quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Autoridade e Suficiência da Palavra

Inicia-se com esta declaração o Evangelho Segundo João 1:1 "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus". O que vem logo a seguir é a descrição limpa e clara de que em Jesus se fazia, não só o princípio de toda a vontade de Deus, como também de toda a criação que foi feita a partir do "Haja Luz" que está descrito em Gênesis 1:3.

O que nos parece na verdade é que João resolveu explicar a origem de tudo trazendo luz sobre o texto de Gênesis, quando em sua narrativa esclarece que sem Jesus nada seria possível. Afirmou que toda a criação se fazia a partir do sopro produzido pela boca de Deus gerando todas as coisas, que passaram a existir em função d'Ele, por Ele e para Ele. Depois do verso primeiro João fez essas três declarações. Em primeiro lugar, verso 2, "Ele estava no princípio com Deus". Depois a seguir, no verso 3: "Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele, nada do que foi feito se fez". E finalmente no verso 4: "A vida estava nele e a vida era a luz dos homens".

Para João, sem dúvida Jesus era o Verbo de Deus feito agora ser humano e estava encarnado, habitando entre nós, conhecido na sua plenitude e em graça sobre graça. João é bem resumido, mas, foi bastante enfático na sua narrativa e não elaborou nenhum mistério sobre o desígnio que os profetas já haviam enunciado, nos relatos que estão registrados nas Escrituras.

Deus se manifesta ao homem através da sua palavra e esta manifestação se fez carne na vida do Seu Unigênito. Assim, a autoridade das Sagradas Escrituras foi a base em que Ele estabeleceu já todas as coisas desde o início. O propósito de Deus foi lançar este fundamento: Jesus a Rocha Eterna. Por isto Ele determinou a doutrina bíblica centrada em Cristo, este é o princípio de todo o conhecimento da Sua vontade em sua palavra. Temos assim em II Timóteo 3:16, "Toda Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação em justiça". Notamos neste texto uma referência cristalina que a Escritura de que Paulo está falando é a de Deus, aquela que é inspirada por Deus. Portanto, nós entendemos claramente que a Autoridade da Escritura se reveste do próprio Autor e ela foi gerada, n'Ele, à partir d'Ele e por Ele mesmo. A base sólida era a sua palavra deixada para nós como regra, útil para nos ensinar, para nossa correção e para a nossa educação em justiça, foi isso que Paulo estava dizendo. Toda Escritura que estava contida na palavra!!! Não era, uma ou outra!

No início de sua jornada ao Calvário, Jesus levado pelo Espírito ao deserto foi tentado pelo diabo, temos o relato no Evangelho de Mateus 4:3 "Então o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém, respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que procede da boca de Deus". Temos aqui duas coisas relevantes a meditar. Em primeiro lugar que o tentador desejou lançar uma dúvida sobre a Paternidade de Jesus, como sendo o Filho de Deus. E o que aconteceu? Vou já respondendo! Jesus ignorou aquela pergunta, desprezando completamente aquela interrogativa arrogante. Em segundo lugar e logo a seguir Jesus falando ao seu interrogador disse: "Está escrito... " não precisamos repetir o versículo. Mas onde está escrito estas palavras? Vou já respondendo! Encontramos o registro que Deus disse a Moisés, exortando o povo à memória de seus benefícios, lá em Deuteronômio 8:3: "Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem".

Podemos tirar uma conclusão que Jesus usou a própria palavra escrita para se defender daquele acusador atrevido. Temos na Palavra uma demonstração da importância da armadura de Deus, na carta aos Efésios 6:10-17, e o verso 17 diz: "Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus". Portanto, vemos porque Jesus usou muito bem esta palavra. Isto é SUFICIENTE, também para nós! Basta-nos então só mesmo a Palavra de Deus e isto é que deve significar suficiência! A teologia tem que se calçar nesta base, que é, A Palavra de Deus! Nunca poderemos fundamentar nossa crença na palavra do homem ou em uma teologia distorcida desse princípio, se for assim, cairemos numa grande apostasia.

Os discípulos também se defenderam com a palavra que o Senhor deixou. Muitos deles deram as suas vidas em defesa desta palavra. Os primeiros cristãos tiveram uma grande dificuldade em divulgar a mensagem do Evangelho, por causa do gnosticismo, que foi um dragão voraz. Depois a filosofia pagã também foi obstáculo ao crescimento dos ensinamentos de Cristo. Logo depois que a Igreja Primitiva se ligou com o Estado feito um casamento, com a benesse de Constantino, foi que se deu o surgimento ao Romanismo.

Queremos chegar à reforma protestante, mas vamos ressaltar que alguns pré-reformadores, já haviam dado testemunho da palavra de Deus e muitos deles também foram mortos por esta causa, que tiveram de defender com as suas próprias vidas. Citaremos apenas dois importantes Savonarola e João Huss. Eles foram mártires porque fizeram a defesa da palavra de Deus, que se encontrava tão diluída por um romanismo corrompido. Depois surgiu Lutero, o nosso reformador que na defesa também da sua fé nesta palavra, afixou no paço da Igreja de Wittemberg as suas 95 teses, questionando as indulgências. Uma doutrina espúria que o monge Tetzel, sobre a égide do papa Leão X, queria a todo custo implantar como sendo divina para resgatar os fiéis do cruel purgatório. Uma clara substituição do sacrifício perfeito de Cristo na cruz.

A apologética de Lutero foi contra a usurpação da palavra de Deus, que ele sem temor algum não poupava ninguém de suas críticas, nem o Papa. Do púlpito da igreja desferia objetivamente o seu alerta ao povo para recusar aquele abuso. Pediu que coibissem aquele vergonhoso comércio com os bens espirituais. Onde se poderia admitir tamanha ignorância? Esta era a prova de um total desconhecimento da mais pura vontade de Deus que em sua Palavra afirma ser suficiente apenas a Salvação em Cristo. O preço da redenção já havia sido pago, quando no Calvário, Cristo realizou de uma só vez a obra redentora. Duas frases relatam bem a apologética de Lutero, vejamos:

"Outros que viveram antes de mim, atacaram a vida má e escandalosa do papa, mas eu ataquei a sua doutrina...".

"Não estou preocupado com a vida, mas com as doutrinas. A vida má não causa grande dano a não ser a si mesma, mas o ensinamento errado é o maior mal neste mundo, porque leva multidões de almas ao inferno. Não estou preocupado se és bom ou mau, mas atacarei seu ensinamento venenoso e mentiroso que contradiz a palavra de Deus".

A tese da Sola Scriptura, que foi formulada pelos reformadores surgiu como uma resposta aos desvios doutrinários, sendo necessária para dar combate à influência negativa que havia naquela época na igreja. Só a autoridade da Escritura poderia satisfazer a necessidade daquele que cresse em Deus. A moral, a integridade e o discernimento não existiam no ambiente religioso da época em que a Reforma surgiu e a corrupção imperava incólume. Cargos eclesiásticos eram comprados a preço de ouro. Essa tese foi elaborada em defesa da autoridade da palavra de Deus, suficiente para todos que do modo certo, desejava pautar sua fé no preceito de uma disciplina correta. Por isto ter somente a Escritura por regra significa que a declaração Sola Scriptura quer dizer isto também: Autoridade da palavra de Deus, suficiente para salvação. Cristo é o Autor e nossa fé na Sua Palavra é suficiente para nossa salvação.

Dias atrás ouvi uma autoridade policial dizendo para dois subordinados enquanto caminhavam, uma palavra muito interessante. Era assim: "A regra da disciplina é esta! Ou se obedece, ou se obedece!". Então não há meio termo, pensei comigo! Na disciplina cristã, a regra tem que ser a mesma: Ou nós seremos cristãos, ou nós seremos cristãos! Não poderá haver meio termo! Só a autoridade da palavra é suficiente. Não há outro caminho a seguir, não poderá haver atalhos, senão nós iremos cair na heresia. Não poderá haver desvios, porque desviar é tomar um outro rumo, seria como pecar por escolha própria. Aquele que deseja a suficiência da palavra de Deus, não poderá fazer como fazem os avestruzes humanos, os únicos animais que tem a coragem de enfiar o seu pescoço no buraco da autossuficiência. Quem produzir uma teologia sem a direção e autoridade da palavra de Deus, que não esteja centrada em Cristo, irá cair na insuficiência.

Agora que chegamos aqui, vou dizer que nós, os herdeiros desta reforma estamos assistindo um ataque vergonhoso às doutrinas sadias que contém a palavra de Deus. Hoje vivemos assim, por mais incrível que possa parecer. Existem alguns pastores que se vestem até de cordeiros, só para iludirem as suas vítimas. Vou generalizar para não errar porque não é somente um que procede assim, são muitos! Para vergonha nossa, um bando de usurpadores de plantão, estão querendo iludir muitos crentes. Pessoas inescrupulosas, que tem a cara de pau, de oferecer as bênçãos por uma oferta sempre maior, em troca de algum dinheiro.Tem ocorrido um verdadeiro comércio de indulgência que se disfarça com o nome de bênção. Mas, esta sim, é uma pobreza espiritual em que vive todo aquele que coloca as necessidades materiais em primeiro lugar para colocar depois as necessidades espirituais em segundo plano. Isto é uma inversão de valores e, se formos observar bem, aqui nasce a heresia. Inverter os valores espirituais, é perverter a palavra de Deus.

Jesus disse nos Evangelhos, que a nossa preocupação fosse espiritual, pois nós valemos mais que as aves do céu, que não semeiam, não colhem e nem ajuntam, porque Deus que cuida delas irá também cuidar de nós. O alerta era para que ninguém se apegasse aos bens desta vida, pois a prosperidade material em si, poderá ser muito danosa. Autoridade e suficiência da palavra é de suma importância para nós agora, precisamos ter muito discernimento e conhecimento de Deus, hoje!

Lutero, depois de se insurgir contra a tirania da igreja que dominava naquela época, mesmo até sobre o poder político, teve que se isolar para continuar seus estudos e fazer a tradução da Bíblia para a língua alemã. Neste tempo, produziu muita literatura, não foi uma teologia do eu sozinho que ele produziu, foram alguns estudos indispensáveis a todo aquele que coloca sua vida debaixo da autoridade da palavra de Deus que está centrada em Cristo. Seremos breve no encerramento deste post, mas gostaríamos de deixar para nossa meditação as palavras que Lutero usou em defesa da sua fé na palavra de Deus. Quando lhe foi  pedido que se retratasse das suas teses em seu ataque à Igreja de Roma, ele teve que comparecer diante a Dieta de Worms,  foram estas as principais palavras que usou  também em sua defesa: "A não ser que eu seja convencido mediante testemunho da Escritura Sagrada ou fundamentos e razões comprovadas, claras e evidentes, - pois não creio tão só no papa, nem nos concílios, porquanto é sabido por todos que erraram muitas vezes e a si se contradisseram, - e por eu estar convicto pelos versículos por mim citados e se achar presa a minha consciência pela Palavra de Deus, não posso e não quero me retratar de coisa alguma, porque não é seguro e nem aconselhável proceder contra a consciência". 

Nenhum comentário:

Postar um comentário