quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ABBÁ PAI

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

No próximo domingo comemora-se o dia dos pais. Qual o modelo de pai que se é comemorado? O pai que será comemorado no domingo que vem é aquele que não deixou faltar nada em casa. O pai que será comemorado no próximo domingo é o que deixou de comer para alimentar os filhos. O pai que será comemorado domingo que vem é o que começou a trabalhar aos sete anos de idade, e desde então acorda de madrugada (A diferença é que, naquele tempo era para ajudar o seu avô, hoje é para cuidar de você). O pai que será comemorado domingo que vem é o que deu um carro novinho para o seu filho por este ter passado no vestibular (Mas chorou ao ter que reconhecer o corpo de sua criança depois de um racha mal sucedido ― e tem algum bem-sucedido?). O pai que será comemorado é o que sempre defendeu a família, sem ao menos saber direito, se ela estava realmente com a razão.

Após verificar esse perfil, é inevitável o questionamento: Que tipo de filho merece ter esse tipo de pai? Um filho displicente, relapso, mal educado, desobediente, espancador, estúpido, irresponsável e preguiçoso? Certamente não. Pensamos que o filho deve ser exatamente o contrário de todos os adjetivos que foram elencados acima. Agora, imagine um filho exemplar, obediente, disciplinado, cumpridor dos seus deveres, respeitador, ordeiro, organizado (Qual o pai que não deseja ter um filho desses?). Como será que esse filho deve ser tratado? Certamente que a resposta é “BEM”. Um filho que possua essas qualidades, sem dúvida alguma, deve ser bem tratado.

Nesse tipo de relação existe amor? Certamente. Mas parece que o amor é simplesmente de troca: Pais bons = filhos bonzinhos. Existem, é claro, pais bons e filhos ruins. Como também, pais ruins e filhos bons. Mesmo reconhecendo essas obviedades que até aqui foram escritas, é possível pensar rapidamente no fato de que, por uma questão natural, geralmente os pais defendem suas crias. Por uma questão de humanidade, até mesmo um ser humano sente-se penalizado com as barbáries que são cometidas contra o seu semelhante, ainda que esse não seja parente ou mesmo conhecido. A tendência normal, é que em situação de perigo, socorramos ao próximo.

O arquétipo, estereótipo, paradigma, modelo ou seja lá qual for a expressão que melhor traduza os sentimentos e as expectativas que pairam no imaginário coletivo, nenhuma delas se adéquam à visão de um pai que, no momento de maior agonia, abandona o filho. No português rústico, alguém com esse perfil certamente receberia o epíteto de “pai desnaturado”. Se chega a ser intolerável ao estranho não oferecer auxílio a quem está em apuros, que dirá um pai! Imagine se o fim dessa história fosse o seguinte: O pai não socorreu seu filho por minha causa! O quê? Como é que é?


Sim, foi por mim e por ti que o grito do Getsêmani não foi ouvido. Foi ali que o Abbá, palavra que, segundo o Dicionário Vine era “pronunciada pelas crianças, e denota confiança cega” soou, sem, no entanto, receber um sinal de que poderia ser atendida. Foi para que tivéssemos o “poder” de sermos feitos filhos de Deus que a súplica não pôde ser ouvida. Enquanto pai, segundo o mesmo léxico, “expressa um entendimento inteligente do relacionamento”, Abbá, seria então a pronúncia inocente de quem ainda não sabe se expressar (dizer palavras “mágicas”, adular, forjar uma suposta cordialidade). No entanto, Marcos nos informa (14.36) que Ele não disse apenas Abbá (confiança cega), nem somente Pai (confiança formal, contudo, algumas vezes apenas teórica), mas Abbá Pai. O Vine informa que as “duas palavras juntas expressam o amor e a confiança inteligente da criança”. No Abbá do Filho havia “amor e confiança” que a nossa mente jamais entenderá. Na relação de pai e filho em que atos bonzinhos são seguidos de prêmios bonzinhos, não dá para entender como obediência pode ser recompensada com desamparo e ternura com desprezo.

Apesar de assim ter agido, esse Pai é exaltado pelo Filho. Aliás, o texto de João demonstra que a glorificação do Pai estava exatamente no cumprimento da difícil missão dada ao Filho:

Agora, a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isso vim a esta hora.

Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu que dizia: Já o tenho glorificado e outra vez o glorificarei.

Ora, a multidão que ali estava e que a tinha ouvido dizia que havia sido um trovão. Outros diziam: Um anjo lhe falou.

Respondeu Jesus e disse: Não veio esta voz por amor de mim, mas por amor de vós.

A voz veio por amor da humanidade porque o Pai não precisava provar que amava ao Filho ou vice-versa, pois a relação de Ambos nada tem que ver com a nossa. Apesar de a linguagem humana não ter palavras ideais para expressar a relação entre o Pai e o Filho, e tudo se resumir a um antropopatismo quase sem sentido (sem sentido porque os seres humanos cunham e deturpam expressões), ainda assim é possível verificar o quanto há de amor, ternura, carinho e reciprocidade no Ato da cruz.

Tornamo-nos extremamente formais, filhos dissimulados. Entretanto, precisamos lembrar que o Pai a quem nos dirigimos não olha para as palavras da mesma forma que o nosso pai biológico. Ele não valoriza o filho que “ternamente” responde: “― Eu vou”, mas depois não vai. Sua preferência recai sobre o “rebelde” que responde: “― Não vou”, mas que depois, arrependido, revê sua posição e vai. Ele certamente está nos indagando: “se eu sou Pai, onde está a minha honra?”. E não adianta o convicto ou religioso, mero cumpridor de regras para se orgulhar de sua “obediência”, dizer consigo mesmo: “Abraão é meu pai”, pois foi o último profeta veterotestamentário que disse que das “pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão”. Ademais, diante da atitude do centurião de Cafarnaum, o Filho de Deus pronunciou uma palavra que deve levar-nos à reflexão, não somente nesse domingo, mas por toda a vida: “Mas eu vos digo que muitos virão do Oriente e do Ocidente e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no Reino dos céus; E os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes”.

Autor: Pastor César Moisés Carvalho
Agradeçemos autorização da postagem.
Fonte: http://marketingparaescoladominical.blogspot.com/

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