terça-feira, 5 de novembro de 2013

A moral de Deus e a liberdade em Cristo

Daniel Nogueira

Outro dia assisti à entrevista do professor de filosofia Clóvis de Barros no Jô Soares. Embora a parte que ganhou mais repercussão nas redes sociais foi a parte na qual ele conta como descobriu a sua vocação para professor, eu queria chamar atenção para uma outra parte: a que ele ensina o que é moral.
Segundo ele, moral é o conjunto de valores que você possui aos quais você é fiel independente do olhar da sociedade sobre você. Isto é, você age sempre conforme esses valores, independente se alguém está olhando ou não. E exemplificando ele falou algo interessante: quando o governo coloca câmeras de vigilância nas escolas, ele está “desmoralizando” o ensino. Isso porque o estudante perde a oportunidade de aprender a agir conforme os seus valores morais, e aprende a viver sob o olhar repressor da vigilância. Dessa forma ele acaba assimilando que só precisa se comportar bem porque está sendo vigiado (e não devido aos valores morais que deveria ter).
Outro exemplo que ele deu foi de quando ele estava em um país da Europa e encontrou na rua um banquinho com uma caixa cheia de jornais e uma outra caixa ao lado com o dinheiro das pessoas que compraram jornal. E ele ficou observando ali um tempo e via que as pessoas pegavam o jornal e deixavam o dinheiro na caixa ao lado. Ele contou em tom de brincadeira que teve vontade de jogar todos os jornais num lago que havia perto, pegar todo o dinheiro pra ele, e ainda quebrar o banquinho num telefone público para eles verem “com quem estavam mexendo”. kkkk Mas, ao contrário, ele pegou um jornal, deixou o dinheiro lá, pegou parte do troco (porque como não havia troco suficiente a caixinha ainda ficou devendo troco para ele), e foi embora.
Se você tiver a oportunidade de viajar para alguns países de primeiro mundo, observará muitos lugares que funcionam exatamente da mesma forma (na base da confiança nos valores morais). Ao contrário do que ocorre no Brasil, não existe muito a preocupação de criar mecanismos que evitem que as pessoas façam coisas erradas. Por exemplo, em Valencia na Espanha em algumas regiões é possível entrar no metrô sem passar por uma “catraca”. As máquinas de venda e validação do cartão de metrô ficam próximo à linha e você deve comprar e validar o seu cartão antes de entrar no metrô. Não existe nenhum mecanismo que te impeça de pegar o metrô sem validar, exceto na região mais central onde o metrô é subterrâneo e aí sim existe catraca. Meu amigo disse que em Edimburgo na Escócia, a pessoa que entra em um ônibus deve colocar numa caixinha ao lado do motorista o valor equivalente à passagem. Detalhe: o motorista só olha de longe e não confere o valor antes de você colocar lá (a não ser que você mostre a ele explicitamente). O que ocorre na prática é que as pessoas já acostumadas nem se preocupam e depositam o valor sem sequer mostrar ao motorista. Pra complicar mais, o sistema não permite troco! Ou seja, se você colocar dinheiro a mais o azar é o seu. Se não tiver trocado você deve colocar um valor acima da passagem. Mas ainda assim ele disse que o sistema funciona muito bem. Já aqui no Brasil, para implantar o BRT (um tipo de ônibus maior que abre as portas todas juntas para acelerar o embarque e desembarque de passageiros), a prefeitura de Belo Horizonte teve que implantar uma espécie de “cápsulas fechadas” equipadas com catracas e paredes para impedir que as pessoas entrem no ônibus sem pagar a passagem (vide imagem abaixo).









Eu te pergunto: em qual sociedade você preferiria viver? Numa sociedade de primeiro mundo na qual as pessoas valorizam educação e aprendem a viver os valores morais, independente de estarem sendo vigiadas? Ou preferiria viver numa sociedade de terceiro mundo na qual as pessoas, ao invés de ensinar os valores morais, se preocupam em criar mecanismos repressores para impedir que as pessoas façam o que não deveriam? Acho que a resposta é óbvia.
Um paralelo disso pode ser feito com a nossa vida espiritual. Na igreja primitiva dos Colossenses, Paulo ficou sabendo que eles estavam seguindo algumas ordenanças que ele chamou de “preceitos e doutrinas dos homens”.
"Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: Não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade, e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum senão para a satisfação da carne.” - Colossenses 2:20-23
Observe que essas regras de “não tocar, não provar, não manusear” tinham uma falsa aparência de sabedoria, mas na verdade serviam apenas para a satisfação da carne. Ou seja, não tinham proveito nenhum para o espírito. Traduzindo: ninguém aprende nenhum valor moral seguindo ordenanças. É preciso aprender valores e não criar regras de conduta.
Isso ocorre muito nos nossos dias. Muita gente cheia de “boas intenções” pensa que é importante criar regras para que os cristão sigam. E milhões de regras são criadas do tipo “não pode isso… não pode aquilo…”. São tantos “nãos” que muitas pessoas pensam que ser cristão significa viver uma vida cheia de proibição. Mas pelo contrário, Jesus é a verdade que liberta. E onde está o Espírito Santo de Deus aí há liberdade!
"Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade." 2 Coríntios 3:17
"E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." João 8:32
O que esses criadores de regras não percebem, é que estão “desmoralizando” a igreja. Isto é, estão impedindo o desenvolvimento de valores morais e do discernimento. É importante tentar analisar as questões da vida individualmente e buscar saber o que Deus diz sobre cada questão. Do contrário estaremos criando uma população religiosa e legalista que segue alguns preceitos mas nem sabe bem o porquê, e até mesmo condena sem piedade quem não segue os mesmos preceitos. E, o que é pior, muitas vezes só seguem os preceitos enquanto estão sob o olhar dos membros da igreja.
É importantíssimo desenvolver o nosso discernimento, aprendendo a conferir na palavra de Deus sobre todas as questões da vida. Como os crentes da igreja de Beréia que eram mais excelentes porque conferiam nas escrituras tudo o que aprendiam (Atos 17:11). Devemos nos perguntar: “O que a Bíblia diz sobre esse assunto?” Ou também “Como esse assunto foi tratado na história da igreja?” (desde a igreja primitiva até nós).
Além disso, não podemos impor o nosso entendimento aos demais. Não devemos julgar para que não sejamos julgados. Paulo ensinou em Romanos 14 que cada um deve fazer tudo para a glória de Deus. Não devemos desprezar o próximo só porque ele entendeu que deve guardar o sábado, por exemplo. Se um faz diferença entre dias, ou julga todos os dias iguais, o faz para a glória de Deus. Cada um dará conta de si mesmo a Deus. Não precisamos viver como câmeras de vigilância para saber se os outros estão agindo conforme o meu entendimento. O Espírito Santo é que trabalha nos corações das pessoas para convencê-las do pecado, e não nós apontando o dedo para julgar, acusar, ou impor a nossa interpretação da bíblia.
Deus quer que tenhamos uma nova vida de liberdade em Cristo, andando em Espírito - isto é, seguindo os valores de Deus - independente de estar ou não sendo visto pelos irmãos da igreja ou até mesmo pela sociedade. Assim viveremos a moral de Deus e não necessitaremos mais das amarras repressoras da mentalidade de terceiro mundo.

Fonte:http://danielnogueir.tumblr.com/page/2

Nenhum comentário:

Postar um comentário