terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sindrome de Absalão

A SÍNDROME DE ABSALÃO


Uma síndrome é um grupo de sintomas que aparecem juntos. Para que alguém seja caracterizado como portador de determinada síndrome, é preciso que o conjunto de sintomas se apresente, todos, indistintamente nessa pessoa. Ao falar da “síndrome de Absalão”, os que conhecem a Bíblia Sagrada, sem nenhuma dificuldade, lembrar-se-ão do mais perfeito e atlético filho de Davi (2 Sm 14.25).


Um dos primeiros sintomas da síndrome de Absalão aparece quando ele, após ter sua irmã violentada por um de seus irmãos, ele tivesse ressentimento resolve matá-lo de forma covarde (2 Sm 13.22). Veja bem, é perfeitamente normal que os de Amnom, pois fizera algo terrível com sua irmã. O próprio Davi ficou enraivecido com Amnom pelo que ele havia feito (2 Sm 13.21), mas infelizmente, por ser este o seu filho primogênito, acabou não punindo-o. Como o coração de Absalão estava no trono de seu pai e Amnom era quem, por tradição, assumiria, é mais do que claro que sua motivação para assassinar Amnom não foi simplesmente vingar o que este fizera a Tamar (algo que seria, até mesmo pelo contexto, tolerável naquela sociedade), mas eliminar o concorrente. O caso, aparentemente justo pela covardia do incesto de Amnom, foi apenas um pretexto de quem já nutria uma má intenção. Em outras palavras, não foi o que a gente popularmente conhece como “limpar a honra” ou coisa que equivalha, pois nesse caso o cidadão chama o outro para um acerto de contas tête-à-tête, e não fica espreitando de forma covarde para encontrar o melhor momento de atacar. 

Em dois anos, Absalão arquitetou um plano para matar Amnom e no momento oportuno partiu para a sua consecução. Aproveitando-se da fragilidade de Davi que, sem desconfiar da maldade de sua oferta, ainda o abençoou, Absalão insistiu com o rei para que concedesse a ele a honra de poder prestar o seu “favor” a, pelo menos, Amnom. Após relutar na liberação de Amnom, o homem segundo o coração de Deus acabou cedendo, deixando, não apenas Amnom, mas todos os seus filhos irem. Absalão arregimentou os seus servos, dizendo que iria embebedar a vítima e que eles aproveitassem esse momento de vulnerabilidade e que não titubeassem, mas fossem valentes (interessante que o covarde nunca é valente, mas exige isso dos outros) e matassem Amnom. Bem, assim sucedeu e o rei muito se angustiou, chorou e pranteou juntamente com toda a sua casa, mas o covarde Absalão fugiu por três anos.

É interessante como o portador da síndrome de Absalão consegue fazer-se de vítima e arrumar advogados. Absalão conseguiu o apoio de Joabe e este planejou enganar o rei Davi, usando uma mulher para fingir-se. A mulher, muito sagaz, ludibriou Davi com um teatro digno de qualquer drama. Após obter o juramento do rei, inclusive envolvendo Deus, mesmo tendo desmascarado a personagem, Davi honrou sua palavra e mandou trazer de volta a Absalão. Entretanto, mesmo sendo temente a Deus, Davi tinha honradez e brio, e proibiu que o covarde Absalão viesse até a sua presença. Como Absalão agora havia conseguido chegar perto do rei (pois os maldosos querem enfiar-se onde não são chamados para estarem em uma posição em que o bote em sua vítima seja certeiro), depois de dois anos ele queria ser recebido (É assim até no dia de hoje: O elemento apronta e, sem nenhuma vergonha na cara, aparece diante da presença de quem ele prejudicara e de quem ambiciona o cargo, e o cumprimenta como se nada tivesse acontecido). Como Davi não recebia o usurpador (é prudente e legítimo evitar pessoas que não merecem confiança), Absalão logo tratou de procurar o seu “advogado” para ajudá-lo.

Joabe, que ajudara Absalão até ali, agora não queria ir até o fim com sua traição. Após duas convocações do traiçoeiro Absalão, e com a insistente recusa de Joabe, o usurpador mandou atear fogo na roça de Joabe que ficava junto a sua. Esse ato obrigou Joabe a procurar Absalão. Diante do acontecido, Joabe teve de ir a Davi e pedir que o rei recebesse o traidor. Com o perdão do rei, o ambicioso teve toda a oportunidade que queria. Com o habeas corpus obtido do pai, Absalão pôs o seu plano diabólico em prática. Ele arrumou uma equipe de cinquenta asseclas e ficou à beira do caminho da porta da cidade e interpelava as pessoas que dependiam do rei (mas que por alguma razão não eram prontamente atendidas), querendo finalmente àquilo que ele sempre ambicionara: o trono de Israel. Absalão apresentava-se como se fosse o salvador da pátria. Algo que é comum a todo portador da síndrome de Absalão é a petulância de achar-se o solucionador de problemas, o messias. O rei não vê, os ministros não veem, os responsáveis não enxergam, todos são tapados. Somente ele “tem” visão e consegue enxergar problemas. O final da história todos já sabemos: O próprio Joabe é quem teve de dar cabo da vida do usurpador, pois afinal havia sido ele mesmo quem criara todo aquele problema para o rei.





Lendo essa história bíblica, é impossível não fazer um paralelo com o que a gente vê diariamente. E, quando a gente pensa que já viu tudo, que não mais é possível haver superação, quebra de recorde do absurdo ou coisas do gênero, pasmem, existe espaço ainda para as mais sórdidas, estapafúrdias, escalafobéticas, infelizes e covardes posturas. Atitudes que fazem revirar o estômago. Pior é admitir que não existe campo mais propício e favorável à proliferação dessas vilezas, que a religião. No terreno fértil do misticismo e com uma pose de “guardião da lei”, muita gente vai se fazendo e impondo-se por aí.

Há muitos anos, li no Mensageiro da Paz um artigo que dizia o quanto os homens conseguem superar o Diabo na empreitada de “tentar”. Lembrei-me da estória de um sacerdote ascético que isolou em uma caverna um grupo de jovens aspirantes ao serviço religioso no intuito de obrigá-los a jejuar. No outro dia, quando veio apanhá-los, o velho percebeu alguns fragmentos de cascas de ovos espalhados pelo chão. Ao indagá-los acerca da “quebra do jejum”, ouviu a seguinte resposta: “O Diabo tentou-nos, achamos alguns ovos de codorna, os cozinhamos em uma colher aquecida por uma vela e acabamos comendo”. Conta-se que, na mesma hora, o Tentador apareceu e defendeu-se: “Nem eu sabia que dava para cozinhar ovos usando uma colher e uma vela”.

Assim, não tenho dúvida que muito da falta de vergonha e caráter, da diabolicidade das atitudes, dos cinismos disfarçados de espiritualidade, do oportunismo com os deslizes involuntários do próximo e outras demonstrações de torpezas, acontecem com a “relativa autonomia” dos indivíduos para fazerem e arquitetarem o mal. Os elementos conseguem deixar o Tentador com inveja de seus planos maquiavélicos por uma razão muito óbvia e simples: Eles aprendem com o Diabo, mas conseguem superá-lo ao pensar em dimensões que o próprio Tentador não vislumbrou! Provérbios 27.20 acusa a receita do porque desse comportamento.

Ultimando o post, o leitor pode indagar-me: “Mas, afinal, o que é a ‘síndrome de Absalão?’” Ah, já ia esquecendo-me. É querer estar onde não lhe compete. É querer ser o que você não é. É meter-se no que não lhe diz respeito. É aceitar os cordiais cumprimentos do pai (amigo, parente, conhecido, líder, superior, cônjuge) e, no momento seguinte, intentar tomar-lhe o trono, usurpando-lhe o lugar. É fabricar notícias caluniosas e querer demonstrar conhecimento e acesso privilegiado de informações que não lhe cabem. É não ter noção do ridículo e ficar se oferecendo como um pastel que passou o dia todo na estufa e que ninguém por ele interessou-se. É ser pior do que um camaleão e flertar com todo o mundo sem definir-se de que lado está. É provocar alguém que não lhe fez nenhum mal, sabendo que esse alguém não poderá defender-se por forças alheias à sua vontade, tirando disso vantagens pessoais. É não contentar-se com o que tem, possui, e é, mas querer o que não é seu, ambicionar funções que não lhe foram oferecidas (sendo claramente incapaz e não reunindo nenhuma condição para ocupá-las).

O portador da síndrome de Absalão quer passar a imagem de justiceiro, mas como sua intenção nunca é aquela que ele deixa transparecer e suas motivações logo se mostram, muito cedo as pessoas percebem que ele na realidade é um carniceiro. Pensando bem, ele próprio sabe, consigo mesmo, que não passa de um usurpador traiçoeiro, uma raposa ambiciosa que age covardemente. Ele aparentemente quer mostrar serviço, mas esquece que nem todo o mundo é incauto e ingênuo para acreditar em suas ações mesquinhas e rasteiras. Ele esquece que nem todas as pessoas têm a memória curta, pois muitas lembram-se do seu discurso inicial e sabem que ele muda ao sabor da situação, é somente uma questão de valor (“quem dá mais?”), mas o que ele é já está mais do que evidente... Pode ter certeza, muita gente abusada que aparece por aí, não passou por um processo de correção de excessos. Acham-se acima do bem e do mal, pensam que podem dizer tudo que lhes vem à boca e que nada sofrerão. Sua motivação é apenas o inflar-se falando mal dos outros. Como urubus, precisam de algum vestígio de carniça para sobreviver.



Não quero comparar-me a Davi quando fugia de Absalão e recitar o Salmo 3, pois sou totalmente indigno. Todavia, acredito no mesmo Deus que Davi e que Absalão dizia também crer (2 Sm 15.7-9), e sei que o Senhor está contemplando a motivação e as intenções com que cada um age, por isso, diante dEle digo sem medo de errar: Se você identificou algum desses sintomas em sua vida e trajetória, busque a cura rapidamente, pois a epidemia da síndrome megalomaníaca de Absalão está no “ar”, e os próprios “Joabes”, estarão prontos a dar cabo de suas criaturas no momento que eles acharem que elas se tornaram uma ameaça fora do comum. Agora, se você é um Absalão mesmo, não tem jeito, quem deve se cuidar são os “Davis”, pois você nunca mudará! O seu fim será ficar pendurado pela própria cabeça, pela suposta fama, e terminará eliminado por alguém que o ajudou em seus planos diabólicos. Suponhamos que, por Deus ser misericordioso, você consiga dar um golpe de Estado e tome o poder. Serás para sempre um infeliz, viverás enclausurado no próprio castelo de areia que você construiu, contudo, nunca terá a honra, a alegria e o prazer de ocupar o que quer que seja por méritos, chamado, vocação, dom ou benevolência divina, pois terá de conviver com a realidade de sua vileza e sordidez, com sua torpeza e diabolicidade. Coisas com as quais as pessoas que possuem um mínimo de caráter e temor de Deus, jamais conseguiriam sobreviver e, por isso mesmo, esperaram - em Deus - e chegaram ao posto que você ambiciona, porém com uma grande diferença: na vontade e na direção dEle.

Que o Senhor nos ajude.

Autor: Pastor César Moisés Carvalho
Postado em 14/07/10
Fonte: http://marketingparaescoladominical.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário