quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Alienação

"Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão". Gálatas 5:1. Este versículo sempre aguçou minhas meditações e o acho muito especial. É muito comum vermos alguém se referindo a um texto como preferido, ou mesmo a uma parábola, pois todos nós temos uma preferência natural.

Observamos que Paulo começa este verso com uma afirmação e depois que ela se encerra, inicia-se uma recomendação. "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou". Aqui na primeira frase Paulo termina a afirmação dizendo que foi para a liberdade que fomos libertos e ponto final. E na outra frase vem a recomendação: "Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão". Parece haver uma divisão neste verso, pois Paulo foi muito afirmativo e isto me chamou muito a atenção. Gostaria de me deter somente na primeira parte, mas a recomendação é imprescindível para a compreensão de todo o texto.

Nesta carta temos a confirmação de que houve uma substituição da lei pela graça e aqui Paulo não estava falando em libertinagem. Ele falava da liberdade da graça com relação à antiga lei. Porque a nova aliança veio com o propósito de fazer um novo concerto muito superior que traz as boas novas do Evangelho de Jesus. Nos versos 13-14, Paulo ainda disse: "Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne: sede, antes, servos uns dos outros pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo". Ficou também muito claro neste verso que toda lei se cumpre no amor ao próximo. O assunto de quase todo este capítulo aos Gálatas era um chamado à liberdade, com isto, este chamado à liberdade me fez lembrar os pássaros.

O pássaro é usado como símbolo da liberdade. Poetas sempre usam os pássaros em versos para ilustrar a ideia de liberdade, já repararam? É muito interessante não é mesmo? Jesus usou desta ave como exemplo para o ensino, quando Ele no sermão do monte falava sobre a ansiedade desta vida. E a ansiedade o que é, senão uma prisão em que se prende todo aquele que se apega aos bens desta vida? Quero deixar destacado o que significa apegar: "Estar apegado ou agarrado, ou então preso". Esta é a definição mais correta que nós conseguimos encontrar. É comum quando ouvimos dizer que fulano está agarrado, ou preso no serviço e não pode sair.

"Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves?". Mateus 6:26, vejam só, Jesus falou que valemos mais do que elas (as aves). E tem muitas pessoas que não pensam assim e se prendem, ora no apego terreno, ora no espiritual.

Esta prisão pode estar ocorrendo até inconscientemente na vida de muitas pessoas, creio eu! Há ainda outras pessoas que acreditam que é suficiente estar na igreja, assim está cumprindo suas obrigações religiosas e que o restante Deus vai se encarregar de resolver. Encontrei uma pessoa assim dias atrás. Ela se declarava ser de uma mesma confissão Cristã como eu, mas a nossa discórdia foi tão grande quando a conversa foi sobre certo tema, que ela irada, recusou os meus argumentos. Nem admitiu que lhe mostrasse na Palavra de Deus qualquer texto que fosse contra sua maneira de pensar. Minha conclusão foi de que a clausura é mesmo uma opção que muitas pessoas fazem. Jesus alertava nos evangelhos como vimos, para aprendermos com os pássaros e que eles devem ser nossa referência para o plano terreno e espiritual. Se não dermos asas ao nosso entendimento e não fundamentarmos na Palavra de Deus a nossa vida espiritual, estaremos presos na gaiola da autossuficiência. Isto pode se tornar triste e deprimente. A palavra depri-mente, pode significar muita coisa. Nos dicionários que consultei, significa:"Que deprime, ou que abate as forças".

Quando Jesus estava falando no evangelho sobre as aves no céu, não fez nenhuma referência ao avestruz, que não é uma ave voadora, pois tem suas asas atrofiadas. Esta ave, além de não voar, carrega uma fama que na verdade é um "mito" muito popular e até triste por sinal. Este mito que essa ave carrega, é que ela tem por hábito enterrar seu pescoço no buraco da areia quando se vê em perigo. Mas isto não pode ser comprovado, existem estudos a respeito deste caso. O que não podemos afirmar também, é que não tenha pessoas que enfiam o seu pescoço no buraco da autossuficiência. Vamos fazer de conta que não está acontecendo nada! As coisas não estão tão ruins! Os alienados espirituais estão engaiolados em uma teologia que não tem um fundamento sadio e que não se reveste da suficiência da Palavra de Deus. Correm um grande perigo essas pessoas que estão satisfeitas com sua denominação e acham que as coisas irão se resolver com o tempo. Aquela do: "vamos deixar como está, para ver como é que fica", não é nada cristão! Há uma advertência para a igreja, vejamos: Apocalipse 3:15-16 "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca".

Para esclarecer eu devo dizer que de modo geral, que toda ave, caso alguém consiga capturá-la, verá que ela vai se debater, deixando para trás até as suas penas para se soltar. Os pássaros não foram criados por Deus para serem engaiolados. Só os homens se deixam dominar pela sua livre e única vontade... Paulo disse em : "Romanos 7:1 Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem toda a sua vida? "Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra". Paulo o apóstolo estava falando aqui sobre a libertação dos dogmas, que a lei impunha e, na carta aos Gálatas, o tema era somente este:  A liberdade cristã!

O que me motivou escrever este post foi a pena que sinto ao ver certas pessoas na igreja ainda com esta mentalidade, e esta pena que eu sinto é dó, mesmo! Um pesar, que move minhas entranhas, porque sofro com o que tenho visto. "Crentes" entre aspas que estão sentados em cima do muro e que não se comovem com a situação que vive hoje a igreja evangélica, tão cheia de uma apostasia dissimulada. Uma verdadeira distorção dos valores humanos e espirituais. Que evangelho é este que não transforma a realidade que está à sua volta, que não se importa com os famintos, os drogados e os excluídos. O fim da lei de que Paulo fala, é o amor! Mas, não é amor somente por aqueles que estão dentro da igreja, é pelo próximo! Este próximo pode até ser uma ovelha perdida, pode ser uma que está com dificuldade de pagar o aluguel, que vive padecendo na fila do SUS, que não tem acesso a uma educação digna para os filhos. O que estamos fazendo e ouvindo na igreja? Vamos lá só para ouvir o pastor pregar sobre o amor, enquanto a gente não se comove com a miséria do próximo?

Há algum tempo eu li em um livro, uma matéria sobre o próximo, em que o escritor usou uma palavra em inglês para definir o que era o nosso próximo. Era mais ou menos assim:  A palavra brother é traduzida por irmão no nosso português, e, o nosso próximo deve ser pela lógica o nosso irmão! Porém se você tirar as duas primeiras letras de br-other, ficará other, que é traduzido por outro. Por isto mesmo não tem como você se dirigir a um irmão, sem com isto estar se referindo ao outro. De certa maneira, ficará assim se nós levarmos as palavras para o plural: The brothers significa certamente, os irmãos, e the others, significa os outros.  Portanto, os nossos irmãos também... são os outros.

A recomendação imprescindível que Paulo deixou foi: "...Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão". Submeter-se novamente à escravidão, após estar liberto da lei, é deixar a liberdade de Cristo para se alienar na clausura religiosa. Quem desejar ver uma figuração de alguém que se deixa alienar, é só clicar e ver isto!  Dá uma pena... 

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