamente
Bate a porta
"Pedindo acolhida"
E diz:
 - Filho meu,
Dá-me o teu coração.

Pedro João Costa (19/01/14): Colaborador desse Blog desde 2010.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Existir

Por Pedro João Costa

Oh! Não sei o que falar.
Falei o que não devia.
Repeti e falei,
Falhei, repentinas vezes.

Tropego, emudeci,
Vislumbrei morte e o fim,
Assentei e rendi.
Sorveu-me ternura,
Esmoreci.

O fôlego curto,
Descompassa pensamentos
Do coração,
Cujo desejo,
Qual corrente,
Flui a margem.

A lua embaçada
Em cinza multitons,
Serena a sina dos comuns.
Vulgar, percebo existir,
Um conto,
Uma lenda,
Ladainha e sopro,
Miragem e sombra.
                 
Pedro João Costa (27/03/13): Colaborador desse Blog desde 2010.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Você sabia?

                                      Imagem: Pedro Kirilos / Agência O Globo 
Por Pedro Paulo


Sábado escutei na Rádio CBN Vitória, uma notícia que eu ainda não sabia. Era sobre as dificuldades que enfrentam as recicladoras de garrafa PET. Para tentar entender melhor a razão desse entrave, visitei o site da ABRAPET e descobri essa matéria relevante que vou reproduzir apenas os três primeiros parágrafos, vejamos:

Além das dificuldades tributárias enfrentadas há anos pelos recicladores do PET a ABREPET – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA CADEIA DE SUSTENTABILIDADE DO PET identificou um problema tão sério que poderá acarretar o fechamento de diversas recicladoras desse ramo da reciclagem porque as empresas não conseguem concorrer com os preços da matéria prima virgem (extraída do meio ambiente), que estão sendo negociados bem mais baratos do que os da matéria prima reciclada. 

Segundo o presidente do CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem, Victor Bicca: Uma empresa de papel, por exemplo, paga uma certa quantidade de impostos para produzir e comercializar seu produto. Se ela recolhe e ainda recila o papel para revendê-lo novamente, ela pagará mais uma vez esses impostos. "É como se fosse uma bitributação", explica Bicca. Não é à toa que o papel reciclado que se compra nas papelarias é mais caro que o comum, mesmo sendo produzido pela mesma empresa. 

A ABREPET entende que a solução para esse problema seria a implementação de dois direitos garantidos aos recicladores e que constam na Lei 12.305/2010 que instituiu o Política Nacional de Resíduos Sólidos, são eles: a) incentivo fiscal com a desoneração tributária; b) tornar obrigatório o uso, inicialmente de, pelo menos, 30% de matérias primas e insumos derivados de matérias recicláveis. 
Gostaria de ter sempre boas notícias para postar. Gostaria de noticiar que muitas pessoas tiveram oportunidade de deixar os lixões para trabalhar em usinas recicladoras. Gostaria de ter sempre para citar, exemplos de iniciativa como o projeto "Cega Faz" que foi desenvolvido na cidade de Vila Velha (ES) em 2008, onde deficientes visuais reciclam garrafas pet e fabricam vassouras do tipo piaçava. Projetos que superam a deficiência (física e financeira) e resgatam a autoestima em prol da questão ambiental.

Gostaria de não ter que dizer, eu não sabia...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

É só falta de educação?


Por Cláudio Marra

A gravidade dos tempos em que vivemos é percebida pelo nervosismo latejante em muitos textos que na mídia abordam a realidade brasileira de nossos dias. Pessoas de diversos estratos culturais registram que a sociedade está enferma.

Isso mesmo. A sociedade. Não se trata mais de denunciar apenas a classe política e os equívocos dos três poderes da nação, mas de reconhecer que o mal é geral. As recorrentes tentativas de linchamento de bandidos ocorridas em diferentes locais do país, por exemplo, atropelam o fato de serem elas mesmas formas de banditismo e os comentários de setores da mídia sobre serem tais tentativas expressões de revide da sociedade chancelam esses crimes. Como poderia a sociedade continuar obstinadamente elegendo criminosos – os do mensalão e outros – se não estivesse ela mesma anestesiada pela corrupção que abriga em seu dia a dia, negando-se a respeitar o direito do próximo em filas, no trânsito, nos estádios e em outros locais públicos, cometendo violência contra o seu meio e buscando cada um apenas seus próprios interesses?

Várias vozes afirmam resultar tudo isso da falta de educação. Com a tranquilidade de herdeiros da tradição Reformada, concordamos, mas entendemos ser necessário esclarecer que falta de educação não é sinônimo apenas de falta de escolas. É que, mesmo onde há escolas, faltam muitas vezes valores. Faltam valores em nossa sociedade, e eles não se perderam por distração, antes, foram abandonados por convicção. Isso mesmo. Foi abraçada a ideia de que a educação deveria ser promovida sem os valores da herança judaico-cristã, a mesma que buscou sempre promover e universalizar a educação. A Reforma, particularmente, mostrou o impressionante efeito de sua influência nos países que a abraçaram. Nessa linha, o educador Reformado Comenius sustentava que era preciso “ensinar tudo a todos”, mas a educação não seria ministrada de modo divorciado do reconhecimento da soberania de Deus. Ao contrário, decorreria dela. Não se daria a transmissão de conhecimento como se isso pudesse ser feito de modo isolado dos valores defendidos pela fé cristã ou, afinal, sem quaisquer outros valores.

Sim, sem quaisquer outros valores, porque quando o Ocidente defende uma educação “destituída de valores”, negam-se os mencionados valores judaico-cristãos, mas adotam-se outros, verdadeiros “des”-valores. Se a verdade não é o que a Escritura assim apresenta, então cada um conceberá a sua própria e instalam-se o caos e as trevas.

O Brasil e as nações precisam hoje de luz para prosseguir, a luz do Senhor: “Atendei-me, povo meu, e escutai-me, nação minha; porque de mim sairá a lei, e estabelecerei o meu direito como luz dos povos” (Is 51.4). Essa luz alcança as nações por meio do evangelho de Cristo pregado pela Igreja até o fim destes tempos difíceis.

Cláudio Marra - Casado com Sandra, é jornalista, pastor presbiteriano e editor da Cultura Cristã.

Fonte: http://www.ultimato.com.br/conteudo/e-so-falta-de-educacao

quinta-feira, 3 de abril de 2014

2 motivos para aprendermos com os pais da igreja


Pais da Igreja

Em um verbete sobre “patrística”, no Dicionário da Igreja Cristã de Oxoford, uma obra de referência padrão sobre o cristianismo, os pais da igreja são descritos como aqueles autores que “escreveram entre o final do século I… e o final do século VIII”; e isso abrange o que é chamado de “Era Patrística”.

Medo de “Santos”

A verdade da questão é que muitos evangélicos contemporâneos desconhecem ou se sentem incomodados com os pais da igreja. Sem dúvida, anos de menosprezo da tradição e de luta contra o catolicismo romano e a ortodoxia ocidental, com seus “santos” da igreja antiga, têm contribuído, em parte, para este cenário de ignorância e incômodo. Além disso, certas tendências de fundamentalismo anti-intelectual têm desencorajado o interesse nesse “mundo distante” da história da igreja. E a esquisitice de muito daquela época da igreja antiga se tornou uma barreira para alguns evangélicos em sua leitura sobre os primeiros séculos da igreja. Finalmente, um desejo intenso de ser uma “pessoa do Livro” – um desejo eminentemente digno – tem levado, também, a uma falta de interesse em outros estudantes das Escrituras que viveram naquele primeiro período da história da igreja depois da era apostólica. Charles Haddon Spurgeon (1834-1892) – que certamente não poderia ser acusado de elevar a tradição ao nível, ou acima, das Escrituras – disse muito bem: “Parece estranho que certos homens que falam tanto sobre o que o Espírito Santo lhes revela pensem tão pouco no que ele revelou a outros”.

2 Motivos para Conhecer os Pais da Igreja

Por que os cristãos evangélicos deveriam procurar conhecer o pensamento e a experiência destas testemunhas cristãs antigas?
Primeiramente, o estudo dos pais, como qualquer estudo histórico, nos liberta do presente. Cada época tem sua própria perspectiva, pressuposições que permanecem não questionadas até pelos oponentes. O exame de outra época de pensamento nos força a confrontar nossos preconceitos naturais, que, de outro modo, ficariam despercebidos.  Como observou acertadamente Carl Trueman, um teólogo histórico contemporâneo:
A própria natureza estranha do mundo em que os Pais viveram nos força a pensar mais criticamente sobre nós mesmos em nosso con- texto. Por exemplo, não podemos simpatizar muito com o ascetismo monástico; mas, quando o entendemos como uma resposta do sécu- lo IV à velha pergunta de como devia ser um cristão comprometido numa época em que ser cristão começava a ser fácil e respeitável, podemos, pelo menos, usá-lo como uma bigorna na qual podemos forjar nossa resposta contemporânea a essa mesma pergunta.
Em segundo, os pais podem nos prover um mapa para a vida cristã. É realmente estimulante ficar na costa leste dos Estados Unidos, contemplar a arrebentação do Atlântico, ouvir o barulho das ondas e, estando bastante perto, sentir o borrifo salgado. Todavia, esta experiência será de pouco proveito ao se navegar para Irlanda ou para as Ilhas Britânicas. Pois, neste caso, um mapa é necessário – um mapa baseado na experiência acumulada de milhares de navegadores. Semelhantemente, precisamos desse tipo de mapa para a vida cristã. Experiências são proveitosas e boas, mas elas não servem como um fundamento apropriado para nossa vida em Cristo. Sendo exato, temos as Escrituras divinas, um fundamento imprescindível e suficiente para todas as nossas necessidades como cristãos (2Tm 3.16-17). Contudo, o pensamento dos pais pode nos ajudar enormemente em edificarmos sobre este fundamento.
Um ótimo exemplo se acha na pneumatologia de Atanásio, em suas cartas a Serapião, bispo de Thmuis. Os dias atuais têm visto um ressurgimento do interesse na pessoa do Espírito Santo. Isto é admirável, mas também carregado de perigo, se o Espírito Santo é entendido à parte de Cristo. Entretanto, o discernimento perspicaz de Atanásio era que “Através de nosso conhecimento do Filho podemos ter um verdadeiro conhecimento do Espírito”.16 O Espírito não pode ser divorciado do Filho. O Filho envia e dá o Espírito, mas o Espírito é o princípio da vida de Cristo em nós. Muitos têm caído em entusiasmo fanático porque não compreendem esta verdade básica: o Espírito não pode ser separado do Filho.
Redescobrindo_os_Pais_da_Igreja_detPor Michael Haykin. Texto adaptado do 1º capítulo do livro Redescobrindo os Pais da Igreja
No livro “Redescobrindo os Pais da Igreja”, Michael Haykin oferece ao leitor uma introdução agradável do cristianismo nos seus primeiros séculos, através das histórias de vida dos pais da Igreja e de seus ensinos, como Inácio, Cipriano, Basílio de Cesaréia e Ambrósio, cujos legados representam um imenso valor para os cristãos hoje. Nesta obra, Haykin revela o posicionamento desses homens piedosos diante de questões importantes da teologia como o batismo, o martírio, a ceia do Senhor, a Trindade, a relação da igreja com o estado, entre outras.

Fonte: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2014/04/2-motivos-para-aprendermos-com-os-pais-da-igreja/